Em meio às discussões sobre capacidade gráfica e ergonomia de controles, muitos gamers podem acabar esquecendo uma parte essencial dos jogos: a trilha sonora. Ao mesmo tempo, ouvir poucas notas tem o poder de trazer à memória todo o prazer (e as angústias) de uma aventura marcante. Talvez por isso o YouTube esteja recheado de vídeos de pessoas fazendo versões de trilhas de jogos.
Formada numa faculdade paulista em 2007, os caras do GameBoys levaram a paixão por música e por games aos palcos e se tornaram uma das maiores bandas de game music do Brasil. Já participaram de eventos como Videogames Live, Anime Friends e Campus Party, ganharam prêmios, lançaram discos e singles e foram escolhidos pelo próprio criador de ToeJam & Earl para participar da trilha do jogo. A seguir, você pode conferir uma entrevista concedida gentilmente pelo guitarrista Ricardo Marques.
Formada numa faculdade paulista em 2007, os caras do GameBoys levaram a paixão por música e por games aos palcos e se tornaram uma das maiores bandas de game music do Brasil. Já participaram de eventos como Videogames Live, Anime Friends e Campus Party, ganharam prêmios, lançaram discos e singles e foram escolhidos pelo próprio criador de ToeJam & Earl para participar da trilha do jogo. A seguir, você pode conferir uma entrevista concedida gentilmente pelo guitarrista Ricardo Marques.
Nintendo Blast: Em 2022 vocês completam 15 anos. Qual a sua avaliação sobre esse tempo de estrada?
GameBoys: Puxa, quantas coisas já passamos! Muito difícil acreditar que já faz quase 15 anos desde o início da banda. É muito complexo falar sobre nossa história, principalmente por termos vivido muitas coisas juntos. Sem sombra de dúvida tem sido um percurso de muito crescimento para todos os integrantes e acredito que de muitas conquistas, dificuldades e orgulho. A primeira formação foi criada na faculdade e creio que desenvolvemos nossa musicalidade ao longo dos anos com a ousadia de experimentar desafios musicais e materiais que nos levariam adiante. Uma grande mudança que percebemos ao longo desses anos foi o do mundo de games como nicho: houve uma grande ampliação de diferentes grupos no próprio universo gamer com o aparecimento dos youtubers, Steam, diversas gerações de consoles... Parte do nosso trabalho é descobrir como nos encaixamos no ambiente atual, sempre respeitando nossas ambições e perspectivas profissionais.
NB: A página sobre a banda na Wikipédia classifica o som de vocês como nintendocore. Vocês gostam ou contestam esse termo?
GB: Acreditamos que esse termo seja mais justificado pela associação com o nome da banda e com o nosso repertório, que contém muitas músicas da Nintendo, naturalmente, afinal diversas das suas trilhas são marcos na história do videogame. No entanto, acreditamos que trilhas boas são encontradas em todas as produtoras e jogos diferentes, sem nenhum preconceito. Tocamos músicas de muitos jogos que não são da Nintendo. Então contestamos a designação nintendocore e seria mais apropriado um game fusion.
O quarteto fantástico que compõe a GameBoys |
NB: De uma banda criada na faculdade, como tantas outras, a GameBoys se tornou uma das maiores representantes da game music do país, chegando a ser indicada ao prêmio VMB da MTV. O cenário da música de games estava melhorando antes da pandemia? Esse é um nicho que já conseguiu se profissionalizar?
GB: O cenário da música de games nos últimos 5 a 7 anos está estagnada ou em declínio, provavelmente muito por causa do grande boom geek que aconteceu no YouTube progressivamente na última década, desde 2010. Talvez uma saturação de material com muitas pessoas fazendo cover das trilhas, em versão metal e outras diferentes. Isso saturou algo que há 14 anos era muito fresco. Acreditamos que nosso trabalho como artistas é sempre trazer frescor e verdade. Acima de tudo somos músicos, queremos transformar o material de trilha de games numa experiência fantástica pra quem escuta. Mais do que a identificação com uma trilha nostálgica para o ouvinte, tentamos cativar através dos temas conhecidos para um universo mais imersivo!
No que diz respeito ao nicho musical, acho que o cenário é limitado a eventos pontuais. A cultura de eventos geek existe e movimenta muitos interesses neste universo, sendo a música apenas um deles. Acreditamos que podemos unir mais a comunidade de game music do Brasil para criar uma sólida parceria com produtoras, eventos e bandas. Todos têm a ganhar com isso.
NB: Vocês já participaram da trilha sonora de dois games, o brasileiro Out There Somewhere e a volta do clássico ToeJam and Earl - Back In The Groove. Como foi essa experiência?
GB: A experiência com o Out There... foi muito bacana. Conhecemos o [estúdio] Miniboss no Game Music Brasil em 2011 e viramos bons amigos. Nos convidaram para gravar as trilhas já feitas para o jogo.
Em relação ao ToeJam, o [criador da franquia] Greg Johnson entrou em contato conosco após assistir os nossos vídeos no YouTube, convidando para compor e gravar a trilha do próximo jogo. Fizemos algumas reuniões e gravações e mandamos para eles. No início das conversas o Greg nos disse que seria muito difícil a logística da gravação à distância com demandas que precisariam ser resolvidas muito rapidamente, então ele optou por chamar outro músico nos EUA para o trabalho. Acabamos não fazendo a trilha, de qualquer forma ficamos muito honrados com o convite e sempre estaremos abertos para a parceria. Quem sabe ele tenha gostado da nossa versão de Alien Breakdown e tenha sentido falta no jogo, não é mesmo?
NB: Qual é a importância do YouTube para a vida da banda?
GB: A importância é gigantesca! O público da banda é, em sua grande maioria, usuários da plataforma. Pretendemos sempre ter um contato próximo e produzir material para lá e outras plataformas de streaming, que atualmente é o maior foco de acesso ao nosso material.
NB: O vídeo mais recente da banda apresenta uma música da trilha de Super Mario Galaxy. Vocês curtem as novas gerações de consoles ou a nostalgia fala mais alto?
GB: Gostamos muito das novas gerações! Todos os integrantes possuem consoles das gerações atuais e jogamos bastante. Talvez o aspecto nostalgia esteja associado ao nosso repertório pois são nossas experiências mais memoráveis. Dividir essa nostalgia com os amigos da banda e ver o significado desse prazer com os games de quando éramos crianças sendo reeditados em formato de banda na vida adulta é o que tem de mais legal na nossa vivência como grupo.
NB: Algum game recente consegue ter trilhas tão marcantes quanto a de clássicos como Mario, Sonic ou Donkey Kong Country?
GB: Acreditamos que de uma forma diferente sim. Antigamente os jogos não tinham gráficos bons e as trilhas precisavam muito empurrar a experiência interativa, criando uma sólida experiência. Os jogos indie de hoje tem muitas trilhas bacanas: o próprio Celeste, Shovel Knight... Curiosamente, os jogos AAA das novas gerações utilizam uma abordagem mais próxima do cinema, já que as cutscenes se aproximam muito da narrativa cinematográfica. A estética é completamente outra se compararmos com jogos como Sonic de Mega Drive ou o próprio ToeJam. Talvez games com temas musicais mais fortes estejam mais presentes no nosso repertório, independentemente de ser novo ou antigo.
NB: Como é a recepção para a música autoral de vocês?
GB: Até agora todos que falaram conosco a respeito dela gostaram! Temos muitas ideias para músicas de games de jogos que não existem, criação é algo que gostamos muito.
NB: Que bandas e ritmos musicais tem continue infinito no Spotify de vocês? E quais recebem game over?
GB: Olha... acredito que todos os integrantes são bastante ecléticos. Falaria: Steps Ahead, Guns'n'Roses, Aaron Parks, Snarky Puppy, Brad Mehldau, Bach, Mahler, Beethoven, Beatles, Queen, Daft Punk, Alice in Chains, Egberto Gismonti, Bartok, Stravinsky, Nobuo Uematsu, Dave Wise. É uma lista gigantesca. Dos que tem game over, certamente funk brasileiro e o sertanejo novo.
NB: Onde os GameBoys gostariam de estar daqui a 15 anos?
GB: Estariam muito bem fazendo o que der na telha (risos). Brincadeira, certamente gostaríamos de ter experiências em festivais de música ao redor do mundo. Tocar nos EUA, Europa e Ásia, temos um material que pode agradar bastante os fãs de uma música muito próxima do fusion e de quem gosta de um repertório variado ou quem gosta de ouvir as músicas de game tocadas com toda dedicação. Gostaríamos de criar e tocar trilhas em parceria com empresas e produtoras de game.
Revisão: João Gabriel Haddad