Análise: The Silver Case 2425 (Switch): uma coletânea de aventuras narrativas experimentais

Incluindo edições remasterizadas de The Silver Case e The 25th Ward, o jogo apresenta uma experiência interessante para fãs de aventuras narrativas.

em 19/07/2021
The Silver Case 2425
é uma coletânea de jogos de aventura escritos e dirigidos por Suda51. Ele inclui os clássicos The Silver Case (lançado para PS em 1999) e The 25th Ward: The Silver Case (lançado de forma episódica para mobile a partir de 2005).

Ambos os jogos contam com um estilo único tanto em termos visuais quanto em sua história. Com um aspecto experimental e uma atmosfera retrofuturista sólida, trata-se de uma experiência curiosa e instigante para fãs de jogos narrativos.

Mais do que investigações criminais

The Silver Case se passa em uma cidade japonesa ficcional conhecida por seus 24 distritos. A ideia é que ela é inspirada em Tóquio, que possui 23 deles, mas sofreu mudanças devido a algumas questões políticas. Quando uma série de assassinatos bizarros começa a acontecer, um grupo de investigação criminal tenta encontrar o responsável.

Tudo indica que o caso tem relação com um assassino lendário chamado Kamui Uehara. Anos atrás o rapaz foi responsável pelo crime conhecido como "The Silver Case".

No entanto, as coisas não são tão simples assim. Cada capítulo da história traz um novo caso, mas há relações bem complexas entre eles. A história é dividida em dois arcos (Transmitter e Placebo) com protagonistas diferentes se aprofundando cada vez mais nas verdades escondidas dos 24 distritos.

Mais do que descobrir sobre os crimes, boa parte da narrativa envolve discussões de identidade, relações interpessoais e tecnologia. As motivações dos personagens, tanto detetives quanto criminosos, são complexas.

Nem sempre as situações são claras, com algumas histórias bastante complicadas e mal explicadas. Alguns desses problemas parecem estar em escolhas textuais da tradução que são muito literais.

Um novo distrito utópico

The 25th Ward: The Silver Case é muito mais claro. Mesmo mantendo a complexidade de personagens e ambientação, os textos são mais simples de acompanhar.

Dividido em três grandes arcos (Correctness, Matchmaker e Placebo), a obra começa cinco anos após o jogo anterior. A história dessa vez se passa no recém-criado 25th Ward. Esse distrito é apresentado como uma espécie de utopia e pessoas que querem fugir dos outros distritos vão para lá. No entanto, a verdade é muito mais sinistra do que aparenta a princípio.

Na primeira parte da história, o jogador acompanha uma nova unidade de investigação de crimes hediondos focada em casos do 25th Ward. Novamente, mais do que os crimes, a relação dos humanos com a tecnologia e as intrigas políticas são discussões importantes.

Exploração e formas experimentais de apresentação

Um aspecto comum a ambos os jogos é a experimentação com o formato. Trata-se de duas aventuras narrativas que brincam com a sua apresentação com um estilo único.

Ao invés de utilizar a tela inteira, The Silver Case e The 25th Ward usam múltiplas janelas. A exploração de ambientes 3D aparece em uma parte da tela enquanto outro pedaço mostra uma imagem de um corpo encontrado na área. Junto com isso, uma caixa de texto e uma ilustração de quem está falando também aparecem separadamente.

Em alguns momentos, The Silver Case também utiliza cenas em live action ou animação. A combinação de estilos é algo bem diferente do usual, sendo particularmente assustador ver trechos com humanos reais para representar aspectos dos casos.

Nas áreas 3D de The Silver Case, o jogador precisa explorar em busca de pontos de interação, usualmente indicados pelo símbolo de um sol. O jogador pode andar para os lados, movimentar sua visão para cima e para baixo e raramente usar itens. Há alguns puzzles leves, mas nada que seja muito complicado.
Um trecho de exploração de The Silver Case
The 25th Ward já explora outros elementos de interação. Além de múltiplos puzzles, há outras formas específicas de interação, como, por exemplo, batalhas simplificadas de RPG em um determinado capítulo.

De forma geral, pode-se dizer que The 25th Ward conta com um gameplay mais variado e ambientes mais bonitos. Junto com a história mais clara, é mais fácil aproveitá-lo.
Trecho de exploração em The 25th Ward
No entanto, para ambos os jogos, é importante destacar que não há opções como log, auto e skip. É fácil sentir em especial a falta de um log que mantenha registro dos textos recentemente vistos. Como a história já tende a ser complicada, seria interessante poder rever o que já foi falado com facilidade.

Uma coletânea experimental


The Silver Case 2425 reúne dois jogos de aventura focados em texto que experimentam as possibilidades do formato. Infelizmente, The Silver Case é uma obra complicada e seu texto poderia ser mais claro para que mais pessoas pudessem aproveitá-la. Porém, ainda é uma experiência que vale a pena para quem gosta de jogos narrativos.

Prós

  • Experimentação visual com janelas de imagens e textos;
  • Ambientação moderna/retrofuturista que propicia discussões sobre identidade e tecnologia;
  • Personagens complexos bem desenvolvidos.

Contras

  • The Silver Case tem uma história confusa cuja escrita acaba comprometendo a experiência;
  • Falta de um log que registre textos recentemente vistos.
The Silver Case 2425 - Switch - Nota: 7.5
Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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