Sludge Life, publicado pela Devolver Digital e desenvolvido pelo brasileiro Terri Vellmann, explora essas possibilidades ao abrir mão de uma narrativa linear e de objetivos bem definidos. O resultado é intrigante e autêntico, apesar de não ser fácil de assimilar.
O mundo do “pixo”
O único objetivo direto de Sludge Life é grafitar pontos específicos de uma ilha com diversos ambientes cercados por lama. Não é possível, por outro lado, deixar grafites em qualquer local, mas apenas em espaços que são marcados durante o caminho. Isso faz com que o jogo seja, em primeiro lugar, uma tentativa de encontrar esses pontos para cumprir a tarefa.
Contudo, conforme vamos seguindo pelos diversos espaços, encontramos trabalhadores em greve, policiais, ciclopes, animais deformados, pessoas estranhas e outros objetivos. É nessas interações que o jogo cresce, ampliando as possibilidades de construção de uma ambiência em torno de Ghost, o protagonista.
À medida em que mais grafites são colocados, mais famoso o personagem fica e a interação com esses seres se torna aos poucos mais complexa. Além disso, depois de certa quantidade de grafites feitos é possível ter contato com outros grafiteiros, o que nos encaminha também para diferentes finais, dependendo da quantidade de missões secundárias (coletar apps ou lesmas pelo caminho, por exemplo) que você realizar. Não que o mundo reaja a tudo o que fazemos, até porque a liberdade de movimentação existe e não há uma sequência correta de ações.
No entanto, esse mecanismo de interação com os lugares e pessoas é muito bem feito, de modo que parece natural para o jogador que suas escolhas representem o único percurso que se deveria seguir.
Pop art e psicodelia
Visualmente, Sludge Life nos coloca em um ambiente extremamente colorido e atraente. Contudo, a baixa resolução e a movimentação em primeira pessoa pouco fluida, tiram qualquer senso de realidade.
Sendo ou não proposital, fato é que esse mundo colorido e, ao mesmo tempo, imperfeito, cria uma sensação de fantasia que é intensificada com o encontro com personagens bizarros e com a possibilidade de manipular artificialmente a percepção do personagem. Em alguns lugares, por exemplo, é possível encontrar cogumelos que, se consumidos, geram uma distorção da visão e permitem a Ghost voar pelo cenário.
Em termos de elementos de jogo, Ghost encontra objetos que o auxiliam durante o caminho: um computador (que é a própria tela de seleção e permite ainda jogar um jogo dentro do jogo), uma câmera fotográfica, um planador que lhe permite saltar do alto de um prédio para locais mais distantes etc. Mas não é evidente que esses objetos existem até que você os encontre, o que oferece uma sensação gratificante a quase tudo o que acontece.
Vandalismo visual
Sludge Life é um jogo curto que foge à normalidade, oferecendo um ambiente de exploração com diversos elementos despretensiosos, mas ainda assim divertidos. Ainda que nem sempre pareça um game, porque demanda muito pouco do jogador, a proposta é interessante por si só. Voltando ao tema inicial, vejo Sludge Life muito mais como uma experiência estética do que um jogo que queira entreter. E, sim, isso é muito bom.
Prós
- Proposta simples e bem executada;
- Personagens estranhos e intrigantes;
- Sensação de liberdade e interação com muitos elementos do cenário.
Contras
- Jogo muito curto;
- Movimentação travada e desagradável em alguns momentos.
Sludge Life — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital