Análise: West of Dead (Switch) é um interessante roguelike de faroeste que erra alguns tiros

Uma caveira com a cabeça flamejante atirando em criaturas das trevas com uma shotgun é uma boa ideia, mas faltou certa polidez na execução.

em 10/09/2020


Diretamente do purgatório, West of Dead coloca você no papel de um esqueleto cowboy "malvadão" e pronto para atirar em quem estiver na frente; nesse caso, um mix de criaturas das trevas e outros vaqueiros com gatilho rápido, uma consequência direta da mistura temática específica do jogo, que envolve western e o mundo dos mortos. Da mesma forma, sem querer ficar de fora, o gameplay central do título também se constrói a partir de uma outra mistura de gêneros: o roguelike (cada vez mais incorporado pelo indies) e o twin stick shooter com ênfase em covers.

O caminho até o Oeste

Se alguém não faz ideia do que o parágrafo de introdução tentou descrever, não se preocupe. West of Dead é mais ou menos algo como um jogo de tiro onde você utiliza as duas alavancas analógicas e que coloca forte importância na jogabilidade tática de se esconder atrás de outros objetos para atirar. Tudo isso acontece dentro da premissa de um roguelike e seus artifícios: permadeath, gameplay baseada em runs e diferentes itens para destravar e coletar entre essas campanhas.

A ideia é ótima, e em muitos momentos a jogabilidade é interessante, desafiadora e divertida. No entanto, vários problemas na estrutura geral do título fazem com que a experiência sempre pareça um tanto falha e incompleta. Passei umas boas horas com West of Dead e não me arrependo, só que, ao mesmo tempo, não consegui me livrar da sensação de que estava jogando uma demo ou um jogo em early access.


A história, embora bem simples, até que funciona como um pano de fundo efetivo para justificar o bizarro cenário de esqueletos cowboys. O purgatório, que aparentemente fica no estado estadounidense de Wyoming, está passando por problemas desde que os mortos pararam de seguir seus respectivos caminhos para o Leste (o paraíso) e o Oeste (o inferno). Cabe ao amnésico herói esquelético com a cabeça flamejante — talvez esse seja o problema da sua perda de memória, por sinal — resolver a questão cumprindo a única missão da qual ele ainda lembra: matar o pastor do mal e salvar o mundo dos mortos.

Nosso protagonista, chamado apenas de Marshall, ou o "Marechal", não lembra de muita coisa, mas nesse faroeste ele sabe usar uma arma (ou duas) como ninguém. Desde o começo da run você recebe duas armas aleatórias de nível um e pode encontrar uma variedade de outras opções ao longo da campanha. A seleção disponível inclui rifles, pistolas, revólveres e shotguns, além de alguns itens adicionais ativos e passivos que Marshall pode equipar, como armas de curto alcance, dinamites ou itens defensivos.



Antes de falar um pouco mais sobre os confrontos com inimigos, é importante ressaltar o particular uso da luz dentro do cenário do jogo. Os mapas são bem escuros em geral, só que quando você entra em uma das várias "salas de combate" é fácil não conseguir enxergar absolutamente nada no começo. Cansei de levar tiros aleatórios de algum canto onde eu não fazia ideia que havia algum inimigo — e a mira automática também não funciona em inimigos no escuro, algo que não ajuda nada no processo.

Para enfrentar a questão da falta de iluminação, lâmpadas se encontram estrategicamente posicionadas na maioria das salas do mapa. Acendê-las não só ilumina parte do local, como consegue atordoar inimigos próximos por uma pequena quantidade de tempo, abrindo uma boa vantagem na sua tentativa de "limpar" a sala. 



A jogabilidade de combate é baseada em atirar, esperar a sua arma recarregar, atordoar inimigos com alguma luz ou outros efeitos, e se esconder atrás de objetos como caixotes de madeira e montes de feno espalhados pelo cenário. Escondido, você mitiga todo o dano de balas que vierem em sua direção, além de recarregar suas armas mais rápido, mas os objetos de cover costumam quebrar após alguns ataques. Mesmo coletando armas ótimas e vários upgrades para sua vida, dano de ataque, ou dano de itens — que podem ser encontrados pelos cenários —, ainda assim fica bem fácil morrer enquanto você estiver exposto.

Outra opção para salvar sua pele é usar a tradicional esquiva para os lados que, se usada na hora correta, até consegue desacelerar o tempo por alguns instantes. Entretanto, é especialmente difícil escapar por completo de ataques com esse recurso. Inimigos com armas geralmente disparam dois tiros em sucessão bastante rápida, fazendo com que escapar do primeiro tiro seja até fácil, mas fugir do segundo seja quase impossível. 



Inimigos sem armas de fogo e que atacam de outras formas começam a aparecer cada vez mais ao decorrer do jogo; obrigando você a se acostumar com alguns padrões de ataque bem diferentes. Pequenos "cães-demônio" especialmente rápidos irão fazer de tudo para tirar você da segurança de uma cobertura, por exemplo, colocando uma confusa ênfase em combate corpo a corpo em um jogo que se resolve perfeitamente bem com sua mecânica de shooter e ataque a distância.

Criaturas maiores e que atacam de formas mais variadas conseguem dar um certo frescor à aventura, mas não são necessariamente muito desafiadoras depois que você aprende seu comportamento. Adicionalmente, alguns chefões aparecem de vez em quando emulando o estilo de jogo de Marshall para derrotá-lo — atirando com armas distintas e usando cover —, só que eles conseguem ser os inimigos mais fáceis entre todos. Sinceramente, o maior perigo do jogo é entrar em uma sala com quatro oponentes genéricos e uma iluminação ruim. Nesse caso, a morte é quase certa.

Tiros não tão certeiros

De forma geral, até que a troca de tiros é imersiva e interessante o bastante. Para conseguir chegar em algum lugar, realmente é preciso treinar e se acostumar com as mecânicas de movimentação, o tempo de recarga das armas, os diferentes tipos de inimigos e a melhor forma de utilizar covers e lâmpadas. Essencialmente, esse é até um ponto positivo para um roguelike; porém, indo muito além da dificuldade e o desafio, West of Dead peca por sua simplicidade e falta de variedade.

Primeiramente, o mapa consegue ser ineficiente de duas formas distintas. Muitas vezes será necessário andar de um lado para o outro em um cenário onde todas as salas e corredores são pouco iluminados e praticamente iguais entre si; e as únicas soluções são tentar enxergar o mini-mapa do tamanho de uma moeda do Mario no canto da tela ou ter que entrar no menu para vê-lo um pouquinho maior — mas sem poder sequer dar um simples zoom para enxergar direito.



Seguindo a mesma linha, sinto que fazia tempo que eu não via um menu tão vazio e desinteressante. Começando pelas configurações gerais do jogo, que não oferece nem algo simples como alterar os controles, até o design da interface de usuário, que é confuso e simplório demais. Não espere por ilustrações legais do personagem ou das diferentes armas ou nada do tipo. Na verdade, não é possível nem ler a descrição dos seus itens, algo que eu tive vontade de fazer durante vários momentos da campanha para me certificar de algum poder passivo específico.

As diferentes armas, geralmente um dos pontos altos da maioria dos roguelikes, também falharam em impressionar em West of Dead. Com apenas quatro grandes categorias, um número bem limitado de efeitos passivos — como freeze, bleed, burn — e pouquíssima variedade visual, o arsenal do Marechal só pode ser descrito como sem graça. Sem falar que dá para contar uma categoria a menos porque é extremamente frustrante utilizar o rifle. Graças à possibilidade de um dano mais rápido e direto, shotguns, revólveres e pistolas sempre serão a melhor escolha, ao contrário do rifle, que conta com uma mira bem mais lenta.



A parte visual até que agrada com seus gráficos em cel shading pesado com contornos grossos no estilo quase HQ — que lembram um pouco o antigo Ultimate Spider-Man (Multi) —, principalmente aliados a um foco em luz e sombra que traz uma ambientação meio macabra para o título. No entanto, em sua essência, West of Dead repete eternamente o mesmo cenário com poucas variações e não trabalha com a falta de luz de uma forma realmente efetiva, mas sim frustrante.

Por fim, na questão da dificuldade o jogo realmente não soube calibrar a curva de aprendizado. A primeira fase não pede mais que uma ou duas tentativas para que você passe facilmente sem problemas, só que logo na segunda você sente que está no final da aventura. A iluminação piora consideravelmente, monstros rápidos com o objetivo de quebrar seu cover aparecem toda hora, o estágio é bem maior e um bom número de inimigos grandes e até chefões surgem de repente. 



Não sei dizer quantas vezes tive que completar a primeira fase; só sei que foram muitas mais do que eu gostaria. Mesmo com o efeito de geração randômica de ambientes, típico dos roguelikes, não há alterações o suficiente para manter sua atenção por muito tempo na mesma fase — e já que você só pode comprar novas armas e itens para o progresso geral depois de completar um estágio, morrer na segunda fase aponta para uma progressão extremamente lenta.

West of Dead parte de uma premissa ótima e consegue entregar um combate divertido que certamente possui as suas camadas. Cumprindo a razão de existir de um bom roguelike, é preciso aprender bem as mecânicas do jogo e passar por um bom número de runs antes de esperar algum sucesso. No entanto, um sentimento de falta de polidez prevalece graças a algumas escolhas ruins de game design e não permite que a experiência seja realmente memorável.

Prós

  • Temática original e interessante;
  • Gameplay divertido e desafiador, fácil de aprender, mas difícil de dominar;
  • Gráficos agradáveis em cel shading.

Contras

  • Mapas repetitivos;
  • Menus simplórios;
  • Decisões de game design duvidosas quanto à ambientação, as armas e os inimigos em alguns momentos;
  • Curva de dificuldade bizarra.
West of Dead - Switch/PC - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão:  Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury
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