Rich, nosso camundongo aventureiro, precisa resgatar os habitantes de seu vilarejo, que foram sequestrados, e, empunhando sua espada, deve explorar os mais inóspitos locais, derrotando todo e qualquer inimigo que aparecer em seu caminho. Sem tirar nem pôr — o que é bom e ruim ao mesmo tempo —, este curto título de ação cumpre o que promete.
Tão pequeno quanto um camundongo
Fazendo uso das palavras da própria desenvolvedora, Micetopia é um “metroidvania do tamanho de um camundongo”. Se o roedor pode atingir incríveis 20 centímetros de comprimento (tamanho da cauda já incluso), é possível ter uma ideia da extensão da aventura em si: não muito longa, com aproximadamente cinco horas de duração, dependendo de quão acostumado com o gênero o jogador está.
Isso não significa que Rich, contudo, não tenha o que fazer. À la Um Conto Americano, nosso aventureiro (que não é Fievel) precisa explorar uma vasta caverna escura e uma densa floresta em busca dos outros camundongos, que não são, necessariamente, sua família. Para isso, ele conta com os mapas desses locais, que vão sendo ampliados à medida que o valente roedor descobre novas câmaras, chamadas de rooms no jogo.
A arma primária de Rich é uma espada, com a qual ele ataca os inimigos a curto alcance; além disso, ele também conta com um pulo simples e que durante um bom tempo faz com que ele fique limitado a apenas uma porção da caverna, a primeira dungeon de Micetopia. No entanto, conforme for resgatando os aldeões, ele adquire novos poderes e armas, como pulo duplo (o primeiro a ser aprendido), arco e flechas, entre outros. Com as novas habilidades, Rich pode ir ainda mais fundo em suas explorações.
Ao derrotar certos inimigos, são obtidas pequenas pedras verdes que podem ser usadas para aprimorar habilidades já aprendidas, como aumentar a capacidade de dano que pode ser obtido dos inimigos, por exemplo. Se por um lado o grinding faz parte de todo metroidvania que se preze, por outro, esse elemento poderia ter sido amenizado em Micetopia: os upgrades são bastante caros, requerendo centenas dessas pedras verdes por vez, enquanto nosso herói só obtém no máximo dois ao exterminar os monstros.
Em compensação, o backtracking, outro elemento comum ao gênero, foi bastante facilitado, com certas câmaras nos cenários possuindo um teleporte que permite com que Rich volte rapidamente para o vilarejo, e vice-versa. A morte também não é punitiva em Micetopia e o progresso é mantido mesmo se o camundongo não sobreviver à exploração — o que, de certa forma, é bom caso o jogador decida coletar as pedras verdes para as melhorias.
Vez ou outra, é possível encontrar câmaras secretas nas dungeons e obter um dos dez fragmentos do poço do vilarejo, podendo ser este um motivo para tentar completar os mapas totalmente. No entanto, não existe nenhum tipo de bônus caso Rich restaure essa estrutura, nem mesmo conquista (achievement), pois o Switch não possui um sistema de troféus — embora alguns jogos o tenham.
Rich e a câmara secreta |
Um charme satisfatório
Micetopia possui gráficos em pixel art e música estilo chiptune que remetem à era 16-bits e têm aquele ar de nostalgia. Os comandos são bastante responsivos e, embora poucos, funcionam muito bem tanto ao se jogar com os Joy-Con ou com um controle compatível com o Nintendo Switch. O jogo também cumpre bem o papel de instruir o jogador, ensinando as mecânicas conforme a aventura avança. A única ressalva aqui é o alcance do ataque com a espada, que às vezes obriga Rich a se aproximar demais dos inimigos e correr o risco de ser atingido.
Sem apelar para conteúdo gráfico ou linguagem vulgar, o pequeno metroidvania é excelente para crianças. Talvez o único ponto negativo, neste caso, seja não ter o português (nem mesmo o europeu) como opção de idioma. No entanto, o vocabulário do jogo não apresenta nenhum tipo de estrutura gramatical ou palavras rebuscadas, sendo de fácil entendimento até mesmo por aqueles que não possuem boa fluência em inglês, então também pode ser uma boa fonte de aprendizado.
Como comentado no início desta análise, o fato de Micetopia não apresentar nenhuma inovação ao gênero é uma faca de dois gumes. Por ser um jogo simples e curto, é perfeito para ser aproveitado em doses pequenas ou em momentos nos quais não se tem nada para fazer; as melhorias também não são extremamente necessárias para avançar na história, então é possível ignorar os inimigos comuns que não impedem o progresso. Analisando por este ângulo, é um metroidvania recomendado para jogadores não acostumados com o gênero ou para aqueles que buscam uma jogatina mais despretensiosa apenas para passar o tempo.
Porém, como toda moeda tem dois lados, a falta de um quê a mais faz com que a aventura do pequeno Rich seja “apenas mais um metroidvania” no vasto catálogo de indies da eShop, fazendo com que fãs do gênero procurem algum título mais completo ou complexo, seja em termos de mecânicas ou história, como Hollow Knight, Minoria ou Blasphemous.
Não desista, pequeno grande herói! |
Dê uma chance ao camundongo
A aventura de Rich em Micetopia é recomendável para todos os jogadores. Com narrativa e jogabilidade simples e acessíveis, sem muitos floreios, este tímido metroidvania entretém na medida certa, mesmo que deixe a desejar em alguns aspectos. No entanto, é o típico caso de “pegar ou largar”: do mesmo jeito que atrai aqueles que procuram uma jogatina casual, pode afastar entusiastas do gênero metroidvania.
Prós
- Jogabilidade simples e acessível;
- Ótimo para uma jogatina despretensiosa e casual;
- Recomendável para crianças;
- Boa introdução ao gênero metroidvania;
- Charme nostálgico com gráficos em pixel art e música estilo chiptune.
Contras
- Nenhuma inovação para o gênero metroidvania;
- Aventura curta e sem rejogabilidade, com aproximadamente cinco horas de duração;
- Grinding desnecessário para a extensão do jogo;
- Sem missões secundárias ou outros atrativos justificáveis para a escolha do jogo.
Micetopia — Switch/PC/XBO/PS4 — Nota 5.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games