Análise: Bounty Battle (Switch) — A decepcionante versão indie de Super Smash Bros.

Mesmo com um grandioso elenco, Bounty Battle decepciona e falha, de forma retumbante, em cumprir a premissa de um título de luta.

em 17/09/2020

A existência de jogos de luta que reúnem os heróis de grandes indies é um sonho de muita gente; afinal, não é todo mundo que recebe um convite de Masahiro Sakurai para se juntar ao elenco de Super Smash Bros. Ultimate (Switch). Com o objetivo de preencher essa lacuna e atender à demanda, Bounty Battle consegue transformar o sonho em um pesadelo. Chega a ser lamentável ver séries de renome como Dead Cells, Guacamelee e Owlboy sendo estampadas neste projeto, que claramente foi lançado às pressas.


A decepção é muito grande, principalmente por causa da expectativa que foi criada com os trailers de anúncio. A jogabilidade é pobre e não transmite nenhum feedback para o jogador, a estética não faz jus aos títulos originais dos personagens... até mesmo os menus são mal-feitos. Na prática, a experiência lembra bastante aqueles joguinhos de navegador que foram muito populares na década de 2000. Não menosprezando a qualidade daqueles títulos, já que alguns deles até superam Bounty Battle (e não estou exagerando).

Para não ser injusto, precisamos reconhecer que a ideia do projeto é genial. Com certeza a Dark Screen Games fez um grande esforço para reunir tantas propriedades intelectuais em um único produto. Além disso, fica evidenciado que os demais estúdios independentes também desejam ver os seus personagens representados em um crossover, como Super Smash Bros., da Nintendo, o que abre margem para uma continuação melhorada ou até mesmo um novo projeto, pois o sonho de ver os heróis indies brilhando juntos continua vivo.

Press Start

O primeiro susto com Bounty Battle começa logo após o empolgante vídeo de abertura do jogo, pois não existe uma tela inicial ou algum tipo de saudação. O jogador simplesmente é jogado para o menu, que exibe a palavra “Versus” em letras garrafais. Será comum sentir-se perdido, mas logo você perceberá duas setas, quase que camufladas, em meio a esta poluição visual que é a tela de seleção. Detalhe importante: o indicador que sinaliza as opções é quase transparente, tornando a navegação pelo menu uma experiência bem desagradável.

A seta da direita aponta para as opções, para que o jogador faça os ajustes que achar necessário, como: definições de áudio, idiomas, se deseja que o lutador receba um contorno para ficar destacado durante a luta (recomendo habilitar). A seta da esquerda direciona para os dois únicos modos single player disponíveis: Torneio e Desafio, além de possuir um breve tutorial e sala de treino para aprender as mecânicas do jogo.

Já a sessão para escolher os lutadores, que deveria ser a parte mais exuberante de gameplay, é uma das mais confusas. O elenco inteiro fica escondido em uma tela escura, borrada e sem cores, pois todos os ícones estão em preto e branco, não fazendo jus aos personagens e nem aos estúdios que cederam as suas propriedades para desenvolver este título. Uma verdadeira pena.

Subindo no ringue

A jogabilidade é mal otimizada e não transmite a sensação de retorno que os jogos de luta costumam ter. Exemplificando: ao realizar um golpe em Smash Bros, o controle vibra junto com a ação na tela; além disso, os efeitos visuais e até a expressão de dor nos personagens causam no cérebro do jogador o efeito de que o golpe foi real. Essa sinestesia não ocorre em Bounty Battle, pois as hitboxes são mal elaboradas, o mapeamento de comandos é muito diferente dos outros jogos do gênero, a física é problemática e as animações dos lutadores não corresponderem da forma adequada.

Outro problema do sistema de combate é não ser possível customizar os comandos. De forma unilateral, o jogo te obriga a se adaptar ao padrão dele. Devido a isso, em vários momentos, você ficará totalmente perdido e não vai entender o que está acontecendo, tornando a experiência agoniante e sofrível. Sim, é um jogo que causa raiva ao invés de diversão.

Parece que os programadores esqueceram de testar a jogabilidade, ou nunca jogaram algum título de luta — é inacreditável que esse jogo teve o aval de alguém. Além de todos os problemas de estética e feedback, é muito fácil ficar preso em combos quebrados. Aliás, qualquer spam de golpes pode se tornar um combo que prenderá o adversário. Você pode conferir isso no vídeo a seguir:

Pouco conteúdo

Embora haja uma boa quantidade de lutadores disponíveis, conforme mencionado, só existem dois modos de jogo: Torneio e Desafio. Ambos são muito arrastados, com destaque negativo para o Torneio, que impõe certos objetivos para desbloquear novas aparências para os lutadores. Entretanto, não é possível escolher o seu personagem favorito na primeira jogada, pois são 30 torneios, um para cada lutador, e se você quiser desbloquear as cores alternativas de Juan, de Guacamelee, terá que concluir 30 torneios, pois ele é o último personagem do elenco.

O modo Desafio, que também poderia se chamar “Clássico”, é o tradicional dos jogos de luta. Escolha o seu personagem e enfrente sequências de inimigos até concluir a campanha. A luta final será contra um dos 6 personagens originais, criados para participar do elenco deste título.

Se você acha que colocar alguns dos maiores ícones indies em um jogo cheio de problemas é o maior absurdo de Bounty Battle, você terá uma grande surpresa ao terminar um dos modos citados anteriormente. A recompensa por “zerar” um torneio ou desafio é uma simples imagem JPEG em baixa resolução, estática e sem música, que se pudesse falar, diria: “por favor, me tira daqui!”

Ainda é possível jogar contra um amigo, mas apenas se for no mesmo console, pois não há recursos online. Embora a desenvolvedora já tenha confirmado que um multiplayer online será adicionado no futuro, a ausência dele desde o lançamento evidencia que o jogo foi entregue incompleto. Além disso, o modo multiplayer presente é pobre, sem modos cooperativos ou desafios para mais de um jogador.

São frequentes as quedas de quadros por segundo. É inexplicável que uma produção tão simples como esta possua problemas de desempenho no Switch. Em alguns momentos a fluidez do jogo cai pela metade, principalmente quando acontecem efeitos de luz. Esse inconveniente atrapalha a jogabilidade e aumenta a sensação de frustração em quem joga, além de indicar ainda mais a falta de atenção aos detalhes durante o desenvolvimento.

A proposta de juntar personagens de outros títulos indie é nobre, mas a execução dela foi péssima. Com uma jogabilidade sofrível e problemas de performance, Bounty Battle passa longe de fazer jus ao seu potencial. Infelizmente, não foi desta vez que vimos os principais heróis da cena de desenvolvedores independentes brilhando juntos em um jogo de luta.

Prós

  • Grande elenco de lutadores.

Contras

  • Jogabilidade horrorosa;
  • Interface mal feita;
  • Queda de quadros por segundo;
  • Pouca quantidade de conteúdo;
  • Não possui recursos online.
Bounty Battle — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dark Screen Games
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