Com certeza você já ouviu o ditado “não julgue um livro pela capa”, que se aplica 100% no game Along the Edge, uma graphic novel que pode ser resumida como uma história madura com foco em pessoas e suas vivências no mundo real. Como estamos falando de um jogo eletrônico, elementos de fantasia são adicionados e tornam a aventura um pouco mais abstrata, mas sem perder o charme, algo que a Nova-Box - desenvolvedora do game - conseguiu fazer com maestria.
A vida é feita de escolhas
A premissa do jogo é baseada na tomada de decisões por parte da personagem Daphné, uma mulher que passa por dificuldades em sua vida pessoal. A cada escolha feita, o rumo da história e a personalidade da jovem são drasticamente alterados e não há como voltar atrás. Embora haja diversos rumos a serem tomados, o jogo faz questão de avisar que não há um decisão certa ou errada, ou seja, não há como “perder” em Along the Edge.
Com isso, é como se a desenvolvedora quisesse que nos colocássemos nos sapatos de Daphné, criando uma empatia pelo que a jovem passa ao longo da história e nos enxergando através das metáforas. Por falar em história, o enredo é excelente e te prende desde os primeiros momentos da narrativa até o epílogo. Inclusive, o jogo se assemelha muito a uma história em quadrinhos e a cada troca de imagem na tela, temos a sensação de que estamos virando uma página, tudo muito suave e responsivo.
O game também conta com um sistema de “alinhamento” da personagem, que é dividido em quatro categorias: a lua, tornando Daphné mais ríspida e agressiva em suas atitudes; o sol, que a torna mais benevolente e evita conflitos; a terra que garante uma visão agnóstica sobre fatos e acontecimentos; e a estrela, que a torna suscetível à elementos sobrenaturais. As principais escolhas feitas pela personagem ativam uma dessas quatro categorias e algumas delas podem influenciar duas condições, o que torna tudo mais interessante e abre novas possibilidades a cada instante.
Como se tudo isso não fosse o bastante, há um menu exclusivo para conquistas que podem ser desbloqueadas de acordo com o alinhamento da personagem, ou seja, há vários caminhos para serem seguidos, concedendo ao game um fator de replay incrível, pois o primeiro final é apenas um de muitos.
Duas famílias e uma torre
A história começa com uma notícia terrível: a avó de Daphné faleceu e o tabelião do cartório local a informa de que ela é a única herdeira do castelo. Ela decide largar tudo e se muda para a casa de sua falecida avó e é aqui que tudo começa de verdade. A trilha sonora de toda a movimentação é tocante, bate no fundo da alma e certamente irá arrancar algumas lágrimas de pessoas mais sensíveis. A direção de arte também não fica para trás: as belíssimas imagens parecem pinturas impressionistas do século XIX, o que remete muito o cenário do jogo, o interior da Europa.
Daphné é membro da família dos Delatours, que em uma tradução livre do francês significa “Da Torre”. Isso se dá pois o castelo de sua família possui em seu centro uma grande torre, peça importante - senão a maior - de toda a trama. A família de Daphné é conhecida nas redondezas como “Os Milagreiros”, em virtude dos poderes mágicos de seus integrantes. Ao que tudo indica, a protagonista também possui esses poderes, mas depende dela para que essa habilidade venha à tona.
Ainda que a história esteja situada nos dias atuais, a mudança de um cenário urbano para o campestre antigo, digno de filmes e novelas de época, é uma experiência incrível e faz você pensar como seria viver em um pequeno vilarejo, cuja economia é majoritariamente agrícola e tudo isso por conta de um grande moinho presente. Por falar nele, há uma segunda família de grande influência, os Malterres. Intencionalmente ou não, a palavra Maleterres em francês significa “Pragas”, sendo assim, é possível ter uma noção de quem é o herói e quem é o vilão.
Como não há ação no jogo, os diálogos são a única fonte de informação sobre a relação entre as famílias e, mesmo com o sistema de Log para exibir o histórico de conversas, é necessário um domínio avançado/fluente de uma segunda língua para acompanhar os acontecimentos e tomar suas decisões, afinal o jogo não está localizado para o português brasileiro.
Foram poucas as vezes em que tive que procurar o significado de uma palavra e, embora tivesse uma ideia do que a mesma poderia significar por conta do contexto, arriscar a tradução de uma palavra por ser um falso cognato pode prejudicar a experiência. Ainda, em certos momentos, há alguns erro de ortografia, já que o texto foi traduzido do francês original, mas nada que comprometa o entendimento.
Andando no Limite
Pouco conhecido pelo público gamer, Along the Edge é um jogo no formato graphic novel que segue a premissa de uma história que se desenvolve a partir das escolhas feitas pelo jogador, influenciando não só a história em si como a protagonista Daphné. Por conta do esquema do jogo, as imagens em tela funcionam como uma espécie de cenário e que foram extremamente bem desenhadas pela direção de arte, que soube combinar os elementos da paisagem e que é acompanhada de fortíssima trilha sonora, impactando diretamente nas emoções do jogador.
Infelizmente, game está disponível somente em uma língua estrangeira e se você não dominar alguma delas ou tiver uma boa noção em termos de vocabulário, sua progressão será cansativa e pouco aproveitada. A cada frase, diversas palavras precisarão ser traduzidas para o entendimento do jogo, que é exclusivamente escrito, comprometendo e muito a experiência do título.
Prós
- Enredo e história impecáveis;
- Trilha sonora incrível;
- Direção de arte magnífica;
- Empatia com a protagonista;
- Aprimoramento da língua estrangeira;
- Sistema de conquistas;
- Fator replay.
Contras
- Gênero pouco atrativo para o público gamer;
- Não localização para o português brasileiro é uma barreira.
Along the Edge — Switch/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nova-Box