Análise: Space Otter Charlie (Switch): a jornada breve e divertida de um grupo de lontras nas estrelas

Nesta aventura de plataforma e puzzle, o espaço sideral pode ser um lugar assustador até mesmo para animais carnívoros e destemidos.

em 23/03/2021
Contando a história futurista de uma trupe de lontras que quer encontrar um novo planeta para habitar, Space Otter Charlie é uma aventura agradável para se encarar no Switch. Suas mecânicas de shooter de plataforma com puzzles espaciais em gravidade zero são criativas e bem exploradas, tornando-o uma jornada nas estrelas promissora e bem-humorada. Entretanto, poderia essa viagem auspiciosa ter seu trajeto ameaçado por meteoritos desgovernados no caminho?

Viagem espacial

O ano é 2500 e o Planeta Terra apresenta-se inóspito, com temperaturas elevadas em função do aquecimento global e completamente poluído. A humanidade já não se encontra mais no globo, pois, há alguns anos, se afugentou deliberadamente e iniciou um período de expansão espacial, buscando novos habitats. Os animais de nossa fauna, todavia, foram deixados para trás, o que fez com que tivessem que dar seu próprio jeito para evitar a iminente extinção.

Diante dessa situação, uma lontra chamada Charlie reuniu um grupo de sua espécie para tentar a sorte no espaço. Após algumas tentativas frustradas, a equipe animal conseguiu deixar a atmosfera terrestre e adentrar o cosmos, onde deverá cumprir inúmeras missões, como coletar combustível e itens estratégicos, para que sua jornada na busca de um novo planeta possa ser bem-sucedida.

A partir de um hub de fases bem tradicional, nós, no papel de Charlie, podemos entrar em outras naves e micro planetas para apanhar elementos necessários ao nosso progresso e sobrevivência. Embora a premissa pareça simples, saiba que é dentro dos estágios que Space Otter Charlie apresenta suas cartas na manga para sair dos ares mais corriqueiros. Sem sombra de dúvidas, a cartada mais ousada é sua jogabilidade em gravidade zero.

Um shooter com outra gravidade

Em cenários bidimensionais, nós podemos nos movimentar apenas com saltos, nos lançando de uma parede à outra. Dessa forma, mesmo sendo um jogo de plataforma, não há um sentido linear de saltar, calcular forças para retornar ao chão e seguir lateralmente para a direita ou esquerda. 

Dada a ausência de gravidade, o que temos é uma movimentação no ar, que, após pularmos, pode ser controlada com os poderes de um jetpack. Graças a ele, pode-se direcionar Charlie para qualquer direção com o uso do analógico. Em alguns momentos, a jogabilidade até parece a das fases aquáticas de clássicos como Super Mario, em que graças à gravidade zero há uma maior mobilidade para movimentar-nos para todas as direções – embora controlar a lontra seja fácil e preciso, nada como os sofrimentos de se controlar o bigodudo embaixo d’água.

Outro componente do gameplay de Space Otter Charlie é o seu aspecto shooter. Logo de início ganhamos uma pistola para atirar em oponentes e também para interagir com elementos do cenários. Simples e intuitiva, a mecânica funciona bem e ganha variações ao longo da aventura, como uma arma com munição que reflete ao se chocar com metal e outra com tiro explosivo.
 
Dentro do título, também temos alguns ideais de upgrade que movimentam os estágios. Não há muito mistério: conforme apanhamos pontos de energia e outros coletáveis, podemos construir roupas novas. Além de ser um adicional cosmético alegre, com diversos looks de astronauta disponíveis, cada roupinha conta com uma arma distinta, que só pode ser usada quando estamos naquele traje. Ou seja, é preciso trocar de estilo para experimentar as novidades bélicas, o que acaba sendo um detalhe afável.

Quebra-cabeças e inimigos de outro mundo

Para concluir os estágios, geralmente precisamos resolver diversos puzzles em gravidade zero, que envolvem acionar alavancas, encontrar chaves escondidas, atirar em alvos e afins. A grande maioria deles são inventivos e divertidos, o que é algo positivo para a jornada, visto que, em Space Otter Charlie, os quebra-cabeças estão muito mais presentes do que os desafios que envolvem atacar inimigos.

Até há oponentes para se enfrentar nos cenários tradicionais, mas eles são em baixo número e raramente roubam a cena das fases. A exceção fica por conta das salas com batalhas de chefe, que são criativas e focadas nas mecânicas de combate. Com uma boa dose de dificuldade, elas abrangem personagens peculiares, como um monitor robótico vilanesco ou uma caveira flutuante gigante, e são prazerosas de se concluir.

Com raros desvios, em que os desafios de inteligência às vezes se mostram simples demais, os puzzles e os chefões são os grandes pilares de Space Otter Charlie, justamente por serem divertidos e estarem em destaque. Esses aspectos de gameplay, somados a uma história cômica que não economiza nos diálogos com trocadilhos – especialmente os que envolvem o termo otter (lontra, em inglês) e sua pronúncia similar a outer space (espaço sideral, em português) – me fizeram ter momentos extraordinários no Switch, ainda que bem ligeiros e tão velozes quanto uma lontra embaixo d’água.

Charlie, temos um problema!

Embora o esforço da turma de mustelídeos para chegar ao espaço seja grande, sua aventura vivida em Space Otter Charlie é deveras curta. São cerca de quatro horas para se completar a campanha principal, o que não é tanto quanto o game merece ou poderia ser explorado.


Os puzzles, por mais legais e bem elaborados que sejam, não são desafios extremos que levam horas para serem solucionados, e isso vem a encurtar a vida geral do jogo. Porém, cabe ressaltar que, andando em uma linha tênue entre simplicidade e ausência de dificuldade, esse setor não chega a se tornar simplista a ponto de tirar a graça da jornada. Temos desafios na dose certa, ao meu ver.

Como mencionado, há upgrades que podem ser feitos com a ajuda de um robô construtor, que está presente dentro das fases e em nossa espaçonave. No entanto, não é um setor muito explorado e pode passar batido em alguns momentos. Tirando as melhorias que são obrigatórias para avançar na jornada, não é tão necessário incrementar nosso equipamento, o que deixa a desejar e, novamente, pode encurtar as horas de gameplay. 

Dentro dos elementos que podem estender a vida útil do jogo, recomendo a visita aos planetas que não estão na rota da campanha principal e também o ato de coletar as páginas do diário da expedição, que contam um pouco mais da intriga do título. Mesmo não sendo essenciais para se entender a história, são adicionais bacanas e acrescentam um charme à jornada de Charlie e sua trupe.

Somando tudo, Space Otter Charlie pode apresentar alguns problemas no itinerário, mas não são muitos e também não comprometem sua amabilidade. Contemplado com uma estética bacana, de arte visual charmosa e trilha sonora pacífica, o título, que irá agradar os fãs de lontras, desafios de plataforma e temas espaciais, figura como uma boa aventura para se viver no Nintendo Switch.

Lontras garantindo a sobrevivência da espécie

O que mais me agradou em Space Otter Charlie foi a sua capacidade de ser um título de plataforma que procura se reinventar. A mecânica de gravidade zero, que às vezes remete a alguns mundos de Super Mario Galaxy, mas está repaginada em 2D, é bem aplicada e oferece bons momentos, especialmente nos puzzles. Desse modo, a junção de animais falantes no espaço, com diálogos humorísticos e jogabilidade primorosa, é uma jornada nas estrelas que encanta, mesmo que tudo acabe praticamente na velocidade da luz.

Prós

  • Jogabilidade em gravidade zero criativa e bem implementada;
  • Shooter de plataforma preciso;
  • História engraçada, com muitos trocadilhos;
  • Puzzles e batalhas contra chefes interessantes;
  • Estilo artístico simpático.

Contras

  • Duração curta, sem muitos extras;
  • Raras fases que podem ser um pouco simples.
Space Otter Charlie — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Quantum Astrophysicists Guild

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Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
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