Análise: Minoria (Switch) questiona a sua ética em um promissor Metroidvania brasileiro

Desenvolvido pelo mesmo criador da série Momodora, Minoria aposta em uma temática sombria e visuais charmosos

em 15/09/2020
Você prefere viver servindo uma ditadura que oprime aqueles que pensam diferente ou se rebelar contra essa injustiça, mesmo que para isso seja necessário utilizar métodos extremamente cruéis? Pense bem antes de escolher, pois na trágica história de Minoria (Switch), não existe algo como o conceito de “certo ou errado”.


Minoria é um Metroidvania indie desenvolvido pelo estúdio brasileiro Bombservice, responsável também pelos jogos da cultuada série Momodora. Com forte inspiração em clássicos como Castlevania: Symphony of the Night (PS1) e Hollow Knight (Switch), o título tupiniquim chega ao Switch prometendo uma experiência única que aborda questões polêmicas.

Ambiguidade religiosa

A trama do jogo se passa em um reino fictício da Europa medieval, no qual a Igreja é o principal órgão político que comanda a região. Aparentemente tudo estava normal quando um golpe de estado foi realizado por uma rebelião de bruxas. Com a intenção de completar um “ritual” misterioso, as forças hereges massacraram o grupo de guerreiras sagradas da Igreja, conhecidas como as Freiras, e tomaram posse do principal castelo do reino.

Diante desse conflito, somos apresentados à irmã Semilla e a irmã Fran, as únicas freiras sobreviventes ao ataque das bruxas. Sendo a última esperança da Igreja, as duas jovens com pouca experiência em combate embarcam em uma jornada para derrotar as bruxas e parar esse ritual herege.



Ao longo da jogatina, a história se desenrola de maneira surpreendente ao se aprofundar sobre os dois lados da guerra para colocar o jogador em situações eticamente desconfortáveis. São poucas cenas de conversas ou desenvolvimento de personagem, mas o que existe cumpre muito bem o trabalho de instigar o jogador a querer saber mais sobre os personagens e aquele mundo.

Conforme certos acontecimentos ocorrem, fica ainda mais visível o agonizante efeito dessa situação na cabeça das protagonistas. Tudo começa a ficar moralmente ambíguo para elas, e consequentemente, para o jogador, que precisa decidir qual lado acreditar. Ainda que não seja tão bem trabalhada quanto em um Shin Megami Tensei da vida, a discussão moral proposta por Minoria é sutil e eficaz no ponto certo.

No entanto, ser direto ao ponto também traz consigo seus próprios problemas. Os personagens secundários, as mecânicas de combate e o desenrolar final da trama apresentam um enorme potencial de possibilidades interessantes que acabam não sendo exploradas por conta da pequena duração do jogo. Não é algo ruim por si só, mas com certeza deve decepcionar alguns fãs.

Certos detalhes do mundo, descrições de itens e falas misteriosas deixam claro que existe uma parte importante da história “faltando” no jogo, como se os desenvolvedores estivessem abrindo caminho para um final secreto que poderia estar escondido dentro do jogo, assim como o castelo invertido de Castlevania: Symphony of the Night, ou ser lançado em uma futura atualização.

Mesmo que o criador brasileiro “Rdein” tenha declarado em seu Twitter que esse final secreto não existe, a comunidade de fãs ainda continua acreditando que algo deve estar escondido por trás dos panos. Se esse suposto final realmente existir dentro do jogo, pode ser que a história de Minoria chegue a outro patamar de qualidade.


Charme da tentação

Desde a primeira cena, o estilo de arte diferenciado é o elemento que mais se destaca na aventura. Apostando em um estilo similar ao visual "chibi" utilizado nos Remakes de Final Fantasy III e IV para o Nintendo DS, os personagens de Minoria são modelos 3D em cell shading com poucos polígonos. Ao meu ver esse estilo é bem agradável e traz um charme a mais para os personagens, porém vai depender bastante do gosto da pessoa.

A campanha principal dura algo em torno de cinco a seis horas de jogo, mas em compensação oferece um fator replay bem sólido para aqueles que gostam de impor desafios particulares em suas jogatinas. Desafios como tentar terminar o mais rápido possível ou terminar sem tomar dano são bem divertidos e empolgantes de se tentar depois que você já domina tudo sobre o jogo.

A trilha sonora complementa o clima melancólico da história com melodias calmas e tristes. As batalhas têm trilhas competentes, mas o grande destaque fica para as músicas centrais de cada área e a música tocada nos créditos do jogo. Na minha visão, a música de Minoria me lembra bastante a de Hollow Knight (Switch), em termos de ambientação e estilo.

Na parte da jogabilidade, Minoria faz o básico com certa facilidade. A estrutura de exploração do mapa típica do gênero Metroidvania é bem executada, porém não apresenta nada fora do normal. O progresso não é muito linear, mas também não é totalmente aberto. Uma boa comparação seria com Metroid Fusion (GBA), título cuja exploração é divida em pequenos segmentos abertos com objetivos lineares espalhados por ele.

O mapa contém uma quantidade pequena de coletáveis, como armas, magias secundárias e moedas de troca, que na maioria das vezes não chegam a fazer muita diferença para o jogador. O sistema de níveis do personagem, inspirado nos Castlevanias modernos, é interessante, mas convenhamos que ser recompensado com sacolas de experiência após resolver um puzzle difícil não é muito animador.

O sistema de combate não é muito complexo, porém diverte bastante pela fluidez e os visuais dinâmicos. Existe uma sequência de três espadadas no chão, um golpe aéreo, um golpe carregado, um contra-ataque em forma de parry, uma rolada no chão e todo o resto fica por conta das magias passivas e ativas que podem ser equipadas.

A pior parte das lutas são as demoradas animações que congelam a tela quando mais de um inimigo é atingido ao mesmo tempo. Ser obrigado a ver o tempo parando toda hora por causa disso no meio de um combate frenético é desanimador. A animação traz uma sensação de impacto bem forte para os ataques, mas a lentidão que isso causa na gameplay não vale a troca.

Os poderes de movimentação avançada, essenciais em um bom Metroidvania, demoram a aparecer, mas compensam isso ao abrir diversas possibilidades para combos criativos e combates mais frenéticos. A sua seleção de magias também pode afetar a maneira que você se aproxima do combate, além de adicionar combinações extremamente poderosas para os jogadores mais criativos.

Os chefes do jogo se destacam por promover lutas divertidas que não precisam ser injustas para desafiar o jogador. Por falar em dificuldade, é bom citar logo que ela é um dos pontos mais polêmicos de Minoria. Graças a enorme inconsistência na dificuldade dos desafios, o título brasileiro pode ficar fácil ou punitivo demais dependendo de como você jogar. Não há um meio termo aqui.

Além do contra-ataque e da esquiva extremamente roubada que quase não tem frames de intervalo, ainda existem combinações de magias que massacram facilmente os inimigos. Dependendo da sua vontade de explorar, também é possível ficar com um nível muito alto em pouquíssimo tempo. Os jogadores mais habilidosos e estudiosos vão encontrar uma campanha extremamente fácil ao ponto de ficar sem graça, enquanto aqueles com menos habilidade podem se frustrar bastante no caminho.


Por um destino melhor

Por fim, Minoria se prova como um excelente Metroidvania indie para passar o tempo no Switch. A trágica aventura não traz muitas novidades para o gênero, mas oferece uma experiência rápida e que cumpre o básico da forma bem competente. Apresentando uma história interessante e um estilo de arte charmoso, dá para notar que esse título brasileiro foi feito com muito carinho.

Prós:

  • Ambientação melancólica;
  • História e personagens instigantes;
  • Combate divertido;
  • Arte charmosa.

Contras:

  • Dificuldade inconsistente;
  • Poucas horas de campanha;
  • História com potencial não explorado;
  • Coletáveis não são recompensadores.
Minoria - Switch/PC/XBO/PS4 - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dangen Entertainment
Revisão: Vladimir Machado
Siga o Blast nas Redes Sociais

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).