A caminhada da franquia Pokémon completou 25 anos, um feito para poucos. É difícil sustentar uma marca ou um produto relevante por tanto tempo, principalmente por causa da necessidade de adaptação às novas situações que o tempo propõe. A chegada do Nintendo Switch, sem dúvidas, é um novo ponto de partida para a série, antes concentrada apenas nos portáteis e que agora se depara em um momento de adequar-se à essa mudança.
Partindo disso, realizamos uma discussão sobre quais são os efeitos e possibilidades que a presença da série em consoles caseiros podem proporcionar. Fizemos praticamente um exercício de futurologia: analisamos o hoje de Pokémon e tentamos imaginar um amanhã.
Dividindo os controles
A Nintendo sempre possuiu um olhar atento para inclusão de multiplayer local em seus jogos, sejam eles grandes ou pequenos. Isso é até mesmo notado pelo fato do Nintendo Switch ter um incentivo natural a esse tipo de modo, com o console oferecendo dois controles no formato dos Joy-Con em cada pacote. Porém, esse é um tipo de território que Pokémon nunca pôde explorar muito, dado à natureza dos portáteis de exigir “um videogame por pessoa”.
A franquia sempre teve várias formas de multiplayer desde sua origem: os jogos de Game Boy já brincavam com o conceito de troca de monstrinhos entre dispositivos e até mesmo a competição, por meio de batalhas. Porém, a série nunca desbravou muito as possibilidades que multiplayer cooperativo e/ou local poderiam proporcionar, focando puramente na vertente competitiva.
Pokémon Let’s Go, Pikachu! & Let’s Go, Eevee! (Switch), os primeiros jogos principais para o Nintendo Switch, chegaram a brincar um pouco com a ideia. Neles você pode dividir seu Joy-Con com outra pessoa, assim como uma mesma aventura, com o segundo jogador auxiliando nas batalhas. Entretanto, a implementação aqui ainda foi um tanto rasa, pois não há balanceamento adequado para a jogatina em duplas: todos os confrontos que normalmente são de um contra um, por exemplo, são modificados para batalhas de dois contra um, o que deixa a dificuldade do jogo ainda mais baixa.
A presença da série em "consoles de mesa" permite que continuem a experimentar com a ideia. Poderíamos ter novas chances de jogar a aventura principal com algum parceiro, de forma melhor balanceada, ou até mesmo ter a opção de jogar competitivamente contra amigos em um mesmo console. Algo como o Battle Royal de Pokémon Sun e Moon (3DS), que abordava quatro treinadores em uma mesma competição individual, poderia funcionar dividindo os controles e fazendo com que cada um tivesse um time aleatório, por exemplo. Até mesmo as Max Raid Battles, um modo já cooperativo de Pokémon Sword e Shield (Switch), poderiam permitir ser jogadas junto de mais uma ou mais pessoas usando o mesmo console.
A realidade virtual
Novas tecnologias sempre surgem no mundo dos videogames, e o poder de hardware mais avantajado de consoles de mesa, em comparativo com os portáteis, permite que eles recebam maior experimentação com tais conceitos ou ideias novas de jogatina. Tecnologias como realidade virtual, por exemplo, já possuem maior presença em computadores e até de forma um pouco primitiva no próprio Nintendo Switch, por meio do Labo.
Pokémon já se aventurou um pouco por estas tecnologias alternativas. O clássico exemplo que deve vir à mente de todos é Pokémon GO (Mobile), fenômeno dos jogos mobile, que conseguiu integrar realidade aumentada em sua jogabilidade por meio de interações entre os monstrinhos e o mundo real. O território de realidade virtual é algo que poderia ser explorado na franquia com o avanço da tecnologia no futuro.
Recentemente tivemos o anúncio de New Pokémon Snap (Switch), jogo com gameplay sob trilhos em que o objetivo é registrar fotos dos monstrinhos ao seu redor, e ele é um ótimo exemplo de como um jogo da série poderia funcionar em VR. A movimentação já é em primeira pessoa e a tecnologia poderia dar uma maior profundidade à mecânica de foto do jogo, fazendo com que até a posição em que você esteja na sua sala interfira na câmera e na qualidade da fotografia.
Interatividade com monstrinhos é algo que também marca presença nos jogos principais, e poderia ser expandido com VR. As possibilidades são muitas: poderíamos ter, como os jogos de 3DS possuíam, interações de fazer cafuné nos Pokémon e alimentá-los, ou até mesmo de brincar com eles, como em Sword e Shield, porém tudo de uma perspectiva em que os monstrinhos realmente estivessem ali, próximos de você, dentro de um mundo fantasioso.
Novas possibilidades, novos anseios
O avanço tecnológico abre novos caminhos para evolução, porém também traz consigo maiores exigências. A série dos monstrinhos de bolso normalmente não precisava atingir grandes níveis de expectativa, pois o hardware em que a série se encontrava sempre limitava as possibilidades do que os jogadores podiam sonhar. Esta ilusão acaba quando você pula para uma plataforma mais poderosa e faz com que os fãs esperem mais do seu produto.
A franquia pode usar isso ao seu favor e realmente aumentar o nível técnico e artístico dos seus jogos. Há agora a possibilidade de inovar mais nos estilos de arte, fazendo com que cada geração, por exemplo, tenha um estilo de arte mais singular. Seria muito bacana você chegar em uma região nova e se deparar com um estilo mais puxado ao cel shading, e na geração seguinte aventurar-se por um mundo com um estilo um pouco mais realista, por exemplo. Por falar em região, o hardware também permite que possamos ver locais maiores, mais complexos e abertos, e tivemos um gostinho disso na DLC The Crown Tindra, embora haja ainda muito espaço e necessidade de evolução do conceito.
Claro que, como notado pelas próprias sugestões e ideias desta discussão, as exigências dos fãs perante as expectativas que um console poderoso gera é algo que a se tomar cuidado. A série agora tem concorrentes de peso que não possuía antes, como os jogos principais de The Legend of Zelda e Mario, notórios por sua excelência e um ótimo “know-how” do hardware em que se encontram. Até por tal razão que polêmicas como a falta da National Dex em Galar fizeram um grande alarde, pois foi o oposto do que os jogadores esperavam da estreia da série no Nintendo Switch: imaginavam que no mínimo tudo aquilo que havia nos jogos do 3DS seria mantido.
Importância dos jogos mobile
O mercado de jogos cresce muito a cada ano, mas não somente nos consoles. Os jogos mobile possuem uma fatia fundamental de jogadores e a franquia dos monstrinhos de bolso já se aventurou bastante por ele. De todas as franquias da Nintendo, Pokémon foi a que mais teve tentativas de jogos para celulares, sendo a mais notória delas Pokémon GO, relevante ainda nos dias atuais.
Fora Pokémon GO, no entanto, a maioria das tentativas de Pokémon no mercado mobile não foram muito bem sucedidas. Pokémon Masters foi uma grande aposta, mas não teve muito gás e precisou se reinventar no ano passado, mudando inclusive seu título. Outros jogos como Pokémon Rumble Rush e Pokémon DUEL foram tímidos demais ou até mesmo passaram despercebidos.
Isso não implica que Pokémon GO seja uma exceção e a franquia não consiga emplacar um novo sucesso nesse âmbito: há espaço para a utilização do mercado mobile como uma via para trazer novos fãs à franquia e até mesmo novos usuários para o Nintendo Switch. Temos uma aposta para isso no futuro com Pokémon UNITE, que promete ser um novo pilar competitivo da série e que estará presente em celulares e no Nintendo Switch, podendo alcançar uma enorme gama de jogadores e novos fãs.
Como o mercado de jogos para celular é mais acessível à pessoa casual e que não necessariamente está inserida no mundo dos videogames, esta frente se torna essencial para a expansão da propriedade intelectual. Espera-se que jogos mobile se tornem cada vez mais robustos, principalmente por causa do advento dos jogos em nuvem, e isso aumenta as formas de como Pokémon pode — e deve — ter mais participação neste mercado.
Future Sight — visão do futuro
Pokémon é uma franquia que teve um enorme boom e ainda manteve esse crescimento; cenário que não deve mudar nos próximos anos. Há muito potencial a ser explorado junto das tecnologias já presentes ou que estão por vir; resta a dúvida se as mãos por trás da série saberão lidar com as novas expectativas de fãs e conseguirão se aproveitar disso para manter seu público instigado.
Mas e você? O que você espera do futuro de Pokémon? Não nos deixe também na curiosidade, compartilhe sua opinião conosco na seção de comentários!
Revisão: José Carlos Alves