Análise: Monster Hunter Rise (Switch) mostra suas presas em uma experiência quase impecável

O melhor de dois mundos se encontram em um dos RPGs de ação mais refinados da atual geração.

em 08/04/2021


Prezados caçadores, está aberta a maior e mais divertida temporada de caça da história com a chegada de Monster Hunter Rise no Nintendo Switch. Mais dinâmico, carismático e monstruoso do que nunca: o novo título da franquia de RPGs de ação da Capcom se encontra faminto para consumir o coração dos jogadores, no bom sentido da expressão, é claro.

Apostando em uma identidade temática inspirada na cultura japonesa, Monster Hunter Rise almeja trazer de volta os elementos e o carisma que se sobressaíam nos jogos clássicos da série ao mesmo tempo que aperfeiçoa as melhorias introduzidas em Monster Hunter World (Multi). O resultado final é uma combinação tão impressionante que é necessário ver para crer.

Caçando por Kamura

A premissa de Rise é bem simples e direta ao ponto, ainda mais em comparação com a narrativa desnecessariamente ambiciosa de Monster Hunter World. Basicamente, você controla um caçador novato da aldeia Kamura, uma pequena vila baseada no Japão feudal, com o objetivo de caçar monstros e coletar materiais em prol da prosperidade da vila, que por sinal se encontra ameaçada por constantes ataques de uma onda de monstros agindo de forma misteriosa.

Assim como a outros jogos da série, o início de Monster Hunter Rise também conta com um ritmo lento e explicativo antes de realmente engatar com as grandes caçadas. Uma diferença notável em Rise é o fato de que esses momentos introdutórios são utilizados para aproximar o jogador da vila e de seus respectivos habitantes. Tudo nesse início tem uma vibe tão confortável e aconchegante que o jogador realmente passa a se sentir em “casa”.




Para encarar os monstros, o jogador pode manejar armas divididas em 14 tipos de classes únicas. Cada classe de arma apresenta jogabilidades e mecânicas bem distintas com o intuito de agradar os gostos variados de cada caçador. Gosta de ser ágil no combate? Pegue as Duplas-lâminas. Prefere algo lento e forte? Tente o Martelo ou o Espadão. Curte manter a distância? Experimente o Fuzilarco leve. A variedade é tanta que fica impossível não encontrar uma que se encaixe com a sua preferência pessoal. Há quem diga que parece até um jogo totalmente diferente, dependendo da arma escolhida.

A maioria das classes são fáceis de aprender e difíceis de se dominar. O balanceamento foi feito na medida para deixá-las amigáveis e divertidas para os novatos, porém sem sacrificar a enorme complexidade de possibilidades e combos que apenas os veteranos percebem. A mudança que ocorreu com o Berrante de Caça, até então vista como uma das classes mais complexas e menos populares da série, foi um ótimo exemplo de como Rise conseguiu tornar a arma mais atrativa ao mesmo tempo que manteve a sua profundidade instigante.



Verticalidade é a nova moda

Seguindo a mesma mentalidade, o grande foco da equipe da Capcom em Rise certamente foi direcionado para as inúmeras mecânicas inéditas introduzidas no título. Dentre elas, a novidade mais significativa foi sem dúvidas a inclusão dos Cabinsetos (Wirebugs em inglês), que servem como verdadeiros canivetes suíços para qualquer situação possível.

Ao utilizar uma carga de Cabinseto, os caçadores podem se locomover para qualquer lugar através do lançamento de cabos que se penduram no ar sem precisar de nenhum apoio. Além de ser extremamente útil e divertido se mover por aí que nem o Homem-Aranha, a implementação dessa mobilidade extra se mostra essencial para trazer ainda mais dinamismo e expressividade para os combates, mapas e armas do jogo. Chega a ser inacreditável pensar na quantidade absurda de possibilidades incríveis que apenas essa simples mecânica conseguiu estabelecer com excelência.

A princípio, cada jogador tem a sua disposição 2 cargas de Cabinseto que, após utilizadas, recarregam automaticamente com o tempo. Além da mobilidade aérea, todas as classes de arma receberam pelo menos três novas habilidades de combate que fazem uso de uma ou mais cargas do Cabinseto. Conforme se avança na campanha, novos ataques de carga podem ser adquiridos e trocados de acordo com o seu estilo de jogo dentro daquela classe específica.




Apesar de soar como uma tarefa complicada, a necessidade de administrar bem o uso dessas cargas é o que torna essa mecânica tão empolgante e expressiva. A dinâmica dos combates, por exemplo, foi um elemento severamente beneficiado pela adição desse sistema de liberdade e recompensa.

Você está disposto a abdicar da esquiva do Cabinseto para realizar um ataque mais poderoso que te deixa aberto? Você prefere ser defensivo? Você sente que se aproximar do monstro pelo ar é melhor do que pelo chão? Rise permite que você expresse tudo isso ao mesmo tempo que complementa a jogabilidade clássica da série sem parecer uma gimmick intrusiva, como aconteceu com a Clutch Claw na expansão Iceborne de Monster Hunter World.

Até mesmo os atos mais mundanos, como se locomover pelos cenários ou enfrentar insetos pequenos, se tornam interessantes quando o jogador percebe o quão divertido é experimentar com o Cabinseto. Seja andando pelas paredes como um Ninja ou criando seus próprios atalhos até o destino, a mobilidade de Rise nunca para de entreter o jogador com as possibilidades existentes.

Uma abordagem diferente

A segunda grande novidade de Monster Hunter Rise é a reformulação da antiga mecânica de montaria de serpe, que agora literalmente permite que o jogador controle o monstro como uma marionete por meio dos fios do Cabinseto. No comando da criatura, é possível arremessá-la contra a parede para causar um atordoamento massivo ou então utilizá-la para desferir golpes massivos contra outros monstros que estejam perto.

A jogabilidade durante a montaria é simplista e de certa forma bem desajeitada, porém a mecânica acaba se sobressaindo pelos momentos de puro caos e adrenalina que acontecem nos confrontos contra outros monstros. Cada golpe que o seu monstro acerta no outro carrega um impacto absurdo que te faz sentir na pele a magnitude épica daquela interação entre dois ou três colossos da natureza. Já que a oportunidade de montaria agora ocorre com bem menos frequência, o pouco tempo que se passa controlando um monstro se torna um evento ainda mais especial e empolgante, funcionando como a medida perfeita para “maquiar” os controles escorregadios.

O grande ápice de momentos épicos proporcionados pela mecânica costuma acontecer com mais frequência durante as Missões de Frenesi, um novo tipo de cerco onde o objetivo é impedir o avanço de uma enorme onda de monstros que tentam destruir as barreiras que protegem a vila de Kamura. Tais missões se provam como uma ótima quebra de ritmo entre as caçadas tradicionais, especialmente pelo foco considerável em estratégias e trabalho de equipe.

Pegando emprestado diversos elementos do gênero de Tower Defense, o modo permite que os caçadores distribuam estrategicamente instalações com balistas, canhões especiais, armadilhas e outros tipos de ajuda pelo cenário a fim de ajudar na guerra contra os monstros invasores. O único problema é a falta de uma maior diversidade de adversários e desafios disponíveis nesse modo, porém a ideia continua apresentando um potencial absurdo que certamente será explorado nas atualizações gratuitas que a Capcom está preparando para o jogo.


Quem soltou os cachorros?

Outra novidade notável de Rise foi a introdução dos Amicães (Palamutes em inglês) como uma raça de ajudantes caninos que você pode levar para te auxiliar de diversas maneiras durante as missões. Enquanto os tradicionais Amigatos são especializados em buffs, curas e suporte no geral, os Amicães se diferenciam pelo talento excepcional em auxiliar a mobilidade do caçador.

Se a mobilidade vertical do Cabinseto já não bastasse, o jogador ainda pode montar em cima do seu amigo vira-lata para cruzar os mapas com uma velocidade impressionante. Essa função especial do Amicães se prova tão conveniente para economizar o tempo de caminhada que a maioria dos jogadores se recusam a jogar sem a companhia dos seus fiéis parceiros. Aliás, Rise merece pontos extras só por deixar o jogador fazer carinho no cachorro a qualquer momento. De brinde, ainda dá pra acariciar os Amigatos e uma coruja de estimação, então digamos que a fofura animal está mais do que garantida.

É importante lembrar também que agora é possível levar consigo um companheiro animal durante as caçadas multiplayer. A ideia é ótima no papel, mas se perde um pouco na prática devido à quantidade enorme de poluição visual na tela, especialmente quando são quatro jogadores e quatro Amicães batendo no mesmo lugar. Com monstros de grande porte isso não é um problema, mas a situação fica bastante caótica quando se trata de monstros de pequeno porte. Ainda assim, não é nada que não possa ser consertado no futuro.

Para acabar com certas frustrações que ainda assombravam os jogos da franquia, foram aplicadas excelentes melhorias na qualidade de vida de diversas mecânicas clássicas. Por exemplo, agora o jogador tem acesso a uma “enciclópedia” super-detalhada que compila de maneira simples todas as principais informações, pontos fracos e fraquezas elementais de cada monstro existente. Tudo isso acessível a qualquer momento no próprio menu de pause. Dá até para conferir a porcentagem de drop de cada material que você já obteve! A inclusão de uma área de treino mais completa e a maior variedade de opções de acessibilidade nas configurações são outros bons exemplos disso.


Eficiência em grupo

Para a surpresa de muitos, o sistema online de Monster Hunter Rise se mostra o mais prático e eficiente da franquia até o momento. Ao contrário da maioria dos jogos online do Switch, é raríssimo encontrar erros de conexão ou qualquer queda de performance que atrapalhe o funcionamento normal da jogatina. Não há nada para reclamar nessa questão.

Achar pessoas dispostas a entrar no meio das suas missões é bem rápido graças ao fluxo estável de jogadores ativos e o sistema de lobbys enxutos retorna com a ênfase em reunir grupos de quatro caçadores aleatórios com os mesmos objetivos específicos. Pode parecer algo bobo, mas os lobbys pequenos são perfeitos para socializar com pessoas diferentes e discutir estratégias entre as missões, seja pela escrita ou chat de voz. Inclusive, existem diversos relatos de veteranos que formaram grandes amizades dessa forma nos jogos antigos.

Por sinal, as missões da campanha também voltaram a ser divididas entre a vila e a guilda. As missões da vila funcionam como uma espécie de single-player em que Rise desenvolve sua história ao mesmo tempo que prepara o jogador para os desafios mais avançados das missões da guilda. Estas podem ser jogadas sozinho ou em conjunto com outros três jogadores pelo multiplayer online ou presencial.


Pecados e promessas

Quando se trata de um jogo que baseia a maior parte da sua gameplay em torno das batalhas “de chefe” contra monstros gigantes, é essencial que exista uma boa variedade de desafios, maneiras diversas de atingir o mesmo objetivo e uma boa quantidade de conteúdo para evitar que as coisas enjoem rápido. Monster Hunter Rise realiza um trabalho excepcional nesse quesito e facilmente consegue proporcionar incontáveis horas de diversão a fio, porém ainda deixa algumas poucas “ressalvas” preocupantes pelo caminho.

No total, são cerca de 35 monstros grandes e 26 pequenos disponíveis para caçar ao redor de cinco vastos mapas, cada um contendo sua própria fauna e flora específica. O catálogo de monstros parece pequeno em comparação a outros títulos da franquia, porém deve-se levar em conta que a Capcom já anunciou que o título irá receber bastante conteúdo novo através de atualizações gratuitas, assim como aconteceu com World e sua expansão, Iceborne.

Em sua versão de lançamento, o pós-jogo da campanha de Rise sofre com uma escassez de novos objetivos e número de missões existentes. O próprio desfecho da trama principal indica que aquele não é o fim da história. Na verdade, o verdadeiro confronto final da campanha será adicionado em uma futura atualização que deve sair nos próximos meses. Esse tipo de dependência nas atualizações é um pouco preocupante à principio, porém o histórico recente da franquia revela que os jogadores podem confiar que essa estratégia vai funcionar à longa prazo.

De qualquer forma, não é como se fosse fácil ficar sem um objetivo para alcançar atualmente no endgame. Por exemplo, o meu save se encontra com cerca de setenta horas e eu ainda não cheguei nem perto de fazer tudo o que quero dentro do jogo. Ainda assim, é impossível negar que a variedade do endgame de Rise deixa bastante a desejar em seu estado atual.

Potencial existe de sobra e a Capcom vem se mostrando disposta a explorá-lo. Portanto, basta que as expansões de conteúdo continuem seguindo o mesmo nível de qualidade das atualizações de World para que o já excelente fator replay de Rise fique ainda mais completo.



Tão belo que parece mágica

Seria exagero dizer que a Capcom calou a boca de todos que achavam que o Switch era incapaz de oferecer visuais a par dos consoles concorrentes? Polêmicas à parte, é preciso admitir que o excelente desempenho técnico e gráfico de Monster Hunter Rise no Switch representa um feito mais do que impressionante, até mesmo para os padrões dos principais títulos da própria Nintendo.

Demora um bom tempo para aceitar que algo tão belo quanto Monster Hunter Rise poderia rodar tão bem no Switch. A beleza dos gráficos são capazes de dar água na boca de qualquer um, tanto no dock quanto no modo portátil. Mesmo com ausência das texturas e efeitos mais detalhados de World, o conjunto da obra de Rise consegue entregar uma experiência visual parelha, e até discutivelmente melhor, do que aquela oferecida pelo seu irmão mais velho.

O visual fica ainda mais impressionante quando se leva em conta que Rise está rodando cravado a 30 frames por segundo e ainda conta com loadings tão rápidos que parecem inexistentes. Adicione tudo isso ao lado de uma belíssima direção artística baseada no Japão feudal e você terá o jogo third-party mais bonito já lançado para o Switch até hoje.


Por falar em Japão feudal, há de se destacar também a incrível trilha sonora produzida pela Capcom. As composições inéditas misturam elementos da música oriental com o ritmo empolgante das caçadas, sempre fazendo um ótimo uso das flautas características do estilo. As músicas que retornam dos jogos anteriores receberam novos remixes que reforçam ainda mais a qualidade de suas melodias. O meu destaque especial fica para a aconchegante música tema da vila de Kamura e o seu vocal em japonês extremamente chiclete.

Por causa da influência temática, a dublagem japonesa se sobressai como a melhor quando o quesito é imergir o jogador dentro daquele mundo. Por exemplo, a apresentação de cada monstro é feita através de uma cutscene com narrador lendo um Ha-kai, tipo tradicional de poema japonês. Por consequência, a dublagem em inglês dessas partes não chegam nem perto de transmitir a mesma sensação da original. O mesmo pode ser dito em menor escala para a dublagem americana no resto do jogo.

As legendas em português são excelentes e adaptam muito bem o senso de humor do texto original para a cultura brasileira. Esse carinho a mais que a Capcom teve com o público nacional parece ainda mais especial pelo fato do jogo estar no Switch, que raramente recebe jogos traduzidos para a nossa língua. Por mais que não afete todo mundo, esse tipo de acessibilidade faz uma diferença fundamental para grande parte do público consumidor.



Um futuro brilhante

A maior qualidade de um Monster Hunter, em sua essência mais pura, é proporcionar “momentos especiais” que são únicos para cada pessoa. Posso te garantir que cada caçador experiente lembra com muito carinho daquele sentimento de medo durante o seu primeiro encontro com um dragão ancião ou então daquela sensação de felicidade incessante que veio à tona depois de finalmente superar um monstro desafiador que parecia impossível de matar à princípio, dentre outros inúmeros exemplos.

Dito isso, pode-se afirmar que Rise entrega esses momentos marcantes com tanta frequência que fica difícil não se apaixonar pelo mundo do jogo. Transbordando um potencial monstruoso para ser lapidado nas atualizações futuras, Rise oferece qualidades tão constantes e refinadas que qualquer problema que possa aparecer durante a jogatina fica completamente ofuscado em comparação.

Graças às inúmeras possibilidades proporcionadas pelo uso do Cabinseto, a jogabilidade atingiu um patamar de diversão e dinamismo tão alto que fica difícil de voltar para qualquer jogo anterior da série. Ainda, o impressionante desempenho gráfico do jogo no Switch é um show à parte da Capcom, que simplesmente espremeu leite de pedra para entregar os visuais mais bonitos que a pequena tela do console híbrido poderia processar.

Rise é resultado direto do aperfeiçoamento das grandes qualidades que transformaram a franquia no blockbuster mundial que ela é hoje. Uma obra-prima imperdível que acerta em cheio em quase tudo que tenta e só peca nos pontos que prometem ser consertados nas expansões gratuitas. Seja novato ou veterano, Monster Hunter Rise irá te proporcionar uma das experiências mais refinadas da atual geração de videogames

Prós:

  • Jogabilidade viciante;
  • Desempenho gráfico de cair o queixo;
  • Online robusto;
  • Expansões gratuitas prometem ainda mais conteúdo;
  • Novas mecânicas são divertidas e refrescantes;
  • Trilha sonora excelente;
  • Variedade enorme de armas e opções diferentes;
  • Dá para fazer carinho no cachorro.

Contras:

  • Poucos monstros até o momento;
  • Poluição visual nas caçadas onlines podem atrapalhar;
  • Pode demorar um pouco para engatar de vez.
Monster Hunter Rise - Switch - Nota 9.5

Revisão: João Pedro Boaventura
Análise feita com cópia digital cedida pela Nintendo

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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