Acabando com uma festa sem fim
Todos os anos, no Dia das Bruxas, o portão que liga as profundezas ao mundo real é aberto para que criaturas sombrias, como monstros, lobisomens e feiticeiros, possam celebrar a data em uma grande festa rave. Em uma dessas ocasiões, que é exibida no começo de Savage Halloween, um vampiro acabou se empolgando demais durante a celebração e resolveu destruir o portal, tudo para evitar o iminente fim da festa eletrônica que só acontece uma vez a cada 365 dias.
Diante disso, um fazendeiro chamado James se incomodou com a ideia de um evento eterno e decidiu dar um basta nos festejos, que aconteciam justamente nas proximidades de sua propriedade. Com uma espingarda em mãos e uma abóbora na cabeça, ele iniciou uma revolta que foi aderida por outras duas figuras.
Uma delas é Dominika, que curiosamente é filha do vampiro que fechou o portal. Diferentemente de seu pai, que quer “fritar” por mais horas, a jovem deseja ir para casa para ver a sua série favorita, Doctor Cave. Além dela, o cachorro Lulu, que na verdade é um lobisomem um pouco indeciso, também decide se juntar ao grupo de caça com o intuito de acabar com a festa esquisita. Assim, os jogadores podem controlar os personagens para exterminar tudo por sete fases com temáticas distintas, típicas de jogos de plataforma.
Atiradores de muitos estilos
Entre pulos e tiros que podem ser efetuados em oito direções, Savage Halloween consiste em derrotar uma enxurrada de monstros que habitam as fases. Apesar de ter aspectos de arcade, o título dispõe de estágios que podem ser escolhidos livremente em um hub; ou seja, não é preciso completar o jogo inteiro de uma só vez, o que vem a calhar.
Para incrementar a jogatina, os protagonistas apresentam características distintas: enquanto James é balanceado no geral, Lulu tem mais vida e Dominika é mais rápida, conseguindo saltar mais alto e até flutuar por uns instantes. A minha escolha favorita acabou sendo o lobisomem, que apesar de não ser muito veloz, consegue aguentar mais hits com sua barra de HP extensa.
Outro fator importante para o gameplay são os projéteis de diferentes tipos que conquistamos dentro dos estágios. Entre eles, temos exemplos muito criativos, como balas que se triplicam, galinhas explosivas, sapos rechonchudos que percorrem o chão e pequenos fantasmas que atravessam as paredes. Por incrível que pareça, todos são utilizáveis a partir de uma única arma.
Com exceção do armamento tradicional, que possui munição infinita, os projéteis aparecem em pequenas quantidades ao quebrarmos caixas dentro dos estágios. Dessa forma, uma boa ideia é guardar os exemplares mais fortes para inimigos mais complicados, que aparecem em abundância pelo caminho.
Inimigos com fantasias para o Dia das Bruxas
Além dos tradicionais morcegos, fantasmas e monstros à la Frankenstein, temos diversas ideias malucas, como Papais Noéis com metralhadora, médicos dos tempos da Peste Bubônica e criaturas humanoides correndo sem camisa, geralmente portando um bastão nas mãos. Ou seja, Savage Halloween exibe, praticamente, uma rave um tanto mais inusitada que as normais.
O título também não economiza na criatividade das batalhas de boss, que são marcadas pela intensidade, sem nunca sair da temática das fases. Entre os chefões que se destacam, o meu preferido foi um super-herói com cabeça de alho que se multiplica e projeta chutes por todo o ambiente.
A engenhosidade dos embates de chefes geralmente passa por descobrir quais tipos de projéteis são mais indicados para se usar. Embora seja divertido testar e arriscar estratégias no calor do momento, essas tentativas podem muitas vezes resultar em sequências de mortes excepcionalmente frustrantes, tudo por causa de um problema manifesto do título: a extensão de suas fases.
Fragmentadas por zonas, elas são tão longas que costumam ter cerca de cinco seções, o que torna a jogatina eventualmente repetitiva. Com isso, a impressão é de que a campanha poderia ser mais vigorosa se fosse dividida em mais níveis, transformando o gameplay em algo mais dinâmico e, consequentemente, mais satisfatório.
Cenários lindos, mesmo explosivos
Com uma pixel art belíssima, os elementos de Savage Halloween são elegantemente realçados ao longo dos trajetos. Os visuais das fases são, em sua maioria, incríveis, destacando-se especialmente nos backgrounds temáticos, que apresentam cemitérios verdes, terrenos congelados e cachoeiras texturizadas.
Como é característico do gênero run ‘n’ gun, a tela costuma ficar altamente movimentada com tiros e perigos frequentes por todas as partes. Sem dúvidas, essas conjunturas frenéticas fazem parte dos melhores momentos da aventura, mas ao mesmo tempo formam uma linha tênue: algumas vezes, há um certo exagero nessa intensidade, com situações repentinas que passam a impressão de que não há como não sofrer prejuízos com tantos monstros brotando aleatoriamente — algo sempre frustrante em qualquer jornada.
Diante disso, é preciso ressaltar que a campanha de Savage Halloween é severa e difícil, mas não impossível. Acredito que, por contar com uma boa variedade de elementos de performance, a dificuldade consegue instigar e dar vontade de tentar outra vez, justamente para experimentarmos outras estratégias. No entanto, saiba que isso não significa que o jogo tenha um fator replay alto.
Por não contar com nenhum tipo de coletável ou extra, o título não oferece motivos para os jogadores revisitarem os estágios. Os únicos adicionais presentes são o modo co-op e a dificuldade Hardcore. Concordemos: por mais legais que eles possam ser, não chegam a ser aspectos que renovam a experiência. Assim, projeta-se um vazio que deixa o entusiasmo com um prazo de validade mais curto.
Portanto, Savage Halloween segue uma trilha bem linear do início ao fim, o que não significa algo necessariamente ruim. Para falar a verdade, me diverti bastante com a campanha, e acho que isso passa pelo seguinte fator: sendo um jogo de plataforma que não deseja fugir do tradicional, ele se concentra em oferecer pequenos conceitos criativos, podendo encantar com contextos completamente inusitados, mas que não destoam dos padrões de uma boa aventura.
Convite para uma festa de Halloween
Com desenvolvimento brasileiro, Savage Halloween é um run ‘n’ gun enérgico de ideias criativas. Entre elas, há destaque para a pluralidade de inimigos e armamentos, que fomentam diferentes estilos de gameplay. Assim, para não sairmos do contexto da trama, arrisco-me a dizer que o jogo é tão divertido quanto festas do Dia das Bruxas costumam ser, até mesmo aquelas mais inusitadas, como a que é apresentada ao longo da campanha.
Prós
- História peculiar e engraçada sobre uma rave de criaturas das trevas;
- Grande variedade de inimigos e ataques;
- Visuais belíssimos, com uma pixel art muito bem-aplicada;
- Momentos run ‘n’ gun frenéticos.
Contras
- Alguns estágios são longos demais, tornando-se repetitivos;
- Fator replay baixo;
- Ocasionais desafios praticamente impossíveis de concluir sem prejuízos.
Savage Halloween — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela QUByte Interactive