Análise: John Wick Hex (Switch) transforma os filmes em um interessante puzzle estratégico

Controle o Baba Yaga em estágios com situações que lembram a ação intensa dos longas.

em 04/12/2020

A série de filmes John Wick é conhecida pela ação frenética e cenas absurdas, protagonizadas pelo assassino homônimo representado por Keanu Reeves. John Wick Hex explora o conceito da franquia de forma inusitada em um jogo de estratégia com elementos de puzzle. Pode parecer estranho, mas funciona: em muitos dos vários estágios, John está cercado por inúmeros inimigos e o desafio é sobreviver e matar todos. Suas mecânicas são criativas e convidam à improvisação, mas a variedade limitada de conteúdo e de recursos compromete a experiência.

Um resgate complicado e sangrento

Ao invés de adaptar um dos longas, John Wick Hex apresenta uma trama que se passa antes do titular assassino se aposentar. Winston, o proprietário do hotel Continental de Nova Iorque, e Charon, o recepcionista do mesmo estabelecimento, foram raptados por um misterioso homem chamado Hex. O criminoso revela que deseja se vingar da Alta Cúpula e para isso planeja um ato teatral com os reféns. Naturalmente, a organização do submundo não vai simplesmente aceitar a afronta e contrata John Wick para resolver a situação. A trama simples é retratada com imagens estáticas e ótima dublagem dos atores dos filmes.


De posse de poucas pistas, o Baba Yaga vai atrás de comparsas de Hex em busca de informações. Naturalmente, esses indivíduos não desejam colaborar, logo a única solução de Wick é obter o que precisa na força, matando todos que se opuserem. O jogo explora esse conceito em áreas divididas em fases cujo objetivo é chegar na saída — uma tarefa muito complicada, pois os locais estão infestados de inimigos que vão fazer de tudo para eliminar John Wick.

Em sua essência, Hex é um título de estratégia por turnos com alguns elementos em tempo real. A ação fica pausada enquanto estamos selecionando um comando e depois de escolhê-lo todos os personagens agem simultaneamente. Cada movimento, como andar, atirar ou se agachar, dura alguns segundos, e novas informações, como um inimigo que surge no raio de visão de Wick, interrompem o andamento para que possamos reagir. Todos os movimentos do protagonista e dos inimigos aparecem em uma linha do tempo no topo da tela, o que nos permite planejar com cuidado os próximos passos.


John Wick conta com várias opções na hora de enfrentar os inimigos. A principal forma de ataque é com armas de fogo, mas o assassino também utiliza os punhos para interromper e golpear oponentes próximos. Para tentar desviar de balas, Wick pode agachar e rolar pelo chão, assim como se esconder atrás de obstáculos. Há um golpe para aparar ataques físicos, já um poderoso movimento derruba o inimigo e permite que Wick se mova para outro espaço. Estas técnicas avançadas consomem pontos de Foco, que podem ser recuperados a qualquer momento, mas que deixam o assassino completamente vulnerável por vários segundos preciosos.

Visualmente, Hex apresenta gráficos em cel shading com modelos simples e muito uso de cores neon, como roxo, azul e magenta, o que resulta em uma atmosfera estilosa. Durante as partidas, a câmera mostra uma visão aérea dos estágios, mas há também um curioso modo Replay que retrata todas as ações de perto, como se fosse um filme. O resultado geral é interessante, mas faltou um pouco de polimento na parte técnica, principalmente nas animações estranhas e limitadas. Estranhamente, a versão para Switch não conta com texto em Português do Brasil como a versão para PC, provavelmente poderá ser incluído no futuro via atualização.
 


O frenesi de estar na pele do assassino

John Wick Hex é um pouco intimidador no começo, afinal há muitos detalhes e elementos de interface para entender, mas rapidamente entendemos as nuances. O foco do jogo é ser rápido, preciso e flexível, pois inimigos surgem com frequência, nos forçando a repensar nossos movimentos. A munição acabou? Lance a arma em um inimigo para atordoá-lo e em seguida continue a matança com uma pistola largada por um oponente derrotado. Não receber dano é essencial: a vida não é recuperada entre as fases e bandagens para curar ferimentos são escassas.

O jogo oferece vários recursos para montar estratégias conscientes. A linha do tempo mostra o que cada personagem vai fazer, assim como a duração dos movimentos, logo é fácil decidir se a melhor opção é fugir para evitar dano ou atacar o inimigo para interrompê-lo. Há também a linha de visão: John só consegue atacar aqueles que consegue ver, e vice-versa, logo podemos usar pilastras e mesas para evitar ataques. Informações detalhadas dos inimigos, como vida e armas, podem ser consultadas a qualquer momento. 
 



Ficar atento a essas informações é imprescindível, pois é muito comum ser surpreendido e cercado por inúmeros capangas — não tomar cuidado resulta em morte certa. Particularmente, estes momentos mais complicados são os meus preferidos em John Wick Hex: muitas vezes consegui sobrepujar todos os oponentes com ações bem pensadas, até mesmo saindo ileso do confronto. É também nessas situações que a sensação da ação intensa e coreografada dos filmes fica mais forte, sendo muito recompensador quando a estratégia dá certo. No entanto, nem sempre tudo é claro: a interface fica um pouco confusa em situações com muitos elementos, o que me fez receber dano sem saber exatamente sua origem.

Matança repetitiva

John Wick Hex consegue transformar a ação dos filmes em um jogo estratégico interessante, mas, infelizmente, há vários problemas que atrapalham a experiência a longo prazo. Para começar, depois de algumas fases, a aventura fica repetitiva, pois há somente dois tipos de inimigos e as habilidades de John não evoluem. Outras categorias de armas aparecem pelo caminho, mas elas são mecanicamente idênticas e só apresentam características diferentes, como tempo de início da ação e quantidade de tiros.


A dificuldade aparece na forma de maior quantidade inimigos pelos estágios e conforme avançamos na campanha aparecem versões mais resistentes dos oponentes. A questão é que não muda o fato de que precisamos fazer sempre a mesma coisa. Para derrotar inimigos de corpo a corpo basta se aproximar, atordoar com algum movimento, e, em seguida, desferir socos até derrotá-lo. Já com capangas portando armas de fogo a estratégia é sair da linha de tiro quando não for possível interromper sua ação. Até mesmo os chefes podem ser derrotados com as mesmas estratégias, sendo a única diferença a necessidade de usar golpes físicos para diminuir sua taxa de esquiva. Fiquei decepcionado com a falta de criatividade das situações.

Os estágios também sofrem das mesmas limitações. Fora o visual, as áreas são majoritariamente lineares e mecanicamente idênticas entre si, o que muda um pouco é o posicionamento dos inimigos. Entre as áreas, podemos gastar moedas para melhorar características de John Wick, como aumentar a esquiva de balas ou diminuir custo de Foco, assim como distribuir itens em certas fases. O impacto dessas opções é pequeno e mal influencia a estratégia.
 



No geral, a dificuldade de John Wick Hex é moderada e pune aqueles que não tomam cuidado. A raridade de itens de cura pode criar situações bastante complicadas, às vezes a ponto de ter que recomeçar toda a série de fases desde o início. O conteúdo do jogo pode ser completado em aproximadamente oito horas e não existem extras significativos. Terminar as regiões sob certas condições desbloqueia “nomes”, que nada mais são do que rankings — particularmente não achei um incentivo interessante pra jogar de novo. Há também um modo chamado Expedited, em que os inimigos se movem se você demorar demais pra escolher uma ação, o que deixa as partidas um pouco mais difíceis.
 


Uma adaptação criativa, mas limitada

John Wick Hex ousa ao explorar a franquia cinematográfica em um gênero completamente diferente do material de inspiração. O misto de puzzle e estratégia envolve com seus conceitos que misturam pensamento tático e elementos em tempo real, sendo bem empolgante enfrentar vários inimigos simultaneamente — nestes momentos, temos a sensação de estar dentro de uma das elaboradas cenas de ação dos filmes. É uma pena que a variedade limitada de conteúdo e de situações torne a experiência repetitiva, entretanto não deixa de ser um título criativo.

Prós

  • Ótimas mecânicas que combinam estratégia e puzzle, misturando turnos e tempo real;
  • Bons momentos complicados que exigem muita destreza e pensamento tático para serem resolvidos;
  • Visual agradável com cores vibrantes.

Contras

  • Variedade limitada de inimigos, armas e situações tornam a aventura repetitiva;
  • Interface confusa em alguns momentos;
  • Animações carecem de polimento.
John Wick Hex — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gambitious
Siga o Blast nas Redes Sociais

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).