O que virá após Breath of the Wild?

Dando chão e asas à expectativa dos fãs de The Legend of Zelda.

em 18/02/2021

Nesta semana recheada de matérias em comemoração ao 35º aniversário de The Legend of Zelda não poderia faltar o momento de desejar a essa amada franquia da Nintendo também “muitos anos pela frente”, e comercialmente isso implica desejar, claro, que a série continue interessante e agradável ao público de action-adventure.


Assim, aqui no Nintendo Blast, depois de meus colegas terem abordado toda a gloriosa história da série The Legend of Zelda, além de outros tópicos relacionados a essa IP da Nintendo, restou-me o inglório, mas também mágico, trabalho de futurologia.

Inglório porque, diferente de quando pesquisamos algo que envolva o passado, fatalmente a maior parte do que é dito sobre o futuro pode facilmente não corresponder aos fatos. Isso pode ser bom ou ruim, a depender dos objetivos conceituais da obra e do ponto de vista do apreciador. Deixo desde já isso bem claro. Mas também é uma oportunidade mágica de dar vida à imaginação e à expectativa que inevitavelmente atingem os fãs da série ao pensarem sobre o que virá após The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch). Só espero que eu tenha algum sucesso, assim como os videntes (Fortune Tellers) de A Link to the Past.
Encontro de Link com um Fortune Teller em The Legend of Zelda: A Link to the Past
Então... o que é que podemos esperar, de modo consistente, do futuro próximo de The Legend of Zelda? Neste texto farei esse exercício especulativo aplicado à aguardada continuação de Breath of the Wild anunciada na E3 de 2019, mas também indicarei tendências da série que podem se estender a títulos ainda posteriores. A partir daqui, sempre procurarei assinalar elementos de arte e gameplay aos quais há algum indício — nas imagens do anúncio da E3 ou em padrões da franquia — para que possa, de fato, figurar na continuação desse amado e aclamado action-adventure de Wii U e Switch.

Devo adiantar, porém, que até esse momento sabemos realmente muito pouco sobre o que a Nintendo está preparando para o novo título da série e que, neste texto, o julgamento dos rumores e especulações para a sequência de Breath of the Wild envolverão muita subjetividade. Desse modo, não estranhe se por vezes algumas afirmações refletirem não muito mais que a minha humilde opinião. Dito isso, espero que você, leitor, possa desfrutar de meu ponto de vista e compartilhar também o seu nos comentários.

Uma sequência para uma ligação entre dois mundos

No clássico livro The Legend of Zelda: Hyrule Historia, de 2013, que revelou oficialmente a cronologia da série protagonizada por Link, é dito que os títulos da série The Legend of Zelda são frequentemente projetados de tal forma que o protagonista estabeleça uma ligação (link) entre mundos diferentes (geralmente dois).

Os exemplos de tais ligações são abundantes: os mundos de luz e de sombra de A Link to the Past (SNES) e A Link Between Worlds (3DS), de luz (light) e de crepúsculo (twilight) em Twilight Princess (GC/Wii/Wii U), as diferentes estações em Oracle of Seasons (GBC), o mar e a terra em The Wind Waker (GC/Wii U) e em seu desdobramento no DS, o mundo dos sonhos e o mundo real em Link’s Awakening (GB/Switch), o mundo dos humanos e o mundo dos Minish em The Minish Cap (GBA), o céu e a superfície em Skyward Sword (Wii) e, claro, o passado e o futuro em Ocarina of Time (N64) e em Oracle of Ages (GBC).
Link, em Breath of the Wild, diante de uma estrutura em ruínas assemelhada ao Temple of Time de Ocarina of Time
De fato, desde A Link to the Past (SNES) são raríssimos os títulos da série cuja narrativa não estabeleça, em torno do protagonista, uma forte relação entre dois ou mais mundos ou pelo menos duas dimensões de um mesmo mundo.

Os poucos jogos da franquia que fogem um pouco a essa regra, de modo geral, ou são spin-offs ou estabelecem um elo do protagonista com outra coisa de maneira mais abstrata, caso de Majora’s Mask (N64) por exemplo, que aproveita de um modo bem peculiar o fato de Link se relacionar com diferentes tempos para estabelecer um elo de amizade com Skull Kid. Nesse contexto, a pergunta que fica é: qual a ligação que envolve o Link de Breath of the Wild?
Cinemática de uma das memórias recuperadas por Link em Breath of the Wild
Embora, do ponto de vista do gameplay e do título do jogo, haja uma forte relação entre o protagonista e a natureza que lembre muito Princesa Mononoke, clássica animação de 1997 do Studio Ghibli, a resposta que me parece mais plausível a essa pergunta está em sua narrativa: Link estabelece um elo entre o passado (tal como revisitado em suas memórias fragmentadas) e o presente onde o jogo se passa, 100 anos após a era da calamidade, ecoando a relação desse título com o recente Hyrule Warriors: Age of Calamity (Switch). Essa será minha principal premissa para as especulações da aguardada sequência da série.

Depois de Calamity Ganon

Se o elo entre as memórias (de 100 anos atrás) de Link e suas vivências no presente for a resposta correta para o papel do protagonista em Breath of the Wild, então qual seria o papel da sequência dessa história?

Eu consigo vislumbrar duas formas mais prováveis da história seguir a partir daí. A primeira delas seria simplesmente partir da hipótese de que Calamity Ganon teria sido realmente derrotado no final do jogo de 2017, mas que alguém poderia, na sequência, tentar ressuscitá-lo, de uma forma semelhante ao que ocorreu em The Legend of Zelda: A Link Between Worlds.




Uma segunda forma de continuar essa história seria partindo da premissa de que Calamity Ganon não foi de todo derrotado. Talvez ele continue vivo, de alguma forma, ou então tenha sido apenas uma peça no xadrez da real calamidade que o manipulava todo esse tempo. Nesse sentido, é possível que tal poder da calamidade esteja ainda intacto em algum outro lugar, como, por exemplo, no subterrâneo de Hyrule.




Seja qual for a hipótese assumida para a sequência, seria importante que a narrativa aprofundasse a relação entre o passado e o futuro da calamidade em Hyrule. Além disso, é esperado que permaneça o contraste entre os artefatos e criaturas de tecnologia com o cenário natural. Esse conceito deve ser reaproveitado de Breath of the Wild de alguma forma, talvez em uma tensão mais forte entre esses elementos, tal como a tensão estabelecida entre a natureza mitológica e a tecnologia industrial em Princesa Mononoke do Studio Ghibli. Devo lembrar que até esse momento há muitas pontas soltas em relação às origens dos antigos objetos e estruturas tecnológicas em Breath of the Wild.

Confronto entre Link e um dos guardiões dos Shrines em Breath of the Wild


Retorno das dungeons, mecânicas inovadoras e estética sombria

Assim como Breath of the Wild levou em conta as críticas direcionadas ao último título da série, Skyward Sword, acredito que a sequência anunciada na E3 de 2019 também levará em conta as poucas críticas levantadas sobre Breath of the Wild, sendo uma dessas poucas, talvez a mais comentada, a ausência de dungeons maiores e mais elaboradas que marcaram todos os principais títulos da franquia.

Agora que não parece haver razão para Link se aventurar dentro das quatro Divine Beasts, é extremamente provável que as dungeons retornem na sequência de Breath of the Wild. A adição dessas dungeons, porém, não significa necessariamente uma menor liberdade narrativa e de gameplay em mundo aberto. Acredito que esse inovador conceito de liberdade será mantido, ao menos parcialmente. Ademais, as dungeons provavelmente aproveitarão novas mecânicas além daquelas conhecidas no título anterior, como as habilidades de congelamento e de magnetismo.




Se há uma constância na série The Legend of Zelda além da ligação entre mundos, essa é a de introduzir mecânicas únicas em seus títulos. Assim foi em Phantom Hourglass e Skyward Sword, ao utilizarem mecânicas próprias da integração hardware-software do DS e do Wii, também em A Link Between Worlds, ao explorar o poder de andar pelas paredes como uma pintura, ou em Majora’s Mask, dando ao jogador máscaras com as quais podia transmutar-se para a raça dos Gorons ou dos Zoras etc., entre outros vários exemplos de inovações mecânicas na franquia.

Seguir essa tendência parece algo ainda mais necessário no caso da sequência de Breath of the Wild. Isso porque, assim como em Majora’s Mask, a sequência do título de 2017 manterá a mesma física e o mesmo estilo gráfico. Nesse sentido, de forma a dar maior personalidade à esperada sequência, novas mecânicas parecem ser fundamentais, além de uma mudança estética, pelo que é de se esperar também uma atmosfera mais sombria, como já evidenciada pelas imagens do anúncio de 2019.



O jogo do ano de 2021?

Têm crescido os rumores de que este será o ano da aguardada sequência de Breath of the Wild, o que viria bem a calhar para a comemoração de 35 anos de The Legend of Zelda. Talvez para o final deste ano?

Em desenvolvimento desde pelo menos junho de 2019 (provavelmente até um pouco antes disso), e supondo que o projeto não tenha passado por reformulações drásticas, é bem plausível que a sequência de Breath of the Wild esteja muito bem encaminhada, mesmo considerando as adversidades do ano da pandemia.

Lembro que tal sequência utiliza o mesmo motor de Breath of the Wild e, a julgar por uma das cenas do anúncio do jogo, também emprega parte do mesmo cenário de Hyrule. Em comparação, apesar de duas décadas de distância, podemos apontar que Majora’s Mask, em circunstâncias análogas, foi lançado após menos de dois anos de Ocarina of Time, e isso mesmo Majora’s Mask trazendo mecânicas muito diferentes de seu antecessor e esbanjando criatividade e personalidade próprias.

De todo modo, seja lá quando for o momento de ser lançado, lembremos do popular mandamento do criador da série: “um jogo adiado pode eventualmente ser um bom jogo, mas um jogo apressado será ruim para sempre”.

Provavelmente não veremos tão cedo uma outra grande revolução como a de 2017 na série The Legend of Zelda, mas quando for para sair a prometida sequência da E3 de 2019, se trouxer um pouco do que foi Breath of the Wild e outro pouco do que foi Majora’s Mask em relação ao seu antecessor, tenho certeza de que será grande e memorável, além de um forte competidor em premiações de Jogo do Ano, especialmente se lançado em 2021, um ano de incertezas quanto a grandes lançamentos.

Mas e você, o que espera da sequência de Breath of the Wild? Concorda com algo do meu ponto de vista? Tem algum outro palpite? E será que veremos essa sequência ainda em 2021? Compartilhe também o seu ponto de vista nos comentários. E caso queira relembrar o anúncio de 2019, confira o vídeo abaixo:
Com a certeza de um futuro para The Legend of Zelda tão profícuo quanto seu passado, dedico essas minhas singelas especulações a Shigeru Miyamoto, Takashi Tezuka, Koji Kondo e todos que de alguma forma contribuíram para o conceito inicial da série em 1986. Conceito esse, aliás, que veio a ser profundamente influente no gameplay em mundo aberto de Breath of the Wild. A todos vocês, Otanjoubi omedetou gozaiasu!

Revisor: Icaro Sousa
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Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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