Um grande potencial desperdiçado no Switch
Alguns poucos roguelikes se importam o suficiente com a sua premissa para explicar a razão para o loop constante de infinitas mortes e inúmeras campanhas para acabar a história. É fácil relevar o fato do personagem principal reviver pela quinquagésima vez e tentar salvar o mundo de novo, afinal, isso é só um jogo. É normal morrer e tentar de novo em videogames, não é mesmo? Principalmente quando estamos suscetíveis ao recurso da permadeath, um clássico do gênero.Star Renegades, por sua vez, decide brincar com essa ideia e explica o motivo do loop bem no começo da história. Logo na introdução/tutorial, o jogo coloca você controlando uma dupla de soldados espaciais em uma perigosa missão contra inimigos interdimensionais. Quando eles inevitavelmente perdem o típico confronto inicial com a dificuldade lá em cima de todo roguelike, a verdadeira identidade do jogador é revelada: um pequeno robô com uma mensagem, assim como R2-D2 em Star Wars: Uma Nova Esperança.
Mesmo que sua dimensão atual esteja fadada a sucumbir pelas forças dos aliens mal-intencionados, sempre há a próxima dimensão, que convenientemente sempre terá a mesma base da força de resistência e os mesmos soldados disponíveis. Assim, sempre que você falhar em uma campanha de Star Renegades, seu robôzinho é enviado para a próxima dimensão para mais uma tentativa de derrotar os inimigos e salvar pelo menos uma das várias realidades.
Dentro da base da resistência interplanetária é possível adquirir upgrades permanentes gastando moedas específicas que permanecem após cada campanha, como novos personagens para iniciar a jornada, itens equipáveis que poderão ser encontrados e outros efeitos passivos. Algo bem interessante do jogo é que os inimigos também melhoram o seu próprio arsenal sem hesitação. Os generais aliens de cada um dos quatro planetas não deixam de alterar seus atributos entre as suas campanhas e tentativas de vitória.
Em relação ao gameplay, ele é mais focado na parte das batalhas por turno de um RPG das antigas, mesmo que ainda exista uma pitada de exploração em sua fórmula. Você, com uma party de três heróis, começa a aventura explorando um mapa delimitado por pequenas áreas; meio no estilo dos mapa-múndi dos velhos RPGs mesmo, com personagens diminutos andando em um grande espaço. Nesses locais, além dos inimigos, é possível encontrar itens, tais como equipamentos, dinheiro, DNA (que serve para aumentar o nível dos personagens) e, às vezes, até áreas secundárias com sidequests.
Há ainda um sistema que restringe sua movimentação e coloca um tempo limite até sua inevitável batalha com o chefão daquele planeta. O robô que lidera a equipe possui a habilidade de “hackear” as entradas para outros pedaços do mapa, e ele só pode utilizá-la até três vezes por dia. Depois de esgotar as energias do robô, chega o período da noite e, embora seja possível explorar um pouco o local algumas vezes, você logo precisará acampar e se preparar para o próximo dia. Durante o acampamento, um sistema de cartas permite que os personagens aumentem a afinidade entre si e, além de receber os mais diversos efeitos passivos das cartas de cada um, ainda é possível liberar novas habilidades com o avanço dos níveis de amizade.
Vários dos efeitos das cartas duram apenas para os próximos dois combates, então você geralmente irá começar o próximo dia um pouco mais forte, mas isso não irá durar muito tempo. O acampamento também é o único lugar onde é possível realmente recuperar vida, algo que traz uma dinâmica interessante para os combates. Todos os personagens possuem um escudo que se autorregenera depois de cada batalha (e pode ser recuperado durante o combate), pontos de armadura que se regeneram apenas quando você passa para o próximo planeta (ou com alguma carta do acampamento) e, enfim, os pontos de vida.
O combate representa a maior parte do gameplay e faz um bom trabalho em adaptar a tradicional batalha de turnos de um RPG para essa nova fórmula. Embora não seja um jogo de cartas, é possível comparar o nível de estratégia que precisa ser empregada a um game como Slay The Spire, por exemplo.
Você começa com três personagens e o número aumenta a cada planeta visitado, cada qual com suas funções em combate. Da mesma forma, há um bom número de inimigos com movesets distintos. O tempo dos ataques faz toda a diferença, e um marcador na parte de cima da tela determina quem atacará primeiro. Sempre que algum personagem seu conseguir atacar antes de um inimigo em um turno, ele irá realizar um ataque crítico, e todo ataque crítico possui vantajosos bônus específicos. Igualmente, se um oponente atacar antes de você, ele também dará um golpe crítico.
As batalhas de Star Renegades criam um processo satisfatório e dinâmico de delegar as diferentes habilidades de seus personagens para os inimigos certos naquele turno. Sem deixar de defender quando necessário e sempre procurando o maior número de acertos críticos. Há uma série de buffs, debuffs, stats de itens equipáveis, ações extras, ataques “especiais” e até golpes em conjunto que gastam uma barra especial de rage. É possível gastar muito tempo nas batalhas do jogo e se divertir bastante no processo; o sistema é denso o bastante para você mergulhar fundo e aprender cada minúcia se tiver vontade. O ritmo de aprendizado também é bem agradável e sabe adicionar novas funcionalidades de uma forma saudável e que não confunde.
Aliados ao combate bem calibrado, não há o que se reclamar da história, apresentação visual e sonora de Star Renegades. Os diálogos entre os personagens são tão bons e genuínos que sempre vale a pena lê-los e passar um tempo a mais com os renegados. Os personagens encarnam clássicos estereótipos da ficção científica, como a garota durona com um mech suit, o robô que não entende seres humanos ou o bandido espacial estilo Han Solo. Mesmo que um roguelike às vezes não consiga muitas oportunidades para desenrolar uma narrativa, os diálogos do game fazem o trabalho muito bem. Até mesmo os vilões não cansam de expressar seus sentimentos a todo momento, e são igualmente cheios de personalidade.
Os gráficos em pixel art, como manda a tradição do RPG clássico 16-bits, são adoráveis e funcionam muito bem com o jogo como um todo. Tudo possui uma unidade visual muito efetiva, desde as artes maiores e mais expressivas dos personagens até os pequenos sprites no mapa e as fluídas animações em combate. Os backgrounds das batalhas se assemelham a lindos quadros pintados a mão e são bastante expressivos, já os cenários do mapa geral são mais simples, mas isso é apenas porque o foco visual está claramente nos personagens.
Tanto os protagonistas quanto os vilões, que são cheios de detalhes, armas e luzes brilhantes, exalam personalidade e transportam você diretamente para o mundo cibernético do jogo. De forma bastante adequada, a trilha sonora também casa muito bem com a ambientação de futuro arruinado, com temas eletrônicos que lembram até o filme Blade Runner.
Poucas coisas incomodam em Star Renegades. É possível argumentar que o gameplay não é exatamente relaxante e há muitos elementos para se prestar atenção, lembrar e acompanhar durante as batalhas, principalmente do meio para o final da campanha. Tudo isso é esperado de um jogo de estratégia, no entanto. Se você não gosta do gênero ou de jogos mais cerebrais, não há porque se arriscar dessa vez. Por exemplo, se você até gosta de um RPG, mas prefere a história aos combates, ou não gosta de confrontos por turno em geral, pode passar longe de Star Renegades.
Poucas coisas incomodam em Star Renegades. É possível argumentar que o gameplay não é exatamente relaxante e há muitos elementos para se prestar atenção, lembrar e acompanhar durante as batalhas, principalmente do meio para o final da campanha. Tudo isso é esperado de um jogo de estratégia, no entanto. Se você não gosta do gênero ou de jogos mais cerebrais, não há porque se arriscar dessa vez. Por exemplo, se você até gosta de um RPG, mas prefere a história aos combates, ou não gosta de confrontos por turno em geral, pode passar longe de Star Renegades.
Adicionalmente, há algo que atrapalha bastante o processo de absorver todas essas informações de combate: a disposição e o tamanho dos elementos. Existe realmente muita informação dentro da batalha e é fácil ficar perdido com tantos símbolos e números escondidos pela tela. Escolher suas habilidades abre uma série de caixas diminutas pela parte de baixo da tela e nunca se torna realmente rápido ou fácil acompanhar tudo o que está acontecendo, ou poderá acontecer. Acredito que o game poderia se beneficiar muito de algumas mudanças de interface, deixando certas ações mais claras e dispondo as informações de forma maior e mais presente na tela.
Um problema um pouco mais grave é a horrenda queda de quadros por segundo que acontece durante toda a área do mapa. O simples ato de caminhar pelo mapa definitivamente não parece ser nada que o Switch não conseguiria lidar com facilidade. Inclusive, é possível argumentar que a ação das batalhas deveria cobrar mais do hardware. Por alguma razão, porém, a queda de fps quando você explora os planetas chega a pontos críticos, parecendo que o jogo está em camêra lenta em alguns momentos. Infelizmente, Star Renegades não parece ter sido bem otimizado para rodar no Switch.
Outro ponto que deixa clara essa falta de otimização, e algo que considero bastante grave, é a grande quantidade de crashes que eu tive durante minha experiência com o jogo. Isso é algo bastante raro de se ver no Switch, inclusive com os jogos que costumo receber antes da data oficial de lançamento. Acontece algumas vezes, é claro, e alguns títulos realmente precisam de um patch que resolva seus problemas iniciais, mas eu nunca vi nenhum caso como Star Renegades. Passei a maior parte do meu tempo com o jogo depois do seu lançamento oficial e, ainda assim, os travamentos foram constantes, me obrigando a fechar o jogo e tentar novamente em muitos momentos.
No caso do terceiro planeta da história do game (que presumidamente possui quatro áreas até o final da história), toda vez que cheguei até lá, mais ou menos pela segunda batalha dentro da área, o jogo travou para sempre. Ou melhor, se tornava impossível passar daquela batalha e eu era obrigado a abandonar uma longa campanha e perder a maioria dos benefícios. Não consegui nenhuma vez passar do terceiro planeta, e toda vez que o crash acontecia a minha motivação para tentar de novo diminuía ainda mais.
Eu tentei bastante aproveitar o meu tempo com Star Renegades no Nintendo Switch, mas o próprio jogo me impediu de seguir em frente de maneira constante. É uma pena que um título tão diferente e bem pensado, com diálogos excelentes, um combate profundo e cheios de camadas, arte e trilha sonoras ótimas entregue uma experiência tão ruim no nosso querido console híbrido. Fique atento às notícias para um possível patch que corrija os problemas mais graves para sequer pensar em dar uma chance para o título, porque no estado em que ele está, no momento, realmente não vale a pena.
Prós
- Uma ótima tentativa de criar um roguelike de RPG de batalhas por turnos;
- Combate denso e lotado de minúcias, fácil de entender, mas difícil de dominar;
- Narrativa ótima com diálogos excelentes;
- Ótimo visual retrô fiel aos grandes JRPGs de outrora;
- Trilha sonora de primeira.
Contras
- Interface de batalha um pouco confusa demais;
- Quedas graves de fps em alguns momentos;
- Travamentos constantes, inclusive a ponto de ativamente impedir o seu progresso.
Star Renegades - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vladimir Machado
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury