Análise: Stitchy in Tooki Trouble (Switch): um jogo muito preso nas referências a Donkey Kong Country

Um personagem com potencial, em um game com muitos erros.

em 27/04/2021
Stitchy in Tooki Trouble é o mais recente lançamento do estúdio belga Polygoat. Trata-se de um jogo de plataforma clássico, mas que não utiliza gráficos pixelados. A jornada pelas fases ocorre em belas imagens 2.5D atuais. Porém, em vez de um guerreiro ou um animal antropomórfico, a aventura é estrelada por um espantalho.


A figura do espantalho está bem estabelecida na cultura pop. Apesar de não ser comum aqui no Brasil, a presença da produção cultural estrangeira, principalmente dos Estados Unidos, faz com que o personagem não seja um estranho em nossas terras. Temos abordagens soturnas, como o vilão do Batman, uma música do Pink Floyd, diversos contos e filmes de terror.

Por outro lado, um dos mais conhecidos usos do boneco é o parceiro de Dorothy em O Mágico de Oz. É essa rara concepção positiva que inspira a construção de Stitchy, um simpático espantalho que fará de tudo para proteger a plantação onde mora.

Outra evidente inspiração aqui é a série Donkey Kong Country. Vários elementos da franquia da Nintendo estão presentes ao longo do jogo. Mas essa presença é tão constante, e tão fortemente sentida, que acaba se tornando uma sombra, eclipsando os predicados e os méritos que Stitchy in Tooki Trouble poderia alcançar por conta própria.

A começar pela história e pelos vilões. O que motiva Stitchy a deixar sua fazenda é o roubo dos milhos da plantação pelos Tooki, seres que são basicamente uma máscara tribal de madeira. Troque milhos por bananas, e você tem o plot de Donkey Kong Country Returns (Wii). Substitua Tooki por Tiki, e você tem vilões cujas semelhanças vão além do nome.

Acho que já vi isso antes…

Stitchy in Tooki Trouble se desenrola ao longo de três mundos: uma floresta, um mundo nevado e uma área industrial com lava. Cada mundo possui nove fases, um chefe e um estágio secreto, que só é destravado após coletar um número determinado de totens. É uma estrutura já clássica de jogos de plataforma.
O visual é um dos pontos altos do game.
As fases são bem feitas, com uma noção de profundidade bem aplicada e um cenário bonito e vivo. É interessante reparar na ação e em pequenos detalhes que ocorrem ao fundo, contribuindo para o carisma do título. O design de Stitchy e sua movimentação também são muito agradáveis, seja pulando ou escorregando pelas ladeiras.

Contudo, a influência de DKC salta mais aos olhos do que esse bom trabalho. Por vezes ocorre uma adaptação, como as correntes que fazem as vezes do cipó do gorilão. Mas há momentos em que o título passa os limites da inspiração, como os canhões aéreos e as fases com carrinhos de mina.

Para deixar claro, o problema não é se apropriar do que já foi feito pelos outros. A familiaridade com a série Country gerou uma simpatia imediata com Stitchy. Porém, com o decorrer da jogatina, ficou a impressão de que o objetivo era simplesmente copiar em vez de criar algo novo.

Lutando para brilhar

A verdade é que a sombra de Donkey Kong não é o único fator que pesa sobre Stitchy in Tooki Trouble. O visual é agradável e os personagens são carismáticos, mas o jogo é lento. Tanto o protagonista quanto os inimigos se movem muito devagar, o que ajuda a admirar os cenários bem feitos, mas também diminui a diversão. Em certo estágio, por exemplo, a lava sobe de nível e é necessário pular pelas plataformas antes que a tela seja preenchida e assim evitar a morte. Porém, tudo acontece tão calmamente que o senso de perigo é inexistente.
Uma viagem mais lenta que carrossel infantil.
Um ajuste de velocidade nos Tooki e adicionar a opção de segurar um botão para Stitchy correr faria muito bem ao gameplay. Mas ainda restaria a necessidade de um ajuste na dificuldade. É difícil ser atingido pelos inimigos, cair em algum dos obstáculos ou mesmo ficar sem corações, já que há reposições disponíveis por toda a fase. Além disso, tem tanto milho a ser coletado que juntar 100 para ganhar uma vida é inevitável. Num piscar de olhos, eu já estava com mais de 20 vidas sem me preocupar em consegui-las.

A dificuldade baixa poderia ser relevada se o jogo fosse desafiador. Infelizmente, Stitchy in Tooki Trouble falha neste ponto também. As plataformas que cedem demoram tantos segundos para cair que há tempo suficiente para vencer um Tooki e pular para um solo seguro. Os chefes mostram com tanta antecedência seus movimentos, que desviar de seus golpes é moleza.

Os três totens coletáveis por fase são um grande exemplo desse problema. Diferente das letras KONG, que nem sempre estavam em locais evidentes ou fáceis de serem alcançados, os totens praticamente estão no seu caminho. Desse modo, destravar o estágio secreto não consiste em um desafio de fato.
Num piscar de olhos, já estava na porta do grande vilão.
Com apenas três mundos, a baixa dificuldade e as fases nada desafiadoras, a duração do game é bem curta. Com duas horas é possível terminar tranquilamente com todos os totens coletados e estágios liberados. Mesmo os trechos nos carrinhos de mina, um diferencial memorável na série Country, aqui se transformam em um passeio esquecível.

Stitchy in Tooki Trouble tinha tudo para ser uma boa pedida — um protagonista carismático, cenários atraentes e visuais agradáveis. A inspiração em Donkey Kong Country, porém, beira à cópia, que não foi realizada com a mesma qualidade. A falta de desafios e a baixa dificuldade tornam difícil recomendar o título, a não ser para introduzir o gênero a crianças pequenas.

Prós

  • Belos gráficos;
  • Cenários interessantes;
  • Protagonista carismático;
  • Design de personagens competente.

Contras

  • Falta de originalidade;
  • Baixa dificuldade;
  • Sensação de desafio inexistente;
  • Lentidão dos personagens prejudica a experiência.
Stitchy in Tooki Trouble - Switch - Nota: 5.0
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Polygoat

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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