Análise: Touhou Spell Bubble (Switch) é uma aventura rítmica em Gensokyo

O puzzle da Taito se alia ao universo fantástico criado por ZUN em um incrível crossover cheio de cores e ritmos.

em 13/12/2020


Em 1984, surgia nos arcades o jogo Puzzle Bobble, um puzzle colorido no qual um ou dois jogadores devem eliminar as bolhas que aparecem na tela para passar de nível. Sua repercussão foi tamanha, que não demorou para que ganhasse ports e diversos “clones” para outras plataformas. Touhou Project, por outro lado, é uma franquia especializada em jogos do estilo shoot ‘em up, mais especificamente classificados como bullet hell (ou danmaku, em japonês) devido à sua dificuldade elevada.

O que acontece, então, quando dois jogos de gêneros completamente distintos se unem? A resposta está em Touhou Spell Bubble, também desenvolvido pela Taito e que une o melhor desses dois mundos: a fantasia de Touhou e a ação lógica de Puzzle Bobble, com aquele quê especial que apenas jogos de ritmo conseguem proporcionar.

O que é Touhou?

Touhou Project é um projeto criado por ZUN, pseudônimo de Jun’ya Oota, em 1996 para o extinto PC-98. No entanto, a franquia só começou a ganhar espaço quando o sexto jogo da série e o primeiro para Windows, Embodiment of Scarlet Devil, foi lançado em 2002. Dylan Asprey, streamer canadense também conhecido como AspreyFM, fez um excelente vídeo explicando um pouco mais sobre este universo tão fantástico que mistura esoterismo, folclore japonês e muito mais, mas sem se distanciar do gênero ao qual pertence — e como curiosidade adicional, Touhou foi considerada pelo The Guinness Books of World Records como “a série de shoot ‘em ups feita por fãs mais produtiva do mundo”.


Mesmo que nunca tenha chegado oficialmente ao Ocidente, não demorou para que a franquia de bullet hell começasse a ganhar traduções feitas por fãs no mundo todo. Porém, o que fez Touhou tão conhecida não foi seu gênero em si, e sim as excelentes músicas que ZUN compôs para os jogos. A trilha sonora é tão marcante, que vários círculos doujin (termo equivalente a indie no Japão) começaram a fazer remixes de diversos temas da franquia — e é aqui que começa o mérito de Touhou Spell Bubble.

Bem-vindo a Gensokyo

Todos os incidentes apresentados nos jogos acontecem em Gensokyo, um universo fantástico no qual humanos, youkais e espíritos convivem, paralelo ao mundo real e que se assemelha ao Japão feudal. Vez ou outra, contudo, objetos e até mesmo pessoas pertencentes ao mundo real (referido na série como Mundo Externo, ou Outside World) acabam chegando de algum jeito a Genksokyo.

Foi assim que Marisa Kirisame, Patchouli Knowledge e Alice Margatroid, três das mais poderosas magas de Gensokyo, com a ajuda da kappa Nitori Kawashiro, recriaram um jogo proveniente do Mundo Externo e o chamaram de Spell Bubble. Animada, Marisa logo decide apresentar a criação a Reimu Hakurei, a sacerdotisa do Templo Hakurei, que, mesmo relutante, cede à empolgação da amiga e decide participar do Spell Bubble Tournament.

Reimu e Sanae, rivalidade que se estende até para o spin-off

Contudo, o jogo deve primeiro ganhar popularidade em Gensokyo, e Marisa encontra aqui uma oportunidade para Reimu aprimorar suas habilidades no Spell Bubble. Seguindo a tradicional narrativa de incidentes dos jogos originais, as duas atravessam Gensokyo a fim de desafiar os outros habitantes para um duelo não de danmaku, mas sim de estourar bolhas.

Puzzle Bobble até que se prove o contrário

A princípio, Touhou Spell Bubble mais parece uma versão de Puzzle Bobble regada apor músicas criadas por diversos círculos doujin com base nas originais de ZUN. Porém, à medida que o jogo progride, novas mecânicas começam a ser introduzidas, como os combos rítmicos e o uso das spell cards.

Um estágio lunático para uma lunática

O começo pode até ser um pouco lento para um jogo de ritmo e mais se assemelha ao tradicional Puzzle Bobble, porém segue à risca a tendência da franquia Touhou: os primeiros estágios passam a sensação de que o jogador está no controle das coisas, para logo mais descobrir que, na verdade, ele quem é dominado pelo jogo. O ponto alto da mecânica de Touhou Spell Bubble não está na facilidade de criar combos e eliminar as bolhas em si, mas em ativar o elemento de rhythm game, que consiste em estourar as esferas no ritmo da música que está sendo tocada, garantindo, dessa forma, mais pontos.

Os comandos são demasiadamente simples e os tutoriais explicam sem rodeios o que fazer em cada situação. Apenas quatro botões são usados durante a jogatina: A para atirar a bolha, B para alternar as bolhas no estoque, Y para ativar a spell card e X para adicionar mais fileiras ao tabuleiro, enquanto o analógico esquerdo move a direção do tiro; o botão A também serve para estourar as bolhas durante combos normais ou rítmicos e, se pressionado no tempo correto, mais pontos são adquiridos.

Ainda em oposição a Puzzle Bobble, a duração da partida é determinada pelo tempo da música e ganha quem tiver mais pontos no final. Além disso, caso o tabuleiro fique cheio, o adversário ganha pontos de acordo com a quantidade de bolhas que estavam acumuladas, incluindo as vazias.

Spell cards ofensivas, que afetam o oponente, não podem ser usadas durante o Counter e o Awakening Mode do adversário, porém as que beneficiam o jogador podem ser ativadas assim que disponíveis. Essas habilidades especiais possuem tempo de ativação fixo e variável, então saber quando aproveitá-las pode ser crucial para virar o jogo, tal qual usar uma Death Bomb no shoot 'em up original.

Rejogabilidade de sobra

A campanha principal do jogo, o modo História (Main Story), é dividida em dois arcos, Reimu Arc e Marisa Arc. O jogador controla Reimu no primeiro, que serve mais como uma introdução ao Touhou Spell Bubble, com dificuldade equilibrada e personagens desbloqueáveis à medida que se avança na trama; por outro lado, no segundo, a IA é mais agressiva e as oponentes possuem habilidades ainda mais poderosas, sendo um interessante conteúdo pós-jogo. O arco da Marisa é, ainda, um prólogo para a história da Reimu, então acaba sendo um ponto fora da curva no “mais do mesmo”.

Touhou Spell Bubble tem diversos desafios (Challenges) que obrigam o jogador a usar determinadas personagens e spell cards, com a dificuldade variando de acordo com o nível de desafio. Também é possível enfrentar a CPU em partidas diversas e, por fim, existe um multiplayer local (Battle Mode) que permite que dois jogadores combatam entre si, o que deixa a experiência muito mais divertida.

Aqui, vale dizer que os modos Versus (Vs. CPU) e História possuem diversas configurações, desde níveis de dificuldade até a presença de bolhas especiais que facilitam ou atrapalham o jogo, dependendo do ponto de vista.

Em todos os modos de jogo, ao vencer ou perder partidas, o jogador recebe moedas que podem ser usadas na Kourindou (a loja do jogo) para adquirir músicas extras (não as DLC) e as spell cards das outras personagens. Essa característica por si só adiciona ainda mais rejogabilidade ao spin-off, visto que torna o exercício de tentativa e erro bem menos frustrante e recompensador de certo modo — sem mencionar as músicas viciantes.

Colaboração para dar e vender

O charme de Touhou Spell Bubble está, sem dúvidas, na sua apresentação. Cada uma das 20 personagens que aparecem neste spin-off foi desenhada por artistas diferentes, como fuzichoco (também ilustradora de alguns personagens em Fire Emblem Heroes) e Akira Banpai (conhecido como Vampire Killer), entre outros. Vozes conhecidas no ramo da dublagem dão ainda mais vida às garotas de Gensokyo, sendo notória a participação de Asami Seto (Sonia Blanche em Shining Resonance), Mai Aizawa (Minene Uryuu em Mirai Nikki), Ayaka Suwa (Honoka Matsubara em Kin-iro Mosaic) e muitas outras.

A mais forte de Gensokyo!
As músicas não poderiam ficar de fora e muitos círculos doujin estão presentes no jogo. Mesmo aqueles que não conhecem muito sobre Touhou já devem ter ouvido em algum lugar as músicas Marisa Stole the Precious Thing (IOSYS), Cirno’s Perfect Math Class (IOSYS) e Bad Apple!! (Alstroemeria Records). Porém, essas são apenas três das 48 músicas disponíveis, sendo 12 delas exclusivas para o jogo; a trilha sonora pode ainda ser aumentada para 66 com a compra dos pacotes adicionais DLC. O melhor de tudo: os gêneros variam, indo de techno a eurobeat e até mesmo rock, então tem música para todos os gostos.

As informações sobre as personagens (incluindo suas spell cards) e as músicas podem ser conferidas na galeria, independentemente de já terem sido desbloqueadas ou não. Infelizmente, apenas a arte básica das garotas está disponível em seus perfis, então não existe a possibilidade de acessar as outras excelentes ilustrações do jogo.

Muitas bolhas coloridas — e algumas vazias

Em termos de performance, Touhou Spell Bubble funciona muito bem nos modos portátil e TV, seja jogando com um controle compatível com o Nintendo Switch ou nos Joy-Con; o próprio jogo também disponibiliza uma configuração para compensação de lag nos comandos, uma vez que o ritmo é um fator importante neste puzzle. A apresentação e personalidade das personagens seguem à risca o design de ZUN, deixando o spin-off ainda mais próximo da franquia original.

Por mais excelente que seja, este não é um jogo à prova de falhas, infelizmente. Talvez o principal ponto negativo seja seu preço elevado, embora justificado, devido ao licenciamento das músicas que compõem seu acervo; dessa forma, acaba sendo um título restrito a fãs de Touhou — ou, trocando em miúdos, um jogo de nicho. Ainda, o maior agravante neste âmbito é o fato de o spin-off não estar disponível em mídia física e muito menos na eShop brasileira (até o momento de publicação desta matéria).

Todo jogo de ritmo deveria ter esta opção

Os pacotes DLC são uma faca de dois gumes. Se por um lado essa prática não agrada a muitos jogadores, por outro pode ser uma adição interessante ao jogo. As músicas extras não são apenas músicas e cada um dos pacotes traz, além delas, mais seis desafios de dificuldades variadas. Infelizmente, as histórias paralelas do modo Side Story ainda não estão disponíveis no Ocidente e também são DLC pagos.

Em menor grau, algumas escorregadas na localização em inglês passam a impressão de descuido, ainda mais se tratando de uma desenvolvedora como a Taito; no entanto, os erros de digitação e a ausência de palavras não comprometem a diversão como um todo.

Shoot! Pop! Push!

Touhou Spell Bubble é um excelente puzzle de ritmo que combina duas franquias de gêneros distintos de forma única, além de contar com um elenco vasto de artistas e dubladores. É difícil não se pegar cantarolando enquanto joga ou até mesmo acompanhando as personagens que se movem animadamente na tela durante os combos.

Mesmo que seja um jogo de nicho e com mais sentido apenas para os fãs de Touhou, o spin-off é um prato cheio no quesito diversão, com altas horas de jogatina e uma rejogabilidade fantástica que pode ser estendida para o multiplayer local. Com músicas e configurações para todos os gostos, é uma mistura inusitada que funciona bem — e, de quebra, pode servir de porta de entrada para o universo fantástico criado por ZUN.

Prós

  • Jogabilidade e rejogabilidade excelentes;
  • Diversos modos de jogo, incluindo multiplayer local para dois jogadores;
  • Comandos responsivos e possibilidade de compensação de lag;
  • Possibilidade de configuração de dificuldade;
  • Ótima seleção de músicas de diversos gêneros;
  • Grande elenco de artistas e dubladores;
  • Fiel à franquia original.

Contras

  • Alto investimento devido ao licenciamento das músicas;
  • Jogo de nicho, mais indicado para fãs de Touhou;
  • Algumas escorregadas na localização, porém inofensivas à jogabilidade.

Touhou Spell Bubble — Switch (eShop) — Nota 8.5

Revisão: Davi Sousa
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Análise produzida com cópia digital adquirida pela redatora

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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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