Análise: RogueCube (Switch) — intensidade ao cubo em uma aventura divertida, embora limitada

O shooter dos cubos é um tiro certeiro que rende momentos alegres no Switch, mesmo fazendo apenas o básico.

em 20/11/2020

RogueCube é um daqueles jogos indies que não esconde suas origens. Com o selo Ratalaika e custando US$ 4.99 (cerca de R$ 26), ele mesmo reconhece ser comum em uma de suas telas de loading, afinal, trata-se de mais um top-down shooter de estilo roguelike, como muitos outros por aí. Todavia, não há nada em sua essência ordinária que nos impeça de viver momentos divertidos. 

É só escolher o cubo e jogar!

A fórmula é simples: escolha um personagem armado, sendo a vasta maioria das opções cubos, e encare bandos de inimigos espalhados por zonas a partir de uma vista superior. Ao matá-los, áreas novas serão liberadas e poderemos prosseguir em uma campanha que tem como tarefa coletar oito vértices geométricos, que podem ser conquistados ao concluir as fases. Embora tenha este objetivo, RogueCube não apresenta nenhuma intriga e a história se restringe a colher os elementos, que por si só também não representam qualquer conexão ou explicação. Por ter esta ausência narrativista, ele naturalmente se torna limitado.

Tratando de outro detalhe fundamental, o termo Rogue não está no título por acaso, pois estamos falando de um roguelike, gênero que nos indica características importantes. Seus mapas, por exemplo, são gerados aleatoriamente, mudando completamente de tamanho e formato entre nossas várias tentativas. A temática das salas, entretanto, é preservada em uma ordem correspondente ao mundo onde estamos – sejam jardins tradicionais, florestas vermelhas ou áreas azuis e chuvosas. 

Outro aspecto característico do gênero é sua rigorosidade, dado que todo o progresso conquistado em uma jornada é perdido ao morrer. Em outras palavras, a derrota, em qualquer momento, significa o retorno à fase 1-1 e a exclusão de nossas armas poderosas conquistadas arduamente. A morte é um golpe duro, mas você superará facilmente, pois a vontade de tentar uma campanha nova é imediata e quase viciante. Essa qualidade se deve a atributos eficientes no jogo, como a sua progressão e a pluralidade de armamentos.

Entre armas e inimigos

No geral, a progressão dos roguelikes é um aspecto intrigante e até mesmo problemático, principalmente quando ela se torna muito cruel. Felizmente, RogueCube é certeiro em seu desenvolvimento harmonioso. Na medida em que avançamos, podemos encontrar armamentos mais poderosos nas caixas espalhadas pelas fases, que serão extremamente necessários, pois a dificuldade das batalhas é gradativa. Dessa forma, percebemos que nossa performance está ligada diretamente com as escolhas de armas e suas estratégias.

Iniciamos a campanha com uma pistola simples, que, embora de conta do primeiro recado, demanda uma análise tática cuidadosa por ser limitada. Isso segue nos primeiros rounds, em que as recompensas iniciais não são muito fortes, comumente sendo armamentos mais triviais e inusitados – como uma frigideira, vassoura e até mesmo um revólver que usa grampos como projéteis. Por serem de poderio acanhado, é importante dosar as investidas para salvar munição e não comprometer a trajetória. Aliás, a cautela é essencial na jornada, principalmente no início e para os mais inquietos, pois uma tática extremamente ofensiva não funciona muito bem, sendo necessário respirar e analisar o local. Então, aqui fica o alerta para os atiradores mais ansiosos, como eu.

Dessa forma, os primeiros ambientes são legais por serem instantes de táticas simplistas e engenhosas. No entanto, eles nem se comparam à diversão que é oferecida na segunda metade da campanha. Lá temos bazucas, lançadores de granadas, raios laser e até mesmo uma câmera que desintegra os oponentes com seu flash. É extremamente prazeroso atacar diversificadamente os inimigos – e ocasionalmente explodir o cenário. Neste tópico, RogueCube merece o reconhecimento por ter um arsenal de guerra bem chamativo.

Entretanto, o mesmo discurso de diversidade não pode ser aplicado com os inimigos, pois eles pouco mudam de cor, forma ou tática. Mesmo que novas criaturas surjam ao longo da jornada, muitas vezes os cubinhos dos primeiros níveis se repetem nos seguintes. Não há uma pluralidade significativa nos cenários mais corriqueiros, o que cria outro setor limitado para a aventura e pode ser desalentador a longo prazo. Por sorte, temos chefes entre os mundos que ajudam a variar os combates e são bem criativos – simples, mas interessantes.

Controlando os cubos

Afortunadamente, RogueCube tem outras cartas na manga que o tornam ainda mais divertido. Uma delas é a possibilidade de escolher personagens desbloqueáveis, que podem ter a forma cúbica tradicional, com cores distintas, ou humanos característicos. Esse ponto positivo vai além, pois cada protagonista tem atributos próprios, que trazem diferentes estilos ao jogo. Por exemplo, eu tive afinidade com Sam, um rapaz que tira mais dano com armas que usam balas tradicionais, além de ter a habilidade de projetar esferas de energia. Achei uma escolha legal, mesmo que ele não se dê bem com armas melee, o que o torna balanceado entre os prós e os contras dos outros atiradores.

Contudo, controlá-los pode ser um pouco incerto. A sensibilidade da mira é acentuada e leva algum tempo até pegar o jeito com o analógico direito. Por ser de ritmo intenso, temos pouco tempo para pensar e apontar precisamente para os inimigos. Então, as chances de erro são altas e isso pode se tornar um problema, dado que a munição das armas é limitada e precisamos coletá-la pelas fases. Não creio que essa exigência por exatidão chegue a ser um demérito do jogo, mas é algo que aumenta exponencialmente sua dificuldade, que, por sinal, já é alta e rende desafios dignos. Mas não se desespere, não é desproporcional.

Além do mais, os desafios podem ser compartilhados em um modo multiplayer, que permite até quatro jogadores, o que é um adicional muito bacana, principalmente para um jogo de porte modesto. Assim, com gráficos normais, mas que agradam com toques pixel art e uma trilha sonora animada, RogueCube agrada ao apostar no básico, seja na sua estética ou no seu conceito de jogabilidade. A obra completa põem em prática a sua proposta: ser um jogo simples e barato, mas capaz de render momentos alegres. Ele, quando jogado sem grandes ambições, é divertido, mesmo que seja mais um top down shooter roguelike que não traz nenhuma invenção ao gênero.


Do cubo ao Switch

Em geral, o título é uma experiência interessante, principalmente por se tratar de uma produção que admite a normalidade de sua essência e reconhece seu contexto. Lembrem-se: estamos falando de um game sobre cubos, de baixo custo, que apresenta uma jogabilidade habitual, cenários comuns e desprovido de qualquer história. Dessa forma, não exigir prêmios e medalhas de RogueCube aparenta ser o primeiro passo para se divertir na jogatina, o que acontece facilmente. Mesmo limitado, tal qual um cubo, o shooter é preciso na hora de render momentos agradáveis.

Prós

  • Armamentos criativos e diversificados;
  • Desafiador, com mecânicas interessantes de gameplay;
  • Alia intensidade com uma demanda de percepção tática;
  • Variedade de personagens selecionáveis;
  • Presença de multiplayer.

Contras

  • Falta de história;
  • Inimigos repetitivos;
  • Severo, mas não se distancia de outros shooters roguelike.
RogueCube — Switch/PS4/XBO — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games




Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
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