Confesso que no primeiro contato que tive com Tanuki Justice, imaginei que ele teria alguma história a ser contada. Talvez tenha pensado assim por ele exibir uma temática bem específica, sobre irmãos canídeos que se aventuram em um Japão feudal, como está escrito na eShop. Mas a verdade é que não há trama ou nada do tipo: apenas controlamos um animalzinho por cenários desconexos e combatemos inimigos aleatórios. Não há algo que nos indique por que tudo aquilo está acontecendo, o que pode ser desalentador para quem espera profundidade.
Todavia, o jogo é capaz de compensar essa ausência com o seu gameplay. A jogatina é muito precisa e divertida, e seguramente é a sua maior estrela (ninja, se preferir). Dentro do gênero shoot ‘em up, Tanuki Justice se configura como um run ‘n’ gun frenético, com muitos momentos bullet hell em que é quase impossível saber o que está acontecendo na tela entre tantos disparos e inimigos. É um jogo vigoroso, feito para quem busca muita ação, e isso ele entrega muito bem, com controles responsivos.
Controlando os primos dos guaxinins
Como um tanuki, além de caminhar e saltar, também podemos atirar shurikens em oito direções. É o nosso único jeito de matar os inimigos, então trate de caprichar na pontaria. Outra peculiaridade do jogo é que um simples contato físico com os inimigos resulta em nossa morte instantânea, e isso eleva os desafios. Por outro lado, a grande maioria deles também pode ser derrotada com apenas um golpe, o que equilibra os combates.
Conforme acertamos nossos tiros, uma barra de energia vai se enchendo no topo da tela. Quando ela está carregada, podemos liberar nosso ataque especial: uma estrela ninja gigantesca e poderosa, capaz de destruir tudo o que vê pela frente. Além dela, o jogo apresenta outras mecânicas conhecidas, como a disposição de caixas pelos ambientes, que podem nos dar mais energia, power ups e escudos.
Até então, tudo funciona muito bem, e Tanuki Justice demonstra uma performance consistente e responsiva. A presença de outros elementos, como a possibilidade de bloquear direções para correr e atirar ao mesmo tempo, demonstra que ele recebeu um cuidado especial em sua concepção como um run ‘n’ gun. Os demais comandos também funcionam bem, como os saltos, que exigem precisão e geram desafios legais. No entanto, há uma mecânica adotada que pode causar estranhamento, principalmente para os jogadores assíduos de clássicos de plataforma bidimensional: no jogo, não é possível descer das plataformas em que estamos.
Não há aquele movimento tradicional descendente, geralmente permitido ao apertar um botão junto ao direcional para baixo. Ou seja, para descer, é preciso ir até o final da planície em que pisamos, seja para direita ou esquerda. Foi algo que custou um tempo até eu me acostumar, pois o reflexo é automático e natural, dado que é um conceito habitual nos videogames. Foi uma limitação que atrapalhou algumas situações de gameplay – que, no geral, é quase impecável.
Terras feudais cheias de inimigos
Com toques orientais, os cenários de Tanuki Justice são incríveis, principalmente nos planos de fundo, que nos mostram céus azuis, templos, plantações de bambus e cachoeiras. Ele encanta com um estilo pixel art na dose certa, que o dá um toque retrô apropriado, mas também muito vivo, com cores alegres e esteticamente agradáveis. Assim, se você quiser dizer que ele se parece muito com um jogo de NES ou SNES, vá em frente, contanto que você use um título exuberante dessas gerações como exemplo de comparação.
Quanto aos inimigos, eles são bizarros e sem-noção – o que é muito legal. Temos os tradicionais, como ursinhos atiradores vestidos, e os mais insanos, como pandas gigantes e caveiras flamejantes que flutuam. Essa criatividade também há de ser louvada nos chefões; praticamente todas as fases contam com um deles, que trazem batalhas engenhosas. Entre uma tartaruga gigante que cospe água, dois macacos coloridos saltitantes e um lobo místico que se movimenta no background, temos quase de tudo nesses momentos desafiadores.
Por sinal, temos à nossa frente uma jornada desafiadora ao todo, com fases árduas que demandam coordenação entre saltos e precisão nos disparos. Infelizmente, é um desafio bem curto: com apenas sete fases, Tanuki Justice pode ser completado em poucas horas, mesmo sendo difícil e custando uma quantidade considerável de tentativas. Felizmente, ele tem três modos de dificuldade: Normal, Hard e Intense. Para quem gosta de desafios, as duas últimas opções são convenientes.
Mesmo com a possibilidade de complexificar a campanha, completar o jogo é uma tarefa rápida. Tanuki Justice é bem divertido, mas peca por não oferecer mais níveis e outros extras, como colecionáveis ou modos diferentes de jogatina. De qualquer forma, é legal mencionar que ele permite multiplayer local, no qual você e um amigo podem controlar o irmão e a irmã tanuki. É uma adição interessante e oportuna, mas infelizmente não é algo que irá aumentar a vida útil do título.
Alegria que dura pouco
O jogo dos tanuki conta com propriedades excelentes, como gráficos retrô charmosos, jogabilidade precisa, desafios interessantes e muito carisma. Todavia, Tanuki Justice se torna limitado ao apresentar certas mecânicas restritivas, como a incapacidade de descer de plataformas e uma jornada com apenas sete estágios. São essas as características que o impedem de expandir suas virtudes excelentes, sendo uma diversão curta. Então, se for jogar, aproveite os momentos breves de diversão, pois é um título bacana no geral – além de ser mais uma aparição fofa dos tanukis no mundo dos videogames, como em Super Mario Bros. 3.
Prós
- Jogabilidade run ‘n’ gun precisa e acelerada;
- Visuais retrô exuberantes, inspirados no período do feudalismo japonês;
- Desafios consistentes em três opções de dificuldade;
- Inimigos bizarros e momentos bullet hell intensos.
Contras
- É curto, possuindo apenas sete estágios e nenhum tipo de coletável;
- Mecânica estranha na movimentação entre plataformas.
Tanuki Justice — Switch — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela No Gravity Games