Análise: Aokana: Four Rhythms Across the Blue (Switch): o malabarismo emocional de uma empolgante competição pelo céu

Visual novel sobre um esporte ficcional apresenta uma emocionante jornada.

em 07/10/2020

Desenvolvido pela Sprite (Koi to Senkyo to Chocolate), Aokana: Four Rhythms Across the Blue é uma visual novel dentro do subgênero galge, ou seja, ela conta com um protagonista masculino e múltiplas garotas como potenciais interesses românticos. A obra original contava inclusive com conteúdo para maiores de 18 anos, tendo as cenas de sexo cortadas nas versões de consoles.

Aokana conta a história do jovem Masaya Hinata, que assume o papel de treinador de um grupo de garotas em um esporte ficcional chamado Flying Circus. O jogo mostra então um pouco do cotidiano dos personagens com leveza e bom humor, mas também explora os aspectos mais dramáticos da competição e do romance.

Um circo no céu


Com o avanço tecnológico, a humanidade descobriu partículas chamadas grávitons que são responsáveis pelo funcionamento da gravidade, além de partículas antagônicas conhecidas como anti-grávitons. Essas pesquisas em algum momento levaram ao desenvolvimento de aplicações práticas de anti-gravidade, como, por exemplo, os sapatos Grav.

Em meio à popularização dessa tecnologia, esportes variados foram criados. Flying Circus é o nome de um desses esportes envolvendo disputas individuais entre atletas. Para fazer pontos, é necessário encostar nas costas do adversário ou em uma das quatro boias que demarcam os limites da arena. Com esses dois objetivos, os jogadores podem assumir três estilos de jogo particulares: Fighter, focado em contato físico; Speeder, focado em atingir rapidamente as boias anti-gravidade; e All-Rounder, com estilo mais maleável.

O protagonista, Masaya Hinata, costumava ser um desses atletas quando era mais novo, aproveitando-se da tecnologia bastante comum na ilha de Kurashima, mas acabou abandonando o esporte após um certo evento. Anos mais tarde, Masaya agora está matriculado em Kunahama, uma escola que não possui um clube de FC. Em um certo dia, ele acaba esbarrando em uma garota que tinha acabado de chegar na ilha, e para não chegar atrasado, os dois voam para a escola.


Esse evento simples acaba levando o garoto a novamente explorar o esporte que havia deixado para trás. Porém desta vez ao invés de assumir a posição de atleta, ele irá treinar um grupo de garotas para que elas possam desenvolver suas habilidades e representar bem o colégio nas competições que estão por vir. Além de Masaya, o clube conta, ao todo, com cinco personagens: Shion Aoyagi, Madoka Aoyagi, Asuka Kurashina, Misaki Tobisawa e Mashiro Arisaka.
Da esquerda para a direita: Aoi, Mashiro, Mikami, Asuka, Madoka, Shion e Mayama.

Shion é o presidente do clube, que se esforçou durante 3 anos em Kunahama para poder criá-lo. Madoka é sua irmã mais nova e representante da classe do protagonista, uma personagem com muito bom humor e que está sempre aprontando alguma artimanha. Ambos são utilizados como comédia frequentemente, sendo personagens secundários, mas muito presentes na história.

Já as outras três garotas são as heroínas da história. Asuka é uma garota extremamente otimista que acabou de chegar na ilha, mas tem uma personalidade cativante e faz amizade rapidamente com os outros. Misaki já é uma garota que oscila entre preguiça excessiva e tirar sarro do protagonista e outros personagens. Ela possui uma capacidade absurda de fazer qualquer coisa muito bem, mas costuma não ter motivação nem interesse para nada.

Mashiro é a mais nova do grupo, idolatrando a sua senpai Misaki, com quem tem uma amizade de longa data, e agindo de forma rude com o protagonista. É também a personagem com menor habilidade em FC. Além delas, a quarta heroína do jogo é a jovem Rika Ichinose. Estudante da Takafuji, é vizinha de janela de Masaya. Apesar de poder parecer bastante frágil, ela não esconde o que sente, podendo ser até mesmo rude para defender o que acredita.

Satouin é uma personagem secundária surpreendentemente carismática.
Além deles, há personagens secundários carismáticos, como a professora (e ex-técnica de Masaya) Aoi Kagami e a competidora de FC Reiko Satouin, que é da mesma escola de Rika. Todos eles têm suas próprias motivações e, mesmo com alguns excessos estereotípicos, são críveis. Com isso, acaba se tornando fácil se emocionar com os personagens e torcer por eles.

A história explora justamente esse aspecto, com sete episódios de rota comum em que é possível ver um pouco do desenvolvimento das garotas no esporte, alguns eventos tranquilos do dia-a-dia e um leve drama. Ao final desse ponto, o jogador tem a chance de realizar escolhas que claramente levam às rotas de personagem, ou seja, fazer com que a história se foque mais no relacionamento entre o protagonista e a garota desejada, ou ao final ruim, caso negue as quatro jovens. Mesmo que, por um lado isso signifique que boa parte das escolhas não importem, por outro a simplicidade para alcançar o final desejado torna a experiência bastante agradável.

O espetáculo está nos detalhes


Uma das coisas que mais chama a atenção em Aokana são as artes. As personagens são bastante bonitas e atraentes, seguindo o estilo bishoujo. Mesmo os rapazes, que claramente não são o foco do título e são raros, também são bonitos e expressivos. A expressividade é de fato um dos principais aspectos a se ressaltar, sendo comum cenas que utilizam artes chibi dos personagens ressaltando ainda mais o aspecto cômico.

Já durante as disputas de Flying Circus são explorados cut-ins dramáticos e a movimentação dos personagens, que é representada em alguns momentos por trilhas coloridas explicadas in-game como parte do espetáculo do esporte. Existe um verdadeiro cuidado nessa representação, sendo possível ver os personagens na partida em vários momentos.


Outro aspecto que também recebeu bastante cuidado são os backgrounds. Todos os fundos do jogo contam com uma impressionante riqueza de detalhes. Boa parte deles tem figurantes, algo incomum para o gênero, e que oferece uma sensação de vida e realidade para algo que pode parecer estéril em muitas obras similares.

No entanto, nem tudo são flores. Na versão para Switch, reparei que durante a transição de expressões dos personagens, algumas vezes há um flash branco. Muito provavelmente algum problema no carregamento das imagens e caso fosse raro não seria um problema, mas acontece com bastante frequência.

"Perder as últimas duas letras do nome da escola" só faz sentido em japonês.
Também percebi alguns pequenos problemas de tradução. Ela é boa de uma forma geral, mas em raras ocasiões há erros de digitação. Também há algumas inconsistências, como em uma cena na qual Misaki menciona MH, tradicional sigla de Monster Hunter, mas o jogo é tratado como MonEat em outros momentos, indicando que ele provavelmente chamaria Monster Eater na história. O uso de MH é necessário para a cena, mas gera essa inconsistência que não foi tratada. Outro problema que detectei é quando Satouin, que é obcecada com o sufixo “in” decide tirá-lo do nome de Kunahama, que em japonês é “Kunahama Gakuin”. Em uma fala, tiveram a ótima ideia de falar que ela tirou o “in” de “Academic Institute”, mas logo depois se refere à mudança como as duas últimas letras do nome da escola.

Esses problemas incomodam, mas não são o suficiente para tirar o brilho do resto do jogo. Afinal, trata-se de uma história verdadeiramente emocionante em torno de um esporte e um grupo de personagens carismáticos. Esse aspecto também é ressaltado pela trilha sonora, que consegue explorar bem a variedade de emoções da obra, enfatizando a graça nas partes cômicas, tornando as partidas mais relevantes em algo motivador ou elevando a vontade de chorar ao máximo com suas trilhas mais sóbrias, como Wings of Courage Piano Arrange.

De forma geral, Aokana: Four Rhythms Across the Blue é uma excelente visual novel, cujos personagens carismáticos e seus dramas pessoais são profundamente envolventes. Ao desenvolver sua história em torno de um esporte ficcional e também oferecer bons momentos de alívio cômico, ela consegue explorar toda uma variedade de emoções, demonstrando com maestria as qualidades necessárias para o gênero.

Prós

  • Artes expressivas de personagens e fundos bastante detalhados;
  • Trilha sonora que explora muito bem o aspecto emocional das cenas;
  • Personagens cativantes, incluindo os secundários;
  • História que deixa o jogador empolgado com o esporte e torcendo para os personagens;
  • Finais fáceis de serem obtidos.

Contras

  • Pequenos erros de tradução;
  • Flash branco não-intencional na transição de algumas imagens.
Aokana: Four Rhythms Across the Blue — Switch/PC/PS4 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube Games
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é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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