Prévia: Shin Megami Tensei III: Nocturne HD Remaster será o mais sombrio JRPG do Switch

Um sonho dentro de um pesadelo para os fãs de Shin Megami Tensei.

em 19/05/2021



Desenvolvido pela Atlus e publicado pela Sega, Shin Megami Tensei III: Nocturne HD Remaster (Switch) é uma remasterização em alta resolução do RPG Shin Megami Tensei: Nocturne (PS2), um dos mais amados jogos da série Shin Megami Tensei, bem como um dos títulos mais influentes dentro e fora da série, ao lado de Shin Megami Tensei: Persona 3 (PS2) e do clássico Shin Megami Tensei (Multi).


Convém observar que se trata de uma subsérie ou “reboot de série” (pelo que sugere a partícula “Shin”) de Megami Tensei, uma dualogia cujo último título, Megami Tensei II, de 1990, serviu como principal base para a criação do primeiro Shin Megami Tensei, de 1992.

Para quem não esteja familiarizado com a franquia Shin Megami Tensei, trata-se de uma das mais tradicionais séries de JRPG, ao lado de Pokémon, Dragon Quest e Final Fantasy. Contudo, é a menos conhecida delas no hemisfério ocidental. Seus títulos vieram tarde por aqui e, quando chegaram, seus enredos demasiados sérios, sombrios e polêmicos, aliados a um gameplay nada amigável e bastante desafiador, acabaram não ocupando as prateleiras de muitos fãs ocidentais de JRPG. E isso vale especialmente para a série principal Shin Megami Tensei, já que ao menos a subsérie Shin Megami Tensei: Persona, por razões que não convém detalhar, acabou tendo maior destaque (popular e crítico) a partir de seu terceiro título.

A série como um todo (incluindo spin-off) pode, em linhas gerais, ser caracterizada por:
  • enredos que tratam de temas sensíveis e controversos (seja em tom mais despojado, ou em um tom mais sombrio);
  • por um estilo visual inspirado em animes e geralmente ambientados em locais reais do Japão;
  • por mecânicas de RPG (geralmente de RPG tradicional de turno);
  • e por utilizar um panteão de criaturas mitológicas das mais diversas origens (grega, egípcia, chinesa, judaico-cristã etc.), criaturas essas que coexistem com os humanos, podendo ser aliadas ou inimigas.
Deixando de fora os spin-offs da franquia, a série principal Shin Megami Tensei, em particular, caracteriza-se também por visuais mais sombrios e sérios dos personagens e enredos tenebrosos e apocalípticos, normalmente tematizando a relação de confronto ou de conversa entre humanos e demônios, os quais podem ser incluídos no grupo do jogador, lutando ao seu lado contra outros demônios e humanos.

Desde o primeiro título da franquia, a série ainda envolve RPG com foco em dungeons (dungeon crawler) e mecânicas de aperfeiçoamento das habilidades dos demônios e mesmo fusões dessas criaturas, sendo possível, desse modo, criar outras. Os demônios podem ser conquistados para sua equipe de formas variadas, às vezes por simples conversa.



Shin Megami Tensei III: Nocturne, um dos mais desafiadores JRPGs do PS2

Desenvolvido e publicado pela Atlus, Shin Megami Tensei III: Nocturne (PS2) é um JRPG pós-apocalíptico ambientado na Tóquio dos dias modernos. Ao contrário do cenário de ficção científica de Shin Megami Tensei II (Multi), Nocturne voltou a um campo contemporâneo, semelhante ao jogo original, sendo o cenário e os personagens inspirados por vários elementos, incluindo o gnosticismo, o budismo Mahayana e a cultura popular moderna. E as dungeons em Nocturne também se tornaram um pouco menos labirínticas, embora compensam em complexidade por terem mais puzzles e armadilhas.

O protagonista da história de Nocturne, Demi-fiend, é um estudante do ensino médio que é transformado em um demônio após o mundo sofrer a chamada “Conception”, um evento apocalíptico desencadeado por um culto sinistro para o renascimento do mundo em uma nova forma.

Desde então, Tóquio encontra-se repleta de demônios e, nesse contexto, o Demi-fiend se torna um objeto de interesse para os esquemas das Reasons, seres que buscam refazer as leis naturais de um novo mundo à sua imagem, e de Lúcifer, o senhor dos demônios.




Quanto à jogabilidade, há um sistema de batalha em turnos baseado na exploração de fraquezas e um sistema de recrutamento de Demônios, o qual permite ao jogador recrutar demônios encontrados no Mundo Vortex para lutar ao lado deles. O sistema de fraquezas inspirou vários títulos posteriores da série geral Shin Megami Tensei.

Ainda entre as coisas que a equipe mudou em relação às entradas anteriores da série está a perspectiva da câmera, que foi trocada de primeira pessoa, típica dos RPGs tradicionais de estilo dungeon crawler, para terceira pessoa, algo que se tornou também padrão da série desde então. Além disso, Nocturne usou um estilo de arte cel-shaded para distingui-la de outros jogos da época. Apesar disso, há homenagens aos títulos anteriores, em particular na música, composta principalmente por Shoji Meguro, claramente inspirada em estilos musicais dos anos 1980.

O lançamento no Japão foi sucedido de fortes vendas e uma recepção positiva da crítica nacional, tendo recebido, por exemplo, 36 de 40 na avaliação da Famitsu. Em particular, a versão especial de Nocturne, que trazia para o mundo do jogo Dante, o protagonista de Devil May Cry 3 (Multi), teve sua edição física limitada tão demandada, que motivou a Atlus a fazer uma segunda impressão para os fãs. E o jogo ainda inspirou um CD de drama e uma Light Novel.

Outro ponto que tornou esse título importante foi o fato de ter sido o primeiro da série principal lançado no Ocidente. Por aqui, o jogo não foi um grande sucesso de vendas, mas vendeu razoavelmente, e recebeu elogios por sua jogabilidade criativa, enredo genuinamente adulto (o que não era comum para a época) e atmosfera sombria e séria, mas a dificuldade do título, com uma progressão pouco amigável e um level design demasiadamente punitivo e frustrante, foi objeto de duras críticas, embora também ocasionalmente de alguns elogios.



O que esperar dessa remasterização de um grande clássico

A partir daqui, confira um balanço dos pontos que têm sido levantados recorrentemente pelos críticos, até então.

Previsto para ser lançado muito em breve (24/05), Shin Megami Tensei III: Nocturne HD Remaster sairá para PC, PS4 e Switch, com melhorias gráficas em alta resolução. É esperado que tenha um desempenho um pouco abaixo no Switch, devido às limitações de hardware do híbrido, e especialmente quando jogado no modo portátil, mas a diferença não deve ser tão grande. Na verdade, muitos consideram que as melhorias visuais foram bastante modestas, dada a importância desse clássico na história da Atlus. Uma crítica semelhante se reflete na falta de atenção que deram para a trilha sonora, que obteve pouquíssimas melhorias.

Após 18 anos desde seu lançamento para Playstation 2, as novidades mecânicas de Shin Megami Tensei III: Nocturne não são mais novidades nem dentro nem fora da série, e especialmente não mais para Ocidente. Contudo, muitos críticos têm observado que mesmo após tanto tempo, ainda há poucos títulos de RPG, e menos ainda de JRPG, com uma narrativa tão adulta e tenebrosa, de modo que ainda permanece como uma referência para quem gosta de JRPGs nesse estilo.

Alguns críticos também têm salientado que esse título, apesar de poder não ser tão divertido como outros RPGs atuais, mantém-se como um dos títulos mais difíceis da série, e isso pode ser uma boa entrada para jogadores na franquia, além de um treinamento para o aguardado Shin Megami Tensei V, que também está sendo desenvolvido para Nintendo Switch. Por outro lado, é salientado que as novidades são mínimas para os fãs da série que já jogaram o original.

Ademais, as críticas aos clássicos se mantiveram por aqui, muitos salientaram que o jogo possui um level design extenuante e com progressão frustrante e/ou entediante para as dungeons e continua excessivamente punitivo em alguns casos, embora em outros momentos, apesar da dificuldade, seja também recompensador. Todavia, alguns críticos foram mais incisivos nesses pontos, apontando que as mecânicaas implacáveis do jogo, somadas ao fato de ter uma remasterização gráfica mediana e uma baixa qualidade de áudio, acabam por revelar sua idade para os dias de hoje.

De todo modo, uma coisa é certa, embora a execução do conceito de gameplay do título divida opiniões e a recepção do trabalho de remasterização tenha sido moderada, há um amplo consenso sobre o poder narrativo e estético dessa obra, por seus méritos no enredo, no estilo artístico e em suas mecânicas sólidas que, a despeito de sua boa ou má aplicação no level design, continuam bastante funcionais.

Shin Megami Tensei III: Nocturne HD Remaster — Switch/PS4/PC (Steam)
Desenvolvedora: Atlus
Gênero: RPG (dungeon crawler)
Lançamento: 24 de maio de 2021
Expectativa: 4/5

Revisão: Felipe Fina Franco
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Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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