Análise: Narita Boy (Switch): viaje pelo Reino Digital com um disquete, nostalgia e muitas Tecnochaves

Narita Boy é o título de estreia do Studio KOBA, com gráficos nostálgicos de cair o queixo em uma viagem pelo Reino Digital que vale a pena. Confira!

em 05/04/2021


Muito frequentemente, encontramos aqui no Nintendo Blast notícias de títulos financiados por meio do crowdfunding, que é quando o público em geral financia e aposta no desenvolvimento de um game — ou de qualquer outro tipo de produto — antes do seu lançamento. Em geral, essas notícias acabam esquecidas, pois muitos anos separam o início do financiamento da entrega final. Os resultados, entretanto, são geralmente boas pérolas entre os jogos independentes, como é o caso do título de estreia do Studio KOBA, financiado em 2016 por meio do Kickstarter.

Narita Boy é uma aventura de ação situada dentro do Reino Digital, onde o protagonista, um humano materializado como o escolhido, deve salvar o código-fonte da ruína de Him, um programa maligno do Feixe Vermelho. Com uma história complexa e bem montada, o jogo falha na conexão das ideias, preenchendo muitas lacunas com cenas clichê. Ainda assim, vale a pena viver a aventura só pela nostalgia!

Preenchendo as lacunas do Tricroma

Lionel Perl é um cientista e engenheiro conhecido por sua engenhosa criação, o Narita One, um computador vendido em conjunto com um jogo chamado Narita Boy. A máquina é, na verdade, lar de um reino complexo construído por ele, chamado de Reino Digital. Com plenos poderes sobre o que acontece lá, o Criador — como Lionel é chamado digitalmente — tem suas memórias roubadas por um código maligno chamado Him.

Assim, sem saber o que deve fazer, os programas do Reino Digital acionam o protocolo Narita Boy, chamando um outro humano — você — para incorporar o herói digital, utilizar a Tecno Espada e buscar todo o backup de memórias do Criador.


Clichê até aqui, a história é apenas a introdução para um universo complexo e completo criado pelo Studio KOBA, e quem o apresenta é a Motherboard, entidade-mãe do Reino Digital. Com seu poder sobre o código-fonte, ela auxilia o herói na busca de todas as memórias, protegidas no interior de totens secretos.

Como símbolo principal de sustentação desse reino, existe o Tricroma, que não é um personagem, mas sim um conceito. Dividido em três cores — amarelo, vermelho e azul —, ele representa o equilíbrio e divisão do Reino Digital em vertentes bastante específicas, as quais o herói terá que visitar.


Seja na Simulação Deserto do feixe amarelo, no chuvoso Feixe Azul ou no corrompido Feixe Vermelho, casa do programa maligno Him, existe uma infinidade de ambientes e personagens para ser encontrados, com diversas motivações e um pedacinho de história para ser contada. É tudo muito vivo, complexo e bem pensado, e a comédia fica por conta dos termos relacionados à programação, que renderam algumas gargalhadas da minha parte.

O universo tão complexo de Narita Boy, porém, se arrasta um tanto para conduzir a sua ideia de enredo e prender o jogador. É como uma história que foi planejada antes e, na pós-produção, precisou de preenchimento entre as cenas-chave para parecer mais longa.

Para que fique mais claro, dou um exemplo: em certo momento, é necessário encontrar um Tecnopadre em uma taverna localizada no feixe amarelo, já que ele possui uma Tecnochave que dá acesso ao salão do trono do Rei Amarelo. A taverna, porém, foi trancada por programas maliciosos de Him — chamados Stallions — e você precisa encontrar essa segunda chave e lutar com alguns inimigos.


Note que, nesse caso, são duas trancas "em cadeia" que você precisa só para falar com um NPC importante, o rei. Mas esses momentos chegam a ficar ainda mais complexos, com chaves divididas em mais partes e encadeadas até três vezes. No fim, você está circulando para lá e para cá levando e trazendo os requisitos para chegar numa memória.

Depois disso tudo, você ainda se encontra com personagens não jogáveis de pouca importância, já que eles te contarão o que aconteceu, dirão um pouco do passado do seu Feixe e deixarão você chegar ao objetivo. Não caberia comentar aqui nesta análise se esse detalhe fosse pontual, mas o jogo todo é construído em torno da ideia de encontrar muitos personagens de pouco impacto que contarão uma história e te entregarão a memória.

Limito-me a comparar Narita Boy com qualquer outro título de enredo interessante por aí sem citar nomes, basta que você imagine um jogo de aventura de sucesso dos últimos dez anos. Montar uma história bem contada que te prenda é sempre padrão em todos os exemplos imaginados, mas preencher o caminho entre o início e fim dela é o que torna um game tão importante, não apenas limitando o fim à obtenção de uma chave para acessar uma porta.

Por outro lado, se ignorarmos completamente essa questão — o que é um pouco complicado —, a trama principal é interessantíssima e envolvente. Cada memória revelada pode ser revivida por Narita Boy para entender o passado do Criador e também os motivos de tal catástrofe no Reino Digital.



A deslumbrante aventura pelo Tricroma

Em contraste à dose de tédio e repetição, Narita Boy traz uma polida e completa experiência artística. Não há momentos em que você dirá que já viu um cenário nem músicas repetidas, pois tudo é sempre muito novo. O cuidado que os desenvolvedores tiveram com essa aventura pode ser encontrado nas animações montadas nos mínimos detalhes, nos ambientes com estilo retrofuturista e nos combates épicos contra os diferentes inimigos.


Mesmo sendo relativamente curto, com cerca de 7 horas de duração, Narita Boy consegue trazer variadas mecânicas de combate e uma gama de power-ups que enchem os olhos. Além disso, cada inimigo tem padrões de movimentação diferentes, que devem ser compreendidos com calma para a minimização das mortes, e, mesmo que você morra várias vezes, há pouca punição pelos erros, te recolocando com a vida cheia em um dos frequentes checkpoints mais próximos. Os jogadores que procuram uma experiência mais desafiadora e completa, portanto, não encontrarão nessa aventura qualquer barreira, mas a diversão é garantida.

Algumas características-chave de jogos independentes, por exemplo, poderiam ter aparecido e serão grandes aliados do sucesso em patches de atualização futuros, como o multiplayer acompanhado de um rebalanceamento para dois jogadores. A inserção de novos modos de dificuldade também pode contribuir para a diversidade de públicos atendidos, abrangendo tanto os novatos quanto os gamers hardcore.

Visitar o Reino Digital é uma aventura marcante, principalmente pelo seu estilo gráfico abençoado e retrofuturista, mas a falta de experiência do Studio KOBA tornou o enredo um pouco repetitivo e cansativo, em um leva e traz de Tecnochaves pelos cantos do Reino Digital. Ainda assim, vale a pena conferir Narita Boy, que deve encontrar seu lugar entre os jogos independentes de sucesso e ganhar uma sequência nos próximos anos.



Prós

  • Visuais deslumbrantes em estilo retrofuturista;
  • Trilha sonora impecável;
  • Progressão acessível e pouco punitiva.

Contras

  • Lacunas entre os pontos-chave da história preenchidas com vai e vem de Tecnochaves;
  • Ausência de multiplayer;
  • Ausência de outros modos de dificuldade.
Narita Boy — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

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Fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software.
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