Análise: Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy supera seu antecessor com maestria

O segundo jogo do arco de Ryza mostra que a Gust se empenhou em não somente aproveitar o carisma da protagonista, mas refinar o seu carro-chefe.

em 26/01/2021

Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy chega ao console híbrido dando continuidade à história de Reisalin Stout, apelidada de Ryza, em sua jornada como alquimista. O jogo se passa 3 anos após os acontecimentos de Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout (Switch), um dos mais bem sucedidos da série Atelier.


Como estamos em uma sequência direta, já aviso que é possível adentrarmos no campo dos spoilers, pois muitos dos acontecimentos no segundo game refletem os momentos finais do primeiro.

E, para os leitores que não conhecem a série, recomendo que leiam o nosso guia introdutório para a franquia Atelier, uma matéria que contextualiza a série e ainda te dá dicas de quais jogos escolher para conhecê-la.

Agora, sem mais delongas, vamos para a análise:

Reencontro de amigos

O jogo se inicia com Ryza em sua pequena cidade, na ilha Kurken, relembrando os acontecimentos do primeiro título. Por três anos, ela ficou sem seus amigos com quem viveu aquela grande aventura. Agora, a menina que antes era vista como a moleca travessa da vila virou a alquimista que ajuda a todos.

Moritz Brunnen, o homem mais poderoso da ilha e pai de um dos amigos de Ryza, vai até ela e entrega um objeto oval que mais parece uma joia e pede para ela descobrir do que se trata. A nossa protagonista, que estava se sentindo estagnada na missão que se deu há três anos, decide ir até à capital real rever seus amigos e tentar se desenvolver como alquimista.



Depois de uma breve contextualização nos eventos que precedem a história, chegamos à Ashra-am Baird, a grande capital que será o nosso cenário-base para a história do jogo. Na cidade, a protagonista se sente uma caipira na cidade grande, estupefata por ver o lugar pela primeira vez. Pouco depois, encontramos velhos conhecidos: Tao e Bos, amigos de Ryza que se mudaram para estudar.

Tao, antes um menino franzino e assustado, cresceu ao ponto de se tornar quase irreconhecível para quem o conhecia, enquanto Bos segue o desbocado que era no primeiro jogo, agora um pouco mais amigável. Ao passo que avançamos na campanha, vamos conhecendo novos personagens e encontrando os velhos amigos da protagonista, agora com outras rotinas e preocupações.

Devo dizer que, apesar do roteiro constantemente apelar para a nostalgia do primeiro jogo, foi difícil conectar com essa sensação, pois o título foi lançado há apenas pouco mais de um ano atrás e, no meu caso, eu o havia jogado novamente dias antes de começar este segundo. No entanto, a sensação de ver os personagens que eram claramente crianças (ou adolescentes), crescidos e vivendo uma vida mais próxima de um jovem-adulto, traz uma familiaridade positiva com quem vive ou viveu essa fase (digo isso, pois eu a estou vivendo neste momento).



Esse é um dos pontos positivos de termos um arco da série que se resolve ao redor de um grupo de personagens fixos, pois a sensação de continuidade da história e o avanço do tempo se tornam mais perceptíveis. Essa sensação não foi tão forte enquanto joguei Atelier Dusk Trilogy Deluxe Pack (Switch), pois mesmo que as histórias de cada jogo sejam interligadas, demorava para que a conexão entre elas ocorresse, pois cada uma tinha um protagonista diferente com uma participação recorrente de um ou outro personagem secundário, coisa que não ocorre no arco de Atelier Ryza, pois o fio condutor é o mesmo em ambos.

Assim como em todos os games da série Atelier, a história se desenrola calma e fluidamente ao longo que avançamos o jogo. Junto da campanha principal, temos diversas tramas paralelas dos outros personagens — tanto companheiros de time, como completos NPCs — que ampliam a história e aprofundam nos secundários, sem sobressair na aventura principal.

Um ponto positivo da interface foi colocar os ícones dos personagens cuja história está ativa nos mapas, coisa que o primeiro não tinha e pegava desprevenido o jogador que avançava pelos cenários. Agora aparece o rosto dos personagens ao lado dos locais do mapa, assim você saberá onde ir para seguir a história, seja ela qual for.

Explorando a Capital

Depois de Tao ajudar Ryza a encontrar um canto para morar na cidade grande, eles partem para uma expedição nas ruínas próximas a uma floresta nos arredores da Capital. Aqui somos colocados em uma das grandes mecânicas da série: a exploração.

Neste segundo jogo, a exploração ganhou uma nova camada de utilidade: o desbravamento das ruínas para encontrarmos novas informações sobre elas. Como Tao as estuda, ele está buscando conhecê-las o máximo possível e Ryza aproveita essas expedições para ampliar seu conhecimento como alquimista.

Nessas ruínas, seremos apresentados à Bússola, um artefato que nos guiará a encontrar pistas de informações sobre o espaço em que estamos inseridos e assim desvendar mistérios escondidos naqueles ambientes, junto de novos ingredientes e receitas para Ryza.



Em Atelier, o jogador deve vasculhar os espaços do jogo em busca de ingredientes que podem ser coletados para produzir remédios, armamento, comida e muito mais. A alquimia é uma habilidade que poucos personagens têm no universo do game, e eles são capazes de produzir quase tudo em seus caldeirões.

Nessa nova interação, a Gust caprichou em mecânicas para ampliar a experiência de exploração: agora Ryza pode se aventurar pelos cenários com a ajuda de uma Spirit Beast, um ser mágico que pode ser invocado por ela (após eventos específicos do jogo). O fofo ajudante também pode cavar espaços no chão dos cenários e encontrar itens especiais.



Além de pegar uma carona, Ryza também pode nadar em alguns ambientes. Nesses espaços, o jogador poderá atravessar áreas específicas e até mesmo mergulhar e obter itens exclusivos que só estão disponíveis debaixo d’água. Outra mecânica de exploração é o uso da Emeral Band, que possibilita que o jogador vá de um cenário para outro, usando uma corda mágica e, para finalizar as novidades, ela também pode escalar paredes de pedra com plantas trepadeiras. Todas essas mecânicas ampliam os espaços de exploração, trazendo uma dinamicidade muito maior e ajudando a transformar a jogatina mais próxima de uma aventura real.



Além disso, o jogo não esqueceu de suas origens e ainda podemos criar objetos específicos para exploração como rede para insetos, vara de pescar, foice, martelo e também a vara explosiva. Possuindo-os, o jogador terá acesso a itens diferentes, mesmo que as utilize em um mesmo campo do cenário, por exemplo: um arbusto pode te dar folhas ou flores ao ser cortada com a foice, ou prover insetos, se acertado com a rede.

Ao passo que vamos avançando na campanha e encontrando novos ingredientes com propriedades mais potentes, seremos capazes de sintetizar itens mais refinados, cuja eficácia e qualidade melhoram exponencialmente.

Sintetizar para avançar

Por falar em síntese, a sequência não trouxe muitas novidades na mecânica para produzir novos itens, o que não é um problema, pois a mecânica do fluxograma, introduzida no jogo anterior, é bastante intuitiva e compreensível. Nela, podemos ver as exigências de cada etapa da receita e quais os atributos que cada ingrediente está agregando ao produto final.

A escolha para o desenvolvimento Ryza como alquimista foi bem interessante. Como ela já havia se consolidado como uma boa alquimista no primeiro título, não faria muito sentido que ela começasse com um nível baixo na sequência. Entretanto, como ela está em um ambiente novo, ela não possui familiaridade com os ingredientes, então precisamos desenvolver as habilidades dela nesse novo espaço.


Também foi implementada a mecânica de Skill Tree [Árvore da Habilidade], na qual o jogador vai acumulando pontos ao sintetizar, completar missões e explorar as ruínas, podendo trocá-los por novos itens que podem sintetizados, melhorias na hora de forjar novos produtos ou de explorar os cenários. Essa saída foi bem inteligente e conversa muito bem com o que foi estabelecido no primeiro jogo.

Numa aventura, não faltam batalhas

À medida que vamos aprendendo novas receitas, o jogador poderá melhorar o seu arsenal, produzindo itens para batalha como bombas, remédios, gears e armas. Assim você prepara o seu time para que fique cada vez mais forte ao entrar em batalhas contra os monstros.



A mecânica de luta se manteve em turnos dinâmicos, assim como no primeiro jogo, mas com algumas novidades interessantes. Desta vez, o jogo guia-se mais pela ação do jogador. Por exemplo, ao atacar, podemos apertar o botão A repetidas vezes para causar mais dano e, quando o inimigo ataca, é possível apertar o X para se defender. Coisa que não vimos de forma tão ativa no primeiro Atelier Ryza, no qual você apenas escolhia qual comando de ataque, item ou movimentação dentro de batalha.

Manejar três personagens com essas mecânicas em todas as batalhas é deveras difícil, mas isso não impede que seja divertido. Ao passo que o jogador vai finalizando as side-quests dos personagens do time, podemos habilitar ações em cadeia que trazem uma nova camada de estratégia aos combates. Essas e outras adições tornaram as batalhas muito mais ativas e divertidas, quase se assemelhando a um game de ação ou luta. Podemos produzir sequências de combos com um ou mais personagens de uma vez, o que chega a ser tão satisfatório como os jogos de luta convencionais.



Outra modificação interessante foi a remoção do limite de uso por item, mas por um preço: o jogador deve acumular pontos de ação do Core Crystal — item mágico que replica as propriedades dos itens — o suficiente para poder ativá-los. Dessa forma, o jogo retira a dependência que alguns jogadores (eu incluso) tinham dos itens.

As ações dos personagens ainda se limitam ao tempo dos turnos, o que não distancia completamente o título do gênero JRPG mais clássico, mas traz um ritmo mais acelerado ao game, coisa que a franquia vem apostando ativamente nas últimas interações.

Devo dizer que, com essas novidades, eu fiz até mais questão de participar mais das batalhas, pois no primeiro jogo havia momentos em que preferia só seguir com a campanha, pois achava algumas lutas tediosas ou dependia exclusivamente de itens poderosos para liquidar os inimigos com rapidez. Porém, com as mecânicas novas, temos muita ação para tornar todas as batalhas intensas e divertidas.

O que esperar de Atelier Ryza 2?

Quem nunca ouviu a expressão que “a Nintendo faz jogos como receitas de bolo”? Isso significa que, ao passo que vai lançando novos jogos, ela vai adicionando novas camadas e sabores à mesma receita e tornando o produto final cada vez mais agradável. Bem, isso pode ser aplicado à série Atelier também.

Atelier Ryza 2 não está muito distante de seu antecessor e nem mesmo dos títulos dos arcos anteriores. Muito pelo contrário: carrega diversos traços de todas as evoluções dos jogos passados, mas sempre buscando tornar a fórmula melhor a cada lançamento. A Gust faz lançamentos anuais da série (às vezes mais de um por ano) e ainda consegue trazer uma aventura extensa, com refinamento das novidades trazidas anteriormente e mantendo a profundidade que a série construiu em seus mais de 25 anos de existência.



É aqui que estamos, em uma sequência que, até nas esferas mais cosméticas, se propôs a oferecer atualizações (além das que já comentei acima). Uma coisa foi atualizar os cenários com mudanças climáticas, como chuva e neblina. Ainda, nas horas em que chove, as roupas dos personagens ganham aparência de molhadas. Coisas simples, mas que não passam despercebidas.

Porém, um problema existente é a falta de atenção a detalhes que, apesar de serem pequenos, impactam na experiência visual. Por exemplos, nem todos os personagens têm o estado de suas roupas influenciado pela chuva, então num mesmo ambiente em que Ryza aparece encharcada, Bos está igual a uma cena de sol. O mesmo se aplica aos outros NPCs e roupas alternativas. Também presenciei momentos em que os polígonos de personagens eram visíveis nos filtros de sombra e personagens que aparecem na “T Pose” (posição padrão usada no desenvolvimento) antes de uma cutscene. Esses e outros detalhes não impactam em nada na jogabilidade, mas impedem do jogo atingir um nível imaculado.



Mas não se engane, esses são detalhes pequenos e o game ainda apresenta uma qualidade de gameplay elevada, capaz de divertir qualquer apreciador de JRPGs. A história segue divertidíssima e bem estruturada, com um único problema sendo a falta de localização para o português. Atelier Ryza 2 tem uma quantidade intensa de história e explicações detalhadas das mecânicas e não ter acesso ao idioma vai impactar a experiência enormemente. A Koei Tecmo anunciou que a versão norte-americana receberá uma atualização com a localização para o francês. Quem sabe isso não seja um indício e semente para que novos idiomas sejam incorporados à série? Pessoalmente, espero que seja o caso.

Eu repito em todas as análises que produzi da série, mas voltarei a dizer: saiba que o game pode ser aproveitado tanto no modo portátil como direto na televisão. No modo portátil, temos a facilidade de jogar esse título em qualquer lugar, enquanto na TV podemos aproveitar a beleza do jogo em sua potência máxima, apesar dos downgrades nas texturas da versão de Switch. Juntando isso com uma trilha sonora bem composta e belamente orquestrada, temos uma experiência muito boa no final.



Como um todo, Atelier Ryza 2 supera o primeiro jogo do arco com folga, aperfeiçoando as melhorias que já elevaram o antecessor, mas sem perder a essência da série. Agora, poderemos desfrutar o game, todos os seus finais alternativos enquanto a terceira aventura de Ryza cozinha nos caldeirões da Gust.

Prós

  • Jogo ampliou as mecânicas de exploração;
  • Modo de batalha ainda mais intenso e divertido;
  • História cativante e com um ritmo agradável;
  • Trilha sonora impecável.

Contras

  • Versão do Switch com downgrades nas texturas;
  • Sem localização para o português.

Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy - Switch/PS4/PS5/PC - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch

Análise realizada com cópia digital cedida pela Koei Tecmo
Revisão: João Pedro Boaventura
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Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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