Análise: Fitness Boxing 2: Rhythm & Exercise (Switch) leva franquia por caminho seguro, mas certeiro

Jogo de exercícios não inova em termos de design ou gameplay, mas traz uma série de melhorias em relação ao seu antecessor.

em 18/12/2020


Em janeiro de 2019, ao publicar minha análise do primeiro Fitness Boxing (Switch), terminei o texto dizendo que tentaria manter minhas atividades físicas com o game, apesar de não saber por quanto tempo isso duraria. Agora, quase dois anos depois e com uma pandemia que obrigou todos a ficarem em casa, posso dizer que o jogo da desenvolvedora japonesa Imagineer esteve mais presente em minha vida do que esperava.


Durante 2020, joguei-o frequentemente, junto com outros títulos fitness, para tentar me manter ativo no isolamento social. Por isso, quando a Nintendo anunciou que publicaria nas Américas a sequência, Fitness Boxing 2: Rhythm & Exercise, para Nintendo Switch, confesso que fiquei animado. Afinal, seria uma maneira de diversificar minhas rotinas de exercícios, embora os trailers não mostrassem um jogo tão diferente assim do seu antecessor.

Com o game em mãos, essa impressão se confirmou. A segunda edição da série que mistura boxe com música é bastante similar ao seu título de estreia, possuindo os mesmos pontos altos e baixos em seu gameplay e design. Porém, desta vez, a Imagineer incluiu uma série de recursos, como mais opções de customização, um novo sistema de progresso e uma melhor apresentação, fazendo com que o jogo passe uma sensação de acabamento superior.

Exercícios similares

A premissa de Fitness Boxing 2 permanece a mesma do jogo de dois anos atrás. Seguindo as instruções de um treinador virtual, o jogador deve desferir socos e realizar esquivas no ritmo de versões instrumentais de canções conhecidas. Controles de movimento, portanto, são essenciais para a experiência, já que a movimentação dos Joy-Con, segurados um em cada mão, é traduzida como jabs, cruzados, ganchos e uppercuts durante as partidas. Semelhante a outros jogos musicais como Guitar Hero ou Rock Band, cada ação ofensiva ou defensiva deve ser realizada assim que seu ícone respectivo cruzar com um alvo no topo da tela.
Acerte os socos no momento certo


A jogabilidade das sessões de exercício parece ter sido transferida diretamente do primeiro título para esta sequência. Tanto que ela possui as mesmas qualidades e defeitos. Novamente, há uma grande quantidade de movimentos inspirados no boxe que, apesar de serem os mesmos do game anterior, são combinados de maneiras inéditas, fazendo com que aqueles que se dedicarem às rotinas possam suar bastante a camisa.

No entanto, a malhação continua sendo prejudicada pelos controles de movimento, que não foram aprimorados. Por exemplo, ainda é possível trapacear e não fazer os golpes da maneira ou com a intensidade requisitadas. Os Joy-Con continuam sem distinguir os diferentes tipos de soco, permitindo que qualquer tipo de sacudida à esmo nos acessórios conte como um atividade física bem feita. Cabe a cada pessoa realizar os exercícios corretamente para poder aproveitar o jogo ao máximo.

Além disso, a detecção das investidas e esquivas, apesar de funcionar na maioria das vezes, permanece um pouco inconsistente. Em uma sequência com movimentos rápidos e seguidos, dificilmente todos eles serão registrados com ritmo perfeito, pois o título tem dificuldade em determinar qual movimentação dos controles equivale a qual ação. O fim de um jab pode ser confundido com o início de um agachamento, fazendo com que o segundo sempre saia descompassado.
Uma sequência rápida de ações como essa pode ser prejudicada por controles de movimento inconstantes


Problemas pontuais no registro de algumas ações também podem ser encontrados, com o game ocasionalmente não identificando um movimento que até então funcionava sem erros ou interpretando erroneamente a movimentação do corpo no ritmo da música — algo exigido pelo título — como um soco, desferindo-o sem querer.

No geral, a essência das atividades permanece a mesma. Quando há empenho, elas colocam o corpo para trabalhar, sem dúvidas. Porém, algumas questões envolvendo os controles de movimento impedem que elas sejam 100% responsivas. Infelizmente a oportunidade de atualizar os motion controls foi perdida.

High Score

Mas nem tudo no título é requentado de seu antecessor. Ao redor do gameplay similar, foram adicionadas algumas alterações que tornam o jogo mais engajante. Um dos novos recursos apresentados logo no tutorial é a presença de pontos nas séries de exercícios. Movimentos bem executados equivalem a uma pontuação maior no contador, a qual irá definir quantas estrelas o jogador merece ao final do treinamento. Este sistema torna mais claro o método de rank das rotinas. O que antes era definido de modo abstrato, pela quantidade de socos perfeitos e combos bem sucedidos, agora possui um número concreto o qual o atleta pode conferir e tentar superar.
Quanto mais pontos, melhor o rank ao final do exercício


Junto a esse novo esquema de pontuação está a introdução de um medidor Zone. Socos e desvios no ritmo o preenchem e, uma vez completo, ele ativa automaticamente um Zone State ao final de cada seção das séries, dobrando os pontos adquiridos a cada golpe realizado.

Ao contrário de um Star Power do Guitar Hero, não é uma mecânica que necessita atenção redobrada ou perfeição. Acertar os golpes de maneira regular já garante um medidor cheio. Dessa forma, é comum até mesmo esquecer de sua existência enquanto se joga, fazendo com que não seja uma característica determinante para o aproveitamento do exercício, mas que não deixa de ser bem-vinda por adicionar uma camada fina de variedade à jogabilidade.

Com o Zone State ativado, as imagens de fundo — que são mais interessantes que as do jogo anterior, assumindo temas diferentes, como uma cidade à noite, uma mesa cheia de doces ou uma praia tropical com objetos renderizados em 3D — tornam-se mais intensas, com cores neon e animações mais fortes, para incentivar quem está se exercitando. É um toque que dá um gás a mais à experiência, mas que, devido ao contraste das cores, pode atrapalhar a visualização da HUD, que apesar disso também passou por uma melhoria.
Com o Zone State ativado, as imagens de fundo podem se tornar bem caóticas


Elementos como o tempo que falta para a série de atividades terminar e o indicador da posição dos pés — que agora mostra em qual pé deve-se pôr o peso do corpo no ritmo das músicas, facilitando os exercícios — foram transferidos para perto dos alvos, exigindo menos esforço para observar todas as informações da rotina.

Setlist ruim, mas boa

Para um jogo com a palavra “ritmo” em seu nome, um ponto crucial é a playlist de músicas disponíveis para as partidas. Nesse quesito, Fitness Boxing 2 mantém a diversidade do primeiro game, trazendo mais de 20 canções de diferentes estilos e décadas. Com músicas como Hot N Cold, de Katy Perry; Born to be Wild, de Steppenwolf; Y.M.C.A., do Village People; Can’t Hold Us, de Mackelmore e Ryan Lewis; e a famosa na internet Sandstorm, de Darude, é difícil não achar uma composição que você goste ou, pelo menos, reconheça.
A lista de músicas também inclui algumas poucas composições criadas para o game


Mais uma vez, Fitness Boxing 2 não utiliza as edições originais das canções, optando por implementar remixes instrumentais. Essas releituras são tanto negativas quanto positivas para o título. Olhando para o lado prejudicial, a qualidade sonora parece menor que a do jogo passado. Não sou nenhum expert em música, mas desta vez os compositores parecem ter inclinado mais para o uso de sintetizadores, abrindo mão das guitarras e baterias MIDI presentes no título de dois anos atrás. O resultado é uma trilha sonora muito mais eletrônica, com uma mixagem homogênea que remete a músicas de fundo que tocam em sessões de karaokê. Não é um trabalho ruim, mas a sonoridade parece que tem menos profundidade.

Curiosamente, entretanto, essa característica faz com que as canções sejam mais envolventes na hora de malhar. Assim como em um show de EDM, a distorção nas notas das composições traz mais energia ao corpo, dando mais vontade de se mexer. Mas é importante lembrar que, novamente, as rotinas de atividades não são construídas ao redor das músicas. O contrário acontece: as séries são fixas e qualquer uma das faixas pode ser utilizada. Mais uma vez, pode acontecer que música e série não combinem, ocasionando em momentos descompassados durante o gameplay ou até mesmo em situações em que os socos são desferidos em completo silêncio, tornando a jogatina um pouco desajeitada.

Configurações e modos reformulados

Enquanto o boxe virtual permanece praticamente o mesmo, com algumas melhorias visuais e de mecânicas, a Imagineer demonstrou maturidade ao acrescentar uma série de opções de customização e aprimoramentos que fizeram falta no jogo de 2019.

A mais notável dessas adições é um menu aprofundado de configurações, no qual é possível ajustar o delay em certas TVs; adicionar alarmes que fazem os Joy-Con tremerem e piscarem, lembrando da hora de se exercitar; automatizar certos movimentos ou até mesmo remover exercícios que os utilizam, o que ajuda quem tem dificuldades com algumas ações; e inserir o peso ao qual o jogador gostaria de chegar com as atividades. São opções comuns na maioria dos games fitness e musicais, não chegando ao ponto de serem revolucionários, mas é muito bom que eles estejam presentes, permitindo uma experiência melhor para cada pessoa.
O menu de configurações, apesar de apresentar opções básicas, é muito mais extenso que o do jogo anterior


Os principais modos de jogo também foram reformulados. Em Daily Workout, encara-se uma bateria de exercícios diária baseada em preferências predefinidas. Uma novidade aqui é poder, além de identificar quais partes do corpo se deseja trabalhar, mudar a intensidade a cada dia, escolhendo sessões mais tranquilas ou 100% intensas. Este é o modo que mais exige fisicamente, simulando um verdadeiro treinamento com começo, meio e fim. Apesar de se manter uma boa pedida para mexer os músculos, novamente os exercícios não levam em conta os dados de peso e IMC inseridos pelos jogadores, fazendo com que o game perca a chance de criar rotinas pensadas nas condições físicas dos usuários.

Já em Free Training, o objetivo é customizar sua própria série de malhação. Muitos dos recursos repetitivos entre este modo e o Daily Training que estavam presentes no primeiro Fitness Boxing foram removidos, tornando-o mais simplificado. Agora, o foco é criar uma sequência de atividades usando as mais de 60 rotinas disponibilizadas pelo game. Dessa forma, Fitness Boxing 2 corrige uma das omissões mais marcantes de seu antecessor: a impossibilidade de criar sessões personalizadas. Finalmente, todos podem misturar combinações diversas de socos e esquivas com diferentes níveis de dificuldade à vontade.
Criar sessões customizadas é o foco do modo Free Training


Ambos os modos podem ser aproveitados por até duas pessoas dividindo um único par de Joy-Con ou com os dois controles nas mãos. Desta vez, não há opções exclusivas para multiplayer, como a luta virtual de boxe que existia no jogo original. A única possibilidade para malhar com amigos e familiares é experimentar as mesmas fases presentes no single player. É uma abordagem muito mais direta e que funciona, mas deixa uma vontade por mais variedade. Sensação esta que também é sentida quando percebe-se que, de novo, não há muitas alternativas para aproveitar o game além desses dois modos.

Achievement unlocked

Uma das inesperadas surpresas que Fitness Boxing trouxe foi sua grande quantidade de colecionáveis na forma de roupas e acessórios para os treinadores virtuais. A segunda edição da série retorna com esta característica, mas muda completamente seu sistema de desbloqueio de conteúdo.

Antigamente, vestimentas eram destravadas uma por vez dependendo da quantidade de dias de exercício registrados no calendário in-game ou de socos desferidos no total. Esse método foi substituído por uma lista de achievements, que inclui desafios como conquistar um certo número de estrelas em exercícios de diferentes intensidades, receber um ranking perfeito de determinado instrutor, destravar todas as músicas e outros que obrigam quem está jogando a explorar todas as opções que o título fornece. Essas conquistas dão direito a tickets que podem ser trocados por roupas no menu de customização de treinador.
Achievements incentivam os jogadores a explorarem todos os recursos do jogo


O número de itens disponíveis para liberar aumenta à medida que o jogador se mantém ativo com o jogo. Dessa forma, há uma motivação a mais para continuar voltando ao game dia após dia. Além disso, já que é o próprio jogador que decide quais conteúdos serão desbloqueados com os tickets em detrimento a outros, os colecionáveis parecem que têm uma importância a mais. É agradável ver todas as opções de acessórios disponíveis para os treinadores e escolher aquele que tem mais a cara deles.
Itens são baratos, permitindo o desbloqueio de vários objetos de uma só vez


Falando nesses instrutores, todos têm um pouco mais de personalidade já que agora as suas falas são completamente dubladas. Isso faz com que eles sejam simpáticos ao darem as boas-vindas, sarcásticos no momento em que suas roupas são trocadas ou informativos, lembrando da importância de se beber água durante os treinos, de se fazer pausas entre as rotinas, sempre avisando quando se passam 30 minutos de atividade física, ou realizando séries de alongamento específicas para as rotinas de exercícios a serem encaradas.

A sensação é que os desenvolvedores se importaram em criar uma relação de bem estar entre os treinadores virtuais e os jogadores, tornando-os mais do que NPCs. Até mesmo os três novos instrutores têm seu charme, embora alguns dos novatos e dos veteranos tenham atuações de voz bem fracas se comparadas com o restante do elenco.
Karen é uma das novas instrutoras cuja atuação de voz é das mais fracas


Sequência segura

Fitness Boxing 2: Rhythm & Exercise é o tipo de sequência que não se aventura muito fora de sua zona de conforto. A base de seu gameplay é exatamente a mesma do jogo lançado dois anos atrás, tendo mantido os controles de movimento inconsistentes e uma certa falta de variedade de modos. Porém, o título realiza mudanças pequenas, mas consideráveis para sua qualidade geral.

A possibilidade de alterar uma série de configurações, trazendo mais qualidade de vida ao game; a eliminação de opções redundantes entre modos; a adição de séries de exercícios customizadas; a inclusão de um sistema de pontos e de um método de progressão baseado em conquistas; modificações na interface de usuário; uma apresentação mais agradável, com instrutores digitais mais cativantes. Tudo isso faz com que esta sequência não inove o gênero de jogos fitness, mas cumpra respeitosamente seu papel.

Prós

  • Gameplay que permanece proporcionando a prática de exercícios físicos;
  • Novo sistema de pontuação e medidor de especial que facilitam a compreensão do rank pós atividade física;
  • HUD atualizada permite um melhor monitoramento das informações durante as fases;
  • Músicas mais eletrônicas, empolgantes para malhação;
  • Mais opções de customização dos exercícios no menu de configurações;
  • Modos principais retrabalhados, permitindo sessões personalizadas;
  • Novo método de progresso baseado em achievements mais engajante;
  • Apresentação geral mais polida, com treinadores mais cheios de personalidade.

Contras

  • Controles de movimento continuam inconstantes;
  • Remixes de qualidade inferior;
  • Atividades físicas que ainda não levam em conta a natureza das músicas, podendo tornar o gameplay descompassado;
  • Dados de peso e IMC não influenciam nas atividades físicas sugeridas;
  • Falta de variedade de modos, inclusive no multiplayer.
Fitness Boxing 2: Rhythm & Exercise — Switch — Nota: 7.0

 Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo


Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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