Após alguns dias desde o fim da aguardadíssima conferência da Nintendo na E3 2021 e a maioria dos ânimos já estarem acalmados após uma apresentação recheada de conteúdo para o Switch, os sentimentos da comunidade são bastante diversos.
Seja por reações entusiasmadas de muitos fãs com a volta de franquias consagradas no passado como Advance Wars ou WarioWare, ou ainda por comentários de total decepção com a ausência de informações sobre Metroid Prime 4 e Bayonetta 3, o Nintendo Direct de 14 de junho de 2021, durante a E3 2021, deu o que falar.
Assim, tentando colocar tudo o que foi apresentado em uma balança e dar uma resposta à pergunta do título, resolvemos apresentar argumentos contra e a favor da tese: a Nintendo “venceu” a E3?
Argumentos Pró
É certo que a E3 2021, de forma geral, não foi um grande espetáculo de games como estamos acostumados em edições tradicionais do evento. De um lado, tivemos a ausência de conferências tradicionais em grandes palcos e até mesmo dos grandes estandes e demonstrações dos games anunciados na feira disponíveis para fãs e jornalistas testarem em primeira mão.
Do outro, temos os desafios que a própria pandemia proporcionou, com atrasos em datas de lançamento previamente combinadas, dificuldades gerais dos grandes estúdios em se adaptar ao modelo de trabalho home-office imposto pela situação de emergência global e a crescente demanda por games inéditos disponíveis para as pessoas que passam mais tempo dentro de seus lares.
Todos esses fatores levaram a uma conferência atípica de todas as demais empresas, com exceção da Nintendo. A Big N, já acostumada com os quase 10 anos de Nintendo Direct, ofereceu o formato já esperado por todos, sem nenhuma surpresa nesse quesito.
Dentre aqueles defensores da vitória nintendista, a opinião mais aceita é de que foi uma conferência pensada com muito carinho para os fãs de longa data da empresa. Os anúncios foram quase cirurgicamente pensados para relembrar o sucesso de franquias do passado, repaginadas ou com continuidades interessantes para o seu nicho.
Como exemplo, temos o retorno da franquia WarioWare a um console de mesa após quase 10 anos do sucessor espiritual Game & Wario (Wii U). Não muito conhecida do público geral, a franquia é um verdadeiro sucesso de crítica e muito aclamada pelos seus fãs por conta da maneira satirizada, criativa e única de se utilizar as IPs da Nintendo e também pelo uso dos controles da plataforma em que se encontra.
O game não só retornará às origens da franquia, mas ofertará uma maneira totalmente inovadora de gameplay, com um grande suporte ao multiplayer e a mecânicas individuais de cada personagem apresentado ao longo da série.
Com o anúncio de Super Monkey Ball: Banana Mania (Switch), temos novamente um nicho apaixonado sendo relembrado pela Big N. A coletânea traz de volta os momentos mais marcantes do macaquinho AiAi para o console híbrido e apresentando os divertidos puzzles para novos jogadores.
Muitos reconhecem a série apenas por arcades espalhados pelo mundo afora, mas a franquia teve vários pontos altos que simplesmente foram ignorados pelo visual mais infantil ou mesmo “japonês demais” apresentado. Com certeza são títulos que valem a pena ficar de olho.
Temos em Mario Party Superstars (Switch) um pedido antigo da comunidade, com a reformulação dos clássicos do Nintendo 64, a indiscutível era de ouro da franquia de boardgame — mesmo que para muitos o sentimento era de que deveria ser uma DLC para Super Mario Party (Switch).
Não apenas estão retornando com tabuleiros e minigames consagrados, mas será possível pela primeira vez jogá-los todos online e com um visual próximo dos mais belos já registrados na plataforma nintendista. É diversão garantida com amigos e família, seja em casa ou mesmo fora dela.
Em Advance Wars 1+2: Re-boot Camp (Switch) veremos o retorno da série, que, aos moldes de WarioWare, também é muito esquecida pelo público geral, mesmo que certamente se destaca como uma favorita dos fãs mais antigos. Claro, o retorno também não foi uma unanimidade, principalmente devido a mudança de visual, mas o gameplay aprimorado fará desse reboot um primeiro passo da franquia para toda uma nova geração.
Por muitos anos houve sempre uma disputa entre as IPs de estratégia Fire Emblem e Advance Wars a respeito de qual figura como a melhor da Nintendo. Esse game dará uma nova chance para mais pessoas entenderem os defensores do game de guerra e certamente mudará muitos preconceitos iniciais.
E temos também Metroid Dread (Switch), possivelmente a melhor surpresa da apresentação, que, apesar de parecer bastante inesperado, é um game que os fãs aguardam há 16 anos, com vazamentos e informações datadas ainda de 2005, dando finalmente uma continuação ao lore de Metroid.
Com um clima e visuais diferentes de tudo já visto no Nintendo Switch, o game promete dar uma sequência digna à série aos moldes de Metroid: Samus Returns (3DS) e foi destacado pelos veículos de imprensa como uma das maiores esperanças para esse ano nos games. Se não a maior.
Tudo isso além dos demais títulos apresentados de maneira inédita, como a chegada de Fatal Frame: Maiden of the Black Water (Wii U/Switch) diretamente do Wii U, o anúncio dos games da série Danganronpa e até ports interessantes como os de Life is Strange e o aguardado Marvel’s Guardians of the Galaxy, apesar desse último ser injogável para o público brasileiro devido à necessidade de uma conexão de internet de alta qualidade.
Cabe destacar que definitivamente todos os anúncios da apresentação são de games do corrente ano, com a maioria já recebendo, inclusive, uma data de lançamento, com nenhuma promessa vazia ou teaser de apresentação apenas, como foi feito em conferências consideradas melhores como em 2019 — e que ainda esperamos os lançamentos.
A conferência certamente agradou muitos nichos diferentes e, conhecendo mais a fundo a história da empresa e o relacionamento dos fãs com as franquias, entendo bem quem se disse super satisfeito com a conferência e que acredita que foi uma luz no fim do túnel — ainda mais levando em conta tanto o histórico recente de Directs, quanto as demais apresentações da E3.
Argumentos Contra
Por outro lado, muitos fãs se deixam levar pelo famoso “trem do hype” e iniciam a conferência com grandes expectativas de títulos AAA, do retorno de games e franquias há muito esquecidas como F-Zero, StarFox e até mesmo Golden Sun e acabam se frustrando com aquilo que é apresentado.
Muitas reivindicações fazem bastante sentido, como a ausência de um título em comemoração ao aniversário de 40 anos de Donkey Kong ou mesmo do anúncio de uma coletânea dos games de The Legend of Zelda, também marcando o trigésimo quinto aniversário, em um tratamento igual ao dado a Super Mario no ano passado.
Além disso, os vários nichos de fãs de Mario Kart, Pikmin e Kid Icarus continuam sempre contando os anos para a chegada de algum novo jogo de suas amadas franquias e, ao não receberem aquilo prometido, já se indignam por mais um ano sem nenhum sinal de vida. É uma frustração completamente relacionável.
Quanto à conferência em si, não foram poucos os comentários negativos dados ao tempo excessivo dedicado a games já apresentados como The Legend of Zelda: Skyward Sword HD (Switch), Mario+Rabbids Sparks of Hope (Switch) ou Mario Golf: Super Rush (Switch) e de fato isso incomoda, principalmente pelo efeito psicológico de pensar que a conferência já está acabando e o precioso tempo que seria dedicado ao seu anúncio favorito está se esvaindo.
O fato é que a Nintendo também não apresentou nenhuma franquia inédita, deu poucas informações do já conhecido e mega aguardado Breath of the Wild 2 — ou qualquer outro nome que venha a ter — e houve ausência de um jogo arrasa-quarteirão que não conhecíamos, muito por Dread não ser o Metroid 3D que muitos esperavam e sim mais um platformer dentre tantos para a coleção do Switch.
Analisando a concorrência, a Microsoft foi a única empresa que chegou a um páreo quando analisado o desempenho na feira, com anúncios quentes para ainda este ano como Halo Infinite (Multi), Age of Empires IV (Multi) e Forza Horizon 5 (Multi). Notável é, no entanto, que muitos dos aclamados títulos mostrados na apresentação são apenas para anos seguintes, com apenas teasers e poucas informações divulgadas.
Para um público recente de plataformas Nintendo, ou mesmo os que não tiveram o seu gosto pessoal atendido por nenhuma franquia mostrada, é compreensível que não tenham visto graça alguma na conferência da Big N. Em especial o público mais ocidental, acostumado com games fps, simuladores de futebol ou amantes de grandes blockbusters, alguns não viram surpresa alguma e consideram vitória fácil para a companhia americana.
Não se pode agradar a todos
O saldo geral para mim, pessoalmente, foi de que a Nintendo teve uma boa conferência, com um desempenho bastante acima da média, principalmente em relação a apresentações passadas, em que poucas surpresas eram mostradas e muito tempo era gasto com games Indie (que motivou a criação do Indie World como evento separado).
Como um fã da Nintendo há vários anos, compreendo a importância de cada franquia mostrada e valorizo a dedicação da empresa com anúncios como o de Shin Megami Tensei V (Switch), que, mesmo não tendo nenhuma afeição à franquia, consigo pensar que a minha decepção naquele grande trecho, é uma alegria imensa para tantos amantes do gênero.
Para os que ficaram insatisfeitos, vale lembrar que todos os desenvolvedores também sofreram das mesmas dores que nós no último ano e tiveram mudanças radicais em seu modo de vida, trabalho e organização. Além disso, vale destacar que ainda há muito a ser anunciado para o ano seguinte e todos os games triple A prometidos, como Bayonetta 3 (Switch), Metroid Prime 4 (Switch) e Splatoon 3 (Switch), tiveram o seu desenvolvimento reconfirmado e com bons feedbacks sobre o decorrer do processo.
Já para os que ficaram satisfeitos, nada mais resta senão começar a economia para aproveitar o seu título favorito, enquanto se junta na torcida para a localização em português brasileiro de todas as novas entradas no Nintendo Switch.
E você? O que achou da apresentação da Nintendo na E3 2021? Respeitem a opinião dos demais e deixe seu comentário na seção dedicada abaixo!
Revisão: João Gabriel Haddad