Em um dos momentos de maior brilho na história do desenvolvimento de games em terras brasileiras, A Lenda do Herói: Edição Definitiva (Switch), do estúdio Dumativa e concebido e dublado pelos influencers Castro Brothers, chega ao híbrido da Nintendo em uma versão digna de aplausos com uma verdadeira aula musical e criativa.
Muito mais que um simples jogo de plataforma musical, a maneira como o enredo se transforma, consolidado por um gameplay robusto e moderno enquanto literalmente conversa com o jogador, faz deste um dos jogos mais únicos já feitos.
Por trás da lenda
O game, em questão, trata-se da versão definitiva — com todas as melhorias e conteúdos adicionais já previamente lançados — do projeto "A Lenda do Herói" que completa 10 anos de seu início, no próximo mês de janeiro.
Inicialmente idealizado apenas como uma série de animações para o YouTube, o projeto tomou corpo como jogo graças ao apelo dos fãs e à insistência de seus criadores, fãs apaixonados de videogames e conhecidos comediantes, músicos e youtubers Marcos e Matheus Castro.
A iniciativa de se criar um game da série de vídeos foi financiada por meio de uma campanha de crowdfunding, promovida pelo Catarse, em setembro de 2014, que bateu vários recordes na época e comoveu o meio gamer da plataforma de vídeos da Google. O completo Making Of do game pode ser encontrado na página oficial do jogo.
Uma aventura narrada
Inicialmente bastante caricato, o game se inicia com o jogador na pele do Herói, o protagonista que tem que salvar a princesa do terrível vilão — nenhuma novidade por aqui. Somos logo surpreendidos pela voz do próprio personagem que, ao som da música de fundo da fase, vai cantarolando o que está acontecendo no cenário ou mesmo fazendo rimas, piadas e comentários engraçados.
Este é, sem dúvidas, o diferencial do jogo e que o torna autêntico em sua essência. Com o decorrer da aventura, não apenas somos apresentados novos inimigos, obstáculos e personagens, mas a próprio voz do protagonista vai nos dando dicas de como prosseguir, contando a história da terra onde se passa o jogo e justificando a sua missão de salvar a princesa, que aparece e se comunica com o Herói enquanto ele dorme.
Apesar de forçar a barra em algumas rimas, o jogo consegue manter um ritmo impressionante de diálogos, criando uma real afinidade com o personagem principal, ao ponto de você desejar ajudá-lo de verdade ou mesmo questionar alguns de seus pensamentos, com o decorrer dos eventos da trama.
Nesta edição definitiva, conseguimos ter acesso às DLCs adicionadas ao jogo base: "Além da Lenda" , "A Lenda dos Mortos" e "De Férias com o Herói”. Na primeira, somos apresentados ao epílogo da história, o qual quebra todos os estereótipos colocados na aventura principal, mesmo que ainda deixando muitas pontas em aberto para o futuro.
Já em “A Lenda dos Mortos”, somos colocados em um universo tomado por um apocalipse zumbi e totalmente ambientado em músicas ao melhor estilo Heavy metal, enquanto que em “As férias do Herói”, temos um ambiente basicamente oposto, com o herói de férias ao som de um leve pagode muito bem narrado pela equipe da Dumativa.
Todas as aventuras são extremamente divertidas, bem ambientadas, e que trazem quase que uma vontade imediata de conhecer a história por completo, por mais enjoativo que seja passar todo o tempo do game ouvindo e ouvindo a voz do Herói em nossos ouvidos. O carisma do jogo é tamanho que, apesar da estrutura da história ser básica, ela nos aproxima daquele universo de uma maneira muito bacana.
A jornada de um herói
O game é um clássico jogo de plataforma 2D side-scrolling de aventura em sua essência, como os saudosos dos anos 90 e início dos anos 2000, à citar Castlevania, Zelda II, DK Country e Shantae. Inicialmente o Herói pode apenas andar para ambos os lados, pular e dar um ataque simples com a espada, além de se defender com o seu escudo, com comandos bem básicos atrelados aos botões do Switch.
Ao fim do primeiro nível, somos apresentados ao mapa mundi do game, em que cada ambiente apresenta 3 fases distintas, além de uma batalha com um Boss. Em cada local, somos introduzidos a uma mecânica de gameplay nova, aumentando as capacidades de nosso herói e dando novos equipamentos para as lutas e interações com as fases.
Esses ambientes são totalmente inspirados em biomas do mundo real, como florestas densas, desertos, campos gelados ou até mesmo áreas vulcânicas, todos com seus próprios inimigos e temas musicais que acompanham a aventura. A própria voz do personagem se altera debaixo d’água, no frio, o que dá mais naturalidade a tudo.
Há também uma aldeia principal no mapa que se amplia a cada novo equipamento obtido nas fases, como um gancho à lá Hookshot de Ocarina of Time, ou mesmo uma besta-bumerangue que, além de expandir as possibilidades de gameplay, são fatores que aumentam o fator replay do game, já que ao longo da mais de 20 fases, temos colecionáveis escondidos que só serão obtíveis com equipamentos desbloqueados em fases seguintes.
Cada fase traz sempre uma referência à clássicos do gênero, e me peguei por diversas vezes relembrando mecânicas de jogos do passado, em especial Zelda II: The Adventure of Link, Donkey Kong Country — com direito a estágios em carrinho de mina — e até mesmo Shantae: Risky’s Revenge com o dash lateral característico do game. Todos estão muito bem adaptados ao game e encorpam o gameplay viciante, ao mesmo tempo que extremamente simples.
Onde há heróis, há vilões…
Apesar de excelente em sua gigantesca maioria, algumas coisas me incomodaram um pouco durante minha jogatina, sendo os hit-boxes mal alocados como um dos principais defeitos. Algumas poucas plataformas simplesmente tem comprimento maiores do que deveriam, causando reais “campos de força” que impedem o Herói de usufruí-las.
Além disso, a diferença de dificuldade entre os níveis e o chefe são bastante notáveis, sobretudo nos iniciais, mesmo que não fugindo do padrão de: desbloquear equipamento e então usá-lo contra o chefe.
Não é que a dificuldade seja ao todo desbalanceada, mas a primeira metade do jogo inteira é fácil de se passar, sem perder nenhuma vida sequer, mas a perda de vidas começa a ser quase que o padrão no último terço da história, inutilizando os corações conquistados como os Heart Pieces da série Zelda, o que incomoda e levanta questionamentos se não deveria ser mais simplificado.
Apesar de tudo, ainda que raras, as pausas na narração do Herói ocorrem caso o personagem demore demais em algum trecho e foram também engenhosamente utilizadas durante as batalhas com chefes, denotando também a seriedade do personagem ao enfrentá-los, ao invés de ficar tagarelando frente a um desafio tão difícil.
Outro ponto um pouco decepcionante foi quanto ao desempenho no Switch. Não tive problema algum durante o gameplay da história-base, mas quando iniciei os DLC, vários ambientes mais cheios de elementos causaram uma queda de frames por segundo chata, assim como nas telas de transição do jogo para as interfaces e menus.
Uma história memorável
A Lenda do Herói: Edição Definitiva é bem mais do que um simples jogo musical, se mostrando como uma robusta referência internacional enquanto platformer e trazendo o melhor do gênero com um toque abrasileirado. Bebendo das mesmas fontes de sagas como Zelda, Donkey Kong Country, WonderBoy e Shantae, o game diverte o tempo inteiro, progride de maneira natural e se consolida como mais um excelente título indie na biblioteca do Nintendo Switch.
E você? Já pôde experimentar um pouco desse grandioso game brasileiro? Também deu boas risadas com as músicas e a dublagem? Conta pra gente nos comentários!
Prós
- Dublagem e trilha sonora excepcionais e autênticas;
- Mecânicas divertidas e bem implementadas que homenageiam clássicos do passado;
- O conteúdo adicional agrega muito valor e diversidade à principal característica do game.
Contras
- Hit-boxes frequentemente desalocadas;
- Engasgos e quedas de frames em alguns trechos do game;
- Pequenos erros nas interfaces explicativas dos botões de controle.
A Lenda do Herói: Edição Definitiva – Switch/PC – Nota: 8.5Versão utilizada na análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise publicada com cópia digital cedida pela Dumativa