A trama aborda os danos causados pelo mal de Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que faz com que a pessoa gradualmente perca a memória com o passar dos anos. Na pele de um senhor sem nome, o jogador deve conduzi-lo por sete níveis recheados de quebra-cabeças no melhor estilo escape room, a fim de descobrir qual é a cura que o protagonista — que chamarei de Senhor — procura.
O simbolismo do “onde estou”
A atmosfera inquietante de Heal, aliada a uma arte e trilha sonoras melancólicas, é sem dúvidas o ponto forte do jogo. A narrativa é silenciosa, sem o uso de palavras, guiada apenas pelos cenários e quebra-cabeças.
A princípio, Senhor começa sua jornada em sua casa, mas algo está diferente: a porta está trancada e, para sair, é necessário completar uma série de quebra-cabeças. Cada um dos sete estágios se passa em locais diferentes e podemos ver Senhor transitando entre diferentes cômodos de sua residência, um parque e até mesmo uma floresta sombria (o cenário final do jogo).
O ponto forte do jogo é sua apresentação |
Embora muitos dos quebra-cabeças não tenham um significado real nesta narrativa visual, alguns deles trazem pistas — bastante sutis, vale ressaltar — sobre a trama e cabe somente ao jogador desvendar o que aflige Senhor. Em certos momentos, senti pequenas semelhanças com The Almost Gone, que também aposta em puzzles para dar prosseguimento à história.
No final da jornada, apenas o jogador poderá dizer se os cenários eram reais ou apenas fragmentos da memória de Senhor — e já adianto que o desfecho é bastante tocante.
Jogabilidade simples, porém imprecisa
Mesmo que os puzzles não sejam relativamente difíceis e a maioria possa ser resolvida por meio de pistas encontradas nos cenários, a falta de dicas ou a imprecisão nos comandos para solucionar alguns deles podem tornar a jogatina frustrante. Talvez essa seja a única falha grave de Heal, assim como a de muitos outros títulos no estilo escape room e em alguns momentos do supracitado The Almost Gone.
Ainda que variando na complexidade de resolução e às vezes apelando para o uso de um walkthrough, os quebra-cabeças entregam o que prometem dentro de seu gênero. Contudo, seu propósito se perde justamente por não estarem em sintonia com a narrativa.
Algumas portas escondem dicas para os puzzles |
Heal foi originalmente desenvolvido para smartphones e PC como um jogo no estilo point-and-click, algo bastante simples na teoria. Porém, no Switch a jogabilidade acaba se misturando: em alguns momentos, é mais confortável e prático usar a tela sensível ao toque do console híbrido, mas em outros os analógicos e botões são mais úteis na hora de resolver um quebra-cabeça ou até mesmo para movimentar Senhor para a esquerda ou para a direita nos cenários.
Outro ponto negativo é o sistema de salvamento do jogo. O progresso só é registrado quando se completa um nível, e voltar à tela principal também é um caminho longo, já que não existe outra opção a não ser fechar o aplicativo e reabri-lo.
Por fim, mesmo finalizando o jogo, ao selecionar um dos capítulos, todos os quebra-cabeças devem ser solucionados novamente. Talvez isso seja proposital, como uma forma garantir um fator de rejogabilidade, mas revisitar a história não traz nenhuma novidade, já que a versão de Switch não possui um sistema de conquistas.
Sem opção de voltar à tela inicial |
Uma jornada introspectiva
Heal: Console Edition é difícil de ser classificado. Devido às suas mecânicas, este side-scrolling 2D pode ser incluído simultaneamente nos gêneros puzzle e aventura, com alguns elementos psicológicos. Envolver-se com a atmosfera ou não varia de jogador para jogador, já que a falta de contexto aliada à narrativa lenta e puramente visual, proposital para a introspecção pretendida, pode não ser atrativa para muitos.
A jornada de Senhor em busca de suas memórias, no entanto, vale a pena pelos quebra-cabeças bem- elaborados e boa apresentação audiovisual. Mesmo sem um fator de rejogabilidade e com curta duração, Heal pode ser uma boa pedida para quem gosta de escape rooms como um todo.
Prós
- Ótima apresentação audiovisual;
- Puzzles bem-desenvolvidos e desafiadores;
- Jogabilidade simples.
Contras
- Introspecção e falta de objetividade propositais não atrativas para alguns jogadores;
- Necessário walkthrough para a resolução de alguns puzzles;
- Curta duração e sem fator de rejogabilidade.
Heal: Console Edition — Switch/PS4/XBO/Android/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games