A jornada de uma garota e uma raposa
Ao iniciarmos Epistory, já é possível perceber que se trata de um título com bastante personalidade: não há exatamente uma apresentação de acontecimentos que rodeiam pessoas ou uma história sendo desenrolada; apenas somos introduzidos a uma personagem, a protagonista de um livro que está sendo momentaneamente escrito por um autor — que está com pouca criatividade, diga-se de passagem.
Dessa forma, a protagonista, uma garota referenciada como Musa e que cavalga nas costas de uma raposa laranja, deve explorar os cenários para que os acontecimentos da história se desenrolem de fato. Ou seja, com as mecânicas de gameplay e a narrativa conectadas intrinsecamente, a história se desenvolve em nossa frente, como páginas em branco que vão sendo preenchidas conforme progredimos.
No início da jornada, nos encontramos em uma região chamada The Bridge, que basicamente funciona como um hub para acessar os capítulos da história, onde as explorações realmente ocorrem. Por exemplo, em certa ocasião, temos de investigar uma explosão misteriosa que ocorreu em um local deste portal, a qual foi provocada por um meteoro que formou uma cratera no chão. Desse modo, podemos entrar no buraco e encarar uma espécie de dungeon, por onde a magia do typing game toma forma.
Teclando por páginas em branco
Em Epistory, controlamos Musa a partir de uma visão isométrica, podendo explorar os diferentes cantos de cada cenário sem muito mistério. Entretanto, tudo muda quando encontramos determinados objetos com os quais podemos interagir com o toque do botão ZR. Este comando automaticamente nos coloca em um modo de digitação, revelando uma sequência de caracteres no topo dos elementos correspondentes.
Com isso, os jogadores devem reproduzir a ordem mostrada para que a ação desejada ocorra. Por exemplo: se houver um baú em nossa frente, ele será aberto ao completarmos a sequência determinada por aquela ocasião; ou ainda, se estivermos tentando derrubar uma barreira, devemos imitar os comandos assinalados para progredir.
Um detalhe é que temos duas possibilidades de se fazer isso no Switch, sendo a primeira delas com os tradicionais Joy-Con. A partir da entrada no modo de digitação, o preenchimento de comandos se dá com sequências de botões formadas pelas quatro posições do direcional e os botões A, B, X e Y. Assim, seguindo as ordens, que podem conter de um até mais de uma dezena de botões, podemos realizar ações e tarefas.
Outro jeito de se jogar é com o uso de um teclado USB, que pode ser conectado à dock do Switch. Dessa forma, temos um gameplay que vai de acordo com as origens de Epistory, quando ele foi lançado para PC em 2016: no lugar dos botões do Joy-Con, o jogador deve digitar as palavras que aparecem na tela, com termos em inglês que podem ou não estar ligados aos objetos.
Em alguns momentos, o jogador tem de escrever “calendula” para revelar flores na fase e ganhar pontos, por exemplo. Enquanto isso, a palavra “inflammable” permite incendiar tochas e “recompense” abre tesouros. Todavia, cabe ressaltar que as palavras são circunstanciais, raramente se repetindo ao longo do engenhoso typing game.
Emoção nas batalhas e habilidades caninas
Embora o conceito possa parecer trabalhoso ou até mesmo monótono, é preciso ressaltar que Epistory adquire traços emocionantes na medida em que alguns objetos devem ser acionados em pouco tempo, formando pequenos puzzles pelos estágios. Do mesmo modo, diversas criaturas perigosas, como insetos, cobras e outros seres rastejantes, costumam aparecer pelos cenários, podendo ser derrotadas também com palavras ou botões.
Isso dá uma dinâmica de tensão e oferece desafios que são ainda mais intensos pelo fato de que, enquanto estamos com o modo de digitação ativado, a protagonista permanece completamente imóvel na tela, não sendo possível comandá-la. Assim, é preciso acertar as combinações para derrotar as criaturas antes que elas façam contato, algo que sempre resulta em mortes instantâneas.
No geral, os desafios de enfrentamento consistem em ondas de múltiplos inimigos que começam a se aproximar de nós. Com isso, frequentemente temos de fazer escolhas sobre quais oponentes devemos atacar antes, uma vez que eles apresentam movimentações distintas e perigos em ritmos diferentes, permeando um pequeno viés de estratégia durante as batalhas.
Para nos ajudar, temos em nosso arsenal uma variedade interessante de habilidades desbloqueáveis. Uma delas, que ajuda tanto na exploração quanto nas batalhas, traz elementos de fogo à nossa escrita, permitindo incendiar barreiras ou queimar certas palavras e códigos mais rapidamente, o que é muito útil em combates contra inimigos mais resistentes.
Além disso, também há outros upgrades bacanas e que valem a pena ser mencionados, como a possibilidade de tornar nossa raposa mais veloz; a capacidade de afastar inimigos com ataques de knockback; e a facilitação de combos, elemento diretamente ligado ao processo de somar pontos que desbloqueiam novas habilidades.
Dessa forma, é muito interessante perceber como o conceito de um jogo de digitação, mesmo que simples, consegue oferecer batalhas vigorosas, que demandam muita atenção aos mínimos movimentos dos inimigos pelos cenários. Assim, temos um jogo muito imersivo, característica que é salientada graças à rica capacidade de ambientação da aventura.
Julgando o livro pela capa
Do início ao fim, Epistory se apresenta como um título altamente exuberante. Seguindo o seu conceito de livro, as animações tridimensionais da aventura contam com um estilo origami, arquitetando os personagens e detalhes dos ambientes como se realmente fossem feitos de papel.
Da mesma forma, os cenários são liberados na jogatina a partir do surgimento de folhas de papel, que elegantemente modelam as novas ambiências. Com uma diversidade alta, temos dungeons permeadas por bosques verdes, castelos congelados e escorregadios, e minas obscuras, todas com apresentações fascinantes.
Ainda dentro de sua temática, a aventura é simultaneamente contada por uma narradora, que descreve os cenários e acontecimentos em nossos arredores, habitualmente enunciando frases inspiradoras. Em alguns momentos, a protagonista também ganha uma voz própria, reagindo de maneira adorável mediante o desenlace da história.
Tudo isso contribui para que Epistory construa aspectos cativantes em suas ambientações, que são agraciadas com trilhas sonoras delicadas durante as explorações, mas recheadas de tensão na hora dos combates. Sem dúvidas, temos uma experiência formidável, mesmo com problemas ocasionais em seu itinerário.
Teclado? No Switch?
Ao abrir Epistory pela primeira vez, confesso que fiquei surpreso com a presença de uma mensagem alertando que a maneira adequada de se jogar a aventura se daria ao conectar um teclado USB no Switch. Diante disso, fiquei intrigado quanto à capacidade de adaptação do jogo ao console, formando uma dúvida que só poderia ser respondida com a jogatina.
Depois de um tempo, o que me pareceu é que podemos nos divertir com as duas opções de controles. Por mais que a aventura perca um pouco de sua poeticidade ao se usar os Joy-Con, especialmente se considerarmos que palavras simbólicas são substituídas por simples ordens aleatórias de botões, testar nossos reflexos com os comandos do controle do Switch também é extremamente bacana.
Cabe frisar que os desafios parecem um pouco mais difíceis com o uso dos Joy-Con, pois errar um mísero movimento nos faz ter de refazer toda a sequência de botões, acarretando em tediosas repetições e mortes frustrantes. Embora também seja necessário recomeçar as palavras em caso de falhas ao se usar o teclado, o jogo parece um pouco mais dinâmico com o seu funcionamento, talvez pela habitualidade que temos com a posição das teclas do acessório.
Por outro lado, conectar um teclado à base do Switch pode ser uma tarefa melindrosa, dependendo substancialmente de como sua televisão está posicionada para a jogatina. No meu caso, achei desconfortável ter de me alinhar para utilizar o acessório em um sofá próximo ao console; com isso, passei a usar os Joy-Con com maior frequência, rendendo uma experiência divertida inclusive no modo portátil.
Portanto, creio que as duas opções de controles são apropriadas, sem necessariamente significar superioridade ou inferioridade. O único pesar dessas potenciais combinações é o fato de que nem todos os donos de Switch terão um teclado USB em casa para jogar desta forma — Inclusive, essa gambiarra inusitada, mas divertida não é possível para usuários de Switch Lite.
No que concerne ao gameplay, independentemente da forma de controle, temos poucas falhas no geral. A mais saliente, no entanto, é a precariedade dos mapas do jogo, que são inadequados para se encontrar elementos internos, como as próprias dungeons. Felizmente, com uma dose de paciência, essa barreira de incerteza acabou sendo derrubada conforme o desenrolar da narrativa.
Uma história épica
Com uma estética adorável e conceitos criativos, Epistory - Typing Chronicles se mostra único em muitos sentidos, sendo extremamente cativante do início ao fim. Assim, seja com os Joy-Con ou com a ajuda inusitada de um teclado USB, uma história épica é literalmente escrita em nossa frente, divertindo e encantando como um inédito conto de fadas.
Prós
- Aventura com conceitos criativos na trama e gameplay;
- Estilo de arte adorável;
- Apresenta momentos de combate repletos de intensidade;
- A adaptação para o Switch foi feita apropriadamente;
- Desafios interessantes com dois estilos de performance.
Contras
- Embora funcione bem, jogar com os Joy-Con às vezes é um pouco mais difícil;
- Usar um teclado USB conectado na dock pode ser desconfortável;
- O mapa geral é um tanto precário.
Epistory - Typing Chronicles — Switch/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela QubicGames