Análise: Shantae (Switch) completa a peça que faltava para a franquia no híbrido da Nintendo

Pouco conhecido e ainda menos jogado, o primeiro game da franquia da meio-gênia mais famosa do mundo mostra porquê da série ser sinônimo de qualidade.

em 01/05/2021
Com todos os demais jogos da franquia lançados para o Switch e após quase 20 anos desde o seu lançamento original para o Game Boy Color em 2002, a primeira entrada da franquia, Shantae (Switch/GBC), finalmente chegou ao híbrido da Nintendo. Apesar de ter conquistado poucas vendas originalmente, o consagrado, raro e surpreendente título do portátil colorido mostra ser um robusto jogo de plataforma 2D, misturando dificuldade, jogabilidade e magia de maneira genial.

Um game tão raro quanto a lâmpada

Nos dias atuais, um cartucho legítimo de Shantae para o Game Boy Color se tornou um dos tesouros mais procurados por colecionadores ao redor do mundo, devido ao seu lançamento tardio e a baixa tiragem. No entanto, pelos ótimos reviews que o game recebeu, a crescente mística por trás do game tornou-o uma gema perdida na biblioteca do portátil.


Com o relançamento no Switch, será para muitos a primeira oportunidade — após a despercebida versão para o Virtual Console de 3DS — de se jogar uma versão legítima da primeira aventura da meio-gênia, já que se trata de um port para a nova plataforma. As mudanças promovidas pela WayForward foram apenas uma opção de extras com imagens conceituais, sprites e mapas disponíveis no menu inicial, além da opção de jogar também a versão com aprimoramentos gráficos para o GBA, tudo isso em um sistema quase idêntico ao do NES/SNES Online.

Outro fato curioso é que o desenvolvedor desse port para o Switch é um famoso YouTuber da comunidade de Homebrew americana, conhecido como Modern Vintage Gamer, que publicou um vídeo detalhando todo o processo de desenvolvimento e portabilidade.

Entre botas e piratas

A história de Shantae se inicia com uma demonstração da sua vida tranquila como guardiã do pequeno porto pesqueiro de Scuttle Town. De repente, um barco pirata, comandado por Risky Boots, ataca o local e rouba uma das mais avançadas tecnologias disponíveis: o Steam Engine. Sem saber muito do que se tratava, mas preocupada com a população local, Shantae parte em busca de Risky para recuperar a máquina a vapor e evitar que o mundo caia em uma calamidade causada pelo uso maligno da ferramenta.


No universo do jogo, Shantae relembra várias vezes que não é ainda uma gênia por completo, mas que mesmo assim conta com saltos acima do comum, além de conseguir infringir dano com seus cabelos roxos amarrados e possuir o poder das danças mágicas. Tudo isso pode ser ainda aprimorado com a compra de itens acessórios de uso limitado, que vão desde proteções contra quedas em penhascos e inimigos até nuvens ambulantes que eletrocutam seus inimigos.

Todo cenário disponível no mundo do jogo é conectado, sendo cada ambiente uma tela contínua, como em um mundo aberto. Assim, basta saber como pular e resistir a danos ao explorar os ambientes, além de contar com as habilidades desbloqueáveis certas, já que certas partes do mapa são inacessíveis até que você tenha adquirido as habilidades necessárias. Dessa forma, o mundo se destrava gradualmente, dando uma sólida sensação de progressão.


Há também vários colecionáveis interessantes espalhados por todo o mapa, proporcionando mais incentivo para explorar um pouco fora do caminho linear. Os vaga-lumes e os Heart Holders ficam muito bem escondidos e servem para desbloquear uma dança de cura e ampliar um coração na sua vida total, respectivamente. Já dentro dos labirintos existem pequenas lulas chamadas de Warp Squids; ao juntar quatro delas e entregá-las para a Squid Mother de uma das cidades, você consegue se teleportar até lá.

O jogo também apresenta um ciclo bem básico de dia e noite, o que proporciona mudanças naquele ambiente, como inimigos diferentes, vaga-lumes em novos locais e até mesmo cidades diferentes, como é o caso da Caravana Zumbi. Impressiona como a mecânica ocorre sem dificuldades, já que jogos atuais ainda sofrem para adaptar mecânicas similares.

Um mundo ideal...

Enquanto se explora as cidades, a jogabilidade se altera, com a câmera colocada atrás de Shantae e rotacionando entre as diferentes lojas ou nos direcionando para falar com um dos habitantes. Há sempre uma sala para salvar o jogo, uma sala de banhos para recuperar os seus corações perdidos, a casa da Squid Mother e alguns minigames que fornecem bônus na forma de itens ou moedas. Pequenos trechos da história se passam explorando algumas dessas casas, onde conhecemos os personagens secundários da trama, mas nada muito especial.


Para que a Steam Engine funcione corretamente, Risky Boots vai atrás das pedras elementais, escondidas em quatro labirintos diferentes. São nesses momentos que o jogo mostra seus elementos típicos de metroidvania, com salas cheias de quebra-cabeças, passagens secretas, portas trancadas e inimigos. É bem problemático, no entanto, que não há a possibilidade de se consultar o mapa de nenhum deles enquanto se joga, o que faz o desafio ser duplamente maior, tendo que contar com a sua memória espacial e um pouco de adivinhação para encontrar a rota certa.

Em cada labirinto é libertada uma gênia que ensina novas danças a Shantae, possibilitando que ela se transforme em um macaco, um elefante, uma aranha ou uma harpia ao longo do jogo, cada um com características próprias de jogabilidade. O final de cada labirinto é protegido por um chefe, guardião da pedra elemental, e que, embora não sejam muito difíceis, dão novas dinâmicas ao sistema de combate. 


Para ativar cada transformação, deve-se pressionar X para ativar o modo de ritmo e, no momento em que as as colcheias musicais estejam coloridas, deve-se pressionar um direcional, A ou B de cada vez, no tempo da batida. Inicialmente, é um bocado complicado entender o sistema, mas depois de desbloquear os poderes associados e ter que repeti-los várias vezes, se torna mais natural, mesmo que ainda reste uma sensação de que poderia ser mais simples.

Ao se transformar em um macaco, é possível escalar paredes e saltar mais alto; o elefante é capaz de destruir barreiras e infringir muito dano, apesar de pular muito mal; a aranha consegue escalar algumas seções no background; a harpia tem a capacidade de voar. À medida que o jogo continua, o uso de combinações destes animais torna-se cada vez mais importante e, como um bônus, proporciona a Shantae muito mais variedade de exploração. Mais ao final do jogo, é possível também encontrar e desbloquear talismãs que permitirão atacar mesmo enquanto transformada, embora pouquíssimas referências a eles sejam feitas durante toda a trama.

Dificuldade como antigamente

É importante ressaltar que Shantae não é um jogo fácil; os seus ataques são muitas vezes fracos e os inimigos atacam muito, com um dano bem superior ao seu, mesmo quando não estão visíveis na tela. Ao ter todas as vidas ceifadas, retornamos ao último ponto de salvamento, o que é muito frustrante, dado que eles ficam entre cada labirinto e uma cidade, caminho que geralmente tem grandes trechos de exploração. Mais frustrante ainda é quando você morre para o chefe de um labirinto, pois ainda será necessário passar por todas as salas superiores até alcançar a sala do chefe novamente.


É aí que o sistema de emulação similar ao do NES/SNES Online, novidade desse relançamento, funciona muito bem, sendo possível criar os save states a qualquer momento e retornar desse ponto — o difícil é lembrar de fazer isso sempre. Enquanto jogava, no entanto, encontrei um problema causado nesse sistema, o que causou o meu jogo inteiro a ter bugs visuais ao carregar um trecho guardado durante uma tela de loading. Felizmente, bastou reiniciar o game para que tudo voltasse ao normal. Ademais, há a opção de jogar o game com diferentes filtros gráficos, simulando a aparência de uma tela LCD, da maneira original ou com otimizações.

Os extras adicionados na tela de menu inicial acrescentam realmente pouco à experiência. Claro que para os fãs da personagem poder vê-la ainda em rascunhos e esboços é interessante, mas não é algo que o jogador vá consultar mais do que uma vez, se tornando bastante esquecível frente ao resto do jogo. O destaque vai para os mapas, mas que infelizmente são impossíveis de se consultar durante a jogatina, a não ser que você tire uma screenshot da imagem e a consulte pelo aplicativo de Fotos do Switch.

Além disso, um desconforto problemático é percebido ao controlar a personagem pela primeira vez, quando a jogabilidade parece um pouco estranha, para dizer o mínimo. A movimentação é inicialmente bem lenta e bastante truncada, com a opção de correr sendo indispensável em todos os trechos, e o estilo dos puzzles de plataforma torna indispensável a utilização de um D-Pad, a não ser que você tenha sangue frio para morrer diversas vezes por falta de precisão dos comandos do Joy-Con. 

A própria beleza em 8 bits

O visual de Shantae é extremamente bem animado, e cada nível é bem detalhado e variado. Há até mesmo alguns efeitos peculiarmente inteligentes incluídos, como quando Shantae está andando em uma área sombria ou ainda após coletar uma das pedras elementais. A WayForward usou soluções interessantes que fizeram seu jogo não envelhecer tão rapidamente. Os sprites são grandes e claros e é de se espantar a quantidade de detalhes que foram incluídos com tão poucos pixels disponíveis.


A trilha sonora, composta por Jake Kaufman, é realmente impressionante, dadas as limitações sonoras tão grandes do portátil, e me peguei assobiando o tema principal por diversas vezes mesmo quando não estava jogando. Cada ambiente possui sua própria trilha que, apesar de não serem exatamente tematizadas com o local, funcionam muito bem.

O lançamento de Shantae para o Switch é a maneira definitiva de jogar essa jóia subestimada, ainda com alguns extras para somar à experiência. É um jogo impressionante para os padrões da época e ainda é realmente divertido jogá-lo no Switch em 2021. O seu visual, em especial com os aprimoramentos da versão de GBA, não ficou datado e os poucos problemas não afetam a ótima aventura da meio gênia. É uma franquia que agora, com seus quase 20 anos completos, recebe um novo holofote no híbrido da Nintendo e se junta a todos os demais títulos da série já disponíveis na plataforma mostrando bem porque Shantae é uma personagem tão querida.

Prós

  • A variedade de jogabilidades funcionais torna o jogo muito completo;
  • Gráficos lindíssimos que se mantêm relevantes até hoje;
  • Nível de dificuldade equilibrado o suficiente para se manter desafiador e divertido;
  • Design dos labirintos muito bem executado e próprio do estilo metroidvania.

Contras

  • Ausência de um mapa nos labirintos faz muito falta;
  • É completamente necessário jogar o game com um D-Pad;
  • Interface à lá Virtual Console é simples demais e causa bugs no jogo.
Shantae (Switch)  — Switch/GBC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela WayForward
Shantae já está disponível na eShop brasileira
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Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
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