Análise: Grindstone (Switch) — derrotando monstros em um puzzle colorido e viciante

Mecânicas fáceis de entender exploradas em inúmeras situações são o foco deste divertido indie que é difícil de largar.

em 21/12/2020
Grindstone
, em uma primeira olhada, parece mais um desses vários puzzles de combinar peças da mesma cor. Em sua essência ele é exatamente isso, mas elementos estratégicos e mecânicas variadas trazem variedade às partidas — seu conceito é simples de entender, porém conta com muitas nuances a serem dominadas. Um universo carismático e colorido, aliado a muito conteúdo e jogabilidade simples, resultam num jogo viciante.

Fatiando monstros para conseguir sair de férias

O bárbaro Jorj deseja sair de férias com a sua família, mas ele não tem dinheiro para pagar a viagem. A fim de conseguir recursos, o guerreiro decide escalar uma montanha em busca de joias valiosas chamadas de Grindstones, e boatos dizem que há um grande tesouro no cume. A jornada não será fácil: o local está infestado de perigos e de Grudentos, pequenas criaturas que vão fazer de tudo para impedir Jorj.

A aventura de Grindstone conta com fases divididas em uma grade com monstros e perigos. A mecânica principal é simples: partindo da posição de Jorj, podemos fazer um caminho conectando inimigos da mesma cor, que vão ser derrotados em uma única sequência de ataques com a espada. Matar dez ou mais criaturas no mesmo turno faz aparecer uma Grindstone no tabuleiro, que permite alterar a cor de uma sequência para criar combos ainda maiores. Sendo assim, a intenção é conseguir derrotar o máximo de inimigos possíveis em um único turno.


Os monstros não são completamente indefesos: conforme o tempo passa, eles ficam agitados e atacam Jorj caso ele se encontre no espaço adjacente ao terminar seu turno. Além disso, inimigos poderosos que se movimentam e têm alcance de ataque maior aparecem pelo caminho. Para complicar, estes monstros únicos são mais resistentes e só podem ser abatidos ao realizarmos combos maiores. As fases contam também com armadilhas e obstáculos que, em conjunto com os diferentes tipos de inimigos, deixam as coisas complexas rapidamente.

Cada estágio tem um objetivo principal que, na maioria das vezes, consiste em eliminar uma quantidade específica de Grudentos. Depois de completar a tarefa, é possível continuar na fase em busca de recompensas adicionais, como baús com tesouros ou Grindstones. É tentador obter outros itens, o problema é que nestes momentos os inimigos ficam mais agressivos e monstros poderosos surgem com maior frequência. Esse tipo de mecânica traz uma sensação de risco e recompensa e é importante tomar cuidado, pois ser derrotado significa perder todos os itens obtidos naquela fase.


Para facilitar um pouco a jornada, Jorj pode comprar e fabricar inúmeros itens e equipamentos. Há escudos para se defender de ataques inimigos, espadas para golpear criaturas e obstáculos, flechas para acertar monstros distantes, poções com efeitos diversos (como recuperar vida ou pular imediatamente para qualquer ponto do estágio) e vestimentas com efeitos passivos. Estes itens só são desbloqueados por meio de esquemas obtidos dos baús, e muitos deles se desgastam com o uso, sendo necessário gastar recursos para recuperá-los.

Combos e perigos em uma extensa e variada aventura

Grindstone me conquistou com seu conceito simples e elegante aplicado em fases com situações cada vez mais complexas. No começo é bastante fácil completar os desafios, mas a inclusão de perigos e monstros poderosos nos força a agir com cuidado: além de montar boas sequências para conseguir acabar com os obstáculos, precisamos considerar também movimentos futuros, sempre tomando cuidado para terminar o turno em um espaço seguro.

Apreciei também a constante inclusão de elementos que me fizeram repensar as minhas estratégias, como lápides capazes de criar esqueletos que perseguem Jorj, pedras que limitam a movimentação e batalhas contra chefes com regras diferentes. Os itens trazem um aspecto estratégico ao permitir jogadas avançadas, como ir para um ponto distante do tabuleiro ou enfraquecer algum inimigo mais insistente. Muitas vezes, inclusive, só consegui passar de certas fases ao trocar a configuração de equipamento. A combinação de tantos elementos cria um jogo viciante que surpreende constantemente. 


Para mim, o aspecto mais notável de Grindstone é a diversão pura de conseguir montar combos longos. É empolgante conseguir enxergar as possibilidades no tabuleiro e utilizá-las em uma sequência intrincada capaz de limpar toda a tela. Jorj contribui na ótima sensação de montar combos: seus ataques e gritos ficam intensos conforme a duração da sequência, em uma hipnotizante e colorida carnificina acelerada.

Mas, como é de praxe, o jogo conta com alguns problemas do gênero. Há boa diversidade de perigos e elementos, porém as fases de uma mesma área são bastante parecidas entre si, o que traz uma leve sensação de mais do mesmo. Novos inimigos são introduzidos de forma aleatória, às vezes criando situações injustas que atrapalham o andamento das partidas. Por fim, a jornada conta com picos de dificuldade bem irritantes: muitas fases são bem mais difíceis que outras, o que me fez ficar travado em alguns momentos. Felizmente as partidas são bem ágeis e rápidas, o que ameniza essas questões.
 


Cor e estilo em uma adaptação feita com cuidado

Fora a jogabilidade difícil de largar, Grindstone conta também com um visual vibrante e muito colorido que lembra um desenho animado com humor ácido. Os personagens e inimigos são carismáticos e caricatos, e as animações são exageradas e interessantes. Um detalhe curioso é a violência: ao atacar, Jorj fatia os inimigos, com direito a sangue brilhante e carne em cubinhos. Particularmente achei um pouco estranho no início, depois acabei gostando da carnificina estilosa dos longos combos. Por sorte, a violência pode ser ajustada ou até mesmo eliminada em uma opção do menu.


O jogo foi lançado originalmente no serviço Apple Arcade e agora chega ao Switch em uma versão bem completa. Ele está completamente em português do Brasil, em um texto bem localizado e divertido. A quantidade de conteúdo é impressionante: são mais de 250 fases, inúmeros desafios opcionais e muitos itens e equipamentos para descobrir. Além da aventura principal, há o Grind Diário, que oferece desafios diferentes a cada dia com condições específicas e placares online. Mesmo com tanto conteúdo, a desenvolvedora promete introduzir novidades gratuitamente no futuro.

A versão para o console híbrido é cuidadosa e toda a interface foi adaptada para o formato horizontal — o original era focado em telas verticais. O resultado é competente e com elementos bem distribuídos, mesmo que em alguns momentos haja muito espaço vazio (como nos menus da loja). O título pode ser aproveitado com controles tradicionais ou com a tela de toque, sendo possível até mesmo utilizar uma combinação dos dois. Particularmente, recomendo utilizar os comandos por tela de toque, pois são mais intuitivos e naturais.
 


Uma escalada sangrenta e viciante

Grindstone usa mecânicas simples de forma elegante em um puzzle excepcional. Criar sequências de ataques durante as partidas é fácil e intuitivo, mas a dificuldade crescente nos força a pensar estrategicamente — é muito recompensador limpar o tabuleiro com um combo bem pensado ou sair ileso de uma situação complicada. Novos elementos são introduzidos constantemente no decorrer da aventura, revigorando a experiência com frequência, por mais que alguns percalços, como picos de dificuldade, incomodem um pouco. Essas qualidades, em conjunto com um estiloso visual colorido e muito conteúdo, fazem com que Grindstone seja difícil de largar.

Prós

  • Conceito principal simples, mas repleto de possibilidades;
  • Inclusão constante de elementos e mecânicas pela jornada mantém a sensação de novidade;
  • Quantidade imensa de conteúdo com mais de 250 níveis e equipamentos para encontrar;
  • Visual colorido marcante e agradável.

Contras

  • Aleatoriedade às vezes atrapalha o andamento das partidas;
  • Picos de dificuldade imprevisíveis.
Grindstone — Switch/iOS — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capy Games
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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