Touhou é uma famosa série de danmaku (ou bullet hell, uma versão mais difícil e desafiadora do gênero shoot ‘em up) criada por ZUN em 1996, porém foi apenas em 2002 que o primeiro jogo da franquia apareceu em computadores com Windows; até então, os títulos eram exclusivos para computadores PC-98.
Embora a franquia nunca tenha sido, de fato, lançada no Ocidente, não demorou para que jogadores demonstrassem interesse pelos jogos, traduzindo-os e disponibilizando-os em inglês. Mesmo não sendo tão popular por aqui quanto é no Japão, isso não impediu que alguns spin-offs saíssem da Terra do Sol Nascente, como Touhou Spell Bubble e Touhou Luna Nights.
Desenvolvido pelo estúdio indie Team Ladybug, Luna Nights já estava disponível para PC (via Steam) e Xbox One, tendo sua estreia no Switch no último dia 17. O título foge dos padrões convencionais da franquia e, em vez de danmaku, é um jogo de ação 2D estilo metroidvania que não deixa a desejar em nenhum aspecto se não a falta de conteúdo.
Personificação do Demônio Escarlate
Na trama de Touhou Luna Nights, Remilia Scarlet envia uma de suas empregadas, Sakuya Izayoi, a um Gensokyo alternativo, a fim de poder se divertir um pouco; além disso, Remilia também selou os poderes da subordinada para que as coisas não ficassem tão fáceis. A contragosto, Sakuya não vê outra saída a não ser participar do jogo proposto pela dona da Scarlet Devil Mansion; caso contrário, nunca poderá voltar para o Gensokyo original.
Este metroidvania faz grandes referências ao sexto jogo da franquia original, Embodiment of Scarlet Devil (EoSD), mas não se limita apenas a ele. Personagens como Nitori Kawashiro, Akyuu Hieda, Marisa Kirisame e até mesmo Reimu Hakurei fazem sua aparição em Luna Nights, tanto para impedir o progresso de Sakuya quanto para auxiliá-la.
Ainda fazendo paralelo com Touhou 6, a sequência de chefes em Luna Nights é quase semelhante à de EoSD, salvo exceções — afinal, as protagonistas na maioria dos jogos originais são Reimu e Marisa, e Sakuya é uma de suas oponentes em EoSD. De todo modo, é nítido que o Team Ladybug procurou manter a fidelidade à franquia original, e até mesmo as habilidades adquiridas pela empregada durante a aventura fazem alusão aos poderes dela em seu jogo de origem.
Illusion World “The World”
Sakuya possui a habilidade primária de atirar facas, assim como em EoSD, mas o que a destaca das demais personagens de Touhou é sua capacidade de controlar o tempo, que pode ser usada de maneira ofensiva, defensiva ou até mesmo para resolver quebra-cabeças nos mais diversos cenários.
Dominar o tempo significa dominar o jogo: a manipulação temporal permite paralisar oponentes para torná-los alvos fáceis ou até para passar por lugares difíceis. Contudo, esse poder não pode ser usado a todo momento, durando apenas alguns segundos e precisando ser recarregado antes de estar novamente à disposição; por outro lado, essa particularidade da personagem é explorada impecavelmente em uma jogabilidade fluida, com comandos bastante responsivos e condizentes à ação frenética.
Pelo menos Nitori vende coisas úteis, diferentemente de Rinnosuke |
Neste spin-off, o grazing permite que Sakuya recupere HP, MP ou até mesmo tempo para recarregar seu Luna Clock, mas para isso a empregada precisa se aproximar bastante dos inimigos sem tocá-los, estando eles congelados ou não. Ao contrário de outros metroidvanias, nos quais itens e até mesmo passar de nível recuperam HP e MP, em Luna Nights Sakuya só pode contar com esse sistema de risco-recompensa ou com as raríssimas máquinas de venda automática — isto é, se o jogador não quiser bancar os preços gananciosos que Nitori cobra por seus produtos.
Conjuring “Mesmerizing Misdirection”
Engana-se quem pensa que Luna Nights possui o mesmo ritmo de Hollow Knight ou dos Castlevania mais atuais. O ritmo acelerado é o ponto forte do jogo, obrigando o jogador a desenvolver um raciocínio rápido, especialmente nas lutas contra as chefes. Como o spin-off possui elementos do danmaku original, é necessário ter bastante paciência para as inúmeras tentativas e erros, mas, no final, elas acabam sendo um exercício de memorização.
A trilha sonora também não deixa a desejar, com músicas que são remixes das presentes nos jogos clássicos. As batidas e ritmo acelerados combinam com o frenesi da ação, fazendo com que não exista a vontade de ficar parado; arrisco dizer, inclusive, que Luna Nights possui uma das melhores direções de som entre os indies lançados em 2020.
Usando a manipulação temporal até mesmo para contribuir com a limpeza |
Os sprites são feitos em pixel art e, embora modernos, fluidos e detalhados, ainda conseguem remeter aos jogos mais antigos. Os cenários, simples, porém bem trabalhados, retratam fielmente diversos locais presentes em Gensokyo, como Forest of Bamboo of the Lost, Scarlet Devil Mansion, Hakurei Shrine e muitos outros.
Luna Nights, contudo, peca no mesmo quesito dos títulos originais: é um jogo curto, com pouca história e conteúdo. Mesmo com uma chefe extra, algo que também está presente no danmaku (nos famigerados estágios extras de cada jogo), o spin-off pode ser completado em aproximadamente dez horas. O mapa vasto e o intenso backtracking acabam perdendo o propósito em Luna Nights devido à falta de um pós-jogo ou até mesmo de novos modos de jogo.
A empregada da Mansão do Demônio Escarlate
Apesar de não contar com o fator de rejogabilidade, Touhou Luna Nights é um metroidvania que entrega ação frenética do início ao fim, sem deixar de lado o jogo original no qual foi baseado. Com uma história própria, não há necessidade de conhecer Touhou a fundo para aproveitar este alucinante spin-off que pode agradar tanto aos jogadores mais experientes quanto aos mais novatos.
Prós
- Jogabilidade fluida e intensa;
- Controles responsivos;
- Mecânicas diferenciadas, como grazing e manipulação do tempo;
- Fiel à obra original;
- Ótima apresentação audiovisual.
Contras
- Sem fator de rejogabilidade;
- Pouco conteúdo;
- Mapa demasiadamente extenso e backtracking desnecessário se comparados à duração do jogo.
Touhou Luna Nights — PC/XBO/Switch — Nota 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Phoenixx