Análise: Moero Crystal H (Switch), apesar da premissa, entrega o que promete

Mesmo impróprio para menores devido ao seu conteúdo, o título não abre mão do humor e é uma ótima pedida para fãs de dungeon crawlers.

em 23/09/2020
Quando analisei DanMachi, comentei que, além de não fazer jus ao gênero que é vendido pela publicadora, o título tem fanservice em excesso. Frente a isso, pode parecer um tanto quanto hipócrita eu ter escolhido fazer a análise de Moero Crystal H, jogo cuja trama é voltada a, justamente, um elemento que pode deixar mulheres desconfortáveis. Contudo, este dungeon crawler para Nintendo Switch, diferentemente de DanMachi, utiliza os elementos de forma razoável, como esperado de um jogo dessa temática, mas sem deixar que isso afete completamente a jogatina.
Desenvolvido pela Compile Heart, empresa subsidiária à Idea Factory e também produtora de jogos como Megadimension Neptunia VII e Fairy Fencer F: Advent Dark Force, Moero Crystal H é um RPG estilo dungeon crawler que consegue usar — para minha surpresa — o fanservice como fator complementar à trama do jogo sem deixar elementos do gênero esquecidos no fundo do baú. Arrisco dizer que o título vai ainda além: com um humor um tanto quanto subjetivo, que tira sarro do próprio público-alvo, a busca pelo Bra of Darkness não exclui as mulheres que gostam de conteúdo gráfico.

Contudo, reforço que Moero Crystal H não é um jogo para menores de idade e, sendo assim, não mencionarei elementos outros que não estão relacionados ao gênero como um todo.
Não vou mentir: ri bastante quando vi essa cena pela primeira vez

Versão ampliada

Moero Crystal foi originalmente lançado em 2014 para PS Vita, como continuação direta de Moe Chronicle. Se neste a busca era por calcinhas, em Crystal, por outro lado, Zenox, o protagonista da aventura, e as meninas-monstros, devem procurar pelo Bra of Darkness, que foi roubado do templo sagrado. De acordo com a lenda passada de geração em geração, o artefato não pode, em hipótese alguma, ser separado de outra relíquia, Panties of Light, a fim de não causar um desequilíbrio no mundo.

Alguns aspectos podem ser destacados logo no nome do jogo. Primeiro vem moe, que, em japonês, significa algo como “extremamente bonitinho” e, na maioria das vezes, é um termo utilizado para se referir a garotas. A escolha da letra H no título da versão de Switch também não é ocasional: na Terra do Sol Nascente, a oitava letra do alfabeto está relacionada à palavra ecchi, um termo utilizado para obras que possuem teor sugestivo em menor grau — trocando em miúdos, uma ênfase ao fanservice. Então, como é de se esperar, o conteúdo extra em Moero Crystal H, que originalmente vinha na forma de DLCs, está todo relacionado a esse elemento.
Fui "na fé" de que aguentava o expert e não sobrevivi ao primeiro combate
Um fator interessante é que o harém, por mais estranho que possa soar, confere um grande valor de rejogabilidade, pois cada uma das monstrinhas tem um final próprio. Além disso, o conteúdo extra adiciona mais garotas à trama, totalizando 80 personagens diferentes, com habilidades e personalidades distintas.

No entanto, apesar de ser um elemento-chave no enredo do jogo, o conteúdo adulto às vezes foge do limite do aceitável, como minijogos sugestivos para o recrutamento de novas garotas-monstros. A forma como se deve completar alguns deles, inclusive, pode agravar o problema de drift dos Joy-Con, uma vez que é necessário ficar girando os analógicos esquerdo e direito até atingir o objetivo.

Dungeons, dungeonsMoe à parte

Conhece o ditado “Amigos, amigos… negócios à parte”? Pois bem, por mais que em Moero Crystal H o fanservice esteja de mãos dadas com o jogo como um todo (não apenas sua premissa), é possível destrinchar um do outro. É fato que alguns conteúdos sugestivos apresentados no jogo — que prefiro considerar como minijogos, vale ressaltar — afetam o desempenho das garotas, mas, é perfeitamente possível encarar o jogo como um típico dungeon crawler em primeira pessoa.

Muito colorido e — pegando emprestado o termo — moe, o sistema de combate lembra bastante o de Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk, salvo suas particularidades. Temos aqui calabouços que forçam o jogador a explorar cada esquina e beco a fim de achar itens e descobrir o caminho certo para o próximo nível. Monstros estão à espreita e os ataques são determinados por turnos, algo muito parecido com Tokyo Mirage Sessions #FE.
Imagine o grinding absurdo que tive que fazer depois de levar game over...
Outro ponto positivo que é oferecido logo ao iniciar a aventura é a possibilidade de escolher a dificuldade. Variando de easy a expert, o jogador pode mudá-la conforme sentir necessidade, e mais desafios significam mais recompensas (algo similar ocorre nos jogos da série Tales of). E similar a Unchained Blades, Moero Crystal H possui a trama contada por meio de visual novel totalmente dublada.

Antes, durante e depois, a palavra de ordem é salvar

Zenox, inicialmente, se une a Luanna e Otton a fim de recuperar o sutiã roubado. Para isso, é necessário desbravar calabouços e, pouco a pouco, decifrar os mapas. Durante a jornada, o grupo se depara tanto com monstros comuns quanto garotas que sofreram influência do Bra of Darkness — e, para salvá-las, é necessário completar um minijogo após a luta convencional.

Comum ao gênero, salvar o progresso só é possível fora das dungeons ou em locais específicos dentro delas, que são bastante escassos, mesmo na primeira área. Se o grupo for derrotado, todo o progresso feito após o salvamento é perdido, então é necessário salvar constantemente, gerando uma ida-e-volta infinita.
Tá vendo aquele save point ali? Não é enfeite no mapa

Os recursos são poucos no início do jogo, então o grinding se torna essencial. Jogadores não acostumados com dungeon crawlers podem se sentir intimidados pelo sistema de Moero Crystal H — preciso confessar que, mesmo jogando na dificuldade normal, levei dois game overs logo na primeira dungeon e perdi mais de três horas de progresso, além de duas monstrinhas que eu havia recrutado. Ou seja, todo cuidado é pouco neste tipo de RPG.

Combate fácil de entender, porém desafiador

Apenas explorar as áreas não dá EXP e lutas são inevitáveis. Como mencionado, o combate se dá por turnos e a ordem dos atacantes é definida de acordo com a sua agilidade (AGI). Sair vitorioso das batalhas garante EXP, Rub P (para os minijogos), G (a moeda do jogo) e, eventualmente, itens, então não é exagero dizer que Moero Crystal H se apoia no grindfest.

Zenox não é capaz de lutar, porém pode executar comandos. Ao início de cada turno, deve-se escolher entre as opções Store, Release, Item, Insert, Wait ou Escape, explicadas a seguir. Vale notar que, caso o protagonista acumule muita energia, ele ficará incapacitado de realizar ações por alguns turnos, então é preciso usar os comandos com parcimônia.
  • Store: Zenox acumula energia;
  • Release: Zenox transfere a energia para uma das garotas, aumentando temporariamente seus parâmetros ofensivos;
  • Item: permite o uso de um item no turno;
  • Insert: Zenox usa a energia acumulada para alterar a ordem dos turnos de uma das garotas;
  • Wait: espera durante o turno;
  • Escape: tentativa de fuga da batalha, que pode ser bem-sucedida ou não.
Ações dos turnos do Zenox

Durante os turnos das monstrinhas, também existem opções: Attack (golpe normal), Skill (golpe elemental, buff ou cura, entre outros), Defend (reduz o dano recebido dos inimigos naquele turno), e Charm (transfere energia para Zenox). Cada inimigo tem uma fraqueza elemental, porém o jogo não dá pistas quanto a isso e cabe ao jogador descobrir quando um golpe é mais efetivo que outro.
Nos save points, o HP e MP das garotas são restaurados automaticamente e, durante a exploração, também existem áreas especiais, como fontes termais (onsens). Nestas, são desbloqueadas CGs e, às vezes, mercadores especiais aparecem vendendo itens que não são encontrados na cidade, tais quais presentes para aumentar a afinidade com as monstrinhas (mecânica de outro minijogo). Essas áreas especiais são marcadas com um ícone próprio na dungeon.
"As Nações viviam em paz e harmonia, e daí tudo isso mudou quando a Nação do Fogo atacou"

As personagens ganham novas habilidades conforme participam de combates, e não ao ganharem novo nível — algo similar à evolução das Mirages em Tokyo Mirage Sessions #FE — e, embora não possuam armas equipáveis, podem usar armaduras e acessórios para terem seus parâmetros aumentados. Um elemento interessante são as Moe Traits, habilidades exclusivas de cada uma das moças que garantem efeitos adicionais durante o combate.

Entender a mecânica de combate e exploração não é complicado, mas dominá-la requer tempo e paciência, especialmente quando os recursos são escassos e caros. Portanto, prepare-se para salvar muito durante a aventura.

O lado bom de explorar os locais por completo é a presença da função de piloto automático. Com ela, basta abrir o mapa do andar, selecionar as coordenadas desejadas e pronto: o jogo fará toda a andança automaticamente. As lutas, contudo, não são evitadas, mas também existe a opção de auto-battle, então deixar que a IA faça o trabalho de vez em quando pode economizar um tempo precioso.


Manual para quê?

Embora o jogo não conte com um manual como o de DanMachi, o submenu Library contém uma seção chamada Tutorials. Nele, assim como o nome sugere, é possível rever todas as dicas desbloqueadas durante o jogo, desde informações sobre dungeons até formação e otimização de grupo (party).

Moero Crystal H supõe, então, que o jogador já tenha conhecimento prévio sobre o gênero dungeon crawler, mas não é o único título (dos que já joguei, vale frisar) que não entrega todas as informações de uma só vez. Labyrinth of Refrain, Unchained Blades e 7th Dragon também apostam nesse processo de avanço gradual e, a meu ver, apesar de ser uma prática que possa afastar newcomers, também contribui com a sensação de progressão.
Se tiver dúvidas quanto a alguma informação já apresentada, é só conferir a Library

Chrom é um amante de calcinhas!?

Tanto a trilha sonora quanto a dublagem do jogo são excelentes, mas me sinto obrigada a falar sobre esta última. Otton, por exemplo, é dublado por Tomokazu Sugita, que também empresta a voz a Chrom (na versão japonesa de Fire Emblem Awakening); Reina Ueda é uma das vozes presentes em animações de sucesso como Demon Slayer (Kanao Tsuyuri) e Dr. Stone (Ruri); e Aya Uchida, que interpreta Nava, também já foi Kotori Minami em Love Live!.

Todos os personagens têm suas próprias personalidades. Vale frisar que, embora muitas delas caiam em clichês típicos (comuns na indústria de entretenimento japonesa), é muito fácil amar, odiar ou até mesmo “amodiar” o elenco ou parte dele. E por falar em gostar de personagens, assim que vi o Otton, logo me lembrei do Chamo, o arminho amante de calcinhas de Mahou Sensei Negima!.
Chamo e Otton seriam grandes amigos com certeza

O jogo a seguir não é recomendado para menores de 18 anos…

Por conter apelo visual e conteúdos altamente sugestivos, Moero Crystal H é um título que se vende pelo fanservice e faz jus a isso, especialmente nos minijogos, mas não abre mão do gênero RPG para priorizar o famigerado tropo tits and butt (e, claro, roupas íntimas). Mesmo sendo colorido e cativante, não deixa de ser um jogo de nicho, devido ao subgênero dungeon crawler que pode não agradar a todos, e voltado a um público-alvo masculino. Destarte, sou a prova de que, se bem elaborado e construído, o fanservice pode tanto divertir quanto também atrair mulheres.

Prós

  • Fiel ao subgênero dungeon crawler;
  • Sistema de batalha e minijogos interessantes e bem elaborados;
  • Personagens variados, carismáticos e únicos;
  • Arte colorida e cativante;
  • Totalmente dublado;
  • Sensação de progresso;
  • Alta rejogabilidade.

Contras

  • Não aconselhável para menores de idade;
  • Excesso de grinding (comum ao gênero);
  • Possível agravante do drift dos Joy-Con;
  • Punitivo em caso de game over;
  • Ausência de manual;
  • Conteúdo sugestivo em demasia.

Moero Crystal H — PS Vita/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela EastasiaSoft
Revisão: Vladimir Machado
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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