Análise: Journey of the Broken Circle (Switch) é uma tocante jornada reflexiva sobre a vida

Esse minimalista indie de plataforma 2D imerge os jogadores em uma emocionante narrativa que vai te fazer refletir bastante.

em 01/11/2020

Diante de um período tão caótico para se relacionar com outras pessoas, o pequeno Journey of the Broken Circle chega ao Nintendo Switch apostando em uma narrativa introspectiva sobre a vida. Desenvolvido pela Lovable Hat Cult, esse humilde indie de plataforma 2D é uma montanha russa de emoções positivas e negativas que perduram pelo elusivo caminho em busca da verdadeira felicidade.

A jornada sem fim

A história acompanha a jornada de Circle, um pequenino círculo incompleto, em busca de um companheiro que possa preencher o buraco que o impede de ser completo. Só pela sinopse já é possível notar que a trama se apoia bastante em cima de metáforas e alegorias.

Perdido em um mundo desconhecido e com muita energia para fazer amizades, Circle se prova um personagem interessantíssimo logo nos primeiros minutos de jogo. Construída minuciosamente para que todos possam se identificar de forma rápida com o protagonista, essa parte inicial atinge com facilidade seu objetivo de imergir o jogador dentro da história.


Sempre olhando à frente do horizonte, nosso herói finalmente consegue fazer uma amizade. Pela primeira vez em sua existência, ele possui um companheiro que preenche o seu simbólico buraco existencial. Amizade, relação amorosa, admiração mútua… chamem do quiser. Todo mundo que já passou por uma sabe muito bem que qualquer relação entre dois indivíduos é composta por altos e baixos. Dito isto, é óbvio que com Circle não seria diferente.


Entre risadas e brigas, a primeira relação de Circle é apenas o início da profunda, e ao mesmo tempo simples reflexão que Journey of the Broken Circle tenta propor. Por meio de diálogos naturais e conversas relacionáveis, o jogador é imerso dentro das relações humanas desenvolvidas entre os personagens. Seja refletindo sobre a vida ou absorvendo a melancolia dos momentos tristes, posso dizer que até mesmo os mais ranzinzas não vão encontrar dificuldades para se conectar emocionalmente de alguma forma.

Para facilitar ainda mais a imersão na vibe auto-reflexiva da trama, Journey of the Broken Circle aposta no uso de uma belíssima arte minimalista. Os gráficos podem até ser simples de forma técnica, porém o significado emocional que a direção de arte consegue transmitir através deles definitivamente fala muito mais alto do que qualquer Triple A realista.




Outro fator que contribui para essa imersão são as melodias calmas e relaxantes que te acompanham durante as fases. Grande parte da trilha sonora poderia facilmente ter saído daquelas compilações de músicas “lo-fi para relaxar” que recentemente viraram moda na internet. Não é nada muito especial ou marcante, mas essas composições se provam bastante efetivas na tarefa que é instigar o jogador a refletir sobre si mesmo.

Ansiedade, dependência emocional, depressão e existencialismo são apenas algumas questões abordadas de forma sutil e delicada pelo título. O que está acontecendo na tela é apenas uma ferramenta para induzir essas discussões. Sem muita exposição e com bastante espaço para interpretação pessoal, o objetivo aqui é nos fazer refletir e olhar para dentro de nós mesmos.

Nesse quesito, jogar Journey of the Broken Circle funciona quase como uma sessão de terapia que acontece de forma natural sem aquela pressão agonizante do exterior. Poucos jogos são capazes de realizar tal feito, portanto é preciso exaltar bastante o trabalho realizado no desenvolvimento deste humilde indie.


Realizando contato

Tudo bem, já entendemos que a narrativa é bem imersiva e emocionante, mas e a parte jogável de Journey of the Broken Circle? As sessões de plataforma 2D são tão boas quanto a história? Infelizmente posso adiantar que não. Chega a ser curioso pensar que o fator que impede este jogo de ser uma obra-prima é justamente o fato dele ser um jogo.

Os problemas com a jogabilidade começam quando você percebe que o design do jogo inteiro foi criado como um grande plano de fundo para os diálogos e acontecimentos que dão rumo à história. Por conta dessa necessidade de combinar com ela, diversos sacrifícios tiveram que ser feitos, como a simplificação das mecânicas e desafios do jogo.

A simplicidade no game design está lá para garantir o relaxamento do jogador, além de servir como ferramenta da narrativa, que muitas vezes é contada através da reação dos personagens aos lugares que estão percorrendo. A imersão é atingida, mas a jogabilidade se compromete com desafios rasos e controles propositalmente irritantes com o intuito de desenvolver a história.


Cada parceiro que Circle pode acoplar a si mesmo garante habilidades especiais de movimentação, mas apenas um deles acaba sendo explorado de maneira satisfatória. A mecânica da primeira parceria, inclusive, se torna muito irritante por fazer com que o personagem sempre grude no chão ao tocar em qualquer elevação de terreno. Mecânicas como esta fazem muito sentido em conjunto com a mensagem que a história quer passar, mas isso não as impede de serem consideradas chatas para a jogabilidade geral.

De resto, Journey of the Broken Circle não faz muita questão de oferecer uma jogabilidade interessante. Para o bem ou para o mal, tudo no jogo trabalha para favorecer a trama. Depois que você experienciar a ótima campanha principal, que dura cerca de duas a três horas, não há muitos motivos para rejogar o título. Até existem cogumelos coletáveis que liberam fases secretas, mas a tarefa de rejogar capítulos inteiros sem a mesma imersão da primeira vez se torna entediante e repetitiva.

As fases secretas são bem mais difíceis e divertidas, porém não contam com o charme e a imersão da campanha principal. Sempre falta uma coisinha para dar aquele equilíbrio necessário entre um bom game design e uma história cativante. Assim como acontece com o protagonista, falta um pedaço que preencha esse buraco.



Enfim a felicidade

Journey of the Broken Circle é uma curta experiência que vale a pena ser vivida pelo menos uma vez na vida. Apresentando uma aventura minuciosamente construída para fazer o jogador refletir acerca de si mesmo, este pequeno indie se destaca entre os demais apesar de sua jogabilidade rasa e enjoativa.

São raros os jogos que tentam e, principalmente, que conseguem tocar bem fundo no coração de quem está no controle. Por um acaso do destino, Journey of the Broken Circle acabou sendo um desses jogos especiais para mim. Basta jogar alguns minutinhos para perceber como este título é um exemplo magnífico de como imergir com êxito o jogador em sua história. Ou melhor, em sua própria reflexão.

Prós:

  • Linda arte minimalista;
  • Narrativa imersiva e emocionante;
  • Provoca auto-reflexão no jogador.

Contras:

  • Mecânicas frustrantes;
  • Jogabilidade rasa;
  • Duração curtíssima e péssimo fator replay.
Journey of the Broken Circle — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nakana.io
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Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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