Disgaea 6: Defiance of Destiny, de inicío, causou muita polêmica em sua fanbase devido a algumas novidades apresentadas logo nos primeiros teailers. Afinal, para muitos, Disgaea é sinônimo de alguns memes; para outros, o jogo significa grinding eterno, especialmente no Item World. E para os desavisados, as aventuras em Netherworld são a encarnação do demônio, muitas vezes afastando e desmotivando jogadores.
Sem Laharl, Adell e companhia: agora é a vez de Zed
Uma coisa em comum em todos os jogos da série é ter um protagonista que precisa se aventurar em Netherworld. Para Zed, o protagonista do sexto título da franquia, o motivo é simples: derrotar o Deus da Destruição e se tornar o ser supremo por meio da Super Reencarnação.
À medida que avança em sua jornada, Zed e seu “cãopanheiro” zumbi, Cerberus, conhecem novos aliados e inimigos — muitos deles com alguns parafusos soltos. No mapa final de cada capítulo, o esquadrão do garoto-zumbi precisa enfrentar o Deus da Destruição.
Se até aqui nada parece novo, não se preocupe, porque não é mesmo. Disgaea 6 segue a fórmula tradicional de seus antecessores: uma história rasa com humor bastante questionável e personagens excêntricos, que serve como propósito para justificar o grinding por trás dela.
Sem tempo pra isso, irmão
A grande novidade em Defiance of Destiny é a introdução do sistema de Auto-Battle e Auto-Repeat, que até então só existia no título mobile da franquia. Do primeiro ao quinto jogos, o modo manual predominava, fazendo com que o Item World fosse praticamente o endgame de Disgaea — afinal, quem aguenta avançar mais de 100 andares de uma só vez?
Para facilitar ainda mais os combates automáticos, foi implementada a Demonic Intelligence (D.I.). A mecânica, que antes precisa ser aprovada na Dark Assembly por 100 Mana, conta com três configurações pré-definidas — All Out Attack, Heal When In Danger e Prioritize Chests —, mas também dá ao jogador a possibilidade de criar mais cinco arranjos de acordo com suas necessidades, além de copiá-los e transferi-los para outros personagens.
Por falar em personagens, em Disgaea 6 pode-se escolher apenas alguns para participar das Auto-Battles. Aqueles que estiverem com a função desligada não serão enviados para os mapas, mas também não receberão EXP após as batalhas.
Trapacear também ficou mais fácil do que nunca. Se em jogos anteriores a Cheat Shop só podia ser habilitada quando aprovada na Dark Assembly, agora ela está disponível desde o início do jogo. Como seu nome implica, a mecânica permite que o jogador altere algumas configurações de batalha a seu bel-prazer, podendo facilitar a vida de quem não gosta de grinding fest com um aumento de até 200% na experiência ganha — ou até mesmo o contrário, diminuí-la para 80% e deixar Disgaea 6 mais próximo de seus antecessores.
Mecânicas antigas, como General Store, Skill Shop e Hospital continuam presentes. Esta última, no entanto, só funciona de maneira tradicional nas Innocent Towns no Item World, porque, no geral, tornou-se uma “fábrica de recompensas” baseadas no total de HP e SP gastos e nas vezes em que os personagens foram derrotados (revives) em combate.
Por fim, permanecem presentes os sistemas de batalhões (squads) e missões (quests), além da possibilidade de selecionar personagens para explorar o Item World de maneira automática, imitando o sistema de errands de muitos títulos mobile. A única diferença é que essas expedições são atualizadas conforme mais mapas são completados pelo jogador — ou de modo automático, claro.
Anteriormente em Disgaea...
A série sempre foi conhecida pela mentalidade “só vai” que ela incentiva os jogadores a ter. Entrar nos mapas, descobrir a melhor maneira de derrotar inimigos, abrir baús, destruir Geo Symbols e conseguir o maior número de recompensas era basicamente o resumo dos combates nos jogos anteriores.
As mecânicas também eram brevemente explicadas e, se o jogador não entendesse muito bem seu funcionamento, era hora de recorrer às wikis e fóruns de discussão. Disgaea 6, por outro lado, pensou no bem-estar dos recém-chegados a Netherworld e disponibilizou tutoriais para tudo, até mesmo para ações básicas como levantar (lift) e arremessar (throw). Também não tem problema se algo não for entendido de primeira de primeira, pois é possível revisitar essas explicações a qualquer momento — afinal, sempre tem um Prinny entre nós, dood.
Mas não só de tutoriais sobrevivem os Prinnies. Em Defiance of Destiny, o sistema de Super Reincarnation é outro ponto que pode ser considerado como facilitador para quem caiu de paraquedas na franquia ou àqueles que não curtiam muito o antigo sistema do Chara World, uma espécie de Item World para os stats dos personagens.
Embora a Super Reincarnation não seja tão diferente da reencarnação normal já existente desde o primeiro jogo, em Disgaea 6 temos um sistema que vai um pouco mais além. Ele não apenas permite que um personagem tenha sua classe mudada (se o jogador assim quiser), mas pode ter incrementos em seus parâmetros, competência e até mesmo aprender Evilities novas, desde que os recursos para isso sejam suficientes.
O que é um pontinho azul borrado no meio da tela?
Se Defiance of Destiny acertou em cheio nas qualities of life para apostar na acolhida aos novos jogadores, por outro lado deixou a desejar — e muito, por sinal — no aspecto gráfico do jogo. Os sérios problemas, já presentes na demo e que se repetem na versão completa, afetam a jogabilidade em diversos pontos, sobretudo na Auto-Battle.
Chama a atenção a péssima jogabilidade no modo portátil do Switch. Isso não se dá apenas pelos botões nos Joy-Con serem pequenos e de fácil confusão na hora de executar os comandos ou visualizar os elementos na tela de sete polegadas, mas também pelos gráficos.
Existem três modos de configuração de vídeo em Disgaea 6: Graphics, que prioriza os gráficos do jogo; Balanced, que procura balancear performance e gráficos; e Performance, que foca no funcionamento do software.
Priorizar os gráficos no modo portátil eventualmente leva a um superaquecimento de modelos mais antigos do Switch — o meu caso —, enquanto Balanced os deixa ligeiramente borrados. Escolher a performance, então, é pedir para não ver direito o que se passa na tela, de tão indecifráveis que alguns sprites ficam.
No modo TV, por outro lado, as diferenças nos gráficos não são tão aparentes, fazendo com que Disgaea 6 pareça ter sido projetado para ser jogado com o Switch sempre na dock. Contudo, o problema mais sério na jogabilidade se deu pela presença de eventuais travamentos nos três modos de configuração, em testes de quatro a cinco horas de Auto-Battle no Item World.
A Super Reencarnação de uma franquia
Com diversas qualities of life dos jogos mobile atuais e mecânicas facilitadoras, Disgaea 6: Defiance of Destiny mantém os elementos que tornaram a franquia famosa, mas, infelizmente, sofre de sérios problemas de performance decorrentes dos gráficos.
Mesmo com essa grande falha, o título tem de tudo para ser um dos melhores jogos da série até agora, não devido à sua história (que nunca foi o ponto forte de Disgaea), mas sim por permitir que novos jogadores se sintam à vontade em um RPG de estratégia famosíssimo por seus números absurdos e grinding praticamente infinito.
Prós
- Mecânicas facilitadoras mais que bem-vindas;
- Jogabilidade pensada nos jogadores menos experientes;
- Tutoriais sempre presentes;
- Características principais da série mantidas.
Contras
- Sérios problemas de performance e de gráficos, especialmente no modo portátil;
- Eventuais travamentos durante a Auto-Battle;
- Superaquecimento no Switch, sobretudo nos modelos antigos, decorrente de horas contínuas de jogo.
Disgaea 6: Defiance of Destiny — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America