Análise: Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin (Switch) — a jornada gloriosa e carismática dos Montadores da Ilha Hakolo

A sequência do título lançado em 2016 para o 3DS exibe uma trama independente e é altamente adorável.

em 07/07/2021
Com um charme que permite entender o sucesso da franquia, Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin apresenta uma aventura grandiosa que carrega o vigor característico da série, mas que se destaca por ter batalhas por turnos estrategicamente intensas. Abordando o enquadramento dos Montadores e os laços que podem ser formados com os monstrinhos, que também são chamados de Monsties, a jornada que chega ao Switch é uma experiência RPG extremamente divertida, embora seja prejudicada por problemas de performance no console. 

Em sintonia com os Monsties

Na pacata Aldeia Mahana, localizada na Ilha Hakolo, os moradores estão intrigados com o acontecimento de episódios anormais, como a aparição de luzes vermelhas enigmáticas e o surgimento de criaturas agressivas. Em meio a esse contexto, conhecemos o protagonista de Wings of Ruin, famoso na região por ser neto de Red, um lendário Montador que, ao lado de seu monstro, o Ratha Guardião, foi bem popular no passado.

Compondo o elenco principal de Wings of Ruin, os Montadores são guerreiros que formam laços de cooperação com diferentes espécies de monstros, atuando de modo distinto aos caçadores, os quais costumam exterminar criaturas selvagens. Assim, como um Montador iniciante, cabe a nós a tarefa de investigar os acontecimentos misteriosos, seguindo as instruções de personagens como o Chefe Gara, a guerreira Kayna e o felyno Navirou.

Após a introdução, que nos ensina os conceitos-chave do jogo, como a possibilidade de capturar monstrinhos selvagens para usá-los no dia a dia, a aventura ganha novos rumos ao conhecermos uma garota serperiana chamada Ena, que conviveu com Red no passado. Surpreendentemente, ela carrega um ovo que pertenceu ao Ratha Guardião, sendo provavelmente o último da espécie dos Rathalos, que está desaparecendo do universo e pode ter ligação com os acontecimentos misteriosos.



Para proteger o ovo dos caçadores, que temem o nascimento de uma criatura nociva, o protagonista, Ena e Navirou saem da ilha em busca de abrigo no extenso mundo do jogo, fazendo uma primeira parada na região de Alcala. Lá, o ovo revela um Rathalos poderoso, mas incapaz de voar, o que remete a uma antiga profecia que prevê caos para o universo. 

Buscando evitar esse destino destrutivo, nosso protagonista decide progredir em seu treinamento para ser capaz de domar as forças do monstro recém-nascido. Assim, a intriga passa a girar em torno dos potenciais laços que os guerreiros podem formar com as criaturas, projetando uma narrativa sobre companheirismo de maneira interessante e bastante imersiva.

Se aventurando em batalhas por turnos

Apresentando-se como um spin-off, Wings of Ruin conta com diferenças notáveis em relação aos jogos principais da franquia. A principal delas está em suas batalhas, que ocorrem por turnos: controlando o protagonista e algumas ações dos Monsties, escolhemos golpes que seguem um sistema “pedra, papel e tesoura”, mas com os seguintes termos: Força, que ganha de Técnico; Técnico, que ganha de Rápido; e Rápido, que ganha de Força. 

Embora pareça simples, os combates se tornam engenhosos na medida em que muitas combinações podem ser feitas durante os turnos. Entre elas, temos a capacidade de realizar combos ao alinhar os ataques do protagonista com os movimentos do Monsties, que usualmente golpeiam de acordo com suas tendências particulares, a não ser por outros comandos pontuais.

Por exemplo, os Arzuros geralmente atacam com movimentos do tipo Força, sendo conhecidos por não sofrerem muito dano para golpes de espadas; em compensação, são facilmente derrubados com investidas de martelos em suas pernas. Enquanto isso, os Yian Kut-Ku costumam atacar com movimentos do tipo Técnico, mas são frágeis contra golpes de água e gelo, especialmente quando mirados em suas asas.

Diante disso, torna-se muito divertido tentar prever o que as espécies inimigas irão fazer nos próximos turnos, da mesma forma em que é muito prazeroso planejar combinações múltiplas para vencer as batalhas. Assim, Wings of Ruin é um RPG por turnos altamente adorável, portando momentos de enfrentamento intensos e mostrando-se como uma ótima aventura para os fãs do estilo, ainda mais se considerarmos o quão dinâmico o jogo é quando encarado no modo portátil e que ele possibilitará batalhas contra outros montadores via conexão online.

Um universo viciante e expansivo

Diferentemente das batalhas, os momentos de exploração de Wings of Ruin são clássicos da franquia: além das missões principais da história – que envolvem realizar tarefas, como resgatar personagens, explorar terrenos e derrotar determinados monstros –, também podemos realizar sidequests disponibilizadas em murais pelas cidades. 

Tudo isso evidencia a grandeza do mundo aberto do spin-off, projetando um de seus principais pontos fortes, que é a possibilidade de capturar os nossos próprios Monsties. Para isso, devemos procurar pelas Tocas de Monstros, que ficam espalhadas pelos territórios e abrigam ninhos, onde podemos recolher ovos cuidadosamente.

Confesso que esse mecanismo de exploração e captura se mostrou mais viciante do que eu esperava: a ideia de vasculhar zonas abrangentes em busca de ninhos das mais variadas espécies rende muitos momentos divertidos. Para tornar tudo ainda mais envolvente, o jogo disponibiliza Tocas de Monstros que variam no quesito raridade, e introduz ovos que podem revelar espécimes com status diversificados.

Isso está relacionado com os genes individuais de cada monstrinho, os quais projetam um setor de upgrades muito detalhado em Wings of Ruin. Dentro disso, há um recurso muito interessante que é chamado Ritual do Legado. Ele nos possibilita transferir habilidades ativas e passivas entre as criaturas, formando combatentes com maior potencial em determinados quesitos.



Do mesmo modo, a pluralidade dos Monsties também se manifesta fortemente fora das batalhas, pois cada espécie conta com recursos que podem ser usados na exploração. Velociprey, por exemplo, é um dos poucos tipos de monstrinhos que consegue saltar em certas rochas. Enquanto isso, Ludroth Real é um nadador veloz e Pukei-Pukei emite bravos rugidos para afugentar inimigos.

Ou seja, a narrativa sobre os laços de companheirismo interespécies é muito bem aplicada na prática, uma vez que é muito necessário cooperar com todos os tipos de criaturas. Entre as jogatinas de exploração e as estratégias detalhadas das batalhas, Wings of Ruin ostenta conceitos primorosos, majestosamente realçados por uma estética particularmente exuberante.

Apresentação cinematográfica

É incrível como tudo é muito bem detalhado em Wings of Ruin, com cenas e animações que formam uma experiência de cinema. As cutscenes, por exemplo, muito presentes na história, nos mostram os ricos detalhes do universo Monster Hunter, como a relação entre as diferentes raças humanoides e as particularidades dos monstrinhos. Da mesma forma, é muito interessante como também somos apresentados a flashbacks da trajetória de nosso avô, evidenciando muitos elementos do passado que estão se repetindo no presente e podem servir de referência.

Dentro dos embates, as animações também são sensacionais e notadamente plurais: cada ataque de nosso personagem conta com suas características particulares, variando de armamento para armamento com muito estilo. Felizmente, o mesmo acontece quando falamos dos golpes dos Monsties. 

A divertida habilidade dos Yian Kut-Kus, por exemplo, em que ele engole pequenas criaturas que surgem na tela para projetar suas bolas de fogo, é única e tem uma exibição que não poupa expressões e detalhes, algo recorrente para todas as espécies. Apesar de podermos avançar as animações ou reproduzi-las em velocidades mais rápidas, admito que raramente senti vontade de fazer isso, pois observar os detalhes sempre tão ricos é muito prazeroso.

Com isso, Wings of Ruin constrói uma identidade única, com enfoques distintos dos apresentados em outros jogos da série, mas sem perder a conhecida qualidade visual. Sua singularidade, de fato, é ressaltada com o belíssimo estilo cel-shading, que forma uma apresentação digna de cinema. Entretanto, cabe dizer que é nesse mesmo setor que podemos visualizar o seu pior aspecto: a performance no Nintendo Switch.

Problemas de desempenho na montaria

Diferentemente de Monster Hunter Rise, que tem uma experiência sólida no Switch ao oferecer uma taxa de frames por segundo sempre em torno de 30, Wings of Ruin sofre com uma instabilidade nesse quesito. A flutuação dos quadros por segundo é alta no spin-off, provocando sensações recorrentes de falta de fluidez, que infelizmente ocorrem em muitas conjunturas, como nas cutscenes, nas movimentações do personagem, nas animações dentro dos combates e em outras ocasiões.

Alguns dos momentos oscilantes mais notáveis são exibidos quando estamos caminhando por cenários que são mais detalhados, como nas aldeias de Mahana e Rutoh, e em florestas com vegetação densa. Nesses casos, direcionar o personagem é eventualmente desagradável, assim como rotacionar a câmera pode parecer pouco natural e travado.

Talvez pelos embates serem por turnos, pode-se dizer que as falhas gráficas não afetam o gameplay ou arruínam a precisão dos comandos, mas são fatores bastante perceptíveis, tanto com o Switch acoplado na dock, quanto no modo portátil. É uma pena pois, em locais com menos texturas, como nas cavernas e no interior de casas, pode-se ver como o jogo planejava se apresentar, caso não fosse prejudicado pelo processamento gráfico do controle.



Além disso, outro problema notável de Wings of Ruin são algumas falhas em sua tradução de texto para o português, também presentes em diversas circunstâncias. Por mais que elas não nos façam cometer erros, às vezes é preciso parar e refletir sobre o que determinados termos realmente querem dizer. Isso é muito evidente quando Navirou está nos ajudando a escolher ovos nas Tocas, por exemplo, com frases em que há palavras empregadas equivocadamente.

Sendo assim, vejo Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin como uma experiência grandiosa e prazerosa independentemente desses percalços, mas a defeituosa exibição gráfica, por mais que não seja prejudicial, certamente irá desagradar jogadores de certos estilos, que talvez sintam-se melhor esperando por atualizações de estabilidade ou se aventurando em outra plataforma.

A franquia dos monstros em grande estilo

Apesar dos problemas de performance, eu me diverti muito com Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin. Com um universo expansivo, o spin-off é uma excelente aventura RPG para o Switch, recomendada a todos que adoram batalhas por turnos ou para quem simplesmente busca por uma intriga cativante. Sem dúvidas, a nova jornada, que fala sobre os belos laços formados entre os Montadores da Ilha Hakolo e as adoráveis criaturas, é uma entrada gloriosa e carismática para a célebre franquia.

Prós

  • Universo Monster Hunter em toda sua glória;
  • Intriga formada por personagens cativantes e situações tocantes;
  • Batalhas por turnos detalhadas, repletas de combinações;
  • Explorações divertidas;
  • Possibilidade de capturar diversas criaturas para treinar é algo prazeroso.

Contras

  • Problemas de performance constantes, que atrapalham a fluidez da experiência;
  • Erros na tradução para o português, com termos escolhidos equivocadamente.
Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin — Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.