A escolha do visual 3D para uma parcela grande do jogo é bastante curiosa ao se levar em conta que seu antecessor, Anodyne, era um jogo totalmente 2D. Vale destacar que as histórias dos dois jogos são independentes, não sendo nada necessário ter jogado o primeiro para aproveitar Return to Dust.
Uma jornada por Nova Terrândia
Em Anodyne 2, acompanhamos a vida de Nova desde seu nascimento. A garota é uma nano limpadora, uma pessoa capaz de usar um aspirador de pó para salvar os moradores de Nova Terrândia da terrível nano poeira que ameaça dominá-los. Agora é seu dever viajar pelo mundo e coletar poeira para cumprir a missão que lhe foi delegada pelo Centro, o grande líder que deu origem a todas as criaturas.
A noção de salvar o mundo pode ser um clichê; porém, a história de Anodyne 2 é bastante interessante. Toda a jornada de Nova envolve conhecer personagens excêntricos, muitos deles tomados por seus desejos mundanos, outros trabalhando duro de acordo com os desígnios do Centro.
Em termos de gameplay, o jogo faz a curiosa escolha de alternar entre múltiplos formatos. A maior parte do jogo pode ser dividida em dois estilos: um jogo de aventura 3D e desafios de ação e aventura 2D. O conceito por trás dessa mudança está na função da limpadora, que deve explorar Nova Terrândia em 3D e encolher para limpar os seus alvos em 2D.
Um mundo 3D low-poly
Curiosamente, o estilo artístico do mundo 3D de Anodyne 2 é inspirado na era do PS1, com gráficos low poly que são inclusive cheios de serrilhados. Isso pode ser bastante incômodo a princípio, especialmente porque os cenários possuem também pequenos defeitos visuais. Porém, confesso que me acostumei com o estilo ao longo do jogo e há uma boa variedade de locais para explorar.
Durante esses trechos, o jogador precisa procurar por cartas e poeira para restaurar o prisma do Centro. Algumas cartas estão espalhadas pelo mundo 3D, outras são subproduto do trabalho de limpeza nos mundos 2D que ficam dentro das pessoas infectadas pela poeira. De qualquer forma, é necessário explorar o mundo, encontrar os NPCs e conversar com eles.
Um aspecto importante é que no mundo 3D não há barra de vida. Logo, o desafio do jogador está apenas em descobrir onde os NPCs importantes e os baús (em formato oval igual ao do ponto de save) que contêm cartas estão. Trata-se de um mundo feito puramente para a exploração.
Mundos interiores 2D
Já quando Nova está em formato mini explorando os moradores que foram tomados pela poeira, o visual é 2D com pixel art bem charmosa. Elas são simples e com aspecto retrô, mas há um excelente uso de cor e geometria para dar sensações únicas aos locais. Esses trechos são consistentemente bonitos.
Esses mundos representam memórias, emoções e valores de quem Nova encontra pelo caminho. É durante a exploração desses locais que ela usa seus poderes de nano limpadora, sugando pequenas criaturas e poeira. Para avançar pelas áreas, é necessário resolver puzzles simples e derrotar as criaturas que dominam o local. Não há nada muito complexo, mas são esses os pontos que podem levar ao game over.
Esses elementos ajudam a tornar o jogo uma experiência bastante diversificada. Assim como o mundo possui várias pessoas interessantes, Anodyne 2 é recheado com mundos únicos e especiais. Ao olhar para o jogo de forma geral, esses microcosmos estão envoltos em um tom de surrealidade e, além do aspecto gráfico, a trilha sonora é um elemento importante para isso. Suas músicas prioritariamente soturnas ajudam a criar uma atmosfera obscura e dramática a vários de seus momentos.
Alguns pequenos defeitos
Nova caindo no nada. |
Tive contato com alguns bugs no jogo, como a presença constante do botão de interação mesmo durante as cutscenes e, o mais gritante deles, as vezes em que estava andando tranquilamente pelos cenários e meu personagem caía abaixo do chão. Porém, nenhum bug foi grave ou tornou um trecho muito incômodo. No caso da “queda para o infinito”, era apenas questão de esperar para que o jogo me colocasse novamente em solo firme, portanto não atrapalhando muito a experiência.
O maior problema na verdade fica por conta do texto em português. Primeiramente, o texto do menu principal é muito pequeno para quem joga no portátil. Além disso, no jogo em si é notável que os textos são de tamanho menor em português do que em inglês, por exemplo. Porém, o que verdadeiramente incomoda é a qualidade da escrita.
Anodyne 2 é um jogo muito pautado por sua narrativa, cuja discussão filosófica alterna entre banalidades bem colocadas e alguns elementos mais sutis. Por conta disso, mesmo pequenos errinhos podem fazer uma diferença enorme na interpretação e imersão do jogador.
O que acontece com a tradução é que a qualidade oscila. Há trechos fluidos e interessantes. Outros utilizam expressões inexistentes na nossa língua como se fossem normais, apresentam termos errados ou erros de digitação. Recomendo jogar o título em inglês se possível, mas há também opções de espanhol, francês e outras línguas, cuja qualidade não sou capaz de averiguar por não dominá-las.
O que há além da poeira
De forma geral, Anodyne 2: Return to Dust é um jogo surpreendentemente fascinante. Mesclando gameplay 3D e 2D, ele oferece um vasto mundo para a exploração e fascinantes microcosmos que permitem ao jogador vasculhar os sentimentos e obsessões dos moradores de Nova Terrândia. Apesar de alguns pequenos probleminhas, trata-se de um jogo de aventura cujo universo é instigante e convida o jogador a mergulhar em sua história e levar pelo menos um pouco dela consigo.
Prós
- Narrativa com discussões interessantes sobre vida, obsessões, dor e morte;
- Experimentação visual que inclui variações no gameplay entre trechos 3D e 2D;
- Ambientação surreal potencializada pela trilha sonora.
Contras
- A qualidade do texto oscila bastante na tradução para o português;
- Textos pequenos em português;
- Pequenos bugs.
Anodyne 2: Return to Dust – Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX – Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games