Análise: Heaven’s Vault (Switch): uma jornada encantadora por ruínas do passado

Uma arqueologista e um robô exploram ruínas de civilizações antigas.

em 28/01/2021
Desenvolvido pela inkle, Heaven’s Vault é um jogo de aventura sobre explorar ruínas de civilizações antigas, tentando decifrar os seus escritos. Com um bom trabalho em todos os aspectos, o único ponto realmente negativo do jogo é a sua performance no modo portátil do Switch.

Uma arqueologista ousada

Em Heaven’s Vault acompanhamos a história de Aliya Elasra, uma arqueóloga que explora ruínas de civilizações antigas em uma região do espaço chamada Nebula. Rios que podem ser navegados por navios correm entre as luas e ruínas revelam traços do que havia no passado. Para quem acredita no grande fluxo, a história é um grande ciclo, fazendo com que essas investigações tenham ainda mais importância por revelar detalhes do que esperar no futuro.

Após receber uma mensagem de sua tutora, Miyari, a protagonista retorna à Universidade de Iox. Lá ela recebe a missão de encontrar um pesquisador de robótica desaparecido. Junto com o robô ao qual dá o apelido de Six, ela agora terá que procurar pistas do seu paradeiro e explorar a vastidão ao seu redor, partindo em uma jornada maior do que ela poderia esperar.
 
Após sair de Iox, a personagem fica livre para explorar Nebula de formas variadas. As escolhas do jogador e os objetos encontrados no caminho irão abrir novas possibilidades e áreas, fazendo com que a narrativa tenha uma forte sensação de jornada pessoal. A navegação pelos rios espaciais inclui definir primeiramente um objetivo. O caminho até lá será destacado por setas, contando também com indicações nas falas de Six.

Com uma trilha atmosférica, o jogador pode relaxar, navegar para a esquerda ou para a direita e conversar com Six pelo caminho. Também há ruínas soltas no espaço e, caso o jogador esteja refazendo um trajeto, é possível apenas deixar no piloto automático, alcançando imediatamente o objetivo ou o ponto mais próximo dele já visitado.
 
Ao alcançar uma cidade ou lua específica onde há ar, Aliya e Six descem da nave e podem explorar em busca de pistas. As poucas regiões habitadas possuem várias pessoas com as quais interagir, enquanto as ruínas possuem vários tesouros escondidos, exigindo que o jogador as explore minuciosamente. Alguns detalhes podem estar escondidos em pontos que exigem mudanças de câmera ou interagir com objetos específicos no mapa.

Ao contrário de outros jogos do gênero, é até esperado que o jogador acabe deixando passar algumas pistas na primeira vez que visita um determinado ponto, com Six pressionando o jogador a sair.

Vestígios de uma língua antiga

Enquanto procura por pistas do paradeiro do pesquisador, Aliya irá encontrar vários objetos de sociedades antigas. Mais importante ainda é a presença de várias inscrições nelas. Esses escritos são um aspecto fundamental do gameplay, com o jogador construindo um grande dicionário de termos que vai gradualmente se tornando mais preciso.
 
Inicialmente, é encontrada alguma combinação de palavras, sendo necessário adivinhar os seus significados. A proposta é complicada, havendo muitas variáveis envolvidas, relacionamentos de termos, entre outros fatores. Uma palavra selecionada é atribuída com um ponto de interrogação no final para indicar que Aliya não tem certeza de sua escolha.

Após encontrar a mesma palavra em múltiplos escritos, ela consegue definir se o sentido está certo ou não. Se a corretude é provada, o termo perde a interrogação e a tradução é concretizada. Caso contrário, aquele sentido é retirado das opções para a palavra e o jogador terá que escolher uma nova possibilidade, que será testada posteriormente.
 

Com o passar do tempo, o jogador passa a entender melhor as associações, construindo um dicionário robusto de termos e conseguindo interpretar melhor as situações que encontra. Afinal, essas palavras usualmente representam alguma coisa, como uma placa indicando o nome de um lugar ou uma prece por um ente querido que se foi. Os locais têm história e o jogo faz questão de representar de forma lúdica e instigante o trabalho da arqueologista.

De fato, colher os louros desse esforço é bastante recompensador. Não só os povos antigos, mas as cidades modernas e até mesmo Six e a própria Aliya possuem suas idiossincrasias, dramas e eventos importantes do passado que o jogador tem a chance de conhecer nessa viagem. Esse acúmulo de conhecimento pesa para a experiência, sendo notável obter novos pequenos enigmas escritos e já ter pistas para desvendá-los.

Uma aventura excelente

De forma geral, o único problema real de Heaven’s Vault é a sua performance no modo portátil. Durante meu tempo com o jogo, tive vários travamentos e tentar acessar alguns elementos do menu levou a crashes. Ao usar o dock, as quedas de framerate são reduzidas e observei menos problemas de forma geral.
 
Também senti falta da possibilidade de salvar o jogo, já que apenas o auto-save existe. Apesar de entender a decisão, por ser pensada para que o jogador possa se sentir responsável por suas ações, eu adoraria poder manipular as escolhas de forma rápida e fácil ao invés de ter que esperar o New Game Plus. 
 
Heaven’s Vault é uma envolvente jornada em vários sentidos. Não apenas se trata da exploração de uma galáxia, como também das histórias de um povo e da própria Aliya. A performance no Switch faz com que a versão não seja a mais indicada, mas, mesmo assim, é uma obra indispensável para qualquer pessoa interessada em jogos com forte carga narrativa.

Prós

  • Representa de forma lúdica um processo de construção do conhecimento histórico;
  • Narrativa bem trabalhada e com múltiplas escolhas formam uma jornada pessoal;
  • Sensação de recompensa por decifrar gradualmente o sentido das palavras;
  • Navegação atmosférica pelo espaço com opção de skip.

Contras

  • Problemas de performance no modo portátil;
  • Ausência de saves alternativos ao auto-save.
Heaven’s Vault – Switch/PC/PS4 – Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela inkle
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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