O enredo dos Sete Mares
Em King of Seas, você pode escolher jogar com Luky ou Marylou, ambos filhos do Rei que comanda os Sete Mares. No meu caso, escolhi o jovem Luky, que é conhecido por sua habilidade com pistolas. Contudo, cabe ressaltar que essa escolha de personagem é apenas estética, sem modificar em nada o gameplay ou o rumo da história.
Seguindo esse contexto, as cenas iniciais apresentam o momento em que atingimos a idade necessária para poder pilotar nosso próprio navio. Para tal feito, somos instruídos por membros da Marinha Real em uma aula prática, que também serve de tutorial para as mecânicas de navegação do jogo.
Após as orientações, de maneira surpreendente, descobre-se que o Rei dos Sete Mares foi encontrado morto em seus aposentos. Por estar ausente durante o incidente, Luky é acusado por alguns oficiais do reinado de envolvimento no assassinato, que clamam que o herdeiro do trono queria ascender ao poder a qualquer custo.
Isso acarreta em nossa expulsão das dependências reais e uma decorrente perseguição por parte da Marinha, que bombardeia brutalmente o navio em que estamos em pleno alto-mar. Entre os destroços, Luky sobrevive e é resgatado por dois piratas, chamados Capitão D. Morgan e Leeroy. Após se introduzirem, eles se prontificam a ajudar-nos na investigação sobre o que realmente aconteceu com nosso pai e nos ensinam os ofícios do mundo dos piratas, o qual agora pertencemos. Basicamente, é a partir de então que King of Seas começa de verdade.
Para apurar os acontecimentos e provar nossa inocência, nós temos de fazer diversas tarefas por todos os Sete Mares, como se infiltrar entre oficiais do reinado, derrubar navios suspeitos e visitar outras cidades, como a clássica Tortuga, e o nosso novo lar, Eagle’s Den. Contudo, por sermos conhecidos e estarmos foragidos, muitas dificuldades surgem em nossos caminhos, com certas missões que exigem discrição nas navegações — que, por sua vez, são as únicas partes controláveis dentro do título.
Habilitados para a pirataria
Antes de tudo, é preciso deixar claro que King of Seas tem sua jogabilidade focada apenas em um setor: a navegação. Apesar de visitarmos diversas cidades, casas e tavernas, não controlamos as ações em terra firme, onde os acontecimentos são desenrolados no estilo visual novel, mas sem qualquer tomada de decisões nos diálogos exibidos.
Dessa forma, a jogatina consiste exclusivamente em controlar nosso navio em um mundo aberto; ou melhor, um mar aberto, repleto de localidades, embarcações e personagens singulares. Como dito, eles geralmente participam da campanha pedindo por favores em troca de possíveis informações sobre o atual estado do reinado.
Por exemplo, em certo período da trama, temos de conseguir madeiras para uma senhora que talvez possa ajudar-nos a entrar escondidos no território monárquico. Ou, ainda, temos de escoltar outros navios para que cheguem nos endereços corretos, em troca de informações advindas de piratas que dizem saber mais sobre o golpe de estado. Assim, conquistando o que nos é pedido, a aventura libera novos episódios e localidades em King of Seas, que conta com um mundo aberto expansivo gerado proceduralmente.
Tratando-se da jogabilidade, controlar o navio é bem intuitivo: em uma top-down view, podemos nos movimentar para qualquer direção com o analógico, enquanto a nossa velocidade pode ser ajustada com a ativação individual de três velas. Em outras palavras, quanto mais rápido desejamos navegar, mais velas temos de liberar.
Em sua proposta, King of Seas inevitavelmente enfrenta uma circunstância específica de verossimilhança: ora, pilotar embarcações tão grandes não parece uma tarefa tão fácil na vida real, certo? Isso é levado em conta pelo jogo, que oferece desafios na jogabilidade de acordo com tal conjuntura.
Virar completamente o curso do navio, por exemplo, não é algo muito rápido ou simples, exigindo calma e ambientes espaçosos, afinal, estamos guiando um veículo de grande porte. Portanto, leva um tempo até nos acostumarmos com a movimentação inusual, embora tudo funcione bem e de maneira responsiva.
Também dentro das técnicas de navegação, King of Seas exibe outro grande atrativo, que são suas batalhas navais, compostas por uma grande diversidade de ataques e habilidades. Como veremos, elas estão ligadas diretamente com o sistema de progressão RPG do jogo, que é extremamente envolvente.
No papel para ser o Rei dos Mares
Logo ao entrarmos no mundo aberto de King of Seas, podemos ver que cada embarcação presente no oceano, incluindo a nossa, conta com um número anexado, que indica o seu respectivo nível. Assim, como de costume em jogos RPG, são esses dígitos que irão ditar o poderio geral de cada navio, indicando se as batalhas serão fáceis ou difíceis.
Além do level individual, os navios também podem ser identificados a partir das cores de suas bandeiras, que representam se eles são comerciantes, piratas ou pertencentes à Marinha Real. Cada embarcação também carrega um título em seu layout, que geralmente informa se ela está transportando suprimentos, turistas, tesouros e afins. Além de ser crucial para completar as missões da narrativa, esses detalhes afetarão a jogatina de acordo com o contexto: por estarmos do lado da pirataria, as embarcações da realeza nos atacam agressivamente, enquanto outros navios são neutros com a nossa presença — mas que podem ser atacados mesmo assim.
Dentro das batalhas, King of Seas exibe uma poderosa interface de ação, contando com uma boa variedade de ataques e comandos. Os mais tradicionais envolvem os canhões laterais, que podem ser disparados com os botões ZR e ZL. Além deles, cada navio pode carregar quatro habilidades, como um lança-chamas embutido na proa, a invocação de um tentáculo gigantesco, gaivotas que incrementam a defesa e foguetes coloridos que atingem todos os navios dentro de um perímetro, o que acabou sendo o meu preferido pela diversão pirotécnica.
Para ser honesto, as primeiras batalhas do jogo me pareceram um pouco burocráticas e travadas, pois só tinha à minha disposição os canhões. Todavia, quando adquiri habilidades – que podem ser conquistadas em missões ou compradas nas cidades – o sistema de combate ganhou um brilho empolgante. É muito interessante ver as múltiplas combinações entre ataques e recursos de defesa, fazendo dos embates de King of Seas algo bem divertido.
Para subirmos de nível, precisamos acumular os tradicionais pontos de experiência, que podem ser ganhos em explorações, derrubando outros navios e em sidequests. Estas, são recrutadas nas tavernas das cidades, consistindo usualmente em pequenos favores, como transportar mercadorias (algumas suspeitas), derrotar embarcações e comprar rum para piratas sedentos. Apesar das missões serem um pouco genéricas em alguns momentos, há bastante coisa para se fazer e é fácil ficar entretido com as tarefas, nos fazendo deixar de lado a missão principal por severos momentos.
Para encerrar o leque de RPG, King of Seas também desfruta de upgrades para os navios, diferentes embarcações à venda, comercialização de itens com preços distintos entre as cidades, níveis de pescaria e um sistema de distribuição de pontos de talento, que podem melhorar nossas proezas, tais quais a velocidade de direção, diminuição do cooldown das habilidades e a força dos canhões.
Diante disso, King of Seas se sobressai na boa variedade de funções e melhorias enquanto role-playing game, que consequentemente incrementam as batalhas e missões. Ainda assim, saiba que nem tudo é mil maravilhas ao navegarmos por suas águas, nem sempre tão pacíficas quanto o oceano.
Crashes e outros naufrágios
Ao longo de minha jogatina em King of Seas, que já soma dezenas de horas, sofri diversos crashes no Nintendo Switch. Por algum motivo, a grande maioria ocorreu na parte inicial da campanha, especificamente antes de eu chegar ao nível 20. Enquanto alguns encerravam a aplicação de forma abrupta, outros congelavam o jogo nas telas do menu e mapa, forçando uma reinicialização — o que é frustrante e quebra o clima da jogatina.
Quanto ao gameplay, há algumas conjunturas que podem, literalmente, gerar naufrágios na aventura. Uma delas é a ausência de mira nos canhões laterais, fazendo com que seja difícil projetar nossos ataques em meio à tensão das batalhas. A parte mais complexa é entender o quão longe as balas poderão chegar, ainda mais considerando que há três diferentes estilos de projéteis nos navios. Dessa forma, tudo seria mais cômodo com um alvo.
Como dito anteriormente, as sidequests podem se tornar genéricas, principalmente pelo fato dos objetivos serem praticamente os mesmos sempre, mudando pequenos detalhes entre as ocasiões. Com isso, entre piratas, cartógrafos e navegadores com medos de navios fantasmas, é comum termos a presença dos mesmos personagens entre as muitas tarefas.
Todavia, arrisco a dizer que a experiência oferecida por King of Seas é bem agradável, superando, no geral, os problemas mencionados. Além do gameplay, o jogo também cativa com sua trilha sonora animada e gráficos tridimensionais bem simpáticos, que, embora com algumas animações um pouco embaçadas no modo portátil do Switch, oferecem aventuras marítimas grandiosas em nossas mãos, capazes de enfrentar qualquer tempestade em meio aos Sete Mares.
Yo, ho, uma garrafa de rum!
Mesmo com uma temática que já foi muito explorada culturalmente, King of Seas é a prova de que jornadas de piratas ainda podem render bons frutos nos videogames. O título encanta com suas batalhas intensas e principalmente com uma progressão RPG detalhada, que oferece um sistema vasto de nivelamento e upgrades. Assim, a aventura é robusta e envolvente, com um oceano de coisas para se fazer no melhor estilo pirata desbravador dos Sete Mares.
Prós
- Aventura pelos Sete Mares com uma história bacana e estética agradável;
- Um oceano vasto para se explorar no estilo mundo aberto;
- Atrativos que vão além da campanha principal, com muitas sidequests;
- Sistema de progressão RPG muito bem explorado e envolvente;
- Navegar é sempre divertido.
Contras
- Ocorrência de crashes;
- Começo da jornada pode ser um pouco vagaroso, principalmente nas batalhas;
- Repetição de personagens em missões secundárias.
King of Seas — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17