Desenvolvido pela Overhype Studios e publicado pela Ukiyo Publishing, Battle Brothers (Switch) foi originalmente lançado em 2015 para PC (via Steam). O título é um RPG estratégico de combate por turnos de fantasia medieval sombria. O jogador é capitão de uma companhia de mercenários que estão em busca de fama, fortuna, contratos e sangue.
Antes de aventurar-se pelo jogo é importante salientar algumas características que definem Battle Brothers. Embora seja classificado como RPG tático, tenha batalhas em turnos e esteja atrelado aos títulos de fantasia medieval sombria, este game é voltado para um público específico. A elevada dificuldade ao longo da campanha e todo o gerenciamento exigido ao jogador são detalhes relevantes que fazem com que este título, definitivamente, não seja para todos.
Jornada de ouro e sangue
No início da campanha, o jogador é convidado a fazer algumas escolhas que influenciarão sua jornada. A primeira escolha é a Origem da Companhia. Ao selecionar “Reconstrução da Companhia”, inicia-se um tutorial que não cumpre seu principal objetivo. O jogador começa no meio da luta sem nenhuma explicação a respeito dos guerreiros que são aliados e os que são inimigos. Aqui também não há detalhamento do processo de movimentação dos personagens ou forma de ataques. Embora esses movimentos possam ser intuitivos para alguns jogadores, outros podem ficar completamente perdidos no início do enredo.
A crítica mais relevante neste ponto é a falta de elucidação das principais mecânicas do jogo, uma vez que a escolha de “Reconstrução da Companhia” é sugerida para jogadores inexperientes. A ausência de um tutorial tradicional incomoda no início, mas, ao longo do gameplay, o jogador é instigado a explorar as mecânicas do jogo. A outra opção é “Uma Nova Companhia”. Esta é designada para jogadores já familiarizados com as mecânicas.
Em seguida, o jogador precisa escolher um estandarte de batalha, e uma “Crise de Fim de Jogo” que funciona como uma espécie de "grande batalha" que a companhia precisará enfrentar. Esta pode ser aleatória: a guerra entre os nobres do mundo, a invasão dos peles verdes ou o flagelo dos mortos vivos. Por último, é preciso definir a dificuldade das batalhas e o seu investimento inicial na companhia. Embora tenha a “escolha” da dificuldade das batalhas, não importa qual decisão for tomada: manter-se vivo com a sua companhia será um trabalho muito, mas muito árduo.
O game apresenta uma estética de jogo de tabuleiro, onde os personagens são vistos da perspectiva de cima para baixo e movem-se de forma um tanto hexagonal. O mapa possui vilas, fortalezas e ruínas com tesouros escondidos para explorar. Existem muitos locais ocultos, tornando a campanha única cada vez que for iniciada, dando uma sensação de diversidade, imersão e realidade para o gameplay.
Nas cidades, os jogadores poderão gastar o ouro adquirido nas batalhas para comprar recursos básicos como alimentos, medicamentos, armaduras e munições para o gerenciamento da companhia. Além disso, o jogador pode treinar seus aliados no salão de treinamento, curar as feridas em um templo, customizar seus guerreiros na barbearia e comemorar as vitórias na taverna.
O gerenciamento em Battle Brothers pode ser um grande aliado, assim como o maior inimigo para jogadores desavisados (assim como eu, nas campanhas iniciais). O jogador precisa prover alimentos para as viagens (que podem ser muito longas), medicamentos para curar os ferimentos de combate e armamentos, munições para armas de longa distância e ferramentas para consertar armaduras.
A campanha avança através de dias, divididos entre dia (amanhecer, dia e meio-dia), tarde (tarde e crepúsculo) e noite (anoitecer e noite). Conforme o tempo passa, as reservas de ouro e comida da companhia vão se esgotar de acordo com as demandas da tropa que o jogador montou. O avanço dos dias deixam os inimigos mais fortes e frequentes, instigando o jogador a reforçar seus mercenários para que a companhia sobreviva.
Os mapas e os combates podem ser explorados pelos jogadores livremente. Cada movimento em Battle Brothers nunca deve ser aleatório. Cada jogada precisa ser analisada em muitos aspectos, seja olhando para os arredores de uma vila ou um bosque, ou durante o confronto. Uma escolha errada pode causar sérios danos e perdas na equipe. As estratégias escolhidas podem ser diversas, e o jogador pode realizar contratos oferecidos nas cidades que visitar para aumentar sua fortuna.
Os contratos envolvem a caça de um grupo de malfeitores, fazer a escolta de um determinado grupo de viajantes ou entregar uma encomenda em segurança. Quanto maior a dificuldade desses contratos (de um a três 'crânios'), mais eles pagarão. Embora o sistema de contratos seja bastante interessante, as missões são muito repetitivas. Faltam variedade nas quests, que se limitam somente aos três exemplos acima.
Diferente de muitos RPGs do gênero, em Battle Brothers, alcançar a vitória é um trabalho árduo. Os combates são brutais e não há chance de reparar uma jogada, como em Fire Emblem Three Houses (Switch), exigindo estratégia e cautela por parte do jogador. É possível recrutar até 20 guerreiros em sua companhia, sendo que 12 deles estarão ativos nas fileiras de batalha e os demais serão reservas em caso de perdas, o que é muito comum.
As batalhas são muito envolventes e desafiadoras, e há muito o que pensar e fazer em cada turno. Os confrontos do game demandam uma estratégia eficaz. Uma jogada aleatória pode levar a companhia a perder seus principais guerreiros. Estes são vitais para que a vitória seja alcançada, por isso, parte do gameplay envolve gerenciá-los para que sejam aprimorados e conduzidos ao objetivo principal: exterminar inimigos. Os aliados ganham níveis, e o jogador pode melhorá-los individualmente, direcionando-os para uma estratégia baseada em papéis na equipe.
Os mercenários recrutados são únicos, possuem atributos específicos e apresentam diferentes valores de recrutamento. Além disso, contam com seu próprio contexto narrativo, que não influencia no enredo principal da companhia, mas enriquece o gameplay. Uma novidade interessante é o sistema de fadiga, que mostra o cansaço de um determinado personagem ao longo da batalha. Quando a fadiga está alta, o personagem fica menos motivado no confronto e com menos ações no seu turno.
Outra novidade relevante é a moral, um fator estratégico acionado quando um companheiro morre em campo de batalha e outros membros da companhia ficam menos confiantes, causando penalidades nos pontos de ataque e defesa. A moral também pode servir como bônus de combate, quando um membro vê seu aliado decapitando um inimigo.
Os inimigos no campo de batalha são os mais variados, podendo ser encontrados mercenários, monstros como lobos, aranhas gigantes, entre outros, e até mesmo feiticeiros. As batalhas com feiticeiros são particularmente traiçoeiras porque o inimigo pode enfeitiçar seus aliados, fazendo com que se virem contra a companhia. Então cabe ao jogador confrontar seus antigos aliados. Além disso, ao batalhar com alguns feiticeiros e eliminar o que parece ser um simples bandido ou um mercenário, os adversários derrotados podem voltar à vida de repente.
As viagens de uma cidade pra outra podem ser demoradas, custando muitas moedas para prover a companhia. Muitas surpresas podem aparecer na estrada, como crianças pedindo pão e pessoas mal-intencionadas, que roubam armamentos e ferramentas. Viagens longas podem diminuir os atributos de alguns guerreiros temporariamente, que serão refletidos no campo de batalha. Para restaurá-los, basta descansar, visitar a taverna ou vencer combates.
Papo de taverna
O cenário de Battle Brothers é estático e demasiadamente cinza. As animações do jogo são simples, com props de caravanas e inimigos deslizando sobre a miniatura do mapa, que parece um tabuleiro. Mesmo com muita simplicidade gráfica, o título oferece um gameplay muito fluído e imersivo. Parte dessa experiência se dá pela trilha sonora, lembrando contos fantásticos, batalhas eletrizantes e muita aventura. Os efeitos sonoros da batalha quando um golpe atinge um escudo, um adversário, ou quando há decapitação, são convincentes.
A navegação pelo menu e pelas janelas de gerenciamento da companhia é muito confusa. São necessários vários cliques para comparar os atributos dos personagens. O port para o Nintendo Switch possui problemas nos comandos, por exemplo, para aumentar ou diminuir o zoom do mapa. A localização do personagem é temporariamente perdida por conta do sistema de câmeras. O uso do cursor para selecionar habilidades durante a batalha me fez sentir falta de um mouse, o que não deveria ocorrer em um port para um console híbrido como o Nintendo Switch.
Battle Brothers é um título que vale a pena ter em sua biblioteca. A falta de uma curva de aprendizado e tutorial são questões que limitam o game para um determinado público. Embora apresente alguns problemas de port, a experiência não é afetada. A simplicidade do sistema de batalha e o profundo modo de gerenciamento fornecem personalidade ao jogo e dão o tom certo para esse RPG estratégico. O título parece ter sido desenvolvido para que o jogador volte a jogá-lo muitas vezes, e acredite, caro leitor, você irá jogá-lo muitas vezes. Seja porque sua companhia foi dizimada ou por estar contagiado pela energia dos irmãos de batalha.
Prós
- Batalhas emocionantes;
- Sistema de gerenciamento muito diverso e que impacta o gameplay;
- Trilha sonora atraente;
- Experiência de imersão.
Contras
- Dificuldade brutal;
- Falta de tutorial que cumpra o objetivo;
- Falta de curva de aprendizado.
Battle Brothers - Switch - Nota 8.0
Revisão: Vladimir Machado
Análise desenvolvida com cópia digital cedida pela Ukiyo Publishing