Análise: Bravely Default II (Switch) é uma nova obra-prima dos RPGs tradicionais

Expandindo o universo da série iniciada no 3DS, Bravely Default II é um dos melhores jogos do Switch.

em 25/02/2021

Bravely Default II é o jogo mais recente da franquia iniciada em 2012 no 3DS. Apostando em um estilo mais tradicional de JRPG, o jogo original foi um sucesso espetacular, mostrando que ainda há um grande espaço no mercado para obras do gênero com combate baseado em turnos.

Agora, cinco anos após o lançamento ocidental de Bravely Second (3DS), o Team Asano da Square Enix aposta na expansão do universo da série. No continente de Excillant, um novo grupo de heróis se reúne e parte em uma jornada para recuperar os cristais do fogo, água, terra e ar.

A nova jornada pelos cristais

Tudo começa quando Gloria e Sir Sloan encontram o marinheiro Seth desmaiado em uma praia próxima a Halcyonia. Após ser resgatado, o rapaz descobre que Gloria é a princesa do reino de Musa, que foi destruído e teve os quatro cristais elementais roubados. Ele também conhece dois viajantes, Elvis e Adelle, que estão em sua própria jornada para encontrar pedras Asterisk e desvendar um misterioso livro.

O conceito básico de resgatar os cristais das mãos dos vilões pode parecer simples e datado a princípio. Afinal, é algo similar à narrativa do Bravely Default original, do primeiro Final Fantasy e de Final Fantasy V, apenas para citar alguns exemplos. No entanto, a narrativa é constantemente instigante, com elementos misteriosos e reviravoltas variadas.

Para quem jogou os antecessores, eu diria que ele consegue trazer o melhor de ambos os mundos. Enquanto Bravely Default tinha uma narrativa mais morosa com uma sensação de que coisas estavam sendo escondidas do jogador, Bravely Second era uma obra cujo ritmo era mais agradável, apesar de um enredo menos interessante de forma geral. Já Bravely Default II consegue tanto apresentar elementos de mistério que mantém o jogador intrigado no longo prazo quanto se desenvolver com um ritmo mais agradável de narrativa.

Cada um dos protagonistas tem suas próprias motivações para a jornada, com suas perspectivas marcadas pelas próprias personalidades e origens, mesmo com a forte coesão do grupo. Além deles, os seus potenciais aliados e inimigos têm histórias breves, porém bem trabalhadas. Fora da história principal também é possível conhecê-los melhor realizando quests variadas.

Além de mostrar um pouco mais dos personagens, as missões de maior relevância contam com voice acting e diálogos extras opcionais entre a equipe. Essas atividades podem envolver coletar itens, batalhar contra inimigos e até mesmo apenas ir de um ponto a outro do mapa. NPCs comuns também oferecem algumas quests, sendo interessante fazê-las para obter itens, dinheiro e um pouco de experiência.

Vale destacar que o jogador pode acumular várias missões e fazê-las no seu próprio ritmo. É possível escolher quais delas serão marcadas no mapa, selecionando um máximo de três sidequests e o objetivo principal. O jogo conta ainda com um sistema de dia e noite e algumas pessoas só estão disponíveis durante um dos dois períodos. Eles são alternados enquanto o jogador está no mapa entre as cidades e dungeons, sendo os inimigos mais fortes no período noturno também.

Brave, default e múltiplas estratégias

Bravely Default II é um RPG que utiliza o tradicional sistema de combate baseado em turnos. A agilidade dos personagens irá definir a ordem na qual eles podem realizar ações. Dependendo desse fator, é possível que um aliado aja duas vezes no tempo em que outro consegue realizar apenas um de seus turnos.

Realizando múltiplas ações em um mesmo turno com o protagonista, que nomeei Tiz.
O principal diferencial da série em relação ao gameplay fica por conta do sistema de Brave e Default. Ao invés de executar apenas uma ação por turno, cada personagem pode agir até quatro vezes. No entanto, cada movimento extra em batalha implica no consumo de BP (Brave Points) que usualmente só podem ser acumulados em até 3 pontos.

A realização de mais movimentos é chamada de Brave. Já o Default é uma defesa que também serve para recuperar BP. Caso fique com BP negativo, o personagem terá que passar alguns turnos recuperando seus pontos até poder agir novamente. Ou seja, se o jogador não for capaz de derrubar todos os inimigos de uma vez só, o uso excessivo de Brave pode ser um grande risco, sendo importante equilibrá-los.

Outro elemento fundamental da série são os Jobs, uma herança da série Final Fantasy. Conforme o jogador avança pela história, será possível obter novas pedras, chamadas de Asterisks. Elas funcionam como classes de RPG, alterando os atributos, afinidades de equipamentos e habilidades ativas e passivas dos personagens.

São mais de 20 opções, que vão desde o básico Freelancer a classes avançadas como Arcanist e Oracle, passando pelos tradicionais Monk, White Mage e Black Mage. Conforme ganha batalhas, o jogador irá receber JP (Job Points) e assim aumentar o nível de cada job. Esse progresso desbloqueia novas habilidades e uma segunda especialidade ao chegar no nível 12.

As especialidades são vantagens de usar aquele job, aumentando a sua utilidade. Por exemplo, um Black Mage é capaz de restaurar MP ao usar Default. Tendo restaurado os seus pontos para usar magias, ele poderá se manter ativo por mais tempo.

Além disso, cada personagem pode equipar também um subjob, cujas habilidades ativas (magias e golpes especiais) ficam acessíveis para o combate e o menu principal. Graças a isso, múltiplas combinações podem ser feitas. Brincar com essas possibilidades, testando o que funciona e o que acaba não compensando, é uma parte fundamental da experiência do jogo.

Na construção da build dos personagens também é necessário levar em consideração o peso dos equipamentos. Armas, escudos, armaduras e acessórios possuem todos um determinado peso, e a capacidade de carga dos personagens varia de acordo com o seu nível e job. Esse fator afeta o tempo necessário para o próximo turno e há habilidades construídas em torno desse valor, usualmente aumentando o dano com a quantidade de carga.

Outro aspecto fundamental do combate é o fato de que agora os inimigos são visíveis no mapa. Isso implica que o jogador pode ver os oponentes e tentar desviar ou se aproximar deles à vontade. Nos jogos de 3DS, os encontros com inimigos eram aleatórios, mas havia um slider para modificar a sua frequência e até mesmo desligá-los completamente. Ou seja, não há uma evolução direta, mas uma mudança de estilo.

O curioso aqui é que uma das formas de obter mais JP é realizando batalhas consecutivas contra vários inimigos. Para fazer isso é necessário encostar em um inimigo que está dentro de um raio de distância curto de outro ou utilizar itens especiais. O ideal é utilizar os chamados monster treats, atraindo inimigos de um tipo específico (aquático, planta, inseto, humanoide, etc) e forçando eles a rodadas consecutivas de batalha, o que pode até duplicar a quantidade de JP ganho.


Além disso, a força dos inimigos é indicada de forma visual. Se o combate for fácil, as criaturas irão fugir do jogador. Caso sejam muito fortes, como no caso de chefes opcionais, haverá um brilho especial. Vencer inimigos acima do nível do jogador rende pontos bônus (underdog bonus), valorizando o seu esforço estratégico.

Outro elemento interessante é a possibilidade de atacar os inimigos para iniciar o combate, ganhando BP extra para o confronto. Esse ataque também serve para cortar grama e outros elementos do cenário, obtendo dinheiro e itens variados. Há também uma vantagem de iniciativa caso o jogador encoste no inimigo por trás, um benefício que também vale para os oponentes.

Todos esses elementos contribuem para fazer um gameplay rico em nuances e que valoriza a experimentação. Explorar, realizar as quests e ir dominando os vários elementos das batalhas e da customização de habilidades dos personagens é uma experiência sólida. Mesmo nos combates comuns, me vi muitas vezes explorando táticas diferentes e brincando com as possíveis formações.

Um RPG fascinante

Além das quests e de todos os elementos de gameplay e de história mencionados, o jogo conta com um minigame de cartas chamado B’n’D. Assim como o Triple Triad (Final Fantasy VIII) e o Tetra Master (Final Fantasy IX), esse extra é bastante detalhado e pode exigir algumas horas para derrotar todos os oponentes, testar as várias regras e coletar todas as cartas.

O conceito é relativamente simples. Trata-se de uma disputa territorial em que cada carta ocupa uma certa quantidade de tiles em uma malha quadriculada. Na regra usual, ganha quem tiver dominado mais áreas quando não for possível realizar mais jogadas. A vitória rende pontos que podem ser trocados para comprar cópias das cartas dos adversários. Uma vez de posse de todas, é possível mudar a regra daquele oponente para testar as outras possibilidades. Esses pontos também aumentam o ranking do jogador.

Falando do jogo como um todo, ainda vale destacar que visualmente a obra usa um estilo simples. As áreas são similares a dioramas com um visual estilizado bem colorido e os personagens são levemente deformados seguindo um padrão chibi, porém não infantilizado. Há um bom uso de efeitos visuais, especialmente nas batalhas, e o mundo é bastante vibrante. Em termos técnicos, os serrilhados e algumas quedas de quadros em raras ocasiões próximas do fim do jogo podem incomodar, mas são detalhes ínfimos perto da experiência de forma geral.

No aspecto sonoro, a trilha traz de volta o compositor Revo, também conhecido por seu trabalho no grupo japonês Sound Horizon. Seu talento é fundamental para a atmosfera do jogo, especialmente as composições de batalha, as músicas de cada reino e os temas de personagem usados para os ataques especiais.

Vale destacar também que o jogo conta com dublagem em japonês e inglês, sendo possível alternar entre elas a qualquer momento. Ambas são geralmente de alta qualidade, mas a versão inglesa falha em alguns momentos mais tristes da narrativa. Em termos de legenda, estão disponíveis opções em francês, italiano, alemão, espanhol, chinês (simplificado e tradicional) e coreano. Infelizmente, não há uma opção de português, o que teria sido uma ótima pedida tendo em vista a importância do roteiro.

Bravely Default II é um dos melhores RPGs disponíveis no Switch, apresentando uma combinação de narrativa envolvente e bem conduzida com gameplay sólido cheio de mecânicas interessantes. A experiência chega a ser superior aos seus antecessores no 3DS, que já eram obras de alta qualidade do gênero. Tanto quem aproveitou Bravely Default e Bravely Second quanto jogadores que não se aventuraram pelas jornadas de Luxendarc deveriam dar uma chance a essa obra-prima.

Prós

  • Narrativa bem conduzida e cheia de mistérios curiosos;
  • As quests permitem conhecer mais a fundo os personagens e explorar melhor o continente;
  • Gameplay rico em sistemas que incentivam a experimentação para builds de personagens e técnicas de combate;
  • Voice acting de qualidade tanto em inglês quanto em japonês;
  • Trilha sonora atmosférica composta por Revo;
  • B’n’D é um minigame de cartas viciante.

Contras

  • Serrilhados e algumas quedas raras de quadros em uma das últimas áreas do jogo.

Bravely Default II – Switch – Nota: 10

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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