O jogo narra a intriga de um império onde animais humanoides viviam pacificamente e eram livres, o que por aqui significa que não precisavam necessariamente usar roupas. Entretanto, certa vez o rei foi atingido por um cometa misterioso que transformou sua conduta, e ele subitamente passou a exigir o uso de calças em seu reino – o que para os seus súditos bípedes era um completo absurdo. Assim, estas criaturinhas fantásticas decidiram pegar em armas para acabar com tal decreto, formando uma verdadeira resistência contra aquele tipo de roupa.
Liderando o esquadrão Anticalças na revolta, nosso dever é exterminar muitos oponentes, resgatar membros de nosso grupo e explodir fortificações para nos aproximarmos da sede da monarquia. Os avanços são lineares e divididos em fases que podem ser acessadas por um menu bem simples, não criando nenhum mistério na progressão em si. Todavia, será extremamente necessário dominar o estilo beat ‘em up e o controle dos personagens, o que pode tomar um tempinho de preparação.
Como já é tradicional em jogos de seu gênero, Paw Paw Paw é formado por combates hack and slash que se baseiam em enfrentar sozinho muitos oponentes ao mesmo tempo. Entre golpes de espadas e ataques frenéticos, nossa tarefa é zerar os ambientes para avançar lateralmente até chegar ao final das fases. Convenhamos, esta é uma proposta de jogabilidade muito simplória, mas aqui ela agrada por funcionar bem; sem contar que ainda dispõe de outras surpresinhas na jornada, como a possibilidade de escolher quem queremos controlar e a presença de armamentos de todos os tipos.
Escolhendo o bichano para a guerra
O título conta com a presença de personagens de diferentes classes desbloqueáveis, o que aumenta sua diversidade. Kamu, por exemplo, é um ursinho fofo da categoria dos guerreiros, que porta uma espada, um escudo e determinadas habilidades exclusivas, como um bloqueio poderoso e golpes sequenciais em linha reta. Além do rapaz, podemos desbloquear outros tipos de soldados, como arqueiros, guardiões, bárbaros, botânicos e batedores; portanto, fica por nossa conta a escolha para enfrentar as fases.
Como cada guerrilheiro carrega armamentos distintos, é preciso levar em conta que eles também apresentam atributos que se diferenciam. Por exemplo, os arqueiros e botânicos tendem a ter uma mobilidade mais alta, mas não causam tanto dano quanto os batedores pesados, o que logicamente balanceia os poderes das opções.
Para cada combatente, o jogo conta com um sistema de progressão de níveis particular. Ou seja, para liberarmos novos armamentos e habilidades em determinados personagens, devemos acumular com ele pontos de experiência, que podem ser conquistados em recompensas de batalhas e por caixas espalhadas pelo cenário. É um funcionamento bacana, e quando você cria afinidade com um determinado tipo de animalzinho você se concentra em elevar os seus atributos e facilitar o avanço na jornada.
Para não se tornar um beat ‘em up repetitivo, Paw Paw Paw investe em fases com outras mecânicas, como ocasiões em que temos que impedir o transporte de explosivos dos inimigos ou quando devemos deslizar pela neve para escapar de uma avalanche estrondosa. Do mesmo jeito, o jogo também apresenta chefes singulares criativos, que mudam a cara dos combates e ainda por cima podem desbloquear itens e personagens, incrementando a já alegre campanha.
Dessa forma, Paw Paw Paw é um projeto bem idealizado que consegue se desviar de alguns problemas potenciais e entretém. Claro, ele conta com algumas falhas, mas que não parecem estar ligadas à sua idealização. Assim, antes de abordar suas imprecisões, me sinto confortável em dizer que o jogo possui uma premissa interessante e apresenta boas sacadas.
Golpes que erraram o alvo
Dentro de sua trajetória, Paw Paw Paw sofre em alguns setores de execução, evidenciando infortúnios nos comandos, ausência de polidez e uma (falta de) fluidez de movimentação que frequentemente o dá um aspecto artificial. As cutscenes, por exemplo, que são animações imensamente simples, não parecem correr tão bem e apresentam engasgos antes mesmo de iniciarem, além de tornarem o jogo mais vagaroso por não poderem ser puladas integralmente.
Ao entrarmos nos combates, às vezes também pode ser complicado direcionar determinados ataques ou se reerguer após receber golpes pesados, com controles não responsivos que podem frustrar. Para piorar, os embates evidenciam algumas crueldades, como inimigos excessivamente severos que podem nos detonar com poucos golpes e cenários recheados de armadilhas imprevisíveis, onde entramos em um contexto “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Diante disso, interpreto que Paw Paw Paw tem como proposta oferecer uma campanha desafiadora, o que é algo legal; entretanto, esse conceito se torna altamente desagradável quando seus problemas de gameplay dão as caras. Para evitar fracassos ainda mais instantâneos em fases complicadas, grinds se tornam necessários em muitas ocasiões – seja para acumular itens, como poções e bombas, ou para melhorar os atributos de nível e skill.
Na parte visual, o indie agrada com criaturinhas detalhadas e cenários cartunescos bonitos, mesmo não sendo nada extraordinário. Mesmo assim, eu gostei, e o único problema que senti nesse quesito fica por conta da artificialidade mencionada acima, pois, de resto, é uma jornada atraente e simpática.
Porém, o mesmo não pode ser dito de sua trilha sonora, que é extremamente repetitiva e às vezes incômoda. Definitivamente a faixa que mais irrita é a tocada no menu, que, por ser um ambiente de muito acesso, se torna enfadonha após poucos segundos. Dentro das fases, a identidade de áudio não melhora muito, apresentando melodias limitadas e pouco empolgantes, o que é uma pena.
Entretanto, olhando para esse compilado de problemas, não tenho a sensação que eles se manifestem a ponto de tirar a graça do jogo; eles apenas o tornam melindroso, penoso e outros adjetivos do tipo. Em outras palavras, o que quero dizer é que se você estiver pensando em comprar o jogo e se comprometer em o encarar até o final, fique sabendo que você provavelmente terá de passar por momentos de muitas tentativas e aqueles momentos famosos de rage. Mas, novamente, não são excessivamente incômodos a ponto de fazer você desistir completamente da campanha, pois o jogo compensa em muitos outros atributos que fazem a jornada valer a pena.
Nós somos os Anticalças
Problemas à parte, Paw Paw Paw é um jogo consistente que traz uma boa variedade bélica e sacadas inventivas, o que fez o título se mostrar mais empenhado do que eu esperava. Foi muito divertido avançar e conhecer mais sobre o mundo inusitado dos animais que não querem usar calças, em uma trajetória que guarda boas surpresas, como a presença de montarias, a possibilidade de contratar capangas e até mesmo um formato multiplayer local. Até tradução para o português o jogo oferece, que com o uso de termos como “bah” e “baita” me fizeram honestamente crer que ela foi feita por um gaúcho.
Com esses cuidados, o título desfere um golpe certeiro e pode cativar os jogadores, mesmo com os defeitos mencionados. Não chega a ser algo que eu recomendaria a todos, mas pode ser uma boa opção se você curte pancadaria, ação, mecânicas de upgrades e principalmente uma história excêntrica e divertida. Assim, Paw Paw Paw promete e entrega muita ação na tela do Switch, demonstrando consistência e uma criatividade tão grande que até dá vontade de tirar as calças para se juntar à guerrilha contra a crueldade do decreto que obriga o reino a se vestir propriamente.
Prós
- Narrativa criativa sobre um povo que não quer usar calças;
- Bons combates, progressão interessante e estilos de jogatina diversificados;
- Momentos inesperados, como a presença de montarias e fases que se diferenciam do formato beat ‘em up tradicional.
- Tradução hilária para o português.
Contras
- Falta de fluidez e artificialidade na movimentação;
- Dificuldade em certos comandos;
- Inimigos que subitamente se tornam muito cruéis e poderosos;
- Uma trilha sonora que deixa a desejar.
Paw Paw Paw — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games