Com fortes inspirações em clássicos como a trilogia Donkey Kong Country (SNES), o título narra a aventura da coelha Kaze pelas Crystal Islands. Uma maldição recaiu sobre o arquipélago, transformando todos os vegetais em criaturas terríveis. Além de tentar trazer a normalidade de volta ao mundo, a protagonista deve também resgatar seu amigo Hogo e, para isso, ela contará com o apoio das misteriosas e poderosas Wild Masks.
As quatro máscaras de animais selvagens são responsáveis por variar o gameplay, apresentando desafios distintos que fogem do padrão de apenas correr e pular. Cada uma delas oferece poderes únicos para a personagem principal: águia permite que Kaze voe livremente pelos céus; tigre possibilita ao jogador escalar paredes; tubarão garante a habilidade de mergulhar na água; e o lagarto proporciona alta velocidade.
A coelha Kaze e seu amigo Hogo |
No entanto, o uso desses itens fica restrito a determinados trechos, ou seja, eles não podem ser aproveitados livremente. Algo bastante parecido ao que acontece com os animais amigos em Donkey Kong Country, encontrados dentro de uma fase ou outra, durante a jornada, e que são indispensáveis para superar certos obstáculos. Essa é apenas uma das diversas semelhanças que o jogo possui com a trilogia dos símios.
Cenouras ou bananas?
Bastam apenas poucos segundos para notar que Kaze é uma versão de Dixie Kong com orelhas maiores. Assim como a macaquinha, a coelha consegue permanecer por poucos segundos deslizando suavemente no ar depois de executar um pulo. Até mesmo alguns perigos que elas enfrentam são parecidos, por exemplo, ambas têm que atravessar corredores cheios de plantas espinhosas contando com a ajuda de caronas aéreas.
Os jogadores que finalizaram a trilogia original de DK frequentemente encontrarão em Kaze and the Wild Masks situações muito familiares. Essa inspiração acaba extrapolando o razoável, ora ou outra, por limitar as novas ideias. Existem sim conceitos inéditos no game e eles são extremamente bem planejados e executados, mas que perdem parte de seu espaço para desafios muito parecidos com os que superamos nos clássicos da Rare.
Esse movimento é bem familiar |
Fica bastante claro em muitas das fases que os desenvolvedores são capazes de criar conteúdos inovadores e é exatamente esse material que eu gostaria de ter visto um pouco mais. Parece que a criatividade estava presente no projeto, mas faltou uma pitada de ousadia para fugir daquilo que se provou acertado no passado e tentar coisas diferentes. No entanto, esse problema não é o suficiente para arranhar a identidade do jogo.
Para todos os públicos
O jogo oferece dois níveis de dificuldade, um voltado para os mais experientes e outro casual — oferecendo mais corações e checkpoints. Com isso, a aventura torna-se acessível para todos os públicos e pode até mesmo funcionar como porta de entrada para aqueles que querem conhecer o gênero. Já durante a jornada, a curva de aprendizado é excepcionalmente balanceada e jamais traz um sentimento de frustração.
Os últimos níveis são desafiadores na medida certa |
Sempre senti que estava evoluindo durante a campanha e dominando cada vez mais os comandos de Kaze, tanto que os chefes que pareciam impossíveis inicialmente foram vencidos sem que eu levasse nenhum dano, quando os encarei uma segunda vez. Tudo o que foi aprendido é colocado à prova no quarto, e último, mundo — mas não de uma maneira injusta como ocorre em outras aventuras de plataforma em 2D.
Parte desse equilíbrio pode ser atribuída aos controles muito precisos. Assumir o comando da coelhinha é satisfatório, mesmo nas fases em alta velocidade. Da mesma maneira, entender e explorar as possibilidades das Wild Masks é tarefa simples e, em pouco tempo, o jogador consegue aproveitá-las ao máximo — até mesmo a da águia e do tubarão, fazendo inveja para outros games que “tropeçam” em fases no céu ou na água.
Mesmo voando, controlar Kaze é sempre satisfatório |
Explorando as Crystal Islands
A campanha principal é dividida em quatro mundos, cada um deles com seis ou sete fases, além de um nível secreto e a luta contra o chefão. É possível terminá-la sem fazer o 100%, em cerca de cinco horas, sem problemas. Porém, boa parte dos jogadores irá atrás dos colecionáveis para revelar o final verdadeiro do game. Eu consegui coletá-los e assistir a conclusão real da jornada em pouco mais de sete horas.
A missão consiste em pegar 100 ou mais cristais vermelhos, as quatro letras que formam a palavra Kaze e vencer dois bônus em todas as fases. Para encontrar esses itens será necessário explorar muito bem os cenários, mas nenhuma das peças está realmente impossível de ser localizada sem a ajuda de um guia. Precisei repetir, cerca de três vezes, somente duas ou três fases para achar alguns que estavam um pouco mais escondidos.
É possível fazer os 100% em pouco mais de sete horas |
A busca pelos colecionáveis aumenta bastante o replay e, além deles, existem outros motivos para repetir os níveis, mas que não contam para os 100%. A coelhinha recebe uma coroa ao completar a fase sem sofrer dano e há, ainda, corridas contra o relógio. Superar as marcas de tempo pré-estabelecidas não é o único desafio, já que o game tem um placar de líderes que mostra os jogadores mais velozes.
O fator exploração se beneficia pela ausência de vidas ou continues, assim é possível repetir as fases sem a preocupação de receber um game over ou qualquer outra punição semelhante. Pular de um penhasco esperando ser salvo pelos portais de bônus torna-se uma tarefa bem menos preocupante ao saber que não será preciso sair da fase para coletar várias vidas extras, com o intuito de continuar a procura pelos colecionáveis.
Todas as fases têm três tipos de colecionáveis |
Conto de fadas animal
A narrativa avança de duas maneiras distintas: por pequenas animações entre certas fases e por ilustrações recebidas todas as vezes que completamos a palavra Kaze. A história é totalmente visual e não há nenhum tipo de texto que a complemente. Se por um lado essa escolha torna tudo mais acessível, por outro acaba deixando o enredo bastante interpretativo. Caberá a cada jogador desenvolver suas teorias e certezas.
Parte do enredo é contada por meio de ilustrações |
Essa análise da narrativa é favorecida pelo excelente trabalho artístico, com todas as imagens e animações muito bem caprichadas. O polimento visual se espalha para todos os demais aspectos do game, com cenários chamativos e bem coloridos, boa variedade de modelos de inimigos (fugindo do clichê de vilões de tonalidades diferentes para mostrar que são mais fortes) e sprites grandes, detalhados e com belas animações.
A trilha e os efeitos sonoros seguem pelo mesmo caminho, com faixas que não se tornam cansativas mesmo quando o jogador fica por muito tempo “empacado” em determinada fase. As músicas se encaixam perfeitamente dentro da temática de cada mundo, além de conseguirem passar uma sensação de familiaridade. Com isso, mesmo as escutando pela primeira vez, eu não demorava para cantarolá-las entre um pulo e outro.
Há uma variedade interessante de inimigos |
Orgulho nacional
Fazia certo tempo que não me sentia tão empolgado com um jogo de plataforma 2D, um de meus gêneros favoritos. Apesar de abusar um pouco dos elementos vindos de Donkey Kong, o título tem a sua própria identidade e oferece uma aventura divertida. O fator exploração é extremamente recompensador. Encontrar cada colecionável ou bônus escondidos me arrancava pequenos sorrisos de satisfação.
Somado ao gameplay sólido e com controles de fácil domínio, vem um trabalho artístico e sonoro dignos de elogios. Kaze and the Wild Masks pode ser merecidamente colocado entre os melhores jogos de plataforma 2D disponíveis na biblioteca do Switch e é mais uma prova de que o mercado nacional de produção de games tem nível e talento mais do que suficientes para produzir obras capazes de encantar jogadores do mundo inteiro.
Prós
- Mecânica das Wild Masks traz ótima variedade ao gameplay;
- Curva de dificuldade cresce em um ritmo satisfatório;
- Fator exploração é muito bem trabalhado;
- Replay incentivado pelos colecionáveis e outros conteúdos extras;
- Ótimo trabalho de pixel art.
Contras
- Excesso de semelhanças da franquia Donkey Kong;
- Enredo poderia ser melhor explorado.
Kaze and the Wild Masks — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Soedesco