Bomberman Hero (N64), uma experiência relativamente desconhecida do lançador de bombas mais famoso dos videogames

Lançado em um período de enorme popularidade dos Bombers, este inusitado platformer não alcançou muita notoriedade.

em 17/07/2021



Os anos 1990 foram uma época especial para Bomberman. Os títulos da franquia nesse período conquistaram um sucesso estrondoso, ajudando a alcançar ainda mais o público ocidental e alavancando o simpático personagem a uma posição de destaque entre os maiores ícones dos videogames. Os games da série Super Bomberman, do SNES, são responsáveis por grande parte deste sucesso, mas existe um jogo em particular que provavelmente ficou de fora do radar de muitos fãs: Bomberman Hero, lançado em 1998 para o Nintendo 64 e relançado em 2011 para o Wii Virtual Console.


Originalmente nomeado Bomberman Hero: Princess Millian Rescue! no Japão, esta gema escondida é uma sequência do Bomberman 64 de 1997 (não confundir com o título de mesmo nome lançado em 2001 também para o Nintendo 64), mas apenas cronologicamente, já que não há nenhuma conexão entre os dois em termos de história. Entre semelhanças e diferenças em relação ao seu predecessor, uma coisa é certa: não faltou vontade de inovar a fórmula de uma franquia que àquela altura já estava devidamente consagrada.

Há muito tempo, em uma galáxia nada original...

Como o próprio título japonês evidencia, Bomberman Hero conta a jornada do tradicional protagonista White Bomber para resgatar a Princesa Millian, capturada pelo maligno Império Garaden ao tentar fugir durante um ataque ao seu planeta natal, Primus Star. Em uma trama com fortes inspirações em Star Wars, a princesa tomou posse de dados secretos que revelam o plano dos vilões e os escondeu dentro de um robô, que acaba indo parar no Planeta Bomber após a fuga.




A trama não é nem um pouco original ou profunda (inclusive contando com diálogos bem pobres e de gramática simplória), e fica fácil perceber que não houve muito esforço nesse sentido por parte da Hudson Soft. Essa historinha fraca e facilmente ignorável serve apenas de pretexto para ilustrar o resto dos aspectos do jogo, onde foi dedicado o grosso da atenção ao seu desenvolvimento.

A jornada do White Bomber passa por cinco planetas, cada qual com uma quantidade de áreas, que por sua vez contêm os estágios onde de fato se passa a ação. Ao final de cada planeta, uma tradicional boss battle nos aguarda. Existem ainda dois planetas secretos e alguns modos de jogo adicionais, todos desbloqueados ao cumprirmos requisitos sobre os quais falaremos mais à frente.

Os ventos explosivos da mudança

Embora o trajeto por essas fases seja objetivamente linear, o gameplay de Bomberman Hero, assim como o de Bomberman 64, representa uma mudança considerável nos moldes da série. Ao invés da característica exploração labiríntica por pequenos espaços fechados, temos áreas muito mais abertas, desbravadas em uma ação de plataforma 3D jamais vista em um Bomberman até a chegada da era Nintendo 64.




A grande novidade no que diz respeito à jogabilidade está no fato de que agora é possível pular com o White Bomber. Essa inclusão pode ser algo simples e banal para a maioria dos games do gênero, mas representa uma ação que raramente esteve disponível nos jogos da franquia, com as exceções de Saturn Bomberman Fight, do Sega Saturn, e Pocket Bomberman, lançado para o Game Boy Color. Naturalmente, isso tem grande influência no level design das fases, que fazem um ótimo uso de verticalidade, coordenação motora e timing em seus desafios de plataforma.

Foram feitas mudanças em alguns aspectos tradicionais de jogos anteriores de Bomberman. Os poderes de chutar e segurar/lançar bombas não existem mais em forma de item, estando embutidos no leque de habilidades permanentes do protagonista, que agora tem quatro pontos de vida antes de ser derrotado e portanto não morre com apenas um golpe ou explosão — A exceção óbvia é cair em precipícios, o que resulta em morte instantânea. Vale mencionar que a barra de vida é outro raro recurso da série que também está presente em Saturn Bomberman Fight.

Temos ainda a adição dos Power Gears, equipamentos usados em fases específicas, além de aparições especiais de Louie, o simpático canguru verde. Cada Power Gear tem uma mecânica distinta, trazendo uma variedade de gameplay muito bacana: há o Bomber Marine, uma hélice náutica acoplada aos pés do White Bomber que permite que ele se movimente debaixo d’água; o Bomber Jet, que consiste em dois foguetes que nos dão a capacidade de voar e planar; o Bomber Copter, uma hélice de helicóptero conectada ao cocuruto do nosso cabeçudo herói; e o Bomber Slider, uma prancha usada para deslizar por fases de ritmo bem mais acelerado.




Para os complecionistas, Bomberman Hero oferece coletáveis e um sistema de pontuação que acrescentam um pouco mais de profundidade à missão outrora única nas aventuras dos Bombers: a de encontrar a saída após eliminar todos os inimigos na tela. Aqui, além de chegar ao final de um trajeto, precisamos coletar itens, destruir objetos e derrotar inimigos para ganhar pontos e alcançar uma marca estabelecida em cada fase. Algumas têm objetivos menores, como encontrar um cartão de acesso à porta de saída do estágio.

Conseguir as pontuações exigidas nos dá uma nota máxima por fase, em um sistema que vai de 1 a 5 baseado na quantidade de pontos que obtivermos. Pegar nota 5 em todos os estágios é um dos critérios necessários para desbloquear Gossick Star, o planeta secreto que abriga o final verdadeiro do jogo; o outro é recolher todas as 24 Adok Bombs, objetos colecionáveis espalhados por fases aleatórias ao longo da campanha. Derrotar o chefe de Gossick Star libera o Golden Bomber, que consiste em uma decepcionante repetição de dois níveis da campanha principal e um único nível inédito.

Pavio extra pra mais de metro

O conteúdo adicional não para por aí. Um mundo bônus chamado Bomber Star também pode ser acessado se o jogador apertar o botão Start rápido o suficiente após ligar o game. Curiosamente, a Hudson Soft desenvolveu um controle especial, o Hudson Joycard 64, especificamente para a ocasião. Lançado apenas no Japão, este raríssimo hardware possui uma função Turbo, que faz com que seja necessário apertar Start apenas uma vez para liberar o mundo oculto. Infelizmente, é preciso fazer o macete toda vez que o jogo for iniciado, pois o desbloqueio não é permanente.



Por fim, Bomberman Hero traz dois modos de jogo adicionais: Slider Race e Millian’s Treasure Hunt, obtidos após conseguirmos respectivamente 3 e 6 medalhas de ouro; cada medalha é coletada quando o jogador faz nota 5 em todas as fases de um mesmo planeta. Slider’s Race é uma corrida contra um boneco de neve por uma pista de obstáculos; já Millian’s Treasure Hunt é meramente uma repetição da campanha principal, mas com uma trama diferente e a substituição das Adok Bombs por tesouros pertencentes à Princesa Millian.

Quando as explosões dão errado

Eu mencionei no começo deste texto que no desenvolvimento de Bomberman Hero não faltou empenho da Hudson Soft em tentar dar ares de novidade à fórmula da franquia. Na minha humilde opinião, ela acertou em alguns pontos, mas em outros não.

A crítica mais notável feita ao game é a ausência de um modo multiplayer. É compreensível a decisão de dar foco a uma aventura solo do White Bomber, até porque a campanha principal do jogo passa longe de ser ruim. Porém, não incluir qualquer opção para dois ou mais jogadores — ainda mais no Nintendo 64, cujo principal atrativo na época foi a possibilidade de jogar em até quatro pessoas — em um jogo pertencente a uma série renomada por suas batalhas explosivas entre amigos certamente não foi uma decisão acertada.

Com relação ao que está de fato presente, quero destacar dois problemas menores. O primeiro diz respeito ao seu sistema de pontuação, que mostra a quantidade exata para obter a nota 5 apenas quando concluímos a fase. Isso pode representar uma perda de tempo considerável a longo prazo, pois caso não consigamos os pontos necessários, temos que fazer tudo de novo. O ideal seria saber de quanto precisamos antes mesmo de acessar o estágio, o que nos daria a certeza de termos alcançado essa meta ou não e nos permitiria fazer um backtracking básico.




O segundo problema é algo que pareceu ser recorrente em jogos do Nintendo 64, particularmente em platformers que fizeram a transição do SNES para o 3D, como Super Mario 64 e Donkey Kong 64: a câmera. Não que ela seja tão ruim em Bomberman Hero quanto é nos jogos citados, mas isso não quer dizer que não haja complicações.

Na maior parte do tempo, temos à nossa disposição uma câmera extremamente limitada, que nos permite apenas fazer leves inclinações para a esquerda, direita e para baixo. Até podemos combinar uma das direções laterais com a movimentação para baixo, mas esse recurso só funciona quando White Bomber está parado. Caso ele se mexa, a câmera volta ao ponto estático padrão da fase em que estamos, que pode ter um ângulo vertical, de mundo aberto ou sidescroller.

Um ilustre desconhecido

Apesar de não ter alcançado tanta popularidade e em meio a algumas decisões controversas de game design, Bomberman Hero certamente deixou sua marca na história da série Bomberman e do Nintendo 64.

A quem não conhecia este título tão pouco notado, recomendo fortemente não só que o experimentem, mas também que confiram sua sensacional trilha sonora, uma unanimidade positiva fruto de mais um trabalho de Jun Chikuma, compositora de longa data da franquia. Aos que já conheciam, fica aqui a lembrança de um título que certamente deixou fortes impressões em todos que tiveram contato com essa preciosidade da era 64-bits da Nintendo.

Revisão: Diogo Mendes


Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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