Um protagonista raiz
Na Vila Vegetal, diferentes tipos de frutas, legumes e plantas coexistem harmoniosamente, cuidando de suas vidas e propriedades de acordo com as governanças do Prefeito Cebola. Porém, há um morador rebelde, chamado Pequeno Nabo, que simplesmente ignora as leis locais, especialmente os impostos cobrados regularmente aos moradores.
Dessa forma, o jogo inicia com um ultimato do governo, que envia um documento impresso dizendo que o personagem em questão deve pagar suas dívidas para não ter sua casa, que é uma estufa, confiscada. Assim como usualmente faz com os tributos, Nabo ignora a ordem e meramente rasga a declaração, o que parece ser uma mania do protagonista, que adora partir ao meio toda papelada que encontra pela frente.
Contudo, Cebola considera essa atitude o fim da picada e decide intervir. Após um longo sermão, que reforça que sonegação é algo sério e criminoso, o prefeito decide tornar Nabo seu assistente pessoal, dado que o tubérculo provavelmente não possui dinheiro para resolver sua situação financeira.
A tarefa de ajudante consiste em coletar determinados objetos para o governante, como um laser vermelho, um garfo gigante e sacos de fertilizante. Apesar da aparente desconexão, estes elementos farão sentido no desenlace da trama, mas por ora vamos nos ater aos desafios propostos pelo jogo, que envolvem explorar diferentes localidades para atender aos desejos absurdos do Prefeito Cebola.
Explorando calabouços e florestas
Com traços que às vezes lembram The Legend of Zelda, Turnip Boy possui um mapa que abriga diversas dungeons em diferentes temáticas. Cada uma é o lar de um dos itens desejados pelo gestor municipal, que envia-nos a florestas misteriosas, casas abandonadas, um bunker radioativo e outras localizações anormais. Até somos recrutados a investigar um cemitério com mecânicas similares às da Lost Woods na série de Link.
Dessa forma, os desafios impostos envolvem os momentos de exploração, tanto para achar e entrar nos calabouços, que ficam escondidos e trancafiados, quanto para progredir dentro das áreas até achar o dito objeto. Assim, entra a jogabilidade do título, que é simples e funciona bem, embora não inove dentro do gênero.
Controlando Pequeno Nabo em uma top-down view, vamos colecionando itens utilizáveis conforme progredimos. O primeiro deles é um regador simples, que consegue molhar plantas até elas se transformarem em bombas, o que é necessário para resolver os puzzles iniciais. Mais além, conseguimos um criador de portais e uma espada, que ajuda-nos a enfrentar chefões engenhosos e demais inimigos, como cervos e caramujos. Apesar de parecerem inofensivos, vale lembrar que tais animais são vegetarianos, o que coloca em perigo nossa vida enquanto planta.
Entre batalhas e quebra-cabeças para abrir portas, os desafios são simples e pouco exigentes, mas conseguem entreter em suas execuções, principalmente pela mistura bem-feita das mecânicas do jogo. Por exemplo, o uso das bombas aliadas ao poder de formar portais de teletransporte é prazeroso e permite destruir pedras que bloqueiam vias, assim como pode causar muito dano aos oponentes.
Com isso, a jogabilidade é sólida e funciona bem no geral, mesmo que não seja muito aprofundada ou revolucionária. É notável que manter esse setor em um nível razoável permite ao jogo brilhar no que ele realmente tem potencial para se destacar, que é sua intriga, composta por personagens singulares e circunstâncias inusitadas.
Elenco engraçado em ambientes deslumbrantes
Além da premissa ser completamente excêntrica e original, Turnip Boy Commits Tax Evasion diverte ao apresentar um monte de personagens cômicos, como uma mirtilo que perdeu seu celular, um picles em conserva mafioso e uma pesquisadora abacate que estuda as condições de vida da região. Eles participam tanto das tarefas principais quanto de mini sidequests bacanas que dão recompensas extras, como chapéus estilosos e corações de vida.
Para ser honesto, quase tudo no jogo envolve dialogar com os moradores da Vila Vegetal, o que é ótimo, pois esse mecanismo introduz outras histórias engraçadas e que servem de indicação para se achar os caminhos e itens necessários. Seguindo esse ritmo, entra em cena outro preceito importante, que abrange a coleta de documentos secundários na trama.
Com diferentes estilos, tais quais cartas entre amantes, autógrafos de uma streamer morango e livros de economia, eles são ganhos ao se resolver problemas contados pelos personagens. Todavia, para Nabo, pouco importa ganhar esses materiais; o que importa é rasgá-los.
Para se ter uma ideia de quão relevante é esse conceito de despedaçar as papeladas, o jogo só pode ser completado 100% ao partirmos ao meio tudo o que for possível. Fazer isso é uma sensação única e que representa bem a rebeldia do Pequeno Nabo, protagonista concebido com muita inventividade e que cativa.
Assim como a verve criativa, a estética do título também merece ser destacada. Seu visual com toques de pixel art é extremamente agradável, ostentando cores vivas e desenhos charmosos. O design dos personagens é bem original, se destacando nos momentos de diálogo, que é quando eles aparecem em tela cheia. Uma pena que essas animações que indicam as falas ignoram o chapéu que estamos usando, sempre exibindo Nabo em seu visual regular.
Para combinar com a vivacidade da aparência, as trilhas sonoras também são cativantes e alegres. Apesar de simples no geral, elas divertem com boas melodias e aspectos chiptune. Confesso ter adorado a canção executada nos créditos, que é extremamente diferente por contar com uma letra cômica e violão no estilo folk. Seria legal poder encontrá-la nos serviços de streaming musical para poder ouvir mais vezes.
Diante de tudo, é possível ver como a criatividade é o principal atributo de Turnip Boy Commits Tax Evasion. O jogo do Pequeno Nabo diverte por completo, cometendo poucos deslizes, que são insignificantes no geral. Contudo, há um defeito que é bem perceptível quando a aventura empolgante está exibindo seus créditos finais: a pequena extensão da campanha.
Quantas horas vive um nabo?
Apesar de todas as boas sacadas, apresentadas em um universo bem vivo com um número de personagens considerável, a aventura na Vila Vegetal dura pouquíssimo: são necessárias duas horas para se completar a campanha principal; com mais outra hora, pode-se conquistar os desejados 100%. Concordemos, isso é pouco para qualquer jogo, independentemente do preço — que aqui é R$ 76,45.
Desse modo, se dar conta de que a jornada com o Pequeno Nabo está chegando ao fim é uma sensação bem desapontante, e isso ocorre principalmente pelo título ser bem envolvente. Conquistar os itens para o Prefeito Cebola é viciante e, ao mesmo tempo, intrigante, pois dá vontade de saber o que vem a seguir e para que todos aqueles itens serão usados.
Portanto, nessa situação não é exagero utilizar-se da expressão clichê “gostinho de quero mais”, pois de fato dá vontade de seguir vivendo o charmoso universo de Turnip Boy, que conta inclusive com tradução para o português. Apesar de exibir alguns erros de digitação e cometidos na transposição do idioma, a presença de nossa linguagem é bem-vinda e aumenta a agradabilidade de uma experiência que já é naturalmente adorável.
Pagando tributos
Olhando para o todo, Turnip Boy Commits Tax Evasion soma muitos pontos por sua criatividade, que esbanja personagens, situações e diálogos hilários. Essas circunstâncias, somadas a visuais bonitos e desafios interessantes, geram uma jornada extremamente amável, que encanta mesmo com prazo de validade bastante curto. Assim, sonegar impostos e rasgar declarações são atividades tão legais que me fazem recomendá-las, mas claro, apenas na companhia do Pequeno Nabo e dentro da Vila Vegetal.
Prós
- História criativa e jogabilidade envolvente do início ao fim;
- Apresenta muito bom humor na composição dos personagens e ocasiões;
- Pequenas mecânicas divertidas que remetem à franquia Zelda;
- Estética adorável.
Contras
- Duração curtíssima;
- Os diálogos às vezes exibem erros de digitação e tradução.
Turnip Boy Commits Tax Evasion — Switch/PC — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games