Muitos já devem ter deletado de suas lembranças que disquetes uma vez existiram — e hoje em dia até mesmo CDs, DVDs e BDs estão sendo esquecidos. Porém, se pararmos para pensar, nos anos 70 a 90, as pessoas precisavam recorrer aos floppy disks para transportar arquivos — ou talvez até jogar videogame.
Nos anos 80, o Famicom (como é conhecido nosso Nintendinho no Japão) ganhou um periférico chamado Famicom Disk System, que, por meio de disquetes chamados de Disk Cards, permitia que os jogadores pudessem adquirir jogos de NES por preços mais acessíveis. Foi nesse contexto, então, que surgiu a duologia Famicom Detective Club.
Agatha Christie japonesa
Agatha Christie foi uma escritora inglesa que deixou um legado de mais de 80 livros. Destacando-se no gênero romance policial, a Rainha do Crime, como passou a ser conhecida, é também a criadora do excêntrico detetive Hercule Poirot.
Por que mencionar a romancista sendo que esta matéria fala de videogames? A resposta é simples: os dois jogos que compõem a duologia, The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind, são duas tramas interligadas que colocam o jogador no papel de um detetive. A mente por trás dessas histórias é Yoshio Sakamoto, que mais tarde veio a ser reconhecido por seu trabalho na série Metroid.
Capas dos disquetes de Famicom Detective Club Part II (The Girl Who Stands Behind) |
A duologia foi a primeira experiência de Sakamoto no campo da escrita de cenário. Embora com tramas diferentes — assassinato e elementos sobrenaturais, respectivamente —, os dois jogos foram muito bem-recebidos à sua época, tanto em termos de apresentação quanto de narrativa.
Para deixar Phoenix Wright orgulhoso
A jogabilidade de Famicom Detective Club lembra bastante a franquia Ace Attorney, salvo, claro, suas exceções — e sem a icônica frase “Objection!”. Ambas as histórias são contadas em primeira pessoa e o jogador conta com um menu de comandos para realizar ações — aqui, vale ressaltar que elas têm momentos certos para serem usadas.
Da esquerda para a direita e de cima para baixo: abertura do jogo; escolha de nome para o protagonista; tela de salvamento; exploração de cenário |
Tal qual em uma visual novel, o protagonista deve fazer escolhas para prosseguir na trama e Famicom Detective Club permite que o jogador salve o jogo sempre que for dada essa opção no menu de comandos, fazendo com que o progresso não seja perdido. De toda forma, tanto The Missing Heir quanto The Girl Who Stands Behind requerem minúcia e atenção do jogador na hora de realizar ações, sobretudo as escolhas durante certos diálogos.
Uma viagem de ida e volta no tempo
A duologia Famicom Detective Club, para os padrões dos jogos atuais, não apresenta nada de novo sob o sol e sua jogabilidade pode até parecer muito simplória para os aficionados por visual novels. The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind, no entanto, podem ser considerados os títulos precursores de muitos jogos do gênero existentes hoje em dia.
A primeira interação em The Girl Who Stands Behind se dá entre o protagonista e o detetive Utsugi |
Mesmo com sua simplicidade, essa dupla de jogos de três décadas atrás ainda é lembrada, provando que é possível, sim, atravessar a barreira temporal. Assim como muitos outros títulos “das antigas”, as aventuras de Famicom Detective Club ganharam reformulações e, acima de tudo, uma inédita localização para o Ocidente.
Revisão: João Gabriel Haddad