Game design da idade da pedra
Logo de início, Prehistoric Dude chamou minha atenção pelo grande número de similaridades com outro título da Ratalaika em especial, Milo's Quest. Os menus e o design de todos os elementos visuais são basicamente os mesmos — e isso não se limita apenas a esses dois jogos, outros títulos da empresa também compartilham as mesmas semelhanças. Fica cada vez mais claro que a publicadora lança sempre o mesmo jogo, só que com um punhado de elementos visuais diferentes e gêneros distintos, mesmo que o gameplay se mantenha quase o mesmo em alguns títulos.Em Milo's Quest, você controla um cãozinho que precisa salvar o mundo resolvendo uma série de puzzles extremamente básicos de empurrar blocos várias e várias vezes. O gameplay loop é insuportável por si só, mas o elemento mais irritante da aventura de Milo é a coleta de ossos. Passe por cima de um dos milhares de arbustos no cenário e, preste atenção, depois que você passar por cima desse arbusto por completo — apenas depois, não durante — talvez será possível voltar um pouco atrás, e então coletar um osso que estava escondido.
Agora você me pergunta, qual a relevância dessa questão dos arbustos para Prehistoric Dude? Simplesmente porque o jogo do cara prehistórico decidiu adotar exatamente a mesma mecânica cansativa no âmago da sua jogabilidade. Para atacar com o protagonista — algo que se faz necessário de forma constante —, você precisa de um bom estoque das machadinhas que ele joga na direção dos inimigos. E para adquirir novas machadinhas a única forma é passar por cima de arbustos e dar sorte.
Sem falar que, exatamente da mesma forma que em Milo's Quest, você precisa coletar 100 frutas (assim como os ossos citados acima) para destravar certos obstáculos. Algo que pode ser bastante complicado, graças à enorme e constante quantidade de inimigos no seu caminho. Adicionalmente, muitas vezes esses monstros ainda estarão totalmente camuflados, já que eles são exatamente da mesma cor do cenário em volta. No final de contas, morrer fica bem fácil com os míseros três pontos de vida do começo do jogo. E cada morte leva consigo umas 20 frutas do seu inventário.
Pelo menos, Prehistoric Dude vai além dos puzzles de empurrar blocos e pode ser classificado como um plataforma de ação com alguma influência de Metroidvania. O jogo até tenta se classificar no mesmo gênero de Metroid, mas ao contrário do clássico de Samus Aran, coletar upgrades não é satisfatório, divertido ou sequer necessário em alguns momentos. Além de chaves genéricas, os únicos dois itens realmente obrigatórios para você finalizar o jogo são conquistados logo depois das batalhas com o primeiro e segundo chefe. Também é impossível ignorá-los já que toda a progressão do mapa é em linha reta.
Falando em mapa, o mini mapa definitivamente faz jus ao "mini". Escondido na parte de baixo do menu do botão X, o mapa é tão ínfimo e sem detalhes que passei alguns bons minutos acreditando que esse era o único "metroidvania" existente que não possui um mapa. Acaba que o mapinha faz o seu trabalho, mas, como citado acima, a progressão afunila para o meio e para a direita de uma forma bem previsível. Basicamente, toda subárea "termina" em uma parte fechada onde é preciso coletar duas chaves para seguir em frente e enfrentar o chefe.
As batalhas de chefes, por sinal, são rápidas e um tanto aleatórias quanto ao nível de desafio e o seu processo de resolução. A primeira, contra um Pterodáctilo gigante, de forma até que criativa — só que totalmente inesperada — pede que você engane o chefão para ele errar o alvo e cair em um poço de lava. A segunda acabou tão rapidamente que eu nem sei dizer qual o padrão de ataque do chefe, só precisei soltar machadinhas sem parar diretamente na cara do Brontossauro. Já a terceira, contra um Tiranossauro, pede reflexos bem afiados e uma boa reserva de machadinhas.
Se você morrer durante o confronto com o último chefe, o respawn acontece logo à frente da porta da batalha e é bem fácil tentar de novo. Só há um problema: as machadinhas usadas durante sua última vida vão embora para sempre. Depois de perder algumas vezes para o dinossauro, eu fui obrigado a voltar para alguma sala com poucos inimigos e muitos arbustos para ficar entrando e saindo várias vezes e tentar coletar recursos — assim como em vários outros momentos do jogo.
Para os corajosos que quiserem explorar o mundo pré histórico de "Dude", há uma série de colecionáveis como corações extras e pontos de stamina. Os corações fazem bastante diferença durante a batalha final e facilitam o progresso em geral, mas a stamina não serve para muita coisa. Carregar um ataque de machadinha é a única ação que gasta um ponto de stamina, só que esse ponto recarrega tão rapidamente que é como se a barrinha nem existisse.
A verdade é que nada no visual de Prehistoric Dude chama atenção, e a trilha sonora é repetitiva e irritante. Além disso, a movimentação em geral é lenta, pouco responsiva e até meio "bugada". Após você coletar o pulo duplo, no entanto, logo depois da batalha com o segundo chefe, a movimentação fica quase agradável e fluida em alguns momentos. Só que, infelizmente, o level design é tão chato e repetitivo que não vale a pena se movimentar muito para começo de conversa.
Prehistoric Dude é uma aventura curta e desinteressante, em que grande parte do seu tempo é gasto andando por cima de arbustos e tentando enxergar os inimigos. Pular pelos obstáculos nunca é intrigante ou gratificante, assim como o limitado combate e a repetitiva exploração. A parte visual e a trilha sonora também não entregam nenhum ponto positivo em especial. O título não é horrível por si só, mas definitivamente falha em ser interessante em quase 100% dos seus aspectos.
Prós
- Algumas batalhas de chefe são interessantes.
Contras
- Visual e trilha sonora sem personalidade e repetitivos;
- Level design desinteressante e maçante;
- Mecânicas falhas;
- Combate frustrante.
Prehistoric Dude - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 3.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games