O Atlas de Hyrule: Lost Woods ao longo dos anos

Na última parada de nosso itinerário celebrativo, exploraremos a floresta mais misteriosa dos mapas da franquia.

em 02/05/2021
Nesses 35 anos de The Legend of Zelda, poucos lugares marcaram tanto quanto a Lost Woods, que soma nove aparições nos jogos da ramificação principal da franquia. Dessa forma, a ambientação cumpriu papéis cruciais em títulos de diferentes eras, colecionando curiosidades, trilhas sonoras inesquecíveis e, claro, muitos segredos por seus caminhos confusos. 


Hoje, faremos a parada final de nosso tour por Hyrule para desbravar a floresta conhecida por abrigar a lendária Master Sword em muitas ocasiões, sendo também frequentada por personagens importantes, como Saria e Skull Kid. Com o mapa e a bússola em mãos, tentaremos resolver os enigmas que se escondem entre a vegetação densa e as vias entremeadas da Lost Woods, uma das localizações mais icônicas do reino dos hylians. 

As origens da floresta

Como um verdadeiro labirinto, a Lost Woods sempre foi conhecida por ser um lugar difícil de ser explorado. Foi assim no título original de 1986, em que Link deve encará-la para chegar ao cemitério do jogo. Por trás da simples fachada que exibe árvores desgastadas em tons castanhos, o local é na verdade completamente traiçoeiro.

Acontece que as suas seções apresentam encruzilhadas, com opções de trajetos que podem fazer Link retornar ao mesmo lugar. Ou seja: em boa parte do tempo, de quatro caminhos possíveis, três não levam a lugar algum, apenas repetindo a tela anterior e parecendo uma caminhada em círculos. Assim, pode-se dizer que a grande dificuldade da ambiência não costuma ser seus monstros, mas encontrar o padrão certo a ser seguido.

Com esse grande mistério, a localidade parece um grande puzzle dentro da campanha, ou até mesmo uma pequena dungeon, o que se repete em outros títulos da franquia. Mesmo que nem sempre envolva vias que levam ao mesmo lugar, como no caso mencionado, os seus segredos sempre compreendem em dificultar o reconhecimento das localizações, o que é algo que persiste em A Link to the Past.

No jogo para o SNES, a floresta, localizada ao norte da Kakariko Village, apresenta aspectos ainda mais sombrios, com uma iluminação baixa e muita névoa. Da mesma forma, ostenta uma posição mais relevante dentro da trama, visto que conta com um segmento chamado Sacred Grove, que é o lar da Master Sword. Entre troncos e árvores, encontrar a espada é difícil, pois os lugares se assemelham e podem causar confusão, ainda mais se levarmos em conta que há réplicas do armamento pela região, o que é extremamente frustrante.

Além disso, a Lost Woods de A Link to the Past é conhecida por seus cogumelos mágicos; animais que correm pelo cenário, como esquilos e pássaros; e por ser o esconderijo dos Thieves. Embora eles geralmente sejam irritantes, pois vivem correndo atrás dos tesouros de Link, alguns são pacíficos e até promovem um Treasure Chest Game no norte da floresta, podendo render um pedaço de coração aos sortudos. Com tantos elementos, a localização é mais viva que no título antecessor, algo que viria a aumentar nos jogos seguintes.

Contornos tridimensionais e sentimentais

A Lost Woods fez a sua primeira aparição tridimensional em Ocarina of Time, lançado em 1998. Situada ao norte da Kokiri Forest, o lugar é um grande labirinto com muitas encruzilhadas, tal qual no primeiro título da série. Assim, a exploração funciona de maneira parecida, com o jogador tendo que acertar uma sequência entre as seções, que são divididas a partir de troncos de árvores ocos. Caso falhe, Link é jogado para fora do local, o que faz com que o desafio consista em permanecer dentro da floresta o tempo todo.

Conforme nos ensina Kaepora Gaebora em uma cutscene, o padrão correto pode ser descoberto ao prestar atenção nos sons do ambiente. Se Link escutar uma música bem específica ao se aproximar das entradas, significa que aquele é o caminho a ser seguido. Essa canção, que funciona quase como uma bússola, é nada menos que o tema de Saria, personagem importante da trama e que tem conexões profundas com a Lost Woods.

Acontece que a amiga de infância de Link passa muito de seu tempo na floresta, mais especificamente dentro do Sacred Forest Meadow. Lá, vivemos diálogos e momentos marcantes entre os personagens, que performam canções com suas ocarinas. Isso faz com que a floresta adquira um contorno sentimental bem significativo em Ocarina of Time. Não à toa, é uma das memórias mais vivas do jogo de N64. 

Além do mais, o espaço ostenta uma das primeiras dungeons do título, chamada Forest Temple, e portais escondidos, que levam a localizações como Goron City e Zora’s Domain. Ele também abriga seres únicos, como os Deku Scrubs, Moblins, Stalfos e Skull Kids, o que nos leva diretamente ao próximo jogo da série. 

Embora possa ser explorada apenas no início de Majora’s Mask, a Lost Woods tem um papel muito importante na narrativa: é lá que se passam as cenas iniciais do jogo, onde Link se depara com Skull Kid. Procurando por Navi, o protagonista acaba sendo atacado pelo vilão, que rouba sua ocarina e a Epona e transforma-o em um Deku Scrub. Isso faz com que o jogador tenha que se virar para achar o caminho que leva à cidade de Termina, onde se passa boa parte da trama. Mesmo com uma aparição breve, as cenas da Lost Woods no segundo título para N64 são algumas das mais famosas da franquia.

O retorno à visão top-down na era moderna 

Com o passar dos anos, a Lost Woods continuou a aparecer em The Legend of Zelda, sem nunca deixar de lado seus contornos labirínticos, como em Oracle of Seasons, Four Swords Adventures, Spirit Tracks e A Link Between Worlds. Coincidentemente, essa sequência cronológica sempre a exibiu em 2D, com a top-down view

Em Oracle of Seasons, de 2001, a floresta opera como um desafio para o jogador chegar a uma das dungeons do jogo, a Ancient Ruins. A dica para resolver o seu caminho misterioso pode ser descoberta ao conversar com um Deku Scrub, membro da única tribo que habita o local. A indicação passada por ele orienta o jogador a trilhar a seguinte sequência: oeste, sul, leste e norte.


Assim, sem maiores complicações, pode-se progredir pelo bosque, que também acolhe o pedestal da Master Sword. Todavia, ela só irá aparecer para quem tiver se aventurado no Linked Game do título, que na verdade se passa em Holodrum, e não em Hyrule; ainda assim, entra para o nosso Atlas.

Seguindo com a retrospectiva, Four Swords Adventures também apresenta sua versão da Lost Woods. Mesmo que o jogo tenha mecânicas um pouco distintas das tradicionais, ela compõe um de seus estágios, estando associada aos episódios que se passam dentro do Dark World.
 
Com muita névoa e lembrando a estética de A Link to the Past, a floresta carrega um contexto interessante: antes conhecida como Forest of Light, ela foi invadida por monstros e se tornou o espaço sombrio que conhecemos, sendo habitada exclusivamente pelos Deku Scrubs, que estão do lado de Ganon. Esse processo, que deixou o lugar macabro, ameaça os outros bosques da região, podendo convertê-los em obscuros e confusos caso a força do vilão se espalhe por Hyrule.

Cabe ressaltar que, em Four Swords Adventures, a Lost Woods entra na trama como o lugar onde se esconde o Dark Mirror, também servindo como uma conexão para se chegar em Kakariko Village. De acordo com lendas, aqueles que se perderem nos entroncamentos da floresta podem ficar presos para sempre e se tornar Deku Scrubs, o que é um mito similar a outro existente em Ocarina of Time. A única diferença é que no jogo para o N64 dizia-se que os aventureiros perdidos seriam transformados em Stalfos.


Enquanto isso, em Spirit Tracks, a Lost Woods entra na vida de Link como um obstáculo no caminho que leva ao Forest Sanctuary. Situada ao oeste de Whittleton, a floresta só pode ser explorada devidamente após conversarmos com os moradores do vilarejo. Assim, eles contam que certas árvores apontam o caminho certo para progredir no jogo de DS, lançado em 2009.

Por fim, uma das últimas aparições da Lost Woods foi em A Link Between Worlds, para o 3DS. Assim como em algumas ocasiões anteriores, a floresta é o lar da Master Sword, que pode ser encontrada após cumprirmos o desafio que envolve os fantasmas Poe. Tendo esse atributo como a sua maior peculiaridade, o título de 2013 exibe sua versão da floresta, que viria a aparecer novamente apenas em Breath of the Wild.

Momentos de tensão em Breath of the Wild

Uma das exibições mais dramáticas da Lost Woods certamente é a de Breath of the Wild, que não economiza recursos na hora de tornar a ambiência o mais misteriosa possível. A floresta está tomada por uma névoa, parecida com a de A Link to the Past, mas ainda mais sombria, o que complica a exploração feita em seu gramado alto e entre suas árvores características.

Como de costume, a Lost Woods do jogo está diretamente ligada à Master Sword, visto que é preciso atravessá-la para chegar na Korok Forest, onde a espada repousa com a proteção da Great Deku Tree. Entretanto, realizar esse feito não é uma tarefa tão simples, o que, convenhamos, não chega a ser uma novidade depois de tudo o que vimos até agora. 

Bem como em sua gênese, os aventureiros devem lidar com os entremeados que os levam a andar em círculos e impedem a progressão interna; qualquer movimento errado causa o retorno a uma tela de entrada bem frustrante. Diante disso, a solução para avançar está em observar as brasas que se soltam das tochas, que gentilmente indicam o caminho a ser seguido.

Uma das características bacanas sobre a floresta envolve a história da Great Deku Tree e dos Koroks, que são considerados cruciais na proteção da Master Sword. A Lost Woods, com toda a sua complexidade, ajuda a manter longe os intrusos indesejados que cobiçam a espada. Isso significa que os Koroks cultivam uma relação de proximidade com a floresta, mesmo sem frequentar suas áreas mais obscuras, que comportam inimigos, como os Stalmoblins, além de raros esquilos, pássaros e as flores Blue Nightshade. 

Playlist da confusão

Não é preciso falar que, assim como toda região da franquia, a Lost Woods também acumulou trilhas sonoras inesquecíveis ao longo dos anos, muitas compostas por Koji Kondo. No geral, é possível sentir que as canções seguem a mesma essência da floresta, com melodias que se voltam a aspectos misteriosos. 

Em Breath of the Wild, por exemplo, o uso de instrumentos de teclas cria uma atmosfera completamente obscura, que se junta ao som do vento que sacode a vegetação do local. Para muitos, a sonoridade pressiona e afeta na hora de decidir que caminho tomar, pois é bem fácil se sentir agoniado e cometer deslizes diante de barulhos tão tensos.


Algumas dessas características também são perceptíveis ao ouvir a música da floresta nos outros títulos, e digo isso quase sem exceções. Seja em A Link to the Past, Oracle of Seasons ou Spirit Tracks, as canções sempre combinam com o cenário obscuro e tomado pela neblina, originando uma experiência única nas mais diferentes ocasiões.

Porém, algo diferente ocorre em Ocarina of Time e Majora’s Mask: de alguma forma, a trilha ganhou ares animados e espirituosos nos jogos para N64. Talvez inspirada na personalidade de Saria ou dos Skull Kids, a música se destaca por ser diferente e beira o tragicômico, dado que é entoada de uma forma alegre quando a situação pode causar frustração.

Ainda assim, há algo nela que continua combinando com a confusão do cenário, embora seja difícil dizer se isso parte dos instrumentos de sopro ou da melodia, que é repetida muitas vezes em um curto período de tempo. De qualquer forma, é perceptível a potência da canção, que se tornou uma das mais famosas da franquia e certamente é assoviada por muitos jogadores involuntariamente. Portanto, pode-se afirmar que ela está à altura da Lost Woods e do protagonismo que o local adquiriu dentro da série The Legend of Zelda.

Perdidos desde 1986

Assim como muitos elementos da série Zelda, podemos ver como a Lost Woods se renovou ao longo dos anos sem abandonar muitos de seus conceitos originais. Seja no NES ou no Switch, a ambiência intrigante é muito mais que uma simples dungeon ou um mero puzzle a ser resolvido: é uma marca registrada da franquia, que foi incorporada com o passar dos anos e ganhou novos contornos com as tramas que se juntaram à cronologia do universo de Link.

Dessa forma, a floresta é uma parada obrigatória a quem deseja conhecer os cantos de Hyrule. Com um olhar retrospectivo, pode-se dizer que é muito difícil pensar em The Legend of Zelda e não lembrar de suas múltiplas versões da Lost Woods, que há três décadas e meia desafiam e encantam os jogadores com tanto mistério.

O Atlas de Hyrule

Revisão: Davi Sousa

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
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