O jogo se passa em um mundo que se tornou hostil após cataclismos, em que criaturas gigantescas, chamadas Behemoths, passaram a ameaçar a civilização. Para defender o seu povo, a classe dos Slayers, guerreiros humanos e caçadores, começou a combater tais monstros, criando equipamentos bélicos cada vez mais fortes para sobreviver e proteger a sociedade.
Como um RPG por excelência, Dauntless apresenta várias classes de lutadores, que variam de acordo com as seguintes armas: espada, machado, martelo, lâminas, pique de guerra e repetidores. O seu sistema de progressão não é um setor fixo, como são muitos jogos do gênero. Cada armamento conta com um nivelamento individual, ou seja, se quisermos melhorar nossas habilidades de espadachim, por exemplo, devemos utilizar a espada nas lutas, que assim nos permitirá ganhar experiência e aumentar o nível daquela categoria.
É uma estratégia divertida, pois não há aquele compromisso com determinada classe. É só pegar e trocar de armamento quando bem entender, podendo ser um guerrilheiro de machado pela manhã e um pistoleiro à noite. Entretanto, saiba que será necessário jogar com a arma para melhorar suas habilidades até chegar ao nível que deseja.
Além dessa progressão segmentada, também há o nivelamento dos personagens, clássico dos RPGs. Contudo, ele muitas vezes fica um pouco de lado, dado que as caçadas são ranqueadas pelo nível do armamento. É desse jeito que o jogo dirá se você está pronto para encarar determinada ilha, classificando as jornadas entre fácil, normal ou difícil.
Dentro desse arsenal vasto, a arma que mais me identifiquei foi o pique de guerra, uma espécie de lança longa que você já deve ter visto em retratos medievais. Além de ser fácil de se usar fisicamente, ele possui um mecanismo que nos permite armazenar energia e disparar projéteis como um rifle – o que o torna mais poderoso e divertido. Todavia, todas as armas são balanceadas, e no fim é mais uma questão de gosto e adaptação.
Entre batalhas épicas, mecânicas de upgrades e armas variadas, você provavelmente sentiu alguma semelhança com a franquia Monster Hunter, não? Há, de fato, similaridades entre os jogos, principalmente nos conceitos. Porém, não gostaria de me restringir às comparações, pois elas podem simplificar ou reduzir Dauntless, que apresenta personalidade rica. A única coisa que farei é aproveitar o gancho para abordar o principal ponto em comum entre elas: os monstros gigantescos.
Caçadores de monstros
Qual seria a graça em ter a variedade de armas mencionadas anteriormente sem adversários dignos de batalhas epopeicas, não é mesmo? Em Dauntless, os monstros não são muitos em quantidade, mas são enormes e de variedade alta. Eles podem ser encontrados em ilhas flutuantes, que podem ser acessadas no portal de Ramsgate, cidade principal do jogo e local de origem das quests.
No portal, escolhe-se uma das múltiplas ilhas para se visitar, que são liberadas conforme progredimos. Com isso, embarcações partem da cidade para os territórios de caça, dado o cataclisma mencionado. Em cada ilha geralmente há uma variedade de cinco ou seis espécies de criaturas, que nascem de tempos em tempos.
Os Behemoths são assustadores, possuindo uma boa variedade de espécies. Entre elas, temos dinossauros com espinhos, castores com toques de réptil, corujas enfurecidas e javalis gigantescos. Muitos deles contam com forças elementares, com relações de fraquezas ou vantagens. Para isso, você pode criar sua arma com alguma dessas naturezas, para tirar proveito do material, seja fogo, gelo, eletricidade ou outros.
Para derrotar esses seres enormes, você precisará da ajuda de outros lutadores. Mas não se preocupe, pois as jornadas são controladas pelo sistema online de Dauntless. Ele funciona bem, e garante que as ilhas não fiquem vazias ou superpovoadas. Para encarar as criaturas sem muito sofrimento, quatro ou cinco Slayers são o bastante.
Se há algum defeito no setor das batalhas é que algumas espécies inimigas são notavelmente mais difíceis de se derrubar. Mas não é em questão de nivelamento, e sim por certas mecânicas que são impossíveis de se prever. Os Shrikes, por exemplo, voam e saltam de uma maneira em que é difícil de se defender, nos fazendo correr de um lado para o outro para desviar. Isso pode tornar as batalhas em um “salve-se quem puder”.
Uma adição interessante é que os monstros podem apresentar fraquezas em regiões do corpo, fazendo com que o dano mude conforme miramos os golpes. Isso também afeta os itens que coletamos: se você precisa de uma parte traseira do Boreus para forjar uma armadura, por exemplo, então trate de atacar a cauda do bichano. Esse é um bom jeito de mostrar como Dauntless mistura ação com RPG primorosamente.
Um RPG de ação?
Se na progressão Dauntless mostra muitas características de um role-playing game, nos combates ele é pura ação. Os golpes são de uso imediato e os comandos precisos: geralmente usamos dois botões para atacar fisicamente, cada um projetando um golpe específico. Os outros botões controlam o salto e a esquiva do Slayer, que também são cruciais para se dar bem nos duelos.
Nos combates, não há aquele formato oriundo dos MMORPGs, que geralmente exige um lutador de cada classe nas batalhas – um para atacar de longe ou perto, outro para usar buffs ou curar e afins. As batalhas em Dauntless são simples e sem muito mistério, cheias de momentos frenéticos e vigorosos.
Com um servidor online prático, as caçadas são interessantes e não sofrem com muito lag. Ocasionalmente ocorrem problemas, que falaremos a seguir, mas, no geral, tudo é executado muito bem. Não é muito difícil encontrar mais Slayers ou se transportar para as ilhas. Desse jeito, a jornada é divertida e até viciante, sempre dando vontade de querer detonar mais e mais monstros.
Além do mais, Dauntless tem uma estética exuberante, com um traço cartunesco que lembra Fortnite. São visuais lindos, principalmente nas ilhas, com temáticas como campos de neve, montanhas e desertos. Elas não são muito detalhadas, dado que não contam com NPCs, mas apresentam campos abertos agradáveis de se aventurar. Os monstros, por sua vez, são mais detalhados e contam com designs formosos.
Como é um jogo disponível em outras plataformas, é legal mencionar que a versão do Switch é mais limitada visualmente, principalmente se comparada à do PC. Alguns sacrifícios foram feitos para deixar as caçadas mais fluídas, como a remoção das texturas das gramas e árvores. Para mim, não incomodou: Dauntless no console da Nintendo é lindo, tanto no modo docked quanto no modo handheld.
Pequenos engasgos
Inevitavelmente Dauntless conta com alguns problemas, mas vejo isso como resultado de sua grandiosidade. Por exemplo, na cidade de Ramsgate, os engasgos de performance são constantes, e parecem, por parte, oriundos da presença de muitos NPCs e Slayers online. Claro, a capacidade limitada do Switch deve contribuir bastante, mas isso não gera sozinho os lags e quedas de frame, que pioram se estamos em ambientes com muitos jogadores. Não chega a ser problemático, só é bem perceptível, sendo quase impossível andar sem sentir variações no fps.
Ao meu ver, isso faz parte da essência de muitos jogos online, que querem criar uma experiência multiplayer ampla. Mas, em Dauntless, isso não incomoda tanto por acontecer especialmente na cidade, onde não há combate; nas ilhas, onde a ação rola solta, a jogabilidade é bem fluida. No geral, esse problema em Ramsgate não me incomodou a ponto de atrapalhar a performance, mas entendo que é algo passível de críticas e pode desagradar jogadores mais exigentes.
O que me incomodou foi a ausência de mapas no jogo. É uma escolha estranha para um RPG, o que torna difícil de se achar os non-playable character ou possíveis spawn de monstros nas ilhas. Levou um tempinho para me adaptar, mas, mesmo assim, muitas vezes achar o que procuramos se torna uma turnê extensa.
A vantagem é que muito ainda pode ser reformulado no jogo online. Recentemente ele recebeu a atualização Reforged, que aparentemente melhorou muitos problemas de gameplay, inclusive do Switch. Essa possibilidade de conserto é alentadora, e cria esperanças por uma experiência melhor, caso a Phoenix Labs trabalhe nesses detalhes.
Contra tudo e contra monstros
Dauntless é, sobretudo, ótimo e viciante, rendendo muitas horas de caça ao equilibrar primorosamente ação e RPG. Com batalhas divertidas e uma progressão satisfatória, eu recomendo altamente o download, pois trata-se do melhor título gratuito que joguei no Switch – além de ser uma das melhores experiências online do console. Mesmo com falhas, o jogo dos Slayers é capaz de derrubar qualquer problema de performance ou monstro prestigiosamente, atacando sem nunca perder sua grandeza.
Prós
- O bom equilíbrio entre RPG e ação cria uma fórmula viciante;
- Batalhas ricas e monstros bem-acabados;
- A progressão é interessante por permitir trocar de estilo bélico;
- Gráficos belos e portáteis graças ao Switch.
Contras
- Engasgos e lag, especialmente na cidade;
- Ausência de mapa na jornada e alguns monstros demasiadamente severos.
Dauntless — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Dauntless pode ser baixado gratuitamente na eShop