Volta no relógio
A aventura começa com o Festival of Light, uma celebração tradicional do vilarejo onde mora a jovem Yui. Durante a festividade, forças sombrias atacaram, destruíram a região e também raptaram a família da protagonista. Culpada por não conseguir evitar a tragédia, ela inicia uma jornada com o intuito de voltar ao passado e mudar a história, contando com o apoio de guardiões e elementos misteriosos que a dão o poder de alternar entre passado e futuro. Isto é, o antes e depois dos eventos terríveis da celebração.
Embora a mecânica temporal não seja novidade, ela sempre é uma concepção bacana e aqui é muito bem aplicada, proporcionando puzzles inteligentes, que não se tornam cansativos. É aquela estratégia velha e clássica: tudo muda quando transitamos de um tempo ao outro, distinguindo cenários entre um amanhã destruído e um passado ainda vivo. Com isso, Yui também figura com dois visuais, sendo criança ou jovem de acordo com a timeline.
Os quebra-cabeças progridem de acordo com essa alternância temporal, tendo um funcionamento similar a outros títulos que bebem da mesmo fonte, como The Legend of Zelda: Ocarina of Time. Trago uma demonstração: se encontrarmos obstáculos dentro de templos e dungeons em uma linhagem, podemos tentar contorná-los ao passar para outra geração e assim avançar. Para tanto, temos portais espalhados estrategicamente pelo mapa, que nos permitem fazer esse salto e se tornam elementos de importância extrema nos desafios.
Com a exploração lateral e a presença de dungeons, YesterMorrow possui alguns toques de metroidvania, que são misturados com outros atributos. Para tentar descrever melhor, é seguro falar que há uma essência balanceada entre puzzles e ação. O resultado final engloba saltar por plataformas, desviar de espinhos e resolver quebra-cabeças que geralmente envolvem mecânicas dos cenários.
Todavia, algumas surpresas boas também surgem no caminho, como batalhas desafiadoras de boss e a inclusão de habilidades no personagem, como iluminar o cenário, explodir bombas e atacar com um dash capaz de matar as sombras malignas, nossos inimigos mais costumeiros que parasitam animais e depois nos perseguem.
No geral, o conceito de YesterMorrow é trabalhado muito bem, o que o torna um jogo requintado. Ele possui personalidade, enredo interessante, um bom número de coletáveis e uma progressão agradável, com cutscenes e diálogos inspiradores. Só para mostrar o quão adorável ele consegue ser, podemos até mesmo acariciar cães e gatos pelo cenário, o que contabiliza como uma mini quest. Contudo, algumas sombras terríveis infelizmente atrapalham a aventura, comprometendo sua qualidade.
Apresentação impecável de uma performance desastrosa
Antes de descer a ladeira, que a verdade seja dita: YesterMorrow tem uma estética belíssima, não importa a temporalidade. Além de uma trilha sonora maravilhosa com arranjos orientais, seu visual traz cores vivas em cenários incríveis, com um leve toque de pixel art, que não exagera na dose. É surpreendente como tudo é muito bem detalhado na tela; tanto que, essa virtude aparentemente ocasiona o problema mais notável do jogo no Switch: suas quedas de frame rate.
As variações de frames por segundo são constantes, o que é inesperado por se tratar de um jogo bidimensional. A instabilidade em ambientes às vezes é tão grande que chega a gerar input lags frustrantes, atrapalhando a mobilidade. Em um olhar geral, esse tipo de defeito é problemático em qualquer jogo. Entretanto, ele é muito mais comprometedor em gêneros de grande intensidade, como plataforma e ação. Dessa forma, a experiência torna-se irritante com as falhas ao controlar Yui.
Para ser honesto, eu raramente senti a movimentação completamente fluida em YesterMorrow. Não são todos os momentos que sofrem severamente a ponto de atrasar os comandos, mas o fluxo parece pouco responsivo e travado no geral. Até mesmo andar por cenários corriqueiros, como o vilarejo principal, pode gerar momentos de lag e alguns pequenos engasgos na tela, retirando a naturalidade do gameplay.
Além do fluxo, há outros pontos negativos e que também estão ligados ao desempenho. O pico de desapontamento na minha experiência foi quando sofri softlock em meio à história; ou seja, fiquei preso em um templo, incapaz de avançar ou retroceder, e isso é o pior que pode acontecer em qualquer jogatina.
Comuniquei a desenvolvedora sobre esse defeito, que é aleatório e não chega a ser um risco geral, mas de alguma forma me atingiu e foi triste. Felizmente fui bem atendido e o problema aparenta ter sido consertado, eliminando o perigo para os novos players (pelo menos naquela dungeon). Além disto, há outros bugs, como clarões e deslocamentos na imagem e imprecisões, principalmente nos chefes. Mas, eles são insignificantes se comparados aos anteriores.
Com tudo isso dito, torna-se doloroso olhar para os dois opostos de YesterMorrow, que se dividem quase como ontem e amanhã: temos, de um lado, um jogo fascinante e bem criativo, e de outro, uma jogabilidade infeliz que afeta a experiência. Tudo isso gera uma comoção só de imaginar tudo o que ele poderia ter se tornado com o seu potencial.
De qualquer forma, não vou dizer que não me diverti jogando o título, pois ele segue interessante mesmo com defeitos. O balanço proposto entre puzzles, saltos e batalhas é muito agradável, bem como são os desafios de dificuldade harmoniosa. Quase tudo é inteligente e cativante, com toques pequenos que mostram uma personalidade, embora ela seja seriamente afetada com uma execução pobre. Em suma, temos um título maduro, mas que infelizmente não conseguiu finalizar o itinerário de sua viagem no tempo.
Viagem temporal turbulenta
No fim, o sentimento sobressalente ao jogar YesterMorrow no Switch é o de lástima, pois ele demonstra um potencial tremendo que não é executado com excelência. Enquanto seus erros não forem corrigidos, via atualizações ou até mesmo em uma continuação, YesterMorrow fica no esquecimento das águas passadas, parecendo-se muito mais com um ontem que passou batido, do que com um amanhã que promete ambições vigorosas.
Pró
- Visual fascinante, com cenários lindos e animais fofos por toda parte;
- Uma história envolvente;
- A incorporação da mecânica temporal é bem feita;
Contras
- Queda de frame rate constante e falta de fluidez;
- Atrasos ocasionais de comandos;
- Risco de softlock;
- Gostinho de que teria sido um título magnífico sem esses contras.
YesterMorrow — Switch/PC — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Blowfish Studios