Para quem não conhece a magia de Pilotwings, é muito simples: nele fazemos parte de um clube esportivo chamado Flight Club, que possibilita a prática de diferentes modalidades aéreas. Inicialmente nós podemos pilotar um avião leve, pular de paraquedas, controlar um jetpack e saltar de asa delta.
Nessas atrações somos desafiados por instrutores a atingir certos scores, que são medidos de acordo com a qualidade de nossa performance nas categorias. Por exemplo, quando decidimos pilotar um avião, nosso objetivo geralmente consiste em ter um bom controle das direções durante o voo, além de uma aterrissagem segura. Se nosso desempenho for positivo, prontamente somamos pontos, e podemos tentar até atingir o placar desejado – funcionando com um toque de arcade.
Embora pareça muito trivial, os desafios propostos são interessantes e exigem um balanceamento entre as várias modalidades. Quem se der bem nas provas e atingir a pontuação, ganha um certificado e libera novos instrutores e desafios. Ah, e um spoiler, mas que vale a pena ser mencionado: ao conquistar todos os diplomas, um estágio em que controlamos um helicóptero armado é liberado; portanto, trate de conseguir todos os diplomas para ter uma experiência completa.
Dessa maneira, sem muitos textos ou acontecimentos, as horas são muito divertidas e tranquilas em Pilotwings, permitindo momentos de paz na imensidão do céu. É só pegar e encarar os voos ou saltos – que são difíceis, mas não irão frustrar sua jogatina ou acabar com sua serenidade. Como veremos, a liberdade e calmaria são duas das grandes qualidades do simulador, que ao lado de um belo e potente visual, formaram um jogo que surpreendeu a todos.
Como o avião decolou
A proposta de Pilotwings era testar e demonstrar o poderio do Super Nintendo, que estava prestes a chegar ao mercado, em 1990. Uma das modernidades do console era a capacidade de operar com o Mode 7, um modo gráfico capaz de rotacionar e redimensionar elementos a ponto de causar uma sensação de profundidade. Assim, o jogo conseguia passar a impressão de ser 3D, mesmo que o SNES não fosse potente o bastante para fazer isso. A execução do simulador foi primorosa e revolucionária, deixando os jogadores boquiabertos com seu visual.
O desenvolvimento do título teve o comando do grandioso Shigeru Miyamoto, que trabalhou com a mesma equipe que havia projetado F-Zero e Super Mario World. Ao lado de Pilotwings, esses dois jogos também foram planejados para serem os headliners do lançamento do Super Nintendo. Com isso, em 21 de dezembro de 1990, o simulador de aventuras aéreas estreou no Japão, um mês após o lançamento do SNES. Na América do Norte, Pilotwings foi um dos jogos do lançamento do console em agosto de 1991.
Calcula-se que mais de duas milhões de unidades do título foram comercializadas em todo o globo. Embora ele não figure no topo dos mais vendidos do Super Nintendo, Pilotwings teve uma recepção positiva e inegavelmente se tornou um clássico muito amado, que habita o coração de muitos jogadores.
Entretanto, a franquia Pilotwings, infelizmente, só teve outros dois lançamentos em sua vida: Pilotwings 64 (N64) e Pilotwings Resort (3DS). Embora divertidos, eles não encantaram como o primeiro título da saga, que foi de longe o mais marcante e adorado. O motivo? Bem, talvez teremos de voltar para os anos noventa para entender um pouco mais de seu contexto. Por favor, afivelem os cintos e deixem a poltrona na posição vertical, pois o procedimento de decolagem irá começar.
Voo único
O Pilotwings original foi um título único e ousado, inovando e permitindo liberdade aos jogadores. Mesmo que não tenha sido o primeiro jogo a usar o Mode 7, talvez ele tenha sido o primeiro a empregá-lo com maestria. Seu visual viria a impressionar os jogadores, que viam nele algo muito diferente do que estavam acostumados na época. O ambiente tridimensional, mesmo que falso, adicionava profundidade, o que expandia os olhares e permitia novas direções.
Hoje talvez seja difícil visualizar, pois estamos muito habituados com a tridimensionalidade. Mas tudo era muito diferente lá atrás, e basta compará-lo a outros games de sua época para notar uma imponência. Gosto de pensar que Pilotwings foi um salto precursor para novas direções e estilos de gameplay – muito mais abertos e livres, com perspectivas frescas.
Para não causar confusão, é preciso deixar claro que ele não é um jogo de mundo aberto, pois há limites nos estágios do Flight Club. Mas em comparação aos seus contemporâneos, o título permitia uma liberdade muito maior, tanto na tridimensionalidade, como na campanha. Dentro dele não tínhamos princesas para salvar ou adversários a derrubar. Nosso único propósito era melhorar marcas, sendo uma mistura de simulador com arcade.
Dessa maneira, Pilotwings permitiu momentos tranquilos no Super Nintendo, sem ações frenéticas ou missões, o que naturalmente já o difere de outros jogos. Com essas escolhas, o título, que teve o desenvolvimento liderado por Miyamoto, foi um lançamento criativo, inovador e divertido, e recomendo a todos a experiência, que pode ser encarada no Nintendo Switch Online.
Ao propor um gameplay diferenciado, Pilotwings foi um avião que mudou sua rota de voo para chegar em destinos inesperados. Pode-se dizer que hoje, assoprando as velinhas e completando seus 30 anos de vida, o simulador de voo ainda parece um jovem vigoroso, que se diverte saltando de paraquedas ou acelerando um avião sem medo.
Revisão: Felipe Fina Franco